O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) representou formalmente contra o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp) e acionou o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) denunciando o dentista Fernando Simionato Garbi pela morte do influenciador de moda e beleza Júnior Dutra, no último dia 3, após complicações de um procedimento estético conhecido como Fox Eyes (olhos de raposa).

Segundo o Cremesp, o procedimento para alterar a posição do canto lateral das pálpebras e deixá-las mais elevadas é considerado invasivo e, portanto, restrito à atuação médica, conforme estabelece a Lei nº 12.842/2013, que dispõe sobre o exercício da Medicina.

O Cremesp reforça que procedimentos invasivos devem ser realizados exclusivamente por médicos devidamente habilitados, garantindo a segurança dos pacientes e o respeito à legislação vigente”, diz o comunicado do Conselho de Medicina.

De acordo com o Cremesp,  a intervenção realizada extrapola os limites da Lei nº 5.081/1966, que regulamenta o exercício da odontologia, e infringe a Resolução nº 230/2020, do Conselho Federal de Odontologia (CFO), a qual proíbe expressamente procedimentos cirúrgicos na face, como lifting de sobrancelhas e cirurgias de canto ocular.

Ainda segundo informações divulgadas, o influenciador havia acionado judicialmente o odontólogo, alegando que o profissional se apresentava nas redes sociais como médico especialista em cirurgia da face. Aldair também relatou dificuldades para obter seu prontuário, mesmo após manifestar intercorrências associadas ao procedimento.

A Comissão de Defesa do Ato Médico (CDAM) do Cremesp diante da gravidade do caso, oficiou o MPSP e solicitou ao CROSP a suspensão cautelar do dentista, cobrando a imediata adoção das medidas cabíveis para a devida apuração dos fatos. Alexandre Kataoka comentou sobre o episódio e destacando a importância de cautela diante de informações e promessas veiculadas na internet.

Não existe melhor técnica igual para todo mundo. Cada técnica tem a sua indicação para cada paciente. Medicina não é uma ciência exata, nós não podemos prometer resultados porque não sabemos como vai ficar a cirurgia daquele paciente. Isso depende de inúmeros fatores que não dependem do que eu faço. Então, tomem cuidado com essas promessas, com esses médicos que só fazem isso nas redes sociais e, infelizmente, têm milhões de seguidores. Muitos pacientes os procuram por essas promessas”, alerta.

Procurando por Vida e Ação, o Crosp informou que “reiterando os termos da LGPD e do Código de Ética Odontológica, instituído pela Resolução CFO-118/2012”, “os procedimentos administrativos fiscalizatórios e ético-disciplinares tramitam em sigilo, permanecendo sob análise até a conclusão das devidas apurações”.

Entenda o caso

‘Em paz com minhas escolhas. A vida é feita de momentos’

Com mais de 100 mil seguidores no Instagram, o mineiro Aldair Mendes Dutra Junior, de 31 anos, faleceu na última sexta-feira (3) após complicações decorrentes de um procedimento estético conhecido como “fox eyes”, realizado em junho, que resultaram em uma infecção no rosto. A causa exata da morte ainda não foi divulgada oficialmente.
Em declarações recentes, Júnior Dutra havia relatado as dificuldades enfrentadas nos últimos meses em razão dos problemas de saúde. Amigos confirmaram o falecimento e publicaram homenagens. A despedida do influenciador foi realizada no sábado (4), no Funeral Velar Morumbi, em São Paulo. Em vídeo publicado no dia da morte, amigos e familiares pediram justiça por Dutra. Há seis semanas, ele fez sua última postagem no Instagram e contou como se sentia.

Um registro de como me sinto hoje: em paz com minhas escolhas, forte diante das batalhas e cada vez mais fiel à minha essência. A vida é feita de momentos — e eu escolho viver os meus com elegância e verdade’, escreveu o influencer, que morava em São Paulo.

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A banalização da estética e o risco invisível

“Escolher profissionais qualificados pode salvar vidas”, diz médico-cirurgião

A morte de trouxe à tona um debate urgente sobre a banalização da estética e os riscos associados à realização de técnicas invasivas sem acompanhamento de especialistas qualificados. O Fox Eyes, popularizado por celebridades e redes sociais, consiste no uso de fios de PDO (polidioxanona) para levantar a região dos olhos e sobrancelhas, promovendo um olhar mais alongado. Apesar da aparência simples, a técnica envolve riscos significativos quando não realizada por médicos experientes e com infraestrutura adequada.
O cirurgião plástico  Hugo Sabath, sócio da Clínica Líbria, explica que a busca por resultados rápidos tem levado muitos pacientes a se submeterem a procedimentos sem considerar os riscos.
O caso do Júnior Dutra é uma tragédia que ilustra um problema crescente: a estética passou a ser tratada como moda de rede social, quando, na verdade, envolve saúde e exige responsabilidade. A região dos olhos é extremamente delicada, repleta de nervos e vasos sanguíneos importantes. Um erro técnico pode gerar complicações graves como necrose, cegueira parcial, infecções e, em situações extremas, risco de morte”, alerta o médico.
Segundo ele, o crescimento da procura por procedimentos minimamente invasivos trouxe benefícios, mas também estimulou a sensação de falsa segurança. “Não existe procedimento sem risco. O que existe é técnica bem indicada e bem executada, realizada por profissionais que dominam a anatomia e a prática médica. Quando isso não acontece, o perigo é real.”

O que deve ser avaliado antes de se submeter a um procedimento

O Dr. Sabath reforça que a responsabilidade na escolha do profissional é o primeiro passo para evitar complicações. Ele destaca pontos fundamentais:
– Formação médica: apenas médicos podem realizar procedimentos invasivos. Pergunte sempre qual é a formação do profissional.
– Registro em órgãos oficiais: verifique se possui número ativo no CRM (Conselho Regional de Medicina) e, no caso de cirurgias plásticas, se é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
– Ambiente seguro: os procedimentos devem ocorrer em clínicas estruturadas ou hospitais com suporte para emergências, nunca em locais improvisados.
– Explicação dos riscos: profissionais sérios deixam claro o que pode dar errado e não vendem resultados milagrosos.
– Histórico do profissional: pesquisar processos éticos, recomendações de pacientes e trabalhos já realizados é um passo essencial.
– Custo compatível: preços muito abaixo do mercado podem indicar materiais de baixa qualidade ou ausência de infraestrutura adequada.

O peso da influência digital

O caso de Júnior Dutra também levanta reflexões sobre o impacto das redes sociais. A estética digitalizada, com filtros e padrões irreais de beleza, tem estimulado jovens e adultos a buscarem transformações cada vez mais cedo e de maneira impulsiva.
As redes sociais criaram uma cultura da comparação imediata e do resultado rápido. Muitos chegam ao consultório pedindo exatamente o que viram em uma celebridade ou influenciador, sem entender se aquele procedimento é adequado para o seu rosto, para sua saúde ou para sua realidade clínica”, explica Dr. Sabath.
Ele alerta que a decisão por qualquer intervenção estética deve ser baseada em avaliação médica individualizada, e não em tendências: “O que funciona para uma pessoa pode não ser indicado para outra. Procedimentos precisam respeitar as características anatômicas e o histórico de saúde de cada paciente.”
Para o especialista, a morte de Júnior Dutra não pode ser vista como um caso isolado, mas como um chamado à conscientização sobre a importância da segurança em estética. Segundo ele, buscar profissionais qualificados não é apenas uma questão de vaidade, mas de saúde e preservação da vida.
A estética pode, sim, elevar a autoestima, mas só deve ser feita dentro de parâmetros seguros, lembre-se cadeira de dentista não é centro cirúrgico. A primeira escolha que todo paciente precisa fazer é a do profissional certo, porque essa decisão pode literalmente salvar vidas”, finaliza o Dr. Hugo Sabath.
Com assessorias
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