Rio, SP, Manaus e Fortaleza podem ter ‘lockdown’

Bloqueio total pode ser adotado nestas capitais se medidas de isolamento social não forem seguidas. Número de casos dobrou em uma semana

Secretários de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, e executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, apresentam boletim epidemiológico (Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil)
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Manaus, Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro são as cidades que não podem relaxar medidas de isolamento social por conta do número de casos da covid-19 e da capacidade de atendimento dos hospitais. Caso contrário, pode ser necessário decretar o bloqueio total (lockdown, em inglês), uma estratégia drástica tomada quando localidades não conseguem conter a pandemia. O alerta foi dado por representantes do Ministério da Saúde em entrevista coletiva neste sábado (11) para apresentar os novos números da doença causada pelo novo coronavírus.

Em todo o país, foram registradas 1.124 mortes e 20.727 casos confirmados da doença, o dobro do número de casos em uma semana. Estudo da UFRJ mostra aumento de 50% na transmissão do novo coronavírus, por isso é fundamental fazer o distanciamento social por mais alguns dias, segundo orientações de prefeitos, governadores e secretários de Saúde de municípios e estados. “Não tem número inventado, o que estamos fazendo é dar transparência aos dados”, disse o secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo.

Segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, é preciso manter o isolamento horizontal para que não seja necessária a medida mais drástica nas capitais mais afetadas, que deverão ter picos da doença no final de abril e início de maio.. Ele destacou que o bloqueio total é “uma medida muito amarga que traz impactos econômicos bastante expressivos” e a expectativa é que isso não seja necessário no Brasil.

Esperamos que não tenhamos que tomar essa medida em nenhum lugar do Brasil. Por isso pedimos que as pessoas sigam no isolamento social, em especial em Manaus, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo, que são os estados mais afetados pelo covid-19″, disse o secretário.

Em caso de lockdown decretado, as forças policiais serão usadas para impedir a circulação de pessoas. Isso implicaria no fechamento de ruas, acessos e transporte público. Questionado sobre a possibilidade de o Brasil entrar em lockdown, Oliveira afirmou que ainda não é hora de adotar essa medida mais radical, porém, para que o Brasil não precise adotar medidas restritivas mais radicais contra o coronavírus, é necessário que a população respeite o isolamento horizontal.

Nas experiências internacionais, lockdown foi aplicado quando se colapsou o sistema de saúde de forma muito abrupta, como na Itália”, afirmou o secretário. A decisão de adotar ou não o lockdown cabe ao gestor local, porém, o secretário alerta que não adiantará fazer isso caso a pandemia de covid-19 esteja perto do pico, pois quando isso acontece, não é mais possível freá-la.

Chega num ponto da curva [de crescimento de casos] que não vai mais adiantar fazer o lockdown, porque o vírus já está disseminado na região. O crescimento exponencial, chega um ponto que ela [a curva de infectados] vai duplicar. Quando a curva sobe muito rápido, é impossível reduzi-la, nem com lockdown“, alerta.

Segundo ele, o momento é de pensar em medidas de higiene, etiqueta e distanciamento social. Cobrir o rosto quando espirrar, lavar as mãos e usar máscaras quando sair de casa são algumas medidas. Elas são as únicas e mais eficientes armas que nós dispomos neste momento. Mas a decisão sobre qual ação ou caminho tomar compete aos gestores locais.”

Para Oliveira, o momento ainda não é de pensar em lockdown, mas sim de proteção. “O momento é de lavar as mãos, cobrir o rosto ao espirrar, usar a máscara. Ou seja, as medidas de isolamento social é a única e mais eficaz maneira de impedir o avanço da pandemia”, alertou. Segundo o secretário, caso a população siga desrespeitando o isolamento, irá haver uma aceleração da pandemia. “Deveria haver um isolamento de pelo menos 70% da população”, afirmou.

Epidemiologistas, infectologistas e virologistas já falam sobre a necessidade de São Paulo entrar em lockdown, ou seja, bloqueio total de movimentação. As informações foram publicadas pela Folha de S. Paulo. Mas os especialistas ainda não conseguem afirmar se a medida precisa ser tomada em todo estado ao mesmo tempo ou em apenas em algumas cidades, por falta de dados mais concretos. Na sexta-feira, a taxa de isolamento social baixou para 47% da população, quando o ideal seria de 79%.

Números

Foram 1.089 novas confirmações em 24 horas, mas os números podem estar abaixo da realidade, já que, em função do feriadão, nem todas as Secretarias Estaduais de Saúde passaram seus números, o que deve ser consolidado na próxima terça-feira (14). Apenas o estado de Tocantins não tem, até o momento, óbito pela doença, mas também registrou casos confirmados.

O Estado de São Paulo concentra o maior número de casos (8.419) e de mortes (560).  Na capital paulista, epicentro da pandemia no Brasil, o índice de mortos é de 28 por milhão de habitantes. A incidência é maior em Fortaleza, com 439 infectados a cada milhão de habitantes. No Ceará são 1.582 infectados e 67 óbitos. No Amazonas, há 1.050 casos e 53 mortes.

No Rio de Janeiro, há 2.607 casos confirmados e 155 mortes – outros 107 óbitos estão sendo investigados. Dos 92 municípios, 58 já registram casos. A maioria (1.908 infectados e 98 mortos) fica na capital, seguida de Duque de Caxias, Niterói e Volta Redonda.

Do total de casos, 4.436 (12%) estão em estado grave, necessitando de internação em hospitais de referência em todo o Brasil. Atualmente, dos 1.124 óbitos confirmados, 75% ocorreram em pessoas com mais de 60 anos e, 74% do total das vítimas apresentavam pelo menos um fator de risco.

Pessoas acima de 60 anos se enquadram no grupo de risco, mesmo que não tenham nenhum problema de saúde associado. Além disso, pessoas de qualquer idade que tenham comorbidades, como cardiopatia, diabetes, pneumopatia, doença neurológica ou renal, imunodepressão, obesidade, asma e puérperas, entre outras, também precisam redobrar os cuidados nas medidas de prevenção ao coronavírus.

Manaus à beira de um colapso na saúde

Gabbardo disse que Manaus está chegando quase na capacidade máxima de atendimento dos hospitais. “Se não tomarmos uma medida, o número de casos vai ultrapassar a nossa capacidade de atendimento. As pessoas poderão ficar desassistidas”, disse.

Por isso, ele informou que foi liberado recursos para a construção de um hospital de campanha para atender a população indígena e haverá aumento de 350 leitos no hospital de referência para a covid-19 na cidade. Segundo Gabbardo já foram enviados 20 respiradores e outros 20 ainda serão enviados. Outra medida será o reforço da equipe de médicos intensivistas.

Gabbardo disse que o Amazonas será o primeiro estado a convocar voluntários que se cadastraram no programa Brasil Conta Comigo, lançado no início de abril, em que profissionais de saúde se cadastraram para atender à população. “A partir de 13 de abril, vamos convocar profissionais para atuar em Manaus”. De acordo com ele, Fortaleza provavelmente será a segunda cidade ter profissionais cadastrados convocados para atuar no enfrentamento da covid-19.

A capital do Amazonas vive um cenário com muitas pessoas necessitando de hospitalização e com a capacidade de atendimento hospitalar próximo ao limite.” Em Manaus temos mais de 1 mil enfermeiros, cadastrados no Conselho Federal de Enfermagem, além de 80 médicos cadastrados no Conselho Federal de Medicina. Esses profissionais de saúde estão dispostos a serem contratados pelo Ministério da Saúde para ampliar o atendimento à população de Manaus”, destacou Jõao Gabbardo.

Ministério registra a morte de três indígenas

O Ministério da Saúde informou no início da noite deste sábado (11) a morte de mais dois indígenas por causa do novo coronavírus (covid-19). Uma das mortes foi de uma indígena Kokama, de 44 anos, e o outro óbito foi de indígena da etnia Tikuna, de 78 anos. Segundo nota do ministério, a indígena Kokama se encontrava internada desde 28 de fevereiro, em Manaus, para tratamento de anemia hemolítica autoimune.

O quadro da paciente agravou-se após contração da covid-19, quando passou a respirar por aparelhos, vindo a falecer em dia 9 de abril. De acordo com o atestado de óbito, a indígena faleceu em decorrência de insuficiência respiratória aguda por covid-19; anemia hemolítica autoimune; e lúpus eritematoso sistêmico”, diz a nota.

O indígena da etnia Tikuna morreu neste sábado. Ele chegou a ser removido do Hospital de Tabatinga (AM) para tratar de bloqueio no coração na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Delphina Aziz (Manaus), mas não resistiu. “Em 25 de março, havia sido transferido para o Hospital Adriano Jorge e em 31 de março para o Hospital Francisca Mendes, referência em Cardiologia. Durante o período de tratamento hospitalar, o teste para covid-19 acusou positivo, o que agravou ainda mais seu quadro”, diz nota do Ministério.

Na noite de quinta-feira (9) morreu o adolescente yanomami, de 15 anos de idade, que testou positivo para a covid-19 e havia sido internado no Hospital Geral de Roraima (HGR), em Boa Vista. Desde sexta-feira (3) ele recebia cuidados em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). De acordo com o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei), que atende a região, ele era natural da aldeia Rehebe, nos domínios da Terra Indígena Yanomami, mas passou a residir no município de Alto Alegre, a 87k da capital, para dar continuidade aos estudos do ensino fundamental. Ainda segundo o Dsei, o adolescente morava com uma liderança indígena.

Com Agência Brasil (atualizado em 12/04.20)

 

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