Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que mais de 24% dos pacientes em situação de internação em hospitais, assim como 52,3% dos indivíduos em tratamento nas Unidade de Terapia Intensiva (UTIs), morrem anualmente por infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS). Elas continuam sendo uma das principais causas de eventos adversos. Estima-se que, até 2050, essas infecções possam ocasionar cerca de 3,5 milhões de mortes por ano no mundo.
A situação é ainda mais preocupante em países de baixa e média renda (PBMR). Nesses lugares, a incidência de infecções é maior: em média, de cada 100 pacientes internados em UTIs, sete em países de alta renda (PAR) e 15 em PBMR vão desenvolver, pelo menos, uma infecção durante a internação. Nas UTIs, quase um terço dos pacientes (30%) podem ser afetados, com taxas de infecção duas a 20 vezes maiores em PBMR, especialmente entre os recém-nascidos.
O alerta é ainda mais relevante à luz do primeiro relatório global da OMS sobre prevenção e controle de infecções, publicado em 2022, que revelou que até 70% das infecções associadas aos cuidados de saúde podem ser evitadas com boas práticas de higiene das mãos e medidas de prevenção adequadas. A estimativa é que essas ações têm o potencial de evitar até 821 mil mortes por ano globalmente até 2050.
Estudos da OMS alertam que o simples ato de lavar as mãos pode reduzir em até 40% o risco de adquirir infecções, tais como gripe, diarreia, conjuntivite, dentre outras, além de evitar a transmissão de infecções relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), ressalta a médica infectologista Cláudia Vidal, diretora de Educação e Formação Profissional da Sociedade Brasileira de Qualidade no Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp).
Infecções de corrente sanguínea (ICS) em UTIs: um alerta vermelho
As Infecções de Corrente Sanguínea (ICS), especialmente aquelas associadas ao uso de cateter venoso central, são consideradas as mais graves entre as IRAS, devido à sua alta taxa de mortalidade e complexidade no tratamento.
Segundo dados do Boletim Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde nº 31 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publicado em 2023, e compilados pela Sobrasp, as ICS representam uma das principais causas de infecções em UTIs no Brasil.
No Brasil, foram registradas 34.428 mil infecções por ICS em UTIs, sendo 24.430 em UTIs adulto, 6.826 em neonatal e 3.172 em UTIs pediátricas.
Infecções hospitalares cresceram 20% em 2024 no Brasil
O boletim epidemiológico atualizado do Ministério da Saúde revelou que o número de infecções hospitalares cresceu 20% em 2024, na comparação de 12 meses com o período anterior. A informação serve como alerta para gestores e sociedade, já que no dia 15 de maio é celebrado o Dia Nacional do Controle das Infecções Hospitalares.
É importante esclarecer que a data foi instituída por intermédio da Lei 11.723/2008, com o intuito de conscientizar autoridades sanitárias, gestores hospitalares e profissionais de saúde sobre a importância da prevenção e controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS).
Com esse entendimento, foi reforçado que contaminações adquiridas durante o atendimento clínico ou hospitalar significam um grave problema de saúde pública, já que podem aumentar a morbidade, mortalidade e os prejuízos das empresas de saúde pública e privada.
Prevenção: a chave está em nossas mãos
Desse modo, a OMS tem apoiado várias campanhas de prevenção, tendo em vista que a mudança de hábitos começa com medidas simples, como a higienização adequada das mãos, o uso correto de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e a adesão a protocolos de limpeza e desinfecção. A ideia é conscientizar os profissionais de saúde sobre como lavar as mãos é fundamental para evitar a transmissão de doenças, infecções e até mortes.
Instituído pela OMS em 2009, o Dia Mundial da Higiene das Mãos (5 de maio) reforça a importância de um hábito essencial tanto para profissionais de saúde quanto para pacientes e visitantes. A campanha “Salve Vidas: Higienize Suas Mãos” destaca a higienização das mãos como uma das medidas mais eficazes para prevenir infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS).
A implementação de Programas coordenados de Prevenção e Controle de Infecções (PCI), incluindo a higienização rigorosa das mãos, pode reduzir significativamente a incidência de IRAS. Programas de PCI bem estruturados, com sistemas de monitoramento e gestão, podem fazer uma grande diferença”, afirma a infectologista.
Em países de baixa e média renda, as intervenções de PCI poderiam prevenir até 337 mil mortes anuais relacionadas à resistência antimicrobiana (RAM). uma consequência direta do uso inadequado de antibióticos e da disseminação de infecções hospitalares.
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Luva não elimina a necessidade de higienizar as mãos
Mais do que uma data no calendário, a higiene das mãos deve fazer parte da rotina de cuidado no ambiente hospitalar. Os cinco momentos críticos definidos pela Organização Mundial da Saúde em que a higienização das mãos é indispensável – antes de tocar o paciente, antes de procedimentos assépticos, após risco de exposição a fluidos corporais, após contato com o paciente e após tocar superfícies próximas a ele. E não adianta usar luvas!
É comum que tanto o público quanto os próprios profissionais de saúde acreditem que a luva elimina a necessidade de higienizar as mãos, o que não é verdade. Ela protege o profissional, mas pode se tornar um vetor de contaminação se mal utilizada”, afirma Filipe Piastrelli, infectologista e coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Alinhado à campanha mundial, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz promove uma série de ações permanentes voltadas à segurança do paciente, com reforço especial ao longo de todo o mês de maio. Neste ano, a ação adota o slogan “As luvas protegem você. A higiene das mãos protege a todos”, abordando uma confusão frequente entre uso de luvas e segurança. O tema dialoga com a proposta da OMS para 2025 (“Luvas às vezes, higiene das mãos sempre”) e alerta para o uso inadequado das luvas como substituto da higienização.
As iniciativas incluem observação direta das práticas assistenciais, mensuração da adesão aos cinco momentos críticos definidos pela OMS, devolutivas regulares às equipes e reforços educativos. Além das ações internas, o hospital também oferece curso gratuito e 100% online sobre higienização das mãos nos serviços de saúde, voltado a profissionais e estudantes da área.
Disponível em seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, o conteúdo aborda a história da prática, os fatores que influenciam sua efetividade e a técnica correta, com base nos cinco momentos da higienização definidos pela Anvisa. O curso tem carga horária de oito horas e pode ser feito no ritmo do aluno, com novas turmas abertas mensalmente.
Com Assessorias