A Semana Mundial de Conscientização sobre a Resistência Antimicrobiana (18 a 24 de novembro) traz também o alerta para medidas de controle e prevenção de infecções causadas por vírus, bactérias e fungos transmitidos no ambiente hospitalar. Um estudo publicado no periódico científico The Lancet no ano passado apontou que a resistência a medicamentos em infecções da corrente sanguínea, que pode levar à sepse – infecção generalizada.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), infecções adquiridas durante a prestação de serviços de saúde são um grande problema global, contudo, pacientes em países de baixa e média renda têm duas vezes mais probabilidade de infecção do que aqueles em países de alta renda – 15% e 7% dos pacientes, respectivamente.

As infecções bacterianas ocupam o segundo lugar no ranking das doenças que mais matam no mundo. O estudo do Lancet revelou que a RAM esteve relacionada a 1,5 milhão de mortes, ficando atrás apenas das doenças do coração. O levantamento mostra que a resistência aos antibióticos esteve associada a quase 5 milhões de mortes, e foi diretamente responsável por cerca de 1,27 milhão de óbitos em 2019 (período do levantamento).

“As infecções por bactérias resistentes, ou seja, aquelas que precisam de antibióticos mais potentes devido ao uso descontrolado e sem acompanhamento médico dos antibióticos, já são um problema de saúde pública e precisamos desenvolver ações que ajudem a reduzir o número de casos dentro e fora dos hospitais”, explica Ricardo Kosop, coordenador do projeto Antimicrobial Stewardship no Hospital Angelina Caron (HAC), referência em atendimentos de alta complexidade, localizado na Região Metropolitana de Curitiba. 

Prevenção de infecções dentro dos hospitais

Diante deste cenário, a higienização correta das mãos é fundamental para prevenir quadros de resistência bacteriana em ambientes hospitalares. Segundo a OMS, lavar as mãos sempre que necessário ajuda a reduzir em aproximadamente 40% doenças como gripe, conjuntivite e viroses. De acordo com o médico, a higienização das mãos é considerada uma estratégia de prevenção de infecções com maior e mais robusta evidência de efetividade, além do baixíssimo custo e relativa simplicidade.

Contudo, embora simples, e mesmo após tudo o que vivemos durante a pandemia, ainda costuma ser ignorada no dia a dia, tanto por pessoas comuns como por profissionais de saúde. A higiene de mãos deve ser realizada com preparação alcoólica (álcool gel) pela sua rapidez e efetividade. No entanto, sempre que houver sujeira aparente ou matéria orgânica nas mãos, a lavagem de mãos com água e sabão é recomendada.

Dentre as iniciativas que vêm ganhando notoriedade dentro dos hospitais, o programa Antimicrobial Stewardship, desenvolvido com apoio da BD, uma das maiores empresas de tecnologia médica do mundo, visa promover o uso racional de antibióticos e reduzir infecções, casos de sepse e consequentemente, multirresistência microbiana em ambientes hospitalares.

“A resistência microbiana é uma das maiores ameaças no mundo hoje. Até 2050, poderemos voltar a ter infecções intratáveis e, um antibiótico mal-usado faz uma pressão seletiva (ou seja, quando um conjunto de fatores acabam selecionando os organismos mais resistentes) não apenas na bactéria, vírus ou fungo que causa determinada enfermidade, mas também nos demais microrganismos presentes no indivíduo e na comunidade”, alerta Kosop.

Para ajudar as instituições de saúde a implementarem protocolos seguros, capazes de garantir a segurança do paciente, foi lançado o Programa de Gerenciamento de Acesso Vascular, do inglês VAM – Programa Vascular Access Management.

“Em média, a adesão ao programa reduz em 32% as complicações e diminui em 40% a taxa de infecções. Além disso, nosso monitoramento mostra uma redução de 33% relacionada a custos associados à segurança do paciente”, conclui Carlos Damasceno, especialista clínico da BD, responsável pelo programa no Brasil.

Palavra de Especialista

A prevenção da resistência antimicrobiana é considerada fundamental para o controle da infecção hospitalar – conhecida tecnicamente como sepse. “Ao se racionalizar o uso dos antibióticos e garantir que sejam prescritos apenas quando realmente necessários, diminui-se o desenvolvimento de bactérias resistentes”, comenta Andrea Maciel de Oliveira Rossoni, infectologista pediátrica e docente de Medicina da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (Fempar) no artigo abaixo.

Controle de infecção hospitalar: por que prevenir a resistência antimicrobiana

Por Andrea Maciel de Oliveira Rossoni*

Infecção Hospitalar ou Relacionada à Assistência a Saúde (IRAS) é a denominação para qualquer infecção adquirida após a admissão do paciente no hospital. Pode se manifestar durante a internação ou após a alta, desde que esteja relacionada com a internação ou com os procedimentos realizados durante a mesma. Essas infecções podem ser causadas por uma ampla variedade de micro-organismos, como bactérias, vírus, fungos e protozoários, e são especialmente preocupantes quando envolvem bactérias resistentes a antibióticos.

O controle dessas infeções é importante para prevenção e resolução de surtos, redução de morbi-mortalidade, tempo de internação e custos médicos. Quando realizada de forma adequada, interfere fundamentalmente no perfil local de resistência antimicrobiana.

Os pilares do controle de infecção hospitalar podem ser delineados em:

  • Proteção do Paciente: as infecções adquiridas durante o tratamento podem agravar a condição do paciente, prolongar o tempo de internação e até mesmo levar ao óbito. O controle de infecção busca garantir que a assistência prestada não se torne uma fonte de novas enfermidades;
     
  • Proteção dos Profissionais de Saúde: profissionais que atuam nos hospitais estão constantemente expostos a diversos agentes infecciosos. O controle de infecção visa evitar que eles se tornem veículos de disseminação desses agentes ou que adoeçam por eles;
     
  • Proteção da Comunidade: ao evitar que pacientes se colonizem, evita que bactérias hospitalares sejam levadas para comunidade;
     
  • Economia de Recursos: devido a diminuição das taxas de infecções, diminui-se o tempo de internação e a complexidade dos tratamentos;
     
  • Prevenção de Resistência Antimicrobiana: ao se racionalizar o uso dos antibióticos e garantir que sejam prescritos apenas quando realmente necessários, diminui-se o desenvolvimento de bactérias resistentes.

Para atingir esses objetivos, são empregadas diversas estratégias, dentre as quais se destacam: a higiene adequada das mãos, o isolamento dos pacientes com germes resistentes ou infecções transmissíveis, a desinfecção e esterilização de superfícies, equipamentos, instrumentos e ambientes, a gestão dos resíduos hospitalares e principalmente o uso racional de antimicrobianos (avalia-se indicações, doses e duração correta do tratamento). É de fundamental importância a realização de treinamento regulares e monitoramento das ações e taxas das infeções (vigilância epidemiológica).

O controle de infecção hospitalar é uma responsabilidade compartilhada por toda a equipe de saúde, pacientes e visitantes. Ele protege a saúde de todos os envolvidos no ambiente hospitalar, reduzindo a disseminação de infecções, a morbi-mortalidade e os custos associados. A adoção dessas medidas é essencial para garantir que hospitais sejam locais seguros e confiáveis.

*Infectologista pediátrica e docente de Medicina da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (Fempar)

  • Com Assessorias
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