Imagens de Jair Bolsonaro, de 70 anos, com uma sonda mal posicionada no nariz, inclusive sendo alimentado pela mulher, Michelle Bolsonaro, viralizaram nos últimos dias nas redes sociais. Analistas da internet afirmam que a sonda nasoenteral estaria “por fora do nariz” apenas para enganar o público, sugerindo uma possível farsa envolvendo o casal. Afinal, é verdade ou mentira que o ex-presidente não está se alimentado pela boca? E qual é o real estado de Bolsonaro?

O site Boatos.Org, especializado em esclarecer fake news, diz que “não há qualquer indício de que a sonda nasoenteral exibida em imagens anteriores de Jair Bolsonaro fosse falsa” e sustenta que a acusação “se baseia em uma imagem parcial, sem ângulo completo do rosto”. A imagem viralizada de Bolsonaro com a sonda foi publicada originalmente em maio de 2019, como mostra este registro.

Ainda segundo o site especializado, em muitas das internações anteriores, ele fez uso de sondas e alimentação por via oral de forma alternada. O Boatos.ORg ambém afirma que “o uso da sonda não anula a possibilidade de ingestão de líquidos ou alimentos leves, dependendo da orientação médica e da fase do tratamento”.

Neste domingo (20), o hospital DF Star, onde ele está internado desde o último dia 13 de abril em Brasília, esclareceu que o paciente “continua em jejum oral e com nutrição parenteral [por sonda] exclusiva“.  A colocação da sonda nasoenteral pela equipe de enfermagem foi necessária para que Bolsonaro possa se alimentar, enquanto se recupera de uma complexa cirurgia que durou 12 horas, realizada no último dia 13 no mesmo hospital.

Nutrição parenteral total

Diversos distúrbios gastrointestinais e condições médicas podem exigir o uso de nutrição parenteral total (NPT) ou sondas orogástricas, nasogástricas, ou gastrostomias como forma de fornecer ingestão e nutrientes calóricos adequados aos pacientes – tanto adultos, quanto crianças.

O uso de sondas nasogástricas gera grande incômodo aos pacientes, mas é um meio de garantir a alimentação de muitos pacientes. Um problema que pode ser ainda mais grave entre crianças, de acordo com a fonoaudióloga Patrícia Junqueira, fundadora e diretora do Instituto de Desenvolvimento Infantil. especialista em avaliação e reabilitação de bebês e crianças com dificuldades alimentares.

Algumas crianças que apresentam, por exemplo, uma disfagia, alterações neurológicas e/ou genéticas e/ou respiratórias, renais crônicos, erro inato do metabolismo, cardiopatias, etc. em que a alimentação via oral é difícil e/ou que não é possível pelo risco de aspiração, podem necessitar de uma via enteral”, explica.

Quando não é capaz de se alimentar pela boca ou não consegue garantir sua nutrição suficientemente oral, o paciente pode precisar de um suporte nutricional pela gastrostomia. Quando se sabe que esse período será maior que três meses é indicado o uso da gastrostomia, que traz um maior conforto.

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Falta de informação pode levar a desnutrição

gastrostomia é um procedimento realizado para a inserção de um bóton entre o estômago e a pele do paciente que não pode ou não consegue se alimentar pela boca. Esse é um dos métodos utilizados em casos específicos para nutrição quando o paciente não consegue atingir a quantidade de nutrientes adequada via oral.

Mas a falta de informação sobre o procedimento, quando necessário, pode contribuir para a desnutrição, práticas de alimentação forçosa e problemas psicossociais diversos. A desnutrição hospitalar pode aumentar em quatro vezes o risco de lesões por pressão, triplicar o tempo de internação e elevar em cinco vezes a mortalidade em pacientes cirúrgicos desnutridos.

Investir no suporte nutricional não é apenas uma questão de bem-estar, mas uma estratégia fundamental para reduzir custos hospitalares e melhorar a recuperação. Um suporte nutricional adequado diminui o tempo de internação, reduz complicações e melhora a resposta ao tratamento”, explica Liane Matos, médica nutróloga, coordenadora do Departamento de Nutrologia do A.C.Camargo Cancer Center.

O impacto da nutrologia hospitalar na recuperação dos pacientes

Conforme a legislação brasileira (Portaria nº 272/1998), hospitais devem contar com uma Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) para a prescrição de nutrição enteral e parenteral. Renan Moreira, médico e coordenador da pós-graduação da Afya Educação Médica, explica que o trabalho do médico nutrólogo é fundamental no acompanhamento de pacientes que necessitam de suporte nutricional especializado.

Para aqueles pacientes que recebem dieta enteral por sonda ou nutrição parenteral é muito importante um bom acompanhamento. Nosso papel inclui a reposição de nutrientes e micronutrientes, além da avaliação contínua da composição corporal. Atuamos dentro de uma equipe multidisciplinar, composta por médicos intensivistas, enfermeiros, fonoaudiólogos, cirurgiões, oncologistas e fisioterapeutas, garantindo uma abordagem completa e integrada ao tratamento dos pacientes internados “, diz o coordenador.

O real estado de Bolsonaro, segundo boletim médico

Bolsonaro está internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) sem qualquer previsão de alta, nem pode receber visitas. “(O paciente) segue intensificando diariamente a fisioterapia motora e as medidas de reabilitação”, completa o novo boletim emitido pelo  DF Star neste domingo (20).

O hospital também informou que o ex-presidente está com “pressão controlada” e “boa evolução clínica” neste domingo (20).  No sábado, a equipe médica chegou a informar um “episódio de alteração da pressão arterial”, que já teria sido “normalizado”.

Na manhã deste domingo, Bolsonaro publicou uma foto nas redes sociais em que aparece sem as bandagens no tórax, com uma cicatriz à mostra. “Hoje pela manhã retiraram o curativo na área dos pontos centrais para limpeza e averiguação da situação, além de dreno na lateral esquerda de meu abdômen”, escreveu na legenda.

No post, ele ainda menciona “sessões diárias e mais acentuadas de fisioterapia para acelerar minha recuperação”. Ao longo da semana, Bolsonaro apareceu caminhando com ajuda de um andador, da equipe médica e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em vídeos nas redes sociais. De acordo com a equipe do hospital, ele apresenta estabilidade clínica, não está com dor, sangramentos ou outras intercorrências.

A cirurgia realizada no dia 13 de abril no ex-presidente Bolsonaro teve como objetivo liberar aderências intestinais e reconstruir a parede abdominal. O objetivo seria para corrigir uma “suboclusão intestinal”, causada por múltiplas cirurgias a que foi submetido ao longo dos últimos anos, após a lesão supostamente causada pela facada que ele recebeu durante a campanha presidencial, em setembro de 2018. 

A nova cirurgia – a sétima desde então – foi considerada pelo cardiologista da equipe, Leandro Echenique, entre as mais complexas feitas desde o atentado. Na cirurgia, os médicos identificaram que a obstrução intestinal era causada por uma dobra no intestino delgado, que dificultava o trânsito intestinal. Esse problema foi corrigido no procedimento, com a liberação de aderências.

*Com informações do g1, Boatos.Org

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