Parkinson: sintomas podem surgir até 15 anos antes da doença

Neurologistas explicam sinais e sintomas da doença, que atinge principalmente pessoas acima dos 65 anos. Tratamento inclui levodopa e cannabis

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Um dos primeiros sintomas percebidos da Doença de Parkinson é a lentidão de movimentos, a pessoa demora mais para executar tarefas do dia a dia como comer, tomar banho, escrever, entre outras. Com o passar do tempo há um aumento gradual dos sintomas que ficam mais intensos quando o paciente fica nervoso.

Os tremores podem variar durante o dia e desaparecem durante o sono. Mas, além dos problemas motores, outras manifestações podem surgir à medida que a doença progride como insônia, disfunção da bexiga ou do intestino, depressão e a incapacidade de iniciar ou controlar um movimento.

“É importante observar que os primeiros sinais podem aparecer entre 10 e 15 anos antes dos sintomas se evidenciarem. Em muitos casos, o primeiro sinal de Parkinson não é o tremor. Pode ser uma rigidez no corpo, dificuldades de movimentação, como entrar ou sair do carro ou de rolar na cama, diminuição do balanço em um dos braços. Procurar um médico é fundamental para o diagnóstico”, alerta o neurologista André Lima, diretor da clinica Neurovida e membro da Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN).

Com cuidado adequado, paciente pode ter qualidade de vida

Guilherme Torezani, coordenador de doenças cerebrovasculares do Hospital Icaraí e coordenador da Neurologia do Hospital e Clínica de São Gonçalo, esclarece que, diferentemente do que é pensado, nem todo paciente com Parkinson apresenta tremor — que, quando presente, é comumente em um dos membros em repouso e nas extremidades do corpo.

Os sintomas principais da doença são, na verdade, rigidez muscular e lentidão nos movimentos — além de progressiva perda de equilíbrio (instabilidade postural).

“O início dos sintomas motores pode ser sutil, com lentidão em uma das mãos, que leva à diminuição da letra ao escrever (chamado de micrografia) ou, ainda, muito comumente, a redução do balançar de um dos braços durante a caminhada.”

Há, também, outros sintomas não motores, como a diminuição do olfato, os distúrbios do sono, a prisão de ventre (constipação) e, até mesmo, a depressão.

Quanto ao sono, tem sido muito estudado um tipo específico, chamado “Distúrbio Comportamental do Sono REM”. Essa fase do sono deriva do inglês, “movimento rápido dos olhos” e se caracteriza pela ocorrência dos sonhos.

“Ocorre que o nosso cérebro produz uma paralisia de todo o corpo, mas que, nesse distúrbio, a paralisia se faz ausente. Como resultado, o paciente apresenta movimentos complexos, como se vivenciasse seus sonhos”, explica o médico.

Em estudos, a presença dessa alteração, que pode anteceder o surgimento dos sintomas motores em muitas décadas, relacionou-se com risco bem elevado de se desenvolver doença de Parkinson e outras doenças “similares”.

Diagnóstico é basicamente de exclusão de outras doenças

Ser diagnosticado com a doença de Parkinson não é nada fácil, mas o paciente pode ter qualidade de vida significativa se o quadro clínico for descoberto no tempo correto e, dessa forma, iniciar o tratamento o quanto antes. Por isso, saber o que é a doença e quais são os sintomas pode ser essencial para um diagnóstico e tratamento adequados.

Não existe nenhum teste específico para diagnosticar a doença. Segundo André Lima, “é importante que se descubra a doença logo no início, nas primeiras fases, já que, dessa maneira, aumentam as possibilidades de conter a sua evolução melhorando a qualidade de vida do paciente”.
Ele explica que ainda não existem exames para diagnóstico de Parkinson. O diagnóstico é clínico e os exames são de exclusão para outras doenças que podem apresentar os mesmos sintomas.
A doença de Parkinson não tem cura e o tratamento consiste em medicamentos, que estão disponíveis gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde), exercícios e terapias e em alguns casos específicos uma cirurgia.

Um dos tratamentos mais modernos do mundo e que apresenta resultados positivos nos pacientes é o uso da estimulação cerebral profunda. A cirurgia é indicada quando, mesmo com o uso de medicamentos, o paciente mantém muitos sintomas que comprometem sua qualidade de vida.

“O melhor a fazer a fim de retardar a evolução da doença é praticar exercícios físicos, evitar a hipertensão arterial, controlar a diabetes, o colesterol, não fumar e ter uma vida saudável”, afirma André Lima.

Tratamento deve ser feito com neurologista

A Doença de Parkinson deve ser tratada por um neurologista. Mesmo com os avanços científicos, como identificação de algumas proteínas e alterações metabólicas nos pacientes, ainda não se sabe exatamente quais os motivos que levam a essa perda progressiva de neurônios.

Em geral, a doença é dita idiopática, ou seja, não há um fator claro que tenha produzido o Parkinson. No entanto, há algumas formas genéticas que podem acometer famílias, ainda que sejam formas mais raras.

Outro fator muito ligado ao risco de se desenvolver a doença é a exposição a certos tipos de agrotóxicos, muitos deles banidos em diversos países. Essa luta contra a liberação desses pesticidas é ainda um ponto que o Brasil precisa evoluir. Em comunidades rurais, a incidência de Parkinson costuma ser maior que em áreas urbanas.

“Com o envelhecimento, é natural que tenhamos a morte progressiva dos neurônios que produzem dopamina, que é responsável pelo aprendizado motor, sistema de recompensas e outras várias funções cerebrais complexas. Porém, no caso dos pacientes com Parkinson, essas células são perdidas com mais rapidez, reduzindo os níveis de dopamina”, explica o médico.

E complementa que essa perda preferencial de neurônios de dopamina pode ter a ver com o fato dessas células possuírem muito mais conexões (sinapses) que outras em nosso cérebro, deixando-as mais sensíveis ao processo de neurodegeneração.

Reposição de levodopa: um ‘efeito milagroso’

De acordo com Guilherme, na década de 60, com a descoberta do uso da levodopa no tratamento, houve uma drástica mudança na história natural da doença. O resultado era tão potente que se apelidou de “efeito milagroso”.

“A levodopa, que persiste sendo o principal tratamento dos sintomas até o presente momento, é uma forma de dopamina que consegue ser ingerida e chegar até o cérebro. Pensa-se como se fosse uma reposição contínua dessa substância que o paciente não consegue mais produzir de forma eficaz”, explica.

Saber administrar a dose e os efeitos colaterais com um neurologista que tenha experiência com Parkinson é muito importante para o sucesso do tratamento. Haja vista que o paciente, adequadamente tratado, pode exercer muitas atividades diárias e ter uma vida praticamente normal por muitos anos.

Para o neurologista, o tratamento não para somente nos medicamentos. Deve-se aliar à prática da fisioterapia motora contínua, terapia ocupacional e atividade física, o que ajuda na melhora do equilíbrio, força física e resgate da autonomia e autoestima.

Tratamento com derivados da Cannabis

Dr. Guilherme lembra também que muito tem sido comentado sobre o tratamento com derivados da Cannabis e que ainda que pareça promissor, é preciso mais estudos para melhor entender o papel desses medicamentos no tratamento.

“Na cannabis, encontramos mais de 100 substâncias químicas diferentes, e ainda estamos começando a entender a função delas. O canabidiol, por exemplo, ainda que não tenha nível de evidência para indicação, parece ser mais benéfico para sintomas não motores do que sintomas motores da doença. Creio que ainda vamos precisar esperar grandes ensaios clínicos, que sejam feitos de forma muito criteriosa, para prescrevermos derivados da cannabis com segurança e embasados em dados científicos”, finaliza.

Ainda segundo o médico, em casos em que não há melhora com o uso destes medicamentos, também é possível realizar — quando adequadamente indicado —- um procedimento cirúrgico, chamado ‘Estimulação Cerebral Profunda’ (ou DBS). “O DBS já possui muitos anos de estudo e tem sido cada vez mais empregado no tratamento, com resultados muito favoráveis no controle de tremor, rigidez muscular e lentidão de movimentos”, ressalta.

No entanto, deve-se buscar um grupo de neurocirurgia funcional e neurologistas especializados em Neuromodulação, para que seja verificada a precisa indicação (ou não) da cirurgia. “De nada adianta passar pelo procedimento cirúrgico se o processo de triagem não foi feito de forma adequada”, destaca.

Parkinson: mais sobre a doença e sua incidência

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que aproximadamente 1% da população mundial com idade superior a 65 anos tem a doença. No Brasil, estima-se que 200 mil pessoas sofram com Parkinson, que não atinge só idosos a partir dos 65 anos, estima-se que 4% das pessoas são diagnosticadas com a doença antes dos 50 anos.
Parkinson é uma doença neurológica caracterizada pelo tremor de repouso que causa lentidão nos movimentos, tremor nas extremidades, desequilíbrio, rigidez muscular, além de alterações na escrita e na fala.
Ela ocorre quando há uma degeneração das células de uma região do cérebro chamada substância nigra. Essas células produzem a dopamina, que conduz os neurotransmissores ao corpo. A diminuição ou a falta dessa substância – a dopamina – compromete os movimentos.
Nos dias 4 e 11 de abril são comemorados, respectivamente, os dias nacional e mundial de conscientização da Doença de Parkinson. A data foi estabelecida pela Organização Mundial de Saúde em 1998, com o objetivo de esclarecer à sociedade sobre as possibilidades de tratamento para que o paciente e a sua família tenham uma melhor qualidade de vida.

Com Assessorias

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