Por Wilma Bolsoni*

A fragilidade na saúde mental de profissionais e a população em geral, já vinha apresentando índices de crescimento antes da pandemia. Durante esse período, o processo acelerou e os problemas emocionais aumentaram significativamente. O agravamento do desequilíbrio mental e emocional da população em geral, não reduzirá nos próximos anos.

·       Dados sobre saúde mental no Brasil

  • 86% dos brasileiros sofrem de algum tipo de transtorno mental;
  • O Brasil é o 1º país do mundo em ansiedade e 1º da América Latina em depressão;
  • 76% dos profissionais brasileiros sofrem de estresse e 32% chegam ao Burnout (esgotamento);
  • No Brasil, onde 65 milhões de pessoas estão fora da força de trabalho, a taxa de desemprego bate os 10% e 30% dos jovens não têm emprego formal

Pesquisa da McKinsey mostra que cerca de um terço da força de trabalho brasileira considera deixar seus empregos nos próximos 3 a 6 meses, motivada principalmente pela falta de oportunidades de desenvolvimento e por uma remuneração inadequada. Esse movimento pode gerar um impacto de 10 a 15% sobre as receitas das empresas, decorrente de custos de recrutamento, desenvolvimento e perda de produtividade.

A pesquisa, feita com 15 mil funcionários de 15 países de todos os continentes e realizada entre fevereiro e abril de 2022, mostra que a Síndrome de Burnout é um fenômeno global: um em cada quatro funcionários pesquisados relatou ter tido sintomas de Burnout “com frequência” ou “com muita frequência” (e mais de dois terços, “às vezes”). Essas altas taxas foram observadas em todo o mundo e em grupos demográficos variados e são coerentes com as tendências globais.

“The Great Resignation” – sentido, propósito e felicidade

“A Grande Resignação” é um movimento de massa, onde os funcionários se demitem voluntariamente de seus empregos buscando mais significado, qualidade de vida, realização pessoal e profissional. Surgiu no início de 2021 durante a pandemia do COVID-19 e gradualmente começou a se apresentar no Brasil.

Salário e plano de carreira não são mais suficientes para reter talentos na organização. No país, mais de meio milhão de pessoas pedem demissão todos os meses, segundo dados de 2021 e do primeiro semestre de 2022 de uma pesquisa encomendada pela revista Você S/A ao estúdio de inteligência de dados Lagom Data. Esse número é o dobro do registrado nos anos anteriores à pandemia.

Entre os principais motivos que levam à demissão voluntária no Brasil destaca-se a busca por realização pessoal e profissional: horários flexíveis, carga horária variável, benefícios que incluem saúde mental, segurança psicológica no ambiente de trabalho, programas pró qualidade de vida.

Segundo levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no Brasil, entre julho de 2021 e julho de 2022, foram registrados 6,5 milhões de pedidos de demissão de trabalhadores com carteira assinada. 

·        Opções que tocam apenas a superfície do problema

  • Estima-se que nove em cada dez empresas em todo o mundo oferecem alguma forma de programa de bem-estar (Charlotte Lieberman, “What Wellness Programs Don’t Do for Workers”, Harvard Business Review). A maioria das empresas oferece benefícios de bem-estar, tais como ioga, aplicativos de meditação, campanhas de bem-estar, planos para incentivo ao exercício físico e treinamentos sobre como administrar o tempo e a produtividade. 
  • Quando o profissional adoece, as empresas tendem a focar em intervenções individuais para aliviar os sintomas, em vez de abordar os fatores organizacionais que levam seus funcionários ao Burnout.
  • Por mais louváveis que sejam esses esforços, esse tipo de intervenção tende a fazer com que, por um lado, a empresa superestime o impacto dos programas de bem-estar e benefícios e, por outro, subestime o papel crítico do ambiente de trabalho na redução dos níveis de Burnout e no apoio à saúde mental e ao bem-estar dos funcionários.
  • Existem ainda circunstâncias ligadas aos contextos globais, coletivos e geracionais que adicionam complexidade ao problema, desafiando tanto os profissionais de saúde quanto os de Recursos Humanos, na criação de soluções mais efetivas.

·        Qual a saída?

A solução não é simples e nem imediata, mas precisa urgentemente entrar para a pauta estratégica das empresas para começar a ser implementada. Vejo três frentes que precisam ser abertas para que o problema seja enfrentado com mais sucesso:

1. Cultura Organizacional

  • Desestigmatizar o tema Saúde Mental;
  • Garantir segurança psicológica;
  • Criar canais de comunicação efetivos;
  • Treinar lideranças

2. Planos de bem-estar

  • Viabilizar jornadas de trabalho mais saudáveis;
  • Fornecer suporte, autocuidado e bem-estar;
  • Planos de incentivo e acesso a um estilo de vida mais saudável;
  • Informação sobre saúde, autocuidado e estilo de vida.

3. Investimento no indivíduo 

  • Promover acesso a programas de autoconhecimento.
  • Promover rituais de reconexão dos indivíduos com seus valores, papéis e propósitos.

*Terapeuta formada na Barbara Brennan School of Healing (BBSH), na Flórida (EUA), com pós-graduação em Bases da Medicina Integrativa pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. É Head da Flow School, frente criada pela Ânima educação para questões de saúde mental, autoconhecimento e desenvolvimento humano em prol de promover soluções integradas como segurança psicológica e tratamento humanizado no local de trabalho.

 

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *