
A professora Patrícia Macedo Rodrigues, de 35 anos, está de férias, mas não descansa. Nem conseguirá enquanto não ver atrás das grandes os bandidos que executaram covardemente Michelly Silveira, de 16 anos, na noite de 7 de julho, num ponto de prostituição de travestis em Itaperuna, Noroeste Fluminense. A mãe não se conforma com o crime, que tem claras conotações de transfobia: Michelly era o nome social adotado por Luís Miguel Macedo Rodrigues, morto com cinco tiros por dois homens que conseguiram escapar numa motocicleta. Na cidade, circulam informações de que o crime teria sido motivado por uma discussão, gravada em vídeo, em que a travesti cobra dívida de R$ 50 de um programa a um suposto cliente. A família temia pela segurança de Michelly e vinha lutando para tirá-la das ruas (leia mais aqui).
Nesta terça-feira (24), um primeiro sinal de que Patrícia pode ter esperanças de justiça será dado a 360 quilômetros do local do crime. Jornalistas, ativistas do movimento LGTI e de direitos humanos e autoridades públicas vão se reunir na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro para discutir não só o tratamento preconceituoso dado por segmentos da imprensa regional a casos como este, mas como as vítimas e seus familiares são tratados pela sociedade em geral, incluindo agentes públicos de segurança.
Estão confirmados, dentre outros, Marcelo Chalréo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ); Kátia Soares, coordenadora do Centro de Cidadania LGBT Capital (representando Ernani Alexandre Ferreira, superintendente de Políticas Públicas do programa estadual Rio Sem Homofobia); e Lívia Casseres, defensora pública do Núcleo de Defesa da Diversidade (Nudiversis).
Sensação de medo e impotência
“O Miguel (Patrícia chama Michelly pelo nome do batismo) era um menino muito verdadeiro. Sempre falava a verdade. Ele reconhecia seus erros e queria deixar a rua. Falou isso para o pai dias antes de ser morto. Estava cansado dessa vida e queria mudar, voltar a estudar, ter uma vida normal”, conta Patrícia, lembrando que a família respeitava sua nova identidade sexual. A professora está ainda muito abalada emocionalmente e sob poder de medicação.
Patrícia, que vive com o marido e mais dois filhos – um deles de 5 anos – em São Francisco de Itabapoana, no litoral norte-fluminense, não poderá estar presente para acompanhar os debates. “Mas espero que essa mobilização toda nos ajude a ter uma resposta. Queremos que o crime seja investigado e os culpados, condenados e punidos com o rigor da lei. O que fizeram foi muita covardia. Até hoje não consigo entender”, disse ela.