A tecnologia tem influenciado os hábitos de vida e comportamento da sociedade, e isso inclui crianças e adolescentes. De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), 95% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos de todo o país acessam a internet, o que corresponde a mais de 25,1 milhões de pessoas nessa faixa etária.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) Tecnologia da Informação e Comunicação, divulgada em agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que 84,2% das crianças de 10 a 13 anos no país têm acesso à internet.
Apesar de a internet ser uma fonte de conhecimento, o acesso ao ambiente digital vem sendo um tópico de discussões entre as famílias. Isso porque muitos pais têm se preocupado com a relação prejudicial para seus filhos, pois a interação entre crianças e tecnologia é cada dia mais próxima e precoce.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a conectividade pode auxiliar os pequenos a se desenvolverem melhor na sociedade, já que permite o apoio educacional, social e de lazer. Embora a tecnologia ofereça diversos benefícios, o uso em excesso pode gerar uma série de consequências para o desenvolvimento cerebral e para capacidade de concentração, aumentando o risco de distúrbios cognitivos, emocionais e comportamentais.
Pesquisas indicam que o hábito traz benefícios e malefícios para crianças e adolescentes. Diversos estudos mostram que a exposição excessiva às telas pode afetar a saúde mental de crianças e adolescentes e causar ansiedade, dificuldades de aprendizagem e até mesmo diminuir a atenção.
Um estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) confirma que o uso de telas em excesso pode ser prejudicial. Do total de crianças avaliadas, 72% tiveram o aumento da depressão associado ao uso de telas, apresentando também uma diminuição do quociente de inteligência (QI).
Segundo um estudo realizado pela American Academy of Pediatrics (AAP), é recomendado inclusive limitar o tempo de tela para crianças e adolescentes para evitar impactos negativos no desenvolvimento cognitivo e na saúde mental.
A SBP alerta que o uso excessivo ou inadequado de atividades com recursos tecnológicos podem gerar nas crianças um aumento dos índices de distúrbios relacionados à saúde mental, como ansiedade e depressão. A entidade recomenda adequar a exposição aos aparelhos tecnológicos conforme idades e etapas de desenvolvimento da criança ou do adolescente, com especial atenção à manutenção da saúde alimentar e do sono, aliado às práticas de atividades físicas.
Especialistas orientam pais e responsáveis
Segundo a psicóloga clínica Beatriz Brandão, o uso excessivo das telas durante as férias escolares pode afetar a saúde mental de crianças e adolescentes. A profissional explica que a falta de rotina pode contribuir para comportamentos compulsivos que dificultam a interação familiar, gerando impactos como isolamento social, piora da autoestima devido à comparação com padrões irreais disseminados nas redes e aumento da ansiedade e da irritabilidade.
A psicóloga clínica e neuropsicóloga Andreza Thans alerta que a exposição prolongada a telas também pode trazer impactos nas habilidades cognitivas. No período das férias, o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos tende a ser maior e sem atenção dos pais. Dessa forma, os pequenos podem desenvolver falta de concentração e dificuldades para memorizar, além de reduzir o tempo com atividades criativas essenciais para o desenvolvimento cognitivo.
Há, ainda, os perigos digitais. Beatriz explica que na internet as crianças podem estar expostas a cyberbullying, exposição a conteúdos impróprios e grooming (aliciamento on-line). A psicóloga aponta que todos esses fatores podem causar ansiedade, baixa autoestima, medo constante e até traumas psicológicos.
Recomendações da neuropsicóloga
De acordo com Andreza, o tempo de tela ideal pode variar, mas as recomendações gerais podem guiar pais e cuidadores. Para crianças de até 2 anos, a orientação é evitar o uso de telas, pois a interação humana direta é primordial nessa fase.
Entre os 3 e 5 anos, a orientação é limitar o uso a uma hora por dia, com foco em conteúdos educacionais, sempre com supervisão. Já as diretrizes para as crianças com 6 anos ou mais, é o uso de, no máximo, duas horas por dia, sendo essencial balancear com atividades físicas e interações sociais.
Na avaliação de Beatriz, o olhar atento de pais e responsáveis é fundamental para identificar se o acesso às telas está prejudicando o bem-estar emocional das crianças. Mudanças de humor, dificuldade de concentração, alteração do sono, queda no desempenho escolar, perda de interesse em atividades off-line e comportamento compulsivo são sinais a serem observados.
Beatriz dá dicas para os pais abordarem o uso consciente da internet com as crianças. A forma mais eficaz, de acordo com a especialista, é utilizar uma linguagem apropriada para a idade, focando em exemplos concretos e práticos. Além disso, é importante enfatizar a relevância da segurança e da confiança, permitindo que as crianças compartilhem dúvidas e experiências.
Férias: brincar longe das telas é essencial para as crianças
Confira dicas de brincadeiras que fortalecem a criatividade e a imaginação
O período de férias é marcado por um calor intenso e algumas vezes também por uma falta de rotina e horas livres para que as crianças e adolescentes possam brincar e se conectar com os familiares. Entre as grandes questões que cercam os pais e responsáveis, está o uso contínuo das telas e celulares. Como é possível gerenciar o tempo e permitir que os filhos brinquem livremente e evitem o uso excessivo dos eletrônicos?
Presente no cotidiano infantil, o uso excessivo das telas é motivo de debate constante entre familiares, responsáveis e especialistas sobre o tema. “A gente sabe que inserir esses equipamentos é uma realidade na sociedade, porém o uso desenfreado, que muitas vezes é permitido nas férias, pode impactar a criatividade, além de gerar falta de socialização e transtornos de ansiedade, por exemplo”, revela a professora Viviane Anita Kunst, do Marista Escola Social Curitiba.
O brincar livre
No contraponto do uso das telas, os especialistas alertam que o brincar livre deve ser incentivado, e nada melhor do que as férias para que os pais e responsáveis criem uma rotina de valorização do brincar.
O ato da brincadeira desenvolve a criatividade, permite que a criança tenha liberdade para suas construções e expressões, promove interações entre eles, estimula o raciocínio lógico e o levantamento de hipóteses no mundo do faz de conta. A autonomia do brincar é muito necessária nesse mundo” revela Karina Tenorio de Lima.
As educadoras dão dicas de brincadeiras que podem ser feitas nas férias para evitar o uso excessivo de telas:
Circuito olímpico em casa
Faltando pouco tempo das Olimpíadas de Paris 2024, que tal montar brincadeiras que sejam semelhantes a um circuito de competição? Vale utilizar cordas, almofadas, travesseiros e materiais que tenham em casa, depois é só juntar as crianças e partir para a brincadeira.
Utilizar livros em dias de chuva
Em boa parte do país o feriado promete ser bem chuvoso, portanto, a inserção de livros em brincadeiras que possam ser feitas dentro de casa é uma ótima maneira de evitar o uso das telas. Vale momentos de contação de histórias, mímicas, e adivinhações sobre os livros e os seus personagens.
Cozinhar também é brincar
Outro recurso que pode ser utilizado em casa é levar a brincadeira para a cozinha, com todos os cuidados com o fogão e utilizando objetos adequados para a idade das crianças. É possível fazer bolachas caseiras, pães e bolos e sucos divertidos e coloridos, tudo isso pode virar guloseimas e gerar ótimas recordações.
Brincadeiras tradicionais
O simples também funciona muito, por isso, as brincadeiras que passam de pai para filho como esconde-esconde, lenço-atrás e atividades com bexigas são ótimas opções. Além da diversão, é um ótimo momento de apresentar a brincadeira favorita da infância dos pais e responsáveis para as crianças.
Use materiais recicláveis
As caixas de leite, ovos e demais itens que iam direto para a lixeira podem virar construções sobre a mesa. Aqui vale utilizar toda a imaginação em busca de recuperar os itens e transformar em brinquedos. Aproveite para inserir pincéis e tintas para estimular ainda mais a criatividade dos pequenos.
7 dicas para tirar as crianças das telas nas férias
O uso excessivo das telas na infância é motivo de preocupação entre as famílias. Durante as férias escolares, sem a obrigatoriedade das aulas e deveres de casa, o acesso ao mundo virtual pode ser ainda maior. Por isso, é importante oferecer alternativas e os pais costumam procurar atividades para entreter as crianças e, preferencialmente, mantê-las longe de tablets, celulares e jogos online. .
As mais adequadas são as que incentivam a criatividade, a interação social e o desenvolvimento físico. É no brincar que a criança se realiza, aprende a conversar, a dialogar com o outro, a lidar com seus desafios”, afirma Daniel Moraes, consultor pedagógico do LIV, programa de educação socioemocional presente em mais de 700 escolas do Brasil.
Moraes preparou sete dicas de atividades para entreter as crianças e explicou os benefícios de cada uma. Confira:
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Teatro de sombras
Para transformar a casa em um teatro de sombra, a dica é realizar a atividade em uma sala com pouca luz. Os pais podem usar uma lanterna ou luminária para criar sombras em uma parede e incentivar as crianças a usarem as mãos ou objetos para criar formas que representam personagens ou cenas. Elas podem inventar uma história juntos e apresentá-la para a família.
Essa atividade, diz Daniel, ajuda as crianças a se expressarem, de forma verbal e não-verbal e tem outros benefícios. Ela ajuda os pequenos a se colocarem no lugar do outro, através de desafios de cenas coletivas. O teatrinho também auxilia no desenvolvimento de habilidades como criatividade e comunicação.
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Jogo dos sentimentos
Os responsáveis podem escrever em cartões ou folhas soltas as diferentes emoções, como alegria, tristeza, medo e raiva. Cada criança sorteia um cartão e faz uma mímica ou descreve situações em que aquela emoção aparece. “Se for sorteada a alegria, a criança pode fazer uma mímica de uma vez que se sentiu alegre, além de mostrar em seu corpo como esse sentimento é percebido (sorriso, pulos, gestos com as mãos)”, diz o especialista.
Este jogo trabalha o autoconhecimento e a comunicação, ao mesmo tempo que ajuda as crianças a reconhecerem emoções em si mesmas e nos outros. “É um caminho, através da brincadeira, que auxilia crianças a identificar e expressar emoções de maneira saudável”, reforça.
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Construção de abrigos
Construir uma cabana com lençóis ou uma caverna debaixo da mesa de jantar é uma atividade que, além de divertida, ajuda as crianças a entender o espaço em que estão inseridas. A brincadeira pode ser realizada em um parque.
“Incentive a criação de histórias sobre quem mora ali ou o que acontece nesse espaço”, diz o consultor do LIV.
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Expedição na matureza
As férias podem ser um ótimo momento para conectar as crianças ao meio ambiente e despertar a curiosidade científica. O contato com o mundo pode fortalecer a inteligência naturalista, estimular a observação e promover a consciência ambiental.
A dica é incentivar as crianças a observarem plantas, insetos e objetos da natureza em uma caminhada, que pode ser em um parque ou até mesmo no quintal.
“Use lupas ou câmeras para documentar as descobertas e converse sobre o que foi encontrado. Também podem ser utilizadas câmeras fotográficas analógicas, ou mesmo o celular para registrar o momento, enriquecendo as narrativas para a experiência”, diz Moraes.
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Caça ao tesouro temática
Que tal propor um desafio diferente para a criançada? Uma brincadeira de Caça ao Tesouro Temática pode estimular o raciocínio lógico e a cooperação, além de auxiliar no desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas, pensamento crítico e trabalho em equipe.
O consultor pedagógico do LIV orienta que os pais elaborem pistas com dicas ou desafios que levem ao próximo local até encontrar o tesouro, que pode ser algo que as crianças gostem, como doce ou um brinquedo. As pistas podem incluir enigmas, charadas ou tarefas para completar.
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Plantar e cuidar de um jardim
Cuidar de uma planta ou de um jardim pode ensinar muito sobre paciência, responsabilidade e o cuidado com a natureza. Que tal proporcionar uma experiência diferente nas férias com a construção de um jardim? Vale aquela área do quintal ou da varanda do apartamento.
Escolha sementes fáceis de plantar, como feijão ou girassol. Vale um pequeno vaso ou espaço no quintal. Mostre como plantar e cuidar, regando e acompanhando o crescimento ao longo dos dias.
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Jogo de improvisação teatral
O teatro é um ótimo caminho para desenvolver a criatividade, a expressão corporal e a habilidade de pensar rapidamente. Essa atividade trabalha a inteligência interpessoal, a confiança e a capacidade de se adaptar a situações novas.
“Crie um pote com sugestões de temas ou situações, por exemplo: “um alienígena chega à Terra”. As crianças sorteiam um tema e improvisam uma cena curta. É importante destacar que o jogo não precisa ter um ganhador, o importante é como nos adaptamos para nos expressar”, finaliza Moraes.
Com Assessorias