Dados mostram que a importação de medicamentos cresce no Brasil em razão da insuficiência da oferta interna e da alta demanda. Entre 2020 e 2021, o país viu um aumento de 56% nas importações de medicamentos, com destaque para a importação de vacinas que aumentou 461% devido à Covid-19. O estado que mais importa medicamentos é São Paulo. Em seguida vêm Rio de Janeiro e Goiás.

Em meio a essa realidade, os brasileiros estão percebendo a necessidade de o país produzir seus medicamentos. É o que aponta a pesquisa inédita aplicada pela IQVIA Consumer Health, empresa multinacional especializada no comportamento do consumidor da saúde. Foram consultadas mil pessoas, nas cinco regiões, e o resultado revelou que mais de 90% dos entrevistados veem a importância de se fabricar fármacos e Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) no Brasil.

O estudo sobre a percepção dos brasileiros sobre a indústria nacional de medicamentos também mostra que, na visão geral dos entrevistados, não há uma falta de remédios neste momento no país. No entanto, apontaram o preço como um fator de preocupação. Em uma escala de 0 a 10, sendo 0 muito barato e 10 muito caro, mais de 30% das pessoas avaliaram que os fármacos estão com valores mais elevados. A maior votação se concentrou na nota 10, com 33,3%. Em seguida, 10,9% deram nota 9 e 16,1% votaram 8.

“O preço é um tema complexo que possui variáveis que vão desde a logística, afetada pelos combustíveis e petróleo de maneira geral, até mesmo aos custos de fabricação e importação de insumos. Quando investimos em uma cadeia nacional de produção há também uma chance maior de diminuir ou estabilizar estes valores”, comenta Marcelo Mansur, CEO da Nortec Química, fabricante de IFAs, que encomendou o estudo,

Esta é a segunda pesquisa realizada especificamente para o setor farmoquímico, sendo a primeira divulgada em junho de 2023, a qual apontava que 81,6% dos entrevistados gostariam de conhecer a origem dos IFAs utilizados no Brasil.

“Os resultados mostram que os entrevistados têm desenvolvido uma visão cada vez mais sólida sobre a necessidade de a indústria nacional de saúde ser mais fortalecida. Passamos por crises sanitárias recentes e sofremos com a falta de remédios e insumos durante este período”, diz Mansur.

Ainda segundo ele, “priorizar a produção brasileira é também investir na segurança dos estoques, acessibilidade no Sistema Público de Saúde (SUS), distribuição, na estabilidade dos preços e na diminuição da dependência de produtos estrangeiros”.

Mercado desproporcional

Atualmente o Brasil fabrica apenas 5% dos IFAs necessários para a produção de medicamentos, os outros 95%, vem de países como China e Índia, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi).

Essa desproporção fica clara no gasto de US$ 6,7 bilhões feitos pelo Brasil na aquisição de medicamentos e insumos, exceto veterinários, entre janeiro e novembro de 2023. No mesmo período, o país exportou apenas US$ 484 milhões. Os números são da Comex Stat, sistema para consultas e extração de dados do comércio exterior brasileiro.

“É um cenário de déficit grande entre importações e exportações, mas este contexto de dependência deve mudar em breve. Estamos otimistas com os investimentos e portarias anunciadas para o novo Complexo Econômico Industrial da Saúde, que priorizará a produção nacional de insumos, medicamentos e vacinas. A meta é que em 10 anos, essa diferença diminua em 70%”, finaliza Mansur.

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Desafios como impostos e logística afetam produção nacional e cresce a demanda por remédios estrangeiros

Importar no Brasil, inclusive produtos vitais, é desafiador devido à complexa burocracia e à alta carga tributária. De acordo com Helmuth Hofstatter, CEO e fundador da Logcomex, empresa que oferece tecnologia para o comércio exterior por meio de uma plataforma completa end-to-end, ajudando gestores a planejar, monitorar e automatizar o seu supply chain, a importação de medicamentos, especialmente genéricos, é algo importante no cenário nacional.

“Os preços normalmente são competitivos e a tecnologia é inovadora, porém, importar medicamentos requer um planejamento minucioso, já que a Anvisa estabelece uma série de exigências técnicas”, explica.

Segundo o especialista, um planejamento sólido é fundamental para aproveitar oportunidades do mercado internacional. “O sucesso nas importações depende de experiência, investimento e cumprimento das exigências regulatórias. Também é importante ter uma visão profunda e detalhada do setor para fundamentar a estratégia em dados”.

Confira algumas curiosidades sobre o mercado de importação de medicamentos no Brasil:

  • A maior parte dos medicamentos importados pertencem ao NCM 30049069, ou seja, são medicamentos contendo compostos heterocíclicos heteroátomos nitrogenados, em doses.
  • O país que mais exporta medicamentos para o Brasil é os Estados Unidos, seguido de Alemanha, Índia e Dinamarca.
  • O aeroporto internacional de Guarulhos é a maior porta de entrada de medicamentos importados, seguido pelo Porto de Santos.
  • O modal mais usado na importação desses itens é o marítimo (67,23%), seguido pelo aéreo (30,38%) e rodoviário (2,38%).

Com Assessorias

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