‘Nosso trabalho faz toda a diferença na vida dos pacientes’

Muito além da linha de frente da pandemia, enfermeiros, professores e estudantes de Enfermagem contam sua relação de amor com a profissão

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
O trabalho e esforço de Florence Nightingale, criadora da Enfermagem moderna, rende frutos até hoje. Muitos profissionais dedicam tempo, amor e esforço para salvar a vida do próximo. E em meio à verdadeira guerra para combater a pandemia de Covid-19, arriscam também suas vidas. Mesmo para os profissionais que não atendem em emergências ou nos chamados hospitais de campanha contra o coronavírus, comemorar o Dia Internacional da Enfermagem (12 de maio) em meio à pandemia é um marco.

Estamos vivendo um momento histórico, intenso e de muito aprendizado. Todos os dias estudamos fluxos, processos e diretrizes. Temos medos e inseguranças como todo ser humano, mas, sabemos que não podemos recuar. O nosso trabalho faz toda a diferença na vida dos pacientes”, conta Silvia Benka, gerente de enfermagem do Hospital Cardiológico Costantini.

O atual cenário, em que precisam se afastar das famílias, dá contornos ainda mais dramáticos ao ofício. Os profissionais estão impossibilitados de ficar com suas famílias e carregam, nas atuais circunstâncias, responsabilidades ainda maiores, pois os cuidados precisam ser redobrados. “Nunca vivi um momento tão difícil quanto esse em toda a minha carreira”, afirma a diretora operacional da Perinatal Laranjeiras, Regina Gonzalez.

A enfermeira Ana Paula Letícia Domingos, estomaterapeuta no Hospital Evangélico Dr. e Sra. Goldsby King – Mackenzie, menciona o estresse e a pressão de lidar com o ofício, além do risco de adoecer e de contaminar outras pessoas ou gerar ansiedade e depressão. “É o desafio em lidar com o ‘desconhecido’, visto que o mundo foi pego de surpresa e sem preparação habitual para lidar com a pandemia, com o surgimento de novas diretrizes a cada dia, novos manuais para adequação no combate à doença e proteção”, completa.

Elenice Brandão, enfermeira coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde do mesmo hospital, reforça os cuidados necessários para as pessoas que saem de casa para trabalhar. “Utilizem máscaras, respeitem o distanciamento mínimo de um metro entre as pessoas e higienizem as mãos com frequência”.

Para Ana Paula, a enfermagem deve ser uma grande aliada da população e defensora dos direitos de todos os cidadãos. Ela defende a importância do isolamento social, estratégia temporária para “controlar o vírus e o que ele pode fazer com a humanidade e com cada um de nós”. Seu colega, Cláudio Braulino da Silva, enfermeiro emergencista, concorda: a maior dificuldade enfrentada na área da enfermagem no cenário da pandemia, além de cuidar de sua própria saúde, “é cuidar da saúde de toda sociedade e fazer com que a população se conscientize e respeite o isolamento social”.

Somos especialistas em processos de mitigação dos riscos de transmissão de doenças às quais se submetem constantemente. Todos esses hábitos que tentamos estimular nas pessoas, como lavar as mãos e limpar as superfícies, sempre serviram para evitar doenças simples, como a diarreia. Hoje, servem também como armas para combater o coronavírus. Somos eternas educadoras”, explica Regina.

A rotina de quem cuida das feridas das pessoas

A dedicação ao próximo motivou Ana Paula na escolha da carreira, que proporciona ensinamentos, aprendizagens e trocas. “É nossa classe que passa maior tempo com os pacientes, cuida de cada detalhe e conhece mais do que o caso; conhece a pessoa. A enfermagem requer amor. Literalmente uma doação de corpo e alma ao processo de cura. Necessita de um espírito altruísta e de uma vontade genuína de ajudar o próximo”, diz ela. Ana Paula reforça ainda que a enfermagem deve ser uma grande aliada da população e defensora dos direitos de todos os cidadãos. “Há momentos de desgaste físico e emocional, mas quando se abraça essa profissão de coração, ela nos dá verdadeira satisfação”, completa.

A história de Elenice começou bem cedo, ainda na infância. Sua mãe sustentava, sozinha, os nove filhos trabalhando de plantão em três hospitais diferentes como auxiliar de enfermagem. Quando não estava no trabalho, usava todo o tempo disponível para cuidar dos seus pequenos e também dos moradores do bairro, que a procuravam para aferição de pressão e aplicação de injeções. Decidida a seguir os passos de sua mãe, depois de fazer o ensino médio junto ao curso técnico de enfermagem, Elenice atuou como tal por 10 anos. Quis também cursar a graduação em enfermagem e hoje trabalha na área há 13 anos. “Não me vejo em outra profissão”, pontua.

Questionado do motivo de ter escolhido a enfermagem, seu colega, Cláudio Braulino da Silva, enfermeiro emergencista, responde que, na verdade, foi a profissão que o escolheu. “Amo pessoas, amo ajudar, amo acolher e proteger e é muito fascinante cuidar do bem-estar do paciente”, afirma. Para o enfermeiro Silva, um dos maiores desafios da área é a sua valorização perante as autoridades e perante a sociedade, independentemente de uma pandemia. Elenice concorda com seu colega de trabalho e afirma que a enfermagem precisa ser mais valorizada, diminuindo longas jornadas e, assim, a fadiga dos profissionais.

Aliviar dores da alma, sem pedir nada em troca

Edilson Dias, coordenador de enfermagem da Casa de Saúde Saint Roman (Foto: Divulgação)

Para Silvia, a enfermagem é mais do que agir profissionalmente, é um dom. “Aqui, lidamos com pessoas com patologias ligadas ao coração, então, além da ciência, envolvemos muito carinho, amor, empatia e atenção, afinal, estamos cuidando do amor da vida de alguém. Por isso, seguimos sempre todas as orientações prescritas pela equipe médica ao longo das 24 horas”.

A enfermeira ainda explica que é necessário aprender com as derrotas e comemorar as vitórias da profissão. “Não podemos nos abalar. Todos os dias são muito intensos e damos o nosso melhor para aprendermos cada vez mais. Ter uma data que representa a nossa escolha de vida profissional é um reconhecimento gratificante, pois muitos de nós abdicamos das nossas famílias e amores para estar o mais próximo possível de quem mais precisa”, orgulha-se.

Para Edilson Dias, coordenador de enfermagem da Casa de Saúde Saint Roman – uma clínica para tratamento psiquiátrico no Rio de Janeiro -, ser profissional desta área é carregar nos ombros a vocação de cuidar do outro, sem trégua. “O único objetivo é aliviar dores e sofrimentos de pessoas, sem pedir nada em troca. São heróis sem capa nos dias de hoje”, destaca, que compartilha com outros colegas a mesma missão: salvar vidas, mesmo arriscando a sua própria vida.

Um agradecimento sincero e votos de sucesso nessa batalha que enfrentamos e nesta luta que só terá fim porque vocês são profissionais dedicados e qualificados. Obrigado é a palavra de ordem neste momento difícil que atravessamos com a pandemia. Vocês, enfermeiros, são profissionais incríveis, autênticos lutadores, pessoas que salvam vidas e nos ajudam a viver melhor”, ressalta.

Enfermeiros são fundamentais nos centros de diálise

Djalma Ticiani Couto é enfermeiro nefrológico há 29 anos, período em que atuou em diferentes modalidades da Nefrologia. Ele se diz satisfeito pela carreira e pela essencialidade do serviço que presta. “Aprendemos muito com o paciente, que vive uma constante luta pela vida. É muito gratificante ver o resultado, saber que podemos ajudar o dia a dia desse doente, sobretudo quando ele tem chance de fazer um transplante”, completa Djalma.

O profissional tem atuação direta e imprescindível no processo da Terapia Renal Substitutiva (TRS), em especial na solução de possíveis complicações que podem ocorrer durante o tratamento. A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) atua há mais de 30 anos buscando condições mais justas para os colaboradores da área, além da garantia do tratamento de qualidade e o acesso para todos os pacientes renais crônicos, que hoje somam 133 mil brasileiros e brasileiras.

De acordo com a ABCDT, os profissionais de enfermagem atendem doentes renais crônicos em diversas atividades, desde a orientação sobre o procedimento à supervisão da equipe no momento da conexão do acesso do paciente, evitando possíveis complicações e ajudando a salvar vidas. Dentre as demais funções desse profissional no processo da diálise, também está auxiliar, se necessário, para evitar acidentes e contaminações por manipulação inadequada.

Os profissionais também verificam o funcionamento dos equipamentos, como limpeza calibração e condições de uso, checar se os materiais estão dentro da data de validade e se não estão violados, como filtro dialisador set arterial e venoso isolador de pressão; verificar EPIs do paciente e do profissional, além dos insumos, como seringas, agulhas, fitas, esparadrapos, gazes e luvas.

Yussif Ali Mere Júnior, presidente da ABCDT, destaca o papel social do enfermeiro, que mantém o diálogo com o paciente e seus familiares, antes, durante e após as sessões de hemodiálise. Ele reitera ainda que esses profissionais seguem trabalhando, mesmo em meio à pandemia do coronavírus, para dar continuidade ao serviço de saúde essencial que é a hemodiálise.

Agradecemos todos os enfermeiros do setor da nefrologia que conhecem cada paciente individualmente, sabem de suas limitações, da equipe e do ambiente de trabalho. São peças-chave para garantir o sucesso desse tratamento”, afirma.

Para a entidade, a data serve para valorizar a profissão e reforçar junto aos poderes públicos a exigência pelas condições de segurança de quem atende os pacientes renais fora do ambiente hospitalar, sobretudo aqueles que atuam em clínicas prestadoras de serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS).

A RDC 154/04, publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), instituiu normas técnicas para o funcionamento dos Serviços de Terapia Renal Substitutiva. O documento indica que, para cada 35 pacientes, a unidade de hemodiálise deve manter um enfermeiro, e a Sociedade Brasileira de Enfermagem em Nefrologia (Soben) exige que ele tenha treinamento em diálise reconhecido pela entidade.

Professoras sonham com a valorização da profissão

Santa Catarina possui 15.570 enfermeiros com registros ativos, entre eles, muitos são alunos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), que homenageia a categoria e traz histórias de alumni (egressas), professores e de uma aluna, com trajetórias distintas, mas que possuem algo em comum: ingressaram na profissão motivadas pelo desejo de cuidar das pessoas e prezar pelo bem-estar integral delas.

Desde 1994, Mectilde Lambertenfermeira formada na Univali, é coordenadora de transplante de medula óssea no programa HealthSystem, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). Mesmo com experiência, a profissional fala que é necessário estar sempre atenta aos novos protocolos, pesquisas e técnicas. “A quantidade de novidades é enorme e constante, esse é o tempero do nosso trabalho, são os desafios que nos fazem crescer e buscar novas fronteiras”, opina.

Nos Estados Unidos, de acordo com ela, os enfermeiros são muito respeitados e o enfrentamento da pandemia deu ainda mais visibilidade à classe. Para Mectilde, a demonstração de força, coragem, capacidade técnica e dedicação dos enfermeiros revelam um momento histórico mundial para a enfermagem. “A Covid-19 é um desafio e um aprendizado. Tudo isso trará ainda mais respeito e admiração à nossa profissão, é um sacrifício admirável que merece valorização e reconhecimento”, aponta.

Alumni (egressa) e professora do curso de Enfermagem da Univali, Ivanda Teresinha Senger de Macedo é enfermeira no Hospital Pequeno Anjo, em Itajaí (SC), e atua na área de saúde contando com outra categoria de Enfermagem, há 32 anos. “A minha profissão me alimenta fisicamente e emocionalmente todos os dias, amo o que faço e faço com muita dedicação. Desde a adolescência sempre gostei de cuidar das pessoas”, afirma.

A docente ressalta que, apesar da profissão não ser valorizada como deveria, é fundamental nas práticas de prevenção, promoção e reabilitação, e consiste na única categoria profissional que está 24 horas junto ao paciente. Sobre os desafios e as perspectivas para a enfermagem, Ivanda pondera: “É preciso ter em mente que os desafios estão constantemente interligados à nossa profissão. Um dos maiores, neste momento, é o cuidado de si. Nosso olhar está voltado totalmente ao nosso paciente e a familiares. Acredito que a valorização chegará após o término desta pandemia”.

Alunas contam por que escolheram a profissão

Encantada pelos relatos das atividades de sua irmã que fazia Enfermagem e por tudo que a atividade representa como profissão e como propósito, Sarah Lais Rocha também optou por cursar Enfermagem. Hoje, a enfermeira, graduada na Univali, acredita que a profissão a empoderou no sentindo de melhorar a qualidade de vida das pessoas e de formar outros profissionais enfermeiros. Ela é professora e coordenadora do curso de Enfermagem da Faculdade Carajás, em Marabá (PA).

enfermagem, para ela, está ligada ao cuidado e, nesse momento de alto índice de adoecimento mundial, é fundamental que o cuidado  e a reabilitação sejam feitos com rigor científico e ética. Ela crê que os desafios gerados com o novo coronavírus trarão mudanças na área: “Com certeza não vamos sair dessa experiência da mesma maneira que entramos. Acredito em uma enfermagem fortalecida e mais unida. O crescimento da profissão com a experiência também está relacionado com a preparação de protocolos de assistência e gestão com evidências científicas”.

Thais Jéssica Sarmento Bomfin Ramos, é aluna do 9º período de Enfermagem da Univali. Atualmente, ela é bolsista de extensão do programa PET-Saúde Interprofissionalidade e faz estágio na Unidade Básica de Saúde Rio Bonito, em Itajaí (SC). “Foi a escolha mais sábia que fiz. A enfermagem é a principal mão de obra nos serviços de saúde, envolve anos de estudo, amor, cuidado e dedicação. Nossa profissão precisa ser mais valorizada e estamos mostrando ainda mais a nossa força e importância”, ressalta Thais. Suas vivências como estagiária e voluntária já lhe permitem acompanhar a realidade prática e avaliar o cenário do segmento.

Estes profissionais se formam em cursos técnicos concomitantemente ao Ensino Médio ou em cursos universitários de quatro anos de duração. As especializações levam 18 meses e conferem especialização em áreas específicas da saúde, como obstetrícia. Os cursos de doutorado levam quatro anos. O papel educador dos enfermeiros tem se mostrado mais importante do que nunca.

O Cofen é o órgão responsável por normatizar e fiscalizar o exercício da profissão de enfermeiros, técnicos e auxiliares de Enfermagem, zelando pela qualidade dos serviços prestados em cumprimento à Lei do Exercício Profissional da Enfermagem no Brasil. A certificação de qualidade do Cofen busca reconhecer e estimular o desenvolvimento dos profissionais de Enfermagem e a qualidade assistencial. O selo de qualidade é uma certificação dos profissionais de enfermagem e não apenas das instituições.

Sobre a data

Enfermaria da Fábrica de Tecidos Brasital. Brasil, São Paulo, Salto; Autoria não identificada; Anos 1920. (Foto: Acervo Centro de Memória Bunge)

Hoje já regulamentada, a profissão nasceu voluntária e assim permaneceu por anos. Segundo o Ministério da Saúde, a profissão tem origem milenar e data da época em que ser enfermeiro era uma referência a quem cuidava, protegia e nutria pessoas pessoas com deficiência, idosos e convalescentes, feridos das guerras, além de auxiliar nos partos. Já na Idade Média, era desenvolvida, principalmente, como uma forma de sacerdócio pelas religiosas.

Com o objetivo de homenagear todos os enfermeiros do mundo e relembrar a importância destes profissionais da enfermagem na prestação de cuidados de saúde à população em geral, o Dia Internacional da Enfermagem foi instituído em referência ao nascimento de Florence Nightingale. Nascida no dia 12 de maio de 1820, em Florença, na Itália, e criada na Inglaterra, Florence foi pioneira no tratamento de feridos em guerras, com destaque para seu trabalho durante a Guerra da Crimea. É considerada a “mãe” da enfermagem moderna, e fundadora da primeira Escola de Enfermagem secular do mundo na Inglaterra em 1860.

No Brasil, a data foi estabelecida no calendário comemorativo apenas em 1938, instituída pelo então presidente Getúlio Vargas, por meio de decreto-lei, e oficializada pelo Conselho Internacional de Enfermeiros, em 1974, para assinalar os contributos dos profissionais na sociedade. Atualmente, comemora-se a Semana da Enfermagem, em homenagem a Florence Nigthingale e também a Ana Néri, enfermeira brasileira que se alistou voluntariamente em combates militares. A semana termina com o Dia do Auxiliar e Técnico de Enfermagem (20 de maio).

Modelo homenageia profissionais no Instagram

O modelo e fashionista brasileiro Israel Cassol atualmente está passando pelo lockdown em Londres. Ele foi destaque na BBC ao falar sobre os prejuízos e a mudança de vida entre os influenciadores por causa do isolamento, além de ter sido destaque no Daily Mail ao mostrar sua coleção de bolsas Birkin da marca Hermès, avaliadas em meio milhão de reais.

Inspirado na última capa em branco da Vogue Itália, sugeriu uma campanha nas redes sociais para homenagear os enfermeiros que estão lutando na linha de frente contra o coronavírus no Dia Internacional da Enfermagem, comemorado nesta terça-feira, no dia 12 de maio. “Deixe o seu Instagram branco para homenagear nossos enfermeiros, nossos heróis “, diz Israel.

Ele convidou seus milhares de seguidores e contou os motivos da ação. “Precisamos homenagear quem está na linha de frente em combate ao coronavírus. Estamos em casa seguros enquanto eles estão lutando por nós”, explicou.

Com Assessorias

Com Assessorias

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

You may like

In the news
Leia Mais
× Fale com o ViDA!