Doenças de progressão lenta e que por isso foram por muito tempo negligenciadas, as hepatites virais do tipo B e C afetam 325 milhões de pessoas no mundo, chegando a causar 1,4 milhão de mortes por ano. Para alertar sobre essas doenças, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou, em 2010, o Dia Mundial das Hepatites Virais (28 de julho). No Brasil, o Julho Amarelo se dedica a ações de vigilância, prevenção e controle das hepatites virais.
A hepatite é uma doença que atinge o fígado e compromete suas funções. Os tipos mais comuns são causados pelos vírus A, B e C e, na maioria das vezes, as infecções são silenciosas ou assintomáticas. Estima-se que 520 mil pessoas tenham hepatite C no Brasil, mas não têm acesso ao diagnóstico e tratamento. Já para a hepatite B, a estimativa feita pelo Ministério da Saúde é de quase 1 milhão de casos, com apenas 300 mil diagnosticados.
Apesar de ser uma infecção que pode ser prevenida, como por exemplo, pela vacina, surtos pontuais da doença, que ocorrem quando há um número acima do comum de casos infecciosos, ainda acontecem.
Em 2023, São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC) entraram em alerta após registrarem um crescimento no número de casos. Em 2024, desde o início do ano, outra capital brasileira está passando por um surto de contaminação de hepatite A: Curitiba (PR) já registrou, até o momento, 228 casos e 5 mortes confirmadas.
As hepatites virais são doenças infecciosas de etiologia viral que acometem o fígado, inflamando-o inicialmente e prejudicando toda a sua função biológica, que é a de eliminar toxinas e metabolizar nutrientes e hormônios. Essas alterações podem ser leves, moderadas ou graves, como a cirrose hepática e o câncer de fígado. Quando se apresentam sintomas, estes são, comumente, cansaço, febre, mal-estar geral, tonturas, enjoos, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras“, destaca a infectologista Marta Fragoso, do Hospital Vita.
Consumo de álcool acelera em até quatro vezes a progressão da doença
De acordo com a infectologista Ana Rosa dos Santos, do Sabin Diagnóstico e Saúde, as hepatites são provocadas pela inflamação das células do fígado devido ao contágio por via oral, sexual, alimentos contaminados ou pelo compartilhamento de agulhas e seringas, além de transfusões de sangue.
A ingestão de álcool pode acelerar o desenvolvimento da doença e causar progressão até quatro vezes mais rápido que o normal, dependendo da quantidade ingerida. Outras atividades de risco são o uso de drogas injetáveis ou inaladas, já que as agulhas e canudos podem transmitir sangue de uma pessoa para outra, além da relação sexual sem proteção.
A médica infectologista explica que, ao contrário da hepatite viral aguda (dos tipos A e E), a hepatite crônica pode durar anos, por isso, “buscar orientação e cuidados ajudam a diagnosticar, tratar e prevenir a hepatite viral crônica”.
Uso de drogas injetáveis e equipamentos sem esterilização
A transmissão das hepatites pode ocorrer de diversas formas, como por meio da ingestão de alimentos ou água contaminada, pelo contato com secreções contendo o vírus ou em práticas sexuais sem proteção. Nas hepatites B e C, além dessas formas, elas também podem ser transmitidas da mãe para o filho durante a gestação, em uma transmissão vertical.
Sua forma de transmissão se dá por meio do contato com sangue ou secreções contaminadas, principalmente entre profissionais de saúde, usuários de drogas injetáveis que compartilham agulhas e seringas, e em procedimentos invasivos de saúde com dispositivos ou equipamentos sem esterilização adequada”, explica a infectologista Marta Fragoso.
Apesar de grande parte dos casos de hepatites não apresentarem sintomas, elas podem trazer complicações. A hepatite A, por exemplo, pode ser fulminante, enquanto as hepatites B e C podem causar cirrose, câncer (principalmente de fígado) e até mesmo a morte. O tipo C costuma se tornar crônico. A principal forma de prevenção é por meio da vacinação, que protege contra os tipos A, B e até o D, que, apesar de não ser comum, só contamina pessoas que já contraíram o tipo B.
A vacina pentavalente, que protege contra a hepatite B, além de proteger contra difteria, tétano, coqueluche e influenza tipo B, é aplicada logo após o nascimento. Para a hepatite A, a vacina deve ser aplicada entre 12 e 23 meses de vida. O saneamento básico adequado, a higiene das mãos e dos alimentos, além de práticas sexuais seguras, também são formas eficazes de prevenção.
Taxa de cura pode chegar a 95% se descoberta no início
O diagnóstico das hepatites é feito por meio de exames de sangue, nos quais se pesquisa a presença de anticorpos. É possível detectá-los por até seis meses após a contaminação. Como grande parte dos casos são silenciosos e assintomáticos, o diagnóstico precoce possibilita um tratamento certeiro, diminuindo as chances de complicações ou até mesmo da hepatite C ser descoberta em sua fase crônica.
A taxa de cura das hepatites pode chegar a 95%, principalmente se descoberta no início. A hepatite é tratada com medicamentos antirretrovirais, mas isso pode ser inviável quando o vírus apresenta resistências causadas por mutações específicas.
O teste HBV realiza a genotipagem para detecção da resistência a medicamentos, possibilitando um tratamento mais assertivo e personalizado na escolha do melhor medicamento. Na hepatite C, o teste HCV avalia as mutações em NS5B, 5UTR, NS5A, NS5A GT2 e NS3, e também identifica a melhor opção de tratamento, impactando diretamente no prognóstico da infecção.
O tratamento das hepatites varia de acordo com a condição de cada paciente. De acordo com a Dra. Marta Fragoso, a hepatite A não possui tratamento específico, apenas o alívio dos sintomas, mas em caso de insuficiência hepática grave, o acompanhamento deve ser hospitalar.
No caso da hepatite B, ela pode ser aguda ou crônica; na fase aguda, os sinais e sintomas são de curta duração e podem ser tratados com medicações. Já na fase crônica, que é quando a doença dura mais de seis meses, costuma-se utilizar medicamentos antivirais para reduzir os riscos de progressão para casos mais graves. A hepatite C também é tratada com antivirais de ação direta, buscando evitar remédios que sobrecarregam as funções do fígado.
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Especialistas defendem a vacinação como proteção contra os vírus
Ana Rosa observa que é imprescindível disseminar a importância da vacinação para obter proteção contra os vírus.
Alerta ainda, “qualquer pessoa que não tenha sido vacinada ou previamente infectada pode ser infectada com o vírus da hepatite A e recomenda aos viajantes se vacinarem ao se deslocarem para áreas de alta endemicidade.”
No Brasil, o sistema público e os serviços privados de saúde, como o Sabin, oferecem vacinas contra as hepatites A e B. “A vacinação é a estratégia de saúde mais eficaz, ajuda a reduzir novas infecções e o número de mortes por cirrose hepática e câncer”.
A primeira dose da vacina para o tipo B deve ser aplicada ao nascer e, para o tipo A, recomenda-se a imunização aos 12 meses de vida. Além disso, a prevenção da hepatite B inclui a prática de sexo seguro e o não compartilhamento de instrumentos cortantes ou objetos de higiene pessoal; para a hepatite A, “além de melhoria no sistema de saneamento básico e na higienização de alimentos, são necessários cuidados com manuseio fecal-oral, por meio do contato sexual inter-humano, especialmente, em homens que fazem sexo com homens”, orienta a infectologista.
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Julho Amarelo
O sétimo mês do ano é conhecido como Julho Amarelo e tem como objetivo conscientizar a população sobre a prevenção, diagnóstico e tratamento das hepatites virais. Essas doenças muitas vezes são silenciosas, mas podem causar sérios danos ao fígado e à saúde em geral.
É fundamental diagnosticar precocemente as hepatites B e C para obter eficácia no tratamento e prevenir futuros danos. Além disso, manter a caderneta vacinal em dia é essencial para prevenir a doença e sua transmissão”, afirma o infectologista Roberto Florim, responsável médico da Vacinar Centro de Imunizações, clínica adquirida em dezembro pelo Grupo Care Plus.
Com Assessorias