Todos os anos, o mês de junho é marcado por diversas ações no país em torno da importância da doação de sangue, com mobilização de hemocentros e hospitais, para ajudar a suprir um período crítico nos estoques de sangue. O Junho Vermelho também chama a atenção para a doação de medula óssea, que ainda é pouco conhecida e representa um grande desafio no Brasil.
“Geralmente, quem conhece esse tipo de doação teve casos de familiares ou conhecidos que precisaram de medula óssea. O grande desafio é encontrar doadores compatíveis, porque em muitos casos o transplante é o único tratamento que pode salvar a vida do paciente”, explica Elíseo Sekiya, hematologista especializado em terapia celular e células tronco no IBCC Oncologia.
Ele diz que ainda existem alguns mitos que prejudicam o entendimento sobre a doação de medula e desfaz algumas crenças populares sobre a doação de medula óssea.
A doação só pode ser feita uma única vez
Mito. Na realidade, a medula se regenera em 15 dias após a doação. Caso seja encontrado um novo paciente compatível, o processo pode ser repetido após esse período se a pessoa consentir. Assim, um único doador pode ajudar muitas pessoas.
O doador não pode voltar às atividades diárias rapidamente
Mito. A recomendação médica é três dias de repouso. Como a doação é prevista em lei, é possível se ausentar do trabalho e receber atestado médico, dependendo do estado de recuperação.
A medula óssea é retirada do interior da coluna vertebral
Mito. Medula óssea e medula espinhal não são a mesma coisa. A medula óssea é um tecido localizado no interior dos ossos, enquanto a medula espinhal é formada de tecido nervoso e está dentro da coluna vertebral. Por fim, a medula óssea é retirada do interior dos ossos grandes do corpo, geralmente da bacia.
Vale a pena destacar, porém, que a modalidade de doação mais realizada atualmente não precisa puncionar a medula óssea do doador, sendo realizada através da veia do braço, ou acesso vascular por um método chamado aférese.
Como se cadastrar para ser doador?
Para se tornar um doador voluntário de medula óssea, é preciso acessar o site do Redome (redome.inca.gov.br) e verificar a unidade de cadastramento mais próxima da sua localização.
Neste local, será realizada a apresentação de um documento chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para cadastro no Redome e será coletada uma amostra de sangue para exame de tipagem HLA (antígeno leucocitário humano). Os resultados ficam cadastrados no Redome para buscas de compatibilidade com quem necessita de doações.
Apesar do crescimento da base de dados do Redome, o número de novos cadastros de doadores vem caindo nos últimos anos. Em 2021, foram 170 mil novos cadastros e em 2022, foram apenas 25 mil. Além disso, cerca de 80 doenças podem ser tratadas com o transplante de medula óssea, como linfomas, leucemias, doenças imunes e mielomas múltiplos.
Duas formas seguras de doação
Sekiya explica que o processo de doação de medula óssea pode ser feito de duas formas, com segurança e uma delas não requer internação ou anestesia.
“A primeira maneira é a punção direta da medula óssea, que é realizada sob anestesia e a medula óssea é retirada do interior do osso da bacia, por meio de punções. Requer internação de 24h, podendo ocorrer dor no local da punção nos primeiros dias, a qual pode ser amenizada com uso de analgésicos. O tempo de recuperação ocorre em torno de 15 dias”, explica.
Outra forma de doar medula óssea é por meio de coleta por aférese, um método em que o doador faz uso de uma medicação por cinco dias, com o objetivo de aumentar a produção de células-tronco circulantes no seu sangue.
Durante o uso desta substância, podem ocorrer dores ósseas e musculares, além de cefaléia. Após o período, a doação é realizada por meio de uma máquina de aférese, que colhe o sangue, separa as células-tronco e devolve os componentes que não são necessários para o receptor, sem a necessidade de anestesia ou internação.
“Quanto mais doadores cadastrados, maiores as chances de encontrar um compatível. A probabilidade de duas pessoas que não são parentes serem compatíveis é baixa, sendo preciso testar centenas ou milhares de pessoas para encontrar um doador. As buscas por doadores sempre iniciam com os familiares de primeiro grau porque a chance de compatibilidade é maior, mas quando não se encontra doadores na família, a busca precisa ser feita em registros de doadores nacionais ou internacionais”, finaliza ele.
Doações de sangue
Em São Paulo, até 12 de junho, os bancos de sangue da Fundação Pró-Sangue apontavam que os tipos O + e O -, B + e B – encontravam-se em estado crítico, enquanto os sangues A + e A – estavam em estado de alerta. Os únicos tipos sanguíneos em estabilidade são AB + e AB -. A campanha de doação de sangue, instituída no estado de São Paulo pela Lei nº 16.389 de 15 de março de 2017, também é conhecida como Junho Vermelho.
Embora a doação seja muito importante, Elíseo Sekiya ressalta que em algumas situações é preciso aguardar antes de doar sangue.
“Em casos de febre, diarréia, uso de antibióticos, realização de endoscopia e colonoscopia ou até mesmo se viajou para o norte do país é necessário aguardar um determinado período. Para aqueles que tiveram hepatite – após os 11 anos de idade –, câncer ou estão em processo de tratamento oncológico não se deve doar”, comenta o especialista. Além disso, ao ingerir bebida alcoólica é preciso esperar no mínimo 12 horas para realizar a doação.
Onde doar?
O IBCC Oncologia conta com um posto de coleta de sangue permanente localizado à Av. Alcântara Machado, 2.576. O horário de funcionamento é das 8h às 16h, de segunda a sexta-feira e durante dois sábados por mês, das 8h às 12h.
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