Os recentes ataques de Jojo Todynho ao Sistema Único de Saúde no Brasil – que ela nem precisa usar mais depois da fama – continuam repercutindo nas redes sociais e fomentando a polarização, mesmo depois que o ex-presidente Jair Bolsonaro teve que usar os serviços do SUS. Diversos famosos, aliás, estão saindo em defesa do SUS, como fez a médica Amanda Meirelles, campeã da edição 23 do BBB, na última quarta-feira (16), em entrevista ao perfil de Rodrigo Mussi no Kwai.
O posicionamento de profissionais da saúde é importante e eu tenho propriedade para falar. Acho que ela acabou generalizando e não podemos fazer isso. Não dá pra tirar a importância do SUS. Existem, sim, vários problemas, mas eu sou a favor do SUS”, disse Amanda.
A polêmica também tem colocado no centro da discussão a irresponsabilidade disfarçada de ‘liberdade de expressão’. A ex-funkeira já se declarou sincericida em entrevista à Ana Maria Braga, no Mais Você da TV Globo, em agosto de 2023: “A verdade dói, mas ela te corrige e não deixa adoecer”, justificou-se, à época.
Mas, afinal, qual o limite entre a sinceridade e o sincericídio? E quais as consequências dessas ações? Para especialistas em comunicação e saúde mental, as polêmicas declarações de Jojo Todynho ilustram a necessidade urgente de uma comunicação responsável, especialmente em meio a debates públicos aquecidos.
Em um cenário cada vez mais polarizado, a forma como nos comunicamos possui um impacto significativo na sociedade “, diz Cristiane Romano, especialista em expressividade, ao destacar a importância de se comunicar com consciência e responsabilidade.
Sinceridade x sincericídio
Para além das consequências judiciais e morais da alegada ‘liberdade de expressão’, traz também prejuízos emocionais a quem sofre um ataque ou crítica. A psicóloga especialista em neurociência Cinthia Alves Prais explica que existem diferenças entre ‘sinceridade’ e ‘sincericídio’ e uma delas se destaca: a responsabilidade emocional.
O sincericídio é quando a pessoa expressa o que pensa e sente, mas emite isso sem refletir em quais palavras usar, como comunicar e as consequências disso. O sincericídio é brabo, porque as pessoas cobram a verdade, mas não se sabe se elas estão preparadas para ouvir””, destaca a especialista.
Segundo ela, neste tipo de comunicação fica evidente que quem fala se destaca mais do que o acontecimento em si. Normalmente, nessas situações, a pessoa esquece do compromisso de como, quando e onde dizer, além do que e para quem. “Sem esse compromisso, a franqueza passa a não ter o valor que deveria, passa a não ser construtiva”, diz psicóloga.
Ao contrário disso, a sinceridade é um dos elementos mais importantes nas relações. “Boas relações são aquelas que são baseadas no diálogo e a gente tende a se abrir mais com quem confiamos, com quem nos aceita como somos e vice-versa. Portanto, esse tipo de comunicação nas relações não deve ser perdido. Porém, sinceridade exige sabedoria, acrescenta.
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Comunicação responsável é essencial em tempos de polarização
A especialista ainda reflete sobre a importância da comunicação. Quando alguém utiliza o sincericídio, a forma de expressão tira o foco da mensagem mais importante, que muitas vezes é necessária e poderia gerar uma consciência no indivíduo. Ao receber uma mensagem sem essa responsabilidade emocional, o outro tende a reagir sem sequer pensar muito sobre o que foi dito. E traz uma dica importante:
Reflita, antes de falar, o que é mais importante e como você pode despertar o outro pelo uso mais adequado das palavras, dos gestos. A comunicação não precisa ser usada para gerar ainda mais atrito e violência. Podemos ter conversas difíceis sem tornar a comunicação bruta. É possível falar de temas sofridos com gentileza”, finaliza Cinthia.
Segundo Cristiana Romano, em uma era digital onde as mensagens podem ser amplificadas em segundos, a maneira como nos comunicamos é tão importante quanto a mensagem. “Uma comunicação eficaz é aquela que promove o entendimento, mesmo diante de discordâncias. Essa habilidade é vital para evitar o acirramento de conflitos e fomentar um ambiente de diálogo saudável”, afirma.
Fatores de sucesso para uma comunicação eficaz
Segundo Romano há fatores que precisam ser levados em conta, e de forma muito mais responsável por pessoas públicas:
- Empatia em primeiro lugar : compreender a perspectiva do outro, especialmente em temas sensíveis, é fundamental. “A prática da escuta ativa e do diálogo aberto pode transformar um potencial integrado em uma oportunidade de aprendizado”, observa a Dra. Cristiane.
- Responsabilidade na mensagem : Pessoas públicas têm a responsabilidade de considerar o impacto de suas palavras. Discursos ponderados ajudam a evitar mal-entendidos e a promover discussões saudáveis.
- A arte do diálogo construtivo : Aprender a debater sem atacar, focando em fatos e respeitando diferentes opiniões, é essencial para um discurso saudável e produtivo. A Dra. Cristiane ressalta a assertividade como uma ferramenta chave para expressar pensamentos de forma clara e respeitosa.
Um outro fator importante é se planejar para uma comunicação eficaz. Ajustar o tom e a escolha de palavras de acordo com o público e o contexto é crucial para manter a harmonia no diálogo. Para Romano, manter o equilíbrio entre coração e mente ao apresentar uma opinião ajuda a minimizar reações inflamadas e encoraja a reciprocidade respeitosa.
Encontrar pontos de concordância antes de abordar diferenças pode ajudar a criar um terreno para o entendimento. Com a comunicação à nossa disposição, temos o poder de moldar o debate público de maneira positiva. Em vez de permitir que as diferenças nos dividam, podemos utilizar a comunicação para fomentar um ambiente de respeito e crescimento mútuo”, conclui a especialista.
Com Assessorias