A asma é uma doença heterogênea caracterizada por uma inflamação crônica das vias aéreas, cujos principais sintomas são tosse, sensação de chiado no peito, fôlego “curto” e falta de ar. Em todo o mundo, cerca de 260 milhões de pessoas têm a doença, que é responsável por mais de 450 mil mortes a cada ano. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (Ministério da Saúde/IBGE), 6,4 milhões de brasileiros acima de 18 anos têm a doença inflamatória, que pode levar à morte se não for devidamente tratada.
Já dados da Gina (sigla em inglês para Iniciativa Global pela Asma) mostram que, das 339 milhões de pessoas com asma no mundo, das quais 2 milhões no Brasil, somente 12% têm a doença controlada. Por isso, médicos e profissionais da saúde têm um papel essencial na educação da população, indicando o tratamento adequado, ajudando a prevenir crises, internações e até mortes causadas pela asma mal controlada.
“Tratamento Inalatório: Acesso para Todos” é o tema do Dia Mundial de Combate à Asma, que este ano acontece no dia 6 de maio, primeira terça-feira do mês. A data é celebrada pela Gina, uma organização colaboradora da Organização Mundial da Saúde (OMS), fundada em 1993, cujo objetivo é aumentar a conscientização sobre a doença em todo o mundo.
Mas por que os medicamentos inalatórios se tornaram o tema deste ano?
A asma tem muitas faces. Pode ser aparentemente leve, moderada ou grave. Mas todas as formas devem ser tratadas precocemente para que o paciente tenha uma vida normal, prevenindo crises graves e complicações. Como a asma afeta os pulmões, o melhor é que o medicamento chegue diretamente até eles e isso é possível com os medicamentos inalatórios”, explica o o alergista e imunologista Herberto Chong Neto.
Coordenador do Departamento Científico de Asma da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), ele explica que existem muitos desafios relacionados aos medicamentos inalatórios como o custo elevado de alguns medicamentos. Mesmo no SUS, estão disponíveis apenas algumas opções de tratamento.
Enfrentamos também alguns mitos, como ‘bombinhas’ viciam ou fazem mal ao coração, o que não é verdade, e leva muitos pacientes a abandonarem o tratamento, que deve ser adotado ao longo da vida, já que é uma doença crônica”, alerta o especialista.
Segundo ele, a maioria das mortes por asma no Brasil pode ser evitada desde que os medicamentos necessários sejam disponibilizados e o paciente não interrompa o tratamento, o que acontece em grande parte dos casos. “Abandonar os cuidados com a asma pode trazer sérias consequências à saúde e, nos casos mais graves, levar a óbito”, afirma.
A alergista e imunologista Bárbara Britto lembra que a campanha deste ano quer lembrar que a disponibilidade dos medicamentos é para todos pelo SUS, desde as bombinhas até medicamentos de alto custo, como os imunobiológicos.
Menos de 50% dos pacientes que têm asma estão com as suas doenças bem controladas. A maioria vai para um pronto-socorro em vez de tratar adequadamente a doença em casa. A maioria dos pacientes acha que precisa tratar a crise, mas eles devem tratar a doença, porque pacientes com asma bem controladas não precisam ir para o serviço de emergência”, destaca.
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Asma não tem cura, mas pode ser bem controlada
Controle permanente garante vida normal ao paciente com asma
A asma é uma doença inflamatória dos brônquios, cujo diagnóstico precisa ser confirmado por um médico e ter seu acompanhamento bem controlado. Por ser uma enfermidade crônica, não tem cura, mas pode ser controlada. Às vezes a asma aparece na vida adulta, às vezes pode se agravar, e há quem entre em remissão.
Segundo a pneumologista do Seconci-SP, Marice Ashidani, é possível ter uma vida normal com controle e acompanhamento. “Ter a asma controlada significa que o paciente consiga desempenhar suas atividades sem esforço, sem crises e sem necessidade de medicação de resgate, a chamada bombinha.”
A necessidade do uso da “bombinha” segue a demanda do paciente e a periodicidade de uso é um indicativo da qualidade do controle da doença. “Não basta tomar a medicação, é necessário fazer uma reavaliação periódica. Mesmo que a pessoa não tenha sintomas, deve retornar ao médico ao menos uma vez por ano”, orienta.
De acordo com a pneumologista, é muito importante consultar o médico para a realização de um diagnóstico correto, feito por raio X ou espirometria (exame que mede a quantidade de fluxo de ar que entra e sai dos pulmões) e iniciar o tratamento corretamente.
Usamos duas abordagens nos casos de crises: uma é a medicina de resgate e alívio, com uso da bombinha, e a outra é o tratamento de prevenção, com o uso, por exemplo, de corticoides inalados. Quando a doença está controlada, o paciente quase não apresenta sintomas”, explica Marice.
Asma pode ser confundida com outras doenças
A alergista e imunologista Bárbara Britto pontua que a asma pode tanto ser confundida com outras enfermidades como também conviver com elas. “A asma deve sempre ser diagnosticada num contexto de tosse crônica e precisa ter alguns outros diagnósticos diferenciais com outras doenças pulmonares como o enfisema pulmonar e doenças fúngicas do pulmão.
Muitos pacientes que possuem, por exemplo, refluxo, podem ter um quadro de tosse crônica e precisam ter diagnóstico diferencial. Contudo, a asma pode estar em conjunto com outras doenças que a fazem ficar pior, como o refluxo, a obesidade e doença obstrutiva do sono”, destaca.
A alergista enfatiza que, para evitar o desencadeamento de novas crises, são muito importantes os cuidados com a higiene ambiental, evitando poeira, mofo, pelos de animais, prevenir o tabagismo e também cuidar da saúde mental.
É de extrema importância que o asmático tenha conhecimento da doença e saiba manusear os dispositivos de tratamento, tirando os fatores de risco do ambiente, além de seguir corretamente a parte medicamentosa. Dessa forma, ele conseguirá manter a patologia sob controle e ter um maior bem-estar no dia a dia”, finaliza.
Fatores de risco e principais sintomas
As crises de asma podem ser causadas ou intensificadas por diversos fatores como ácaros da poeira, mofo, polens, infecção respiratória por vírus, excesso de peso, rinite, refluxo gastroesofágico, medicamentos e predisposição genética.
Os sintomas mais comuns da asma são falta de ar, dor ou dificuldades para respirar, chiado ou aperto no peito e tosse. “Tosse, falta de ar, chiado no peito e dor para respirar, que é aquela dor que o paciente puxa o ar e tem a sensação de que tem um peso em cima dele, que não o deixa respirar bem”, explica a alergista e imunologista Bárbara Britto.
De acordo com a Asbai, os principais sintomas da asma em decorrência da inflamação dos brônquios são:
· Falta de ar;
· Chiado no peito;
· Tosse;
· Sensação de cansaço;
· Dor no peito (manifestação clínica normalmente acentuada após esforço físico e até mesmo ao falar e rir).
Asma alérgica é a mais comum
Segundo a alergista e imunologistaPatrícia Rodrigues Ferreira Marques, a asma mais comum é a alérgica, que pode ser desencadeada por inalação de alérgenos, como poeira, ácaros, mofo e também a asma causada por agentes irritantes, fumaça, produtos de limpeza, perfume, entre outros”, destaca.
A imunologista detalha que a intensidade da doença vai influenciar a forma de tratar. “Uma avaliação médica irá detectar qual a gravidade, a qual é levada em consideração para o tratamento medicamentoso que podem ser corticoide tópicos, broncodilatadores e até imunobiológicos”.
Sobre a prevenção da asma alérgica ela orienta. “O paciente com asma, por ser doença inflamatória crônica, deve ser orientado a fazer a higiene do ambiente onde vive e evitar contato com locais poluídos ou com fumaça. As aglomerações de pessoas também podem aumentar o risco de infecção para eles”, salienta.
Doença pode passar na fase adulta
Como a asma é uma doença que tem componente genético, pessoas de qualquer idade podem ser acometidas. Existem peculiaridades de cada faixa etária. Patrícia Britto explica como é possível identificar a asma. Nas crianças menores de 2 anos, quando apresentam o primeiro episódio de sibilância na vida, chamamos esse quadro de bronquiolite. Depois disso, se criança continua apresentando episódios de chiar o peito, principalmente quando fica gripada, da-se o nome de sibilante recorrente, comumente chamado de bebê chiador.
Até os 4 anos, utilizamos alguns escores para pontuação de fator de risco para se tornar um asmático. Damos o diagnóstico de asma a partir de 4 aninhos, quando é possível fazer exames como a espirometria”.
Segundo ela, existem alguns estudos que mostram que nós temos fenótipos e genótipos diferentes de asma. Então, alguns pacientes podem ter asma na infância e depois passar.
Quando começa um pouco mais velho, depois dos 5, 6 anos, pode ter um período com quadro de asma e melhorar na adolescência. E tem pacientes que vão abrir quadro de asma somente por volta dos 30, 40 anos. O tratamento é feito através dos dispositivos inalatórios, as famosas bombinhas de uso contínuo”, detalha a especialista.
Dia Mundial da Asma: teste experimental é oferecido a população de Goiânia
Para chamar atenção para a asma, a Asbai – Regional Goiás, em conjunto com a Sociedade Goiana de Pneumologia e Tisiologia, realizam nesta terça-feira (6) um dia de esclarecimentos para a população, com participação de ligas acadêmicas. O objetivo é conscientizar as pessoas de que não falta tratamento para a doença, mas falta tratar adequadamente.
O evento , no centro clínico do Órion Complex é aberto à comunidade em geral e com participação gratuita. Além de panfletos com informações sobre a asma, frequentadores do local podem assistir vídeos educativos e tirar dúvidas sobre o uso de dispositivos inalatórios. Também será oferecido um teste àqueles que passaram pelo local.
É um exame que ainda não está amplamente disponível, se chama fração de óxido nítrico exalado e mostra a inflamação, mede a possibilidade de estar acontecendo inflamação na via aérea inferior, ou seja, inflamação dentro do pulmão. O exame parece um videogame. Então, nas pessoas, inclusive as crianças, que tiverem a destreza de soprar, podemos realizar o teste”, explicou Barbara Britto.
Com Assessorias