Em tempos de desinformação, a imunização consciente é um ato de responsabilidade individual e coletiva. Na Semana Mundial da Imunização, comemorada entre os dias 26 de abril e 3 de maio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça a importância da vacinação como uma das medidas mais eficazes para a prevenção de doenças graves.
Dados da OMS mostram que a vacinação salvou seis vidas a cada minuto desde 1974. Cerca de cinco milhões de vidas são salvas pelas vacinas todos os anos. Mais de 30 doenças podem ser evitadas pela vacinação. Mas a queda nas coberturas vacinais preocupam as autoridades públicas de saúde e especialistas.
No Brasil, a confirmação do primeiro caso de sarampo em São Paulo em 2025 e de três casos no Rio de Janeiro e um em Brasília acende um alerta sobre a importância da cobertura vacinal. Em 2023, cerca de 14,5 milhões de crianças não receberam sequer uma dose de vacina.
Apesar de a vacina contra o sarampo ter salvado mais vidas do que qualquer outra nos últimos 50 anos, mais de 22 milhões de crianças ainda não receberam a primeira dose da vacina contra o sarampo em 2023, o que preocupa e abre espaço para o retorno da doença, e outras 12 milhões perderam a segunda.
Nos últimos 50 anos, as vacinas salvaram 154 milhões de pessoas e estima-se que 94 milhões dessas vidas foram salvas graças à vacina contra o sarampo”, comenta Cláudia Cavalcanti Valente, coordenadora do Departamento Científico de Imunizações da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).
A situação se soma a um contexto preocupante observado em diversos países, onde o avanço do movimento antivacina tem contribuído para o retorno de doenças já controladas. Neste cenário, especialistas reforçam a importância das vacinas na prevenção de doenças graves e evitáveis.
As taxas de vacinação infantil estão em declínio em várias regiões do mundo, afetadas por desinformação, resistência de grupos específicos e pela hesitação vacinal crescente — fatores que colocam em risco a saúde coletiva”, afirma o médico pediatra e infectologista Roberto Florim, responsável pela Vacinar Centro de Imunização, que faz parte do Grupo Care Plus.
A infectologista Andréia Maruzo, do São Cristóvão Saúde, aponta a desinformação como o principal obstáculo para a confiança na vacinação. “O maior desafio é o combate às fake news. Com o amplo acesso às redes sociais, informações falsas são disseminadas com falas negativas e incorretas sobre as vacinas, o que afasta a população do ato de vacinar-se”, afirma a médica.
Além disso, a falta de divulgação e de orientação adequada também contribui para uma baixa adesão. “É preciso conscientizar não só o indivíduo, mas também o profissional de saúde, que deveria orientar e encaminhar seus pacientes para a vacinação”, complementa.
Aumento nas taxas de vacinação desde 2023
No Brasil, após um período preocupante, com declínio na cobertura vacinal há pelo menos sete anos, o país avançou de forma expressiva na cobertura vacinal da população, especialmente entre o público infantil. Dados do Ministério da Saúde mostram que houve um aumento significativo no número de municípios que atingiram a meta de 95% de imunização para vacinas essenciais do calendário infantil.
A vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, exemplifica esse progresso: em 2024, 2.408 municípios alcançaram a meta da segunda dose, um salto de mais de 180% em relação aos 855 municípios registrados em 2022. A cobertura da primeira dose também cresceu 55,7% no período, passando de 2.485 para 3.870 cidades.
A imunização contra a poliomielite, por meio da Vacina Oral Poliomielite (VOP), também registrou avanços, com o número de municípios que atingiram a meta subindo de 1.466 em 2022 para 2.825 em 2024 — um aumento de quase 93%. Ao todo, 15 das 16 vacinas recomendadas para crianças tiveram crescimento na cobertura em 2024, evidenciando a retomada do compromisso nacional com a vacinação.
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Vacinas para todas as idades
O Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, oferece gratuitamente mais de 20 vacinas para diferentes faixas etárias, desde recém-nascidos até idosos. Para bebês e crianças, imunizantes como BCG, hepatite B, pentavalente, poliomielite, tríplice viral e rotavírus são essenciais.
Adolescentes e adultos devem manter em diavacinas como HPV, meningocócica ACWY, hepatite B e febre amarela. Já os idosos precisam estar protegidos principalmente contra gripe, pneumococo e herpes zoster.
Cada faixa etária tem um calendário específico com vacinas recomendadas conforme o risco de adoecimento. Há o calendário do SUS e o da Sociedade Brasileira de Imunizações, que detalha imunizantes adicionais que podem ser aplicados na rede privada”, explica Dra. Andréia.
A pandemia de Covid-19 acelerou o desenvolvimento de novas tecnologias vacinais, como asvacinas de RNA mensageiro. Para Dra. Andréia, essas inovações representam uma revolução na área. “Hoje, estamos mais preparados para responder de forma rápida e eficaz ao surgimento de doenças, além de termos mais recursos para desenvolver vacinas modernas e seguras.”
Segurança das vacinas
Sobre as dúvidas em relação à segurança das vacinas, a especialista reforça: “Todas as vacinas autorizadas passam por um rigoroso processo de estudo, com várias fases de pesquisa e testes que comprovam sua segurança e eficácia. É um processo criterioso que garante o benefício do seu uso para a população”.
Para quem está com o calendário vacinal atrasado, a recomendação é procurar uma unidade básica de saúde ou clínica particular para avaliação. “É possível complementar o esquema vacinal com imunizantes disponíveis na rede privada, inclusive vacinas recomendadas, mas não oferecidas pelo SUS”, orienta a médica.
Os eventos alérgicos pós-vacinais são raros. Dra. Claudia diz que é preciso trabalhar a confiança nas vacinas para evitar a hesitação vacinal. “Reações alérgicas leves ou moderadas não são contraindicação para a maioria dos casos. De um modo geral, anafilaxias ou reações graves após a primeira dose de uma vacina são contraindicações para receber doses futuras”, explica a especialista da ASBAI.
Atenção às reações alérgicas
No entanto, pessoas que tiveram alguma reação alérgica grave precisam ser avaliadas pelo especialista. Dependendo do risco epidemiológico de adquirir uma doença infecciosa grave, o alergista avaliará, em conjunto com paciente, alternativas seguras.
Alergia ao ovo: Pessoas com alergia ao ovo não têm contraindicação para receber todas as vacinas de um modo geral. O cuidado especial será aplicado em relação a pessoas alérgicas ao ovo com sintomas graves após a ingestão (anafilaxia), que precisam receber a vacina febre amarela.
Nestes casos, a avaliação individualizada é desejável. É possível a realização de testes cutâneos com a vacina da febre amarela e, dependendo do resultado, a pessoa poderá receber a vacina em doses fracionadas, sob supervisão de até 60 minutos”, detalha Dra. Claúdia Valente.
Alergia ao leite: Pessoas com alergia ao leite de vaca poderão receber todas as vacinas do calendário vacinal, exceto vacinas que contenham proteínas hidrolisadas do leite.
Vacina contra HPV e vacinação nas escolas
Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram que o câncer de colo de útero é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres. Para cada ano do triênio 2023-2025 foram estimados 17.010 casos novos, o que representa uma taxa bruta de incidência de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres.
Temos vacina para frear esse crescimento do câncer de colo uterino. Nas meninas, a cobertura para uma dose é de 80%, para os meninos ainda é somente 60%”, conta a especialista da ASBAI.
A escola é um ambiente estratégico para práticas de promoção à saúde. O Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde, lançou, em parceria com as escolas e municípios, a Estratégia de Vacinação nas Escolas com a meta de vacinação de 90% da população de 9 meses a 5 anos de idade (vacinas tríplice viral, febre amarela e DTP) e de 5 anos até 15 anos de idade com estas vacinas e mais HPV (papilomavírus humano), Meningocócica ACWY e Dengue (nas localidades contempladas pela vacinação de 10 aos 14 anos de idade). O período de mobilização nas escolas começou em 14/04 e vai até 25/04.
A melhor forma de se informar é por meio de fontes oficiais, como os sites do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Imunizações, além de profissionais de saúde qualificados.
Com Assessorias