No dia 11 de abril, o mundo volta sua atenção para uma das doenças neurodegenerativas mais comuns e impactantes: a doença de Parkinson, que afeta principalmente os movimentos automáticos, como andar, falar, escrever. Este dia busca dar voz a milhões de pessoas afetadas por essa condição neurológica em todo o mundo e conscientizar sobre os desafios enfrentados pelos pacientes, mas também serve como um lembrete para a importância da informação e do apoio na jornada desses indivíduos e suas famílias.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, atrás apenas do Alzheimer. Estima-se que 1% da população mundial com idade superior a 60 anos possuem a doença – cerca de 4 milhões de pessoas. Apesar de não haver estatísticas nacionais precisas, estudos sugerem que cerca de 1,5% a 3,3% dos indivíduos acima de 65 anos no Brasil são afetados pela doença – em números absolutos, entre 200 mil e 450 mil pessoas.
A doença é uma condição degenerativa, crônica e progressiva do sistema nervoso central, causada pela redução da dopamina, um neurotransmissor essencial para o controle dos movimentos voluntários do corpo, afetando funções primordiais. Como resultado, os pacientes enfrentam sintomas motores, incluindo tremores, lentidão nos movimentos (bradicinesia), rigidez, instabilidade postural, desequilíbrio e diminuição dos reflexos, além de efeitos como depressão e alteração do sono, entre outros.
As causas da doença ainda são desconhecidas pela medicina. Ainda sem cura, a doença é fortemente associada ao processo de envelhecimento, acometendo homens e mulheres com idade superior a 50 anos e com a prevalência aumentando conforme o avançar da idade.
A conscientização pública sobre a doença de Parkinson desempenha um papel relevante na melhoria da qualidade de vida dos pacientes e suas famílias. Compreender os sintomas, a progressão da doença e as opções de tratamento pode facilitar o diagnóstico precoce e a adaptação das rotinas e ambientes domésticos para atender às necessidades dos pacientes.
O Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson é uma oportunidade para promover a sensibilização, reduzir o estigma associado à doença e criar uma comunidade de apoio e solidariedade. “Compreender os desafios enfrentados pelos pacientes e suas famílias é o primeiro passo para garantir que eles recebam o apoio e os cuidados necessários para enfrentar essa condição complexa e desafiadora”, afirma o neurologista Matheus Ferreira Gomes, do Hospital Mater Dei Santa Genoveva.
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Desafios no diagnóstico e sinais de alerta e progressão
Um dos principais desafios enfrentados pelos pacientes com Parkinson é o diagnóstico precoce. Devido à natureza insidiosa da doença, muitas vezes há atrasos na busca por ajuda médica especializada. O diagnóstico é feito a partir da análise do histórico do paciente somado a uma avaliação neurológica, que observa sinais como lentidão e redução dos movimentos, rigidez nos membros, tremores e problemas de postura.
Maira Tonidandel Barbosa, médica geriatra titulada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), fala sobre a dificuldade do diagnóstico da enfermidade. Segundo ela, a identificação pode não ser fácil em idosos, pois várias doenças neurodegenerativas e não neurodegenerativas podem cursar com sintomas e sinais de Parkinsonismo.
“A eficácia diagnóstica está diretamente relacionada à história clínica detalhada, ao exame físico e à identificação dos sinais cardinais motores, bem como de outros sintomas não-motores que podem estar associados, como alterações do sono, depressão, alterações do olfato e constipação intestinal. Outras doenças clínicas e neurológicas devem ser excluídas também por exames complementares”, afirma.
O neurologista Matheus Ferreira Gomes destaca que o início oligossintomático (que apresenta poucos ou leves sintomas) pode levar os pacientes a não procurarem auxílio médico. É importante estar ciente dos sinais de alerta da doença de Parkinson, que incluem lentidão, rigidez, tremores de repouso, além de sintomas não motores, como alterações no sono, humor e intestinais.
“Em geral, os sintomas progridem lentamente (mas esse tempo varia entre os indivíduos), sendo a lentidão/rigidez o que mais leva à perda da mobilidade, e a disfagia, um facilitador para broncoaspiração e possível pneumonia de repetição”, explica Matheus.
Opções para o tratamento de Parkinson
Quanto ao tratamento, existem opções disponíveis, incluindo medicamentos, fisioterapia, fonoaudiologia, suporte psicológico e nutricional, além de atividade física. Em casos mais avançados, a cirurgia, como a estimulação cerebral profunda, pode ser indicada. No entanto, Dra. Maira afirma que não há nenhuma intervenção medicamentosa ou cirúrgica que seja curativa ou que previne a progressão da doença.
“O tratamento da Doença de Parkinson visa o controle dos sintomas, deve ser individualizado, e pode envolver a necessidade de uma equipe multidisciplinar de acordo com as manifestações e prioridades para cada fase da doença (neurologista, geriatra, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, terapeuta ocupacional, educador físico). O objetivo é manter o paciente o maior tempo possível com autonomia, independência funcional e equilíbrio psicológico”, acrescenta.
Já o neurologista Matheus Ferreira Gomes afirma que a expectativa de vida dos pacientes está diretamente ligada à resposta ao tratamento e à qualidade dos cuidados recebidos, tanto medicamentosos quanto não medicamentosos (exercícios físicos, fisioterapia e/ou fonoterapia dirigida). Segundo ele, a escolha do melhor tratamento deve ser individualizada. Exemplos: levodopa, agonistas dopaminérgicos, inibidores da MAO-B, inibidores da COMT e amantadina.
“Para indicar a estimulação profunda cerebral, o paciente deve ter resposta à levodopa, passar por avaliação neuropsiquiátrica/psicológica e ter imagens do encéfalo, para descartar alterações anatômicas. Para aqueles pacientes em que houve adequada indicação do procedimento, a estimulação profunda pode minimizar os sintomas e trazer grande qualidade de vida. É crucial ressaltar que a estimulação profunda cerebral não cura a doença, mas ajuda no controle sintomático”, diz o médico.
A geriatra destaca alguns cuidados que os ciclos sociais das pessoas acometidas com a doença devem ter: “Manter os pacientes, familiares e cuidadores informados sobre o diagnóstico, a evolução da doença e as formas de tratamentos não farmacológicos e farmacológicos permitem uma atitude positiva, melhor suporte e gerenciamento dos cuidados, sempre com decisões compartilhadas.
Tratamento pelo SUS no Maranhão
O tratamento envolve medicações e implante de eletrodo ou gerador de impulsos, em casos mais graves. Os medicamentos repõem parcialmente a dopamina (a substância química que ajuda na transmissão de mensagens entre as células nervosas) e, desse modo, melhoram os sintomas da doença. Os remédios e as cirurgias de implante estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
Em São Luís (MA), o Hospital da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), oferece atendimento especializado e gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) através do Ambulatório de Distúrbios do Movimento e de Ambulatório Neurocirúrgico.
Conforme explica o neurocirurgião do HU-UFMA, Jairo Ângelos, além dos sintomas motores, o paciente pode apresentar sintomas não-motores, como alterações do humor e do sono, constipação intestinal, depressão, dentre outros. “As alterações psiquiátricas como demência e alucinações geralmente são observadas nas fases mais tardias da doença”, esclarece.
A condição ainda não pode ser identificada na sua fase pré-clínica ou pré-motora, já que não há exames específicos para detectar o Parkinson. Atualmente, a neuroimagem funcional – mais precisamente com a cintilografia com Trodat – auxilia na confirmação da doença em casos que geram dúvidas, mas o diagnóstico é essencialmente clínico.
O controle dos sintomas é feito por meio de medicamentos, fisioterapia, fonoaudiologia e exercícios físicos, que melhoram a capacidade funcional. Casos mais avançados podem ser controlados com o implante de marca-passo cerebral, que age sobre áreas do cérebro afetadas pela doença, assim regredindo em até cinco anos o avanço dos sintomas.
Agenda Positiva
Abril da Tulipa Vermelha
O dia 11 de abril é considerado o Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, mas o tema é amplamente debatido durante todo o mês, o chamado “Mês da Tulipa Vermelha”. A doença foi descrita pela primeira vez pelo médico inglês James Parkinson em 1817, que descreveu os principais sintomas da doença publicados no Ensaio sobre a Paralisia Agitante.
O Congresso Nacional será iluminado de verde nesta quinta e sexta-feira (11 e 12), em homenagem ao Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson. O objetivo da data é incentivar a divulgação de informações sobre a doença, especialmente em relação ao tratamento e às dificuldades enfrentadas pelos pacientes.
Com Assessorias