Quatro dias após o término oficial do Carnaval, evento que lota a cidade do Rio de Janeiro de turistas do Brasil e do mundo inteiro, o governador Cláudio Castro (PL) decretou, finalmente, epidemia de dengue no estado. A medida foi tomada 20 dias após o prefeito Eduardo Paes declarar epidemia no município – o decreto oficial da situação de emergência em saúde pública na cidade foi publicado em 5 de fevereiro, diante do aumento recorde em casos prováveis de dengue e de internações pela doença.

Em declaração a jornalistas nesta quarta-feira (21/2), Castro justificou que já são 49.405 casos notificados da doença e quatro mortes – duas na capital, um em Itatiaia e um em Mangaratiba. O número de ocorrências é 20 vezes maior do que o esperado para o período e já representa 96% de todos os casos registrados em 2023, quando houve 51.526 casos prováveis e 32 óbitos confirmados por dengue, conforme já havíamos publicado aqui na segunda-feira (19).

A deputada estadual Renata Souza (Psol) foi uma das críticas da medida, considerada tardia. “Finalmente o governador Cláudio Castro decretou “epidemia de dengue”. No retorno do recesso, antes do carnaval, já estávamos em uma situação extrema, mas o gov. negligenciou o tema. Na Alerj tramita um PL de minha autoria p/ a criação de tendas de atendimentos e hidratação. É urgente!”, escreveu ela no Twitter (antigo X).

A secretária de Saúde do RJ, Claudia Mello, e o governador Cláudio Castro — Foto: Marcelo Alves/TV Globo
A secretária de Saúde Claudia Mello e o governador Cláudio Castro (Foto: TV Globo)

Decreto libera governo de licitação em compras

O decreto de emergência em saúde pública a ser publicado oficialmente nas próximas horas vai facilitar que o Governo do Estado possa contratar fornecedores sem licitação para ações de combate à doença. “O decreto agiliza a compra de insumos e diminui a burocracia quando temos necessidades imediatas. Decretando a epidemia, tiramos a burocracia para fazer um atendimento mais rápido”, justificou o governador.

“A gente acha que é uma ação importante para a gente trabalhar com tranquilidade e atuar de forma mais precisa e segura com as ações necessárias de combate à dengue e que nada falte à população”, disse Cláudio Castro durante a coletiva.

De acordo com o Governo, apesar de o estado como um todo estar no nível 2 de ativação do plano de contingência (risco iminente), algumas regiões, como a Metropolitana I (Capital e Baixada Fluminense) tiveram crescimento maior do que o esperado por três semanas consecutivas e atingiram o nível 3 (epidemia). Por isso o governador decidiu antecipar decisão do decreto de epidemia, que será publicado até esta quinta (22) no Diário Oficial do Estado.

“Decretamos a epidemia por um alto índice populacional. A  decisão foi feita de acordo com os dados da doença em todo o estado. Em mais de 60 cidades há aumento dos casos da dengue por três semanas consecutivas, sendo fundamental para implementarmos a situação emergencial”, explicou o governador.

‘Teremos dias e meses difíceis’, diz governador

Durante desfiles no Sambódromo, Governo do Estado fez ação de conscientização sobre dengue (Foto: Divulgação SES/RJ)

O governador do Rio prevê “dias e meses difíceis ainda” pela frente no enfrentamento à epidemia. “Algumas regiões já passam por redução, mas de forma alguma diminui nossos esforços e atenção. A tendência ainda é de aumento”, completou. Cláudio Castro informou que o estado está com 308 casos para 100 mil habitantes, o que configura uma epidemia.

“Temos uma projeção de aumento de casos para as próximas seis a dez semanas ainda. Num cenário positivo, seis semanas. Num cenário negativo, dez semanas. Nossa previsão é um acumulado até maio na casa dos 150 mil casos”, disse.

Na Sapucaí, entretanto, nem convidados do camarote do governador nem o anfitrião não pareciam preocupados com a iminência de uma possível epidemia no estado. Para não alarmar turistas e visitantes, mas mostrar à população sua preocupação com o avanço da doença, o Governo do Estado improvisou uma ação alegórica durante todos os dias de desfiles das escolas de samba da Série Ouro e do Grupo Especial no Sambódromo.

Foi realizada distribuição de folheteria alertando sobre a dengue e até de repelentes aos foliões que foram assistir aos desfiles e uma ambulância adesivada com frases da campanha ‘desfilou’ pela Avenida. Castro, inclusive, posou animado ao lado dos agentes de saúde que participavam da ação – não tinha o mesmo semblante de preocupação demonstrado na entrevista coletiva desta quarta-feira.

Saiba mais detalhes sobre a campanha na Sapucaí no fim do texto.

A evolução de casos de dengue no estado – Covid também preocupa

Na noite da última sexta-feira (16), véspera do Desfile das Campeãs, o boletim mais recente divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) informava que o número de casos prováveis de dengue até 15 de fevereiro (41.252) em todo o estado era seis vezes acima do limite máximo esperado para esta época do ano, de acordo com a série histórica dos últimos 10 anos.

Já na segunda-feira (19), em nova nota distribuída à imprensa, a SES-RJ informava que o número fora atualizado e já falava em aumento de 20 vezes no número esperado, como mostramos aqui. A pasta informava que o mesmo número anunciado nesta quarta (49.405 casos prováveis de dengue) correspondia a 96% do total registrado em 2023.

Na nota, a SES estimava que 25 mil novos casos do Carnaval ainda seriam computados, por conta de um método usado na contagem que prevê essa diferença. Ou seja, cerca de 19 mil registros ainda devem entrar no sistema.

De acordo com os novos dados divulgados nesta quarta, o maior número de casos de dengue é na Região Metropolitana 1, que inclui a capital e a Baixada Fluminense, a mais populosa de todo o estado, seguida da Região Serrana. Na semana de 4 a 10 de fevereiro (chamada de 6ª semana epidemiológica), o número de casos nessa região chegou a 5.463, quando o esperado era 268.

Além da dengue, os casos de Covid-19 apresentam crescimento – desde o início do ano, já foram 21 mortes pela doença. “Vamos voltar com o painel de Covid para ficar mais visível. Temos um aumento da Covid, de janeiro até agora, de quatro vezes mais do que o esperado”, disse nesta quarta a secretária de Saúde, Claudia Mello, confirmando matéria que demos aqui no ViDA & Ação.

Primeiro lote de vacinas contra dengue chega nesta quinta

O Governo do Estado anunciou ainda que o primeiro lote das vacinas contra a dengue será entregue ao estado pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira (22/02). São 231.928 doses que serão enviadas à Central Geral de Armazenamento da Saúde RJ. O público alvo são adolescentes entre 10 e 14 anos, da Região Metropolitana I, que inclui a capital e municípios da Baixada Fluminense.

Ao todo, 521 cidades de 16 estados, além do Distrito Federal, foram selecionadas pelo Ministério da Saúde para iniciar a campanha de vacinação contra a dengue em fevereiro. Os municípios compõem um total de 37 regiões de saúde que, segundo a pasta, são consideradas endêmicas para a doença.

Castro anunciou a ampliação de salas de hidratação em 22 Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) municipais e estaduais, bem como da equipe de médicos e enfermeiros de 27 UPAs no estado. A SES-RJ está ampliando as salas de hidratação em 11 UPAs estaduais. Além disso, a secretaria montou polos de hidratação em 11 municípios, para onde enviou insumos, medicamentos e equipamentos .

A instalação do ponto é feita de acordo com a demanda dos municípios. Há mais 12 pedidos em análise pela secretaria, que possui capacidade para acomodar 80 polos de hidratação em todas as regiões do estado. “Conforme forem chegando [os pedidos], podemos chegar a 80 salas de hidratação. Até agora, 12 municípios pediram o aumento de salas de hidratação. Estamos analisando”, disse o governador.

Ele ficou de convocar na semana que vem todos os prefeitos e seus secretários de Saúde para uma reunião de avaliação de atendimento. Já para as gestantes, o Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião é a unidade de referência no atendimento à dengue no Rio e segue recebendo grávidas de todo o estado.

160 leitos podem ser convertidos para dengue

Conforme já havia sido anunciado anteriormente, outra previsão é a conversão de 160 leitos de nove hospitais de referência do estado para atendimento a casos suspeitos de dengue, caso seja necessário, assim como ocorreu durante a Covid-19.

As ações anunciadas nesta quarta-feira (21) fazem parte da segunda etapa do Plano Estadual de Combate à Dengue, que foi anunciado em 26 de janeiro.  Além disso, a SES.RJ mantém o treinamento dos profissionais de saúde das redes pública e privada. Médicos e enfermeiros participam de capacitações presenciais e on-line, com equipe multiprofissional, desde o dia 6 de fevereiro com previsão até 30 de março.

Atualmente, 1.639 profissionais já foram inscritos na plataforma de educação digital da saúde para capacitação on-line. A meta é treinar dois mil profissionais de saúde dos 92 municípios para garantir o diagnóstico mais preciso e o tratamento correto, como também a capacitação no atendimento às gestantes infectadas. .

Estado cria Observatório da Dengue

Outra ação anunciada foi a criação do Observatório Dengue RJ, que utiliza tecnologia de ponta e uma equipe técnica de plantão no Centro de Inteligência em Saúde (CIS), dedicada a monitorar, apoiar e dar respostas rápidas às emergências relacionadas à dengue nos 92 municípios do estado.

O CIS analisa e disponibiliza os dados da dengue no Painel Monitora. Uma vez por semana, geralmente às quintas-feiras, a secretaria divulga o Panorama da Dengue, boletim que faz análises da evolução e tendências de transmissão de casos em todas as regiões do estado. Também avalia o cenário a partir dos casos notificados e o aumento de registros em relação ao limite máximo esperado para cada semana epidemiológica.

“Todas essas medidas vão melhorar a assistência à população nas unidades de saúde, o acompanhamento do cenário da epidemia em todo o estado e o suporte rápido aos 92 municípios. O Centro de Inteligência em Saúde e nossas equipes estão de prontidão 24 horas por dia, sete dias por semana para dar as melhores e mais rápidas respostas neste momento”, declarou a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello.

Centro de Operações de Emergência Dengue

Em 26 de janeiro, o governador Cláudio Castro e a secretária de Saúde Claudia Mello lançaram o programa Gov.RJ contra a Dengue Todo Dia!,que envolve o uso de tecnologia, qualificação e apoio aos 92 municípios do estado. O investimento é de R$ 3,7 milhões. O Governo do Rio comprou equipamentos e insumos que estão sendo distribuídos aos municípios com maior incidência de casos, para a montagem de até 80 salas de hidratação, que terão capacidade para atender, ao todo, até 8 mil pacientes por dia.

Na segunda-feira (19), a secretária Claudia Mello deu início às atividades do Centro de Operações de Emergência (COEs) Dengue para ampliar e agilizar a organização de estratégias de vigilância contra a doença. O COEs fica na sede da SES-RJ no Rio Comprido, na Zona Norte. Agora, o objetivo é unir todos os setores de saúde, inclusive a Vigilância Sanitária, para dar uma resposta rápida para os municípios. 

“Nunca trabalhamos com tamanha projeção [de dengue]. Por isso, instalamos o COEs. As equipes de vigilância, assistência e comunicação vão agir contra a dengue. Sabemos que temos um aumento da dengue. Todos os municípios estão em contato e se eles pediriam assistência, vamos no local para enfrentar esse momento difícil nas próximas 6 a 10 semanas. Esse será o período que temos que ficar muito atento”, afirmou Cláudia Mello.

Saiba mais sobre a campanha na Sapucaí

O Carnaval do Grupo Especial foi aberto com uma mensagem de conscientização contra a dengue. À frente da Porto da Pedra, primeira escola na Avenida no domingo (11/2), uma equipe da campanha “Contra a Dengue Todo Dia”, do Governo do Estado do RJ, percorreu toda a Marquês de Sapucaí levando uma faixa com os dizeres: “Ala do combate à dengue. Faça parte você também!”. 
“O combate ao mosquito é um dever de todos. Fluminenses, cariocas, turistas. todos devemos dedicar um pequeno tempo às ações básicas que impedem a reprodução do agente transmissor para conter o aumento do número de casos. Vamos vencer essa batalha”, afirmava o governador Cláudio Castro.
A ação da Secretaria de Estado de Saúde integrou o conjunto de medidas educativas realizadas ao longo do Carnaval, especialmente no Sambódromo. Assim como nas noites de desfile da Série Ouro, na sexta-feira e no sábado, equipes posicionadas nas entradas do Sambódromo ofereciam repelentes aos foliões. A campanha contou com vídeos educativos exibidos em nove telões espalhados pela Avenida.
Outra novidade foi o desfile de uma ambulância adesivada com as mensagens da campanha, que circulou pela pista após cada uma das apresentações das seis escolas vencedoras do Grupo Especial, reforçando a necessidade do engajamento de todos pela prevenção, fechando  a folia carioca.
Com o tema “10 minutos que salvam vidas”, a campanha voltou à Marquês de Sapucaí durante o Desfile das Campeãs, no último sábado, como parte do esforço de conscientização da população para combater a proliferação do Aedes aegypti. O objetivo da Secretaria de Estado de Saúde era reforçar as orientações de combate aos focos do mosquito existentes nas residências, onde estão 80% dos criadouros das larvas do Aedes.
“O maior espetáculo a céu aberto do mundo foi uma oportunidade estratégica para reforçarmos a mensagem de conscientização para os foliões e também para o público que estava em casa. O importante é a união de todos na prevenção aos focos do mosquito Aedes aegypti, para que possamos evitar a disseminação da doença. É fundamental que as pessoas se lembrem como é importante erradicar os seus criadouros em casa. E que busquem acabar com os possíveis depósitos de água parada em cada local”, disse a secretária Claudia Mello.

Com informações de agências e da SES-RJ

 

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