A pesquisa State of the Global Workplace 2024, da consultoria Gallup, aponta que o Brasil ocupa a sétima posição entre os países mais estressados da América Latina. A tensão constante no ambiente corporativo não apenas afeta a saúde mental, mas também agrava condições alérgicas como asma, rinite e dermatite. O dado chama atenção neste Dia Nacional de Prevenção da Alergia (7 de maio), principalmente quando se olha para os números no Brasil e no mundo.
De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), até o fim do século metade da população humana sofrerá algum tipo de alergia. Segundo a Associação Brasileira de Imunologia e Alergia (Asbai), cerca de 61 milhões de brasileiros sofrem com algum tipo de reação, seja respiratória, de pele, alimentar ou medicamentosa. A alergia alimentar afeta cerca de 6% das crianças com menos de três anos e 3,5% da população adulta. Já a dermatite atópica atinge 8,2% das crianças entre 6 e 7 anos de idade.
Para além do estresse, a estrutura do ambiente profissional pode potencializar essas reações alérgicas. Isso ocorre porque espaços fechados, com pouca circulação de ar, acúmulo de poeira e exposição a materiais irritantes favorecem o surgimento de sintomas como espirros constantes, coceira nos olhos, tosse e dor de cabeça. Como consequência, esses fatores interferem diretamente no desempenho e na concentração dos colaboradores.
O trabalho não é o causador das alergias, mas o estresse gerado nele agrava condições preexistentes. A sobrecarga emocional desregula o sistema imunológico, tornando o organismo mais sensível a agentes alérgenos. Dessa maneira, pessoas com predisposição a rinite, por exemplo, percebem um aumento nas crises durante períodos de maior tensão no escritório”, explica a Julinha Lazaretti, bióloga e cofundadora da Alergoshop.
Rinite alérgica lidera as queixas no ambiente de trabalho
No cenário corporativo, a rinite alérgica lidera entre as queixas. Ambientes com carpete, cortinas e ar-condicionado sem manutenção acumulam ácaros e partículas de poeira, o que desencadeia espirros, congestão nasal e irritação nos olhos. Como resultado, o rendimento cai à medida que a respiração fica comprometida e a necessidade de usar lenços e medicamentos cresce.
Segundo Julinha Lazaretti, a asma também apresenta agravamento. Escritórios com mofo ou baixa qualidade do ar elevam a incidência de crises respiratórias. Assim, funcionários asmáticos enfrentam dificuldades para se concentrar e precisam recorrer ao uso frequente de broncodilatadores, impactando sua rotina de trabalho.
Em paralelo, a dermatite atópica sofre influência direta do estresse e de fatores emocionais, como a ansiedade e a pressão por resultados. Situações de alta demanda, prazos curtos e um ambiente de trabalho tenso tendem a desencadear ou agravar os sintomas, intensificando a coceira, a inflamação e as lesões na pele.
Existe solução?
Julinha aponta que melhorar o ambiente de trabalho faz diferença significativa. Já existem empresas que investem em espaços de descompressão e flexibilidade na jornada, minimizando os impactos negativos sobre a saúde dos colaboradores.
Segundo ela, a circulação de ar adequada e a limpeza frequente com produtos hipoalergênicos garantem um espaço mais saudável. Ademais, manter os filtros do ar-condicionado sempre limpos reduz significativamente a presença de agentes irritantes.
A especialista ainda destaca que mudanças na rotina pessoal ajudam a controlar as crises alérgicas. O uso de cosméticos hipoalergênicos, por exemplo, evita reações cutâneas, enquanto a aplicação de acaricidas em casa impede a proliferação de ácaros nos momentos de descanso. Do mesmo modo, produtos de limpeza específicos, livres de fragrâncias artificiais e substâncias agressivas, contribuem para um cotidiano mais confortável e seguro.
Em segundo lugar, reduzir o estresse é essencial. Técnicas de relaxamento, pausas estratégicas e ambientes mais humanizados contribuem significativamente para o equilíbrio emocional dos funcionários.
Estresse e ansiedade podem agravar a asma?
Nos dias de hoje, os distúrbios e doenças relacionadas à saúde mental, têm se tornado cada vez mais comuns. E, embora afetem principalmente o bem-estar psicológico, esses desequilíbrios também podem impactar diretamente a saúde física, especialmente em quem convive com a asma crônica.
Uma pesquisa recente do Jornal Brasileiro de Pneumologia apontou que 30% das pessoas com asma apresentam ansiedade e 9% depressão. Esses transtornos, além de afetarem o estado emocional, estão associados à piora dos quadros clínicos e podem ser tanto consequência quanto gatilho para novas crises.
Mauro Gomes, pneumologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, e consultor da farmacêutica Glenmark, explica que as reações do corpo estão profundamente conectadas às emoções e aos sentimentos.
O sistema imunológico traduz no corpo as reações do estado emocional. Por isso, em pessoas asmáticas, quando a ansiedade, estresse ou raiva, pode acelerar a frequência respiratória e provocar as crises”, explica.
Além disso, o estresse crônico pode contribuir para a resistência ao cortisol, favorecendo a inflamação das vias aéreas e agravando as crises de asma. A resposta reduzida aos glicocorticoides — principal terapia anti-inflamatória para a doença — pode ser influenciada por fatores genéticos e adquiridos, incluindo o estresse psicológico.
Leia mais
Metade dos trabalhadores sofre de estresse e só 21% recebem apoio
De onde vêm as alergias? A maioria não tem explicação
Asma: ‘bombinhas’ viciam ou fazem mal ao coração?
Crise asmática causada por questões emocionais
Os sintomas de uma crise asmática desencadeada por questões emocionais são similares aos de uma crise asmática por alergia. “Falta de ar, chiado no peito e tosse são sinais que podem aparecer em crises asmáticas emocionais”, diz o especialista.
Segundo o Dr. Mauro, a ansiedade pode ter um papel ambíguo na vida de quem convive com a asma: “Assim como o estado emocional abalado pode desencadear as crises, essas mesmas crises podem gerar ansiedade ou até depressão, já que o paciente vive com o receio constante de sofrer um novo episódio ou precisar de internação emergencial”.
Embora a asma não tenha cura, o tratamento envolve o uso de sprays e corticoides inalatórios para controlar e aliviar os sintomas. No entanto, os cuidados não se limitam à medicação. O Dr. Mauro reforça a importância do bem-estar emocional: “A gestão adequada do estresse pode ser uma estratégia valiosa para melhorar o controle da asma”.
Encontrar tempo para descansar, fazer atividades prazerosas, dormir bem e, sempre que possível, contar com o acompanhamento de um psicólogo, são atitudes essenciais para controlar o estresse e a ansiedade. Assim, as crises tendem a diminuir, e a qualidade de vida, a melhorar.
Dicas para prevenir as alergias respiratórias
Para prevenir as alergias, sobretudo as alergias respiratórias, a principal recomendação é evitar a exposição à poeira doméstica, já que os ácaros são os principais causadores de alergia. Aqui vão algumas dicas do alergista e imunologista Clóvis Eduardo Santos Galvão, coordenador da Comissão de Alérgenos da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai):
- Dê preferência para pisos frios, que permitam uma melhor remoção da poeira na limpeza de casa
- Evite o uso de muitos adornos de decoração, pois facilitam o acúmulo de poeira, como almofadas, cortinas pesadas e mesmo os bichinhos de pelúcia
- Os animais de estimação devem ficar fora do quarto de dormir
- As janelas da casa devem ficar abertas para que o ar circule e o ambiente fique arejado.
- Ao fazer a limpeza de casa, utilize produtos com cheiros neutros para não agredir a mucosa respiratória do paciente.
- Procure um especialista em Alergia Imunologia para fazer o diagnóstico correto e, assim, seguir o tratamento mais adequado.
Com Assessorias