coqueluche volta a assustar o mundo inteiro, em especial, o Brasil. Até junho deste ano, já foram registrados 115 casos da doença, o que corresponde a pouco mais de 50% na comparação com todo o ano passado. As regiões Sul e Sudeste concentram a maior parte das notificações. Altamente contagiosa, a doença é mais grave em bebês menores de 6 meses, quando as complicações do quadro podem levar à morte. 

Considerando o alerta global em relação ao aumento de casos de coqueluche e também atendendo à nota técnica do Ministério da Saúde emitida em junho, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de janeiro informou que está intensificando as ações de prevenção contra a doença.  O último caso notificado na cidade havia sido em agosto de 2021 e, em 2024, já são 19 casos confirmados.

A Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS) realiza vigilância ativa para detecção oportuna de casos de coqueluche no Município do Rio de Janeiro, monitorando o cenário epidemiológico nacional e internacional. Em caso de suspeita da doença, a recomendação é que a pessoa procure a sua unidade de saúde de referência, que pode ser verificada na ferramenta ‘Onde ser atendido‘.

Nos casos confirmados, os pacientes receberão todas as orientações pertinentes das equipes de saúde que realizam o monitoramento. Os pacientes não hospitalizados devem ser afastados das suas atividades habituais por pelo menos 5 dias após o início do tratamento com antibiótico específico.

Cobertura da vacina DTP cresceu 10,6% em 2023, mas ainda está abaixo da meta

De acordo com o o secretário municipal de saúde, Daniel Soranz, o aumento de casos de coqueluche e o retorno da doença apontam para a necessidade de intensificar as ações de vacinação.

As coberturas vacinais ficaram muito abaixo da meta nos últimos anos. No ano de 2023 conseguimos voltar a ter um crescimento nas coberturas vacinais, mas muitas crianças ainda não tomaram as doses no período recomendado. Por isso é muito importante que os pais procurem uma unidade de saúde para atualizar a caderneta de vacinação das crianças”, afirma.

O alerta ocorre mesmo depois de um ano positivo para a vacinação contra a doença. De acordo com o Ministério da Saúde, o Estado do Rio de Janeiro aumentou a cobertura da vacina DTP, que previne a coqueluche e mais duas doenças graves (difteria e tétano).

As aplicações da primeira dose A vacina DTP, que protege as crianças contra as três doenças, registraram um percentual de 57,8%, com crescimento de 10,6 pontos percentuais em relação ao ano anterior, cujos índices ficaram em 47,2%.

Os dados divulgados em dezembro de 2023 pelo Ministério da Saúde são preliminares e correspondem ao período de janeiro a outubro de 2023, comparados com todo o ano de 2022. No período, o Rio também registrou aumento na cobertura vacinal contra hepatite A, com números que saltaram de 56,5%, em 2022, para 67,8% em 2024, o que representa um aumento de 11,3%.

Em nível nacional, oito vacinas recomendadas do calendário infantil apresentaram aumento nas coberturas vacinais as crianças com um ano de idade, incluindo a DTP (difteria, tétano e coqueluche). As outras foram contra hepatite A, poliomielite, pneumocócica, meningocócica, e tríplice viral 1ª dose e 2ª dose (sarampo, caxumba e rubéola). Também houve aumento na cobertura da vacina contra a febre amarela, indicada aos nove meses de idade.

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Como é feita a vacinação contra a coqueluche

A principal medida de prevenção contra a coqueluche é a vacinação com a pentavalente, a DTP e a dTpa adulto, vacinas de rotina contempladas no Programa Nacional de Imunização (PNI). Nos bebês de menos de 12 meses de idade, a vacina é administrada por via intramuscular, na região da coxa. A partir de um ano, a aplicação pode ser feita no músculo deltoide do braço.

Vice-presidente da Comissão de Vacinas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, a médica Nilma Neves chama a atenção para a importância da vacina contra a doença, especialmente em mulheres grávidas. A especialista também destaca os principais grupos que podem transmitir coqueluche para um recém-nascido.

De acordo com a SMS-Rio, o calendário de imunização do Sistema Único de Saúde (SUS) recomenda aplicações da vacina pentavalente, que protege contra coqueluche, difteria, tétano, hepatite B, meningite por Haemophilus influenzae e outras infecções, aos 2, 4 e 6 meses de idade, embora o ciclo vacinal possa ser realizado até os 6 anos, 11 meses e 29 dias.

Nas crianças, a imunidade à doença é adquirida apenas quando administradas as três doses da vacina, sendo necessária a realização dos reforços aos 15 meses e aos 4 anos de idade com a vacina DTP, que previne também contra difteria e tétano.

As vacinas de rotina estão disponíveis em todas as 238 clínicas da família e centros municipais de saúde espalhados pela cidade, além do Super Centro Carioca de Vacinação, em Botafogo, que funciona todos os dias, das 8h às 22h; e do Super Centro Carioca de Vacinação de Campo Grande, localizado no ParkShoppingCampoGrande, que também abre todos os dias, de acordo com o horário de funcionamento do centro comercial. A orientação é para que pais e responsáveis levem seus filhos portando um documento de identificação e a caderneta de vacinação da criança.

Imunização ampliada para outros públicos

Em meio a tantos surtos de coqueluche, o Ministério da Saúde publicou em junho uma nota técnica em que recomenda ampliar, em caráter excepcional, e intensificar a vacinação contra a doença no Brasil. A pasta pede ainda que estados e municípios fortaleçam ações de vigilância epidemiológica para casos de coqueluche.

O documento amplia a indicação de uso da vacina dTpa (tríplice bacteriana acelular tipo adulto), que combate difteria, tétano e coqueluche, para trabalhadores da saúde que atuam em serviços de saúde públicos e privados, ambulatorial e hospitalar, com atendimento em ginecologia e obstetrícia; parto e pós-parto imediato, incluindo casas de parto; UTIs e UCIs, berçários (baixo, médio e alto risco) e pediatria.

Ainda de acordo com a nota técnica, profissionais que atuam em berçários e creches onde há atendimento de crianças com até 4 anos também devem ser imunizados contra a coqueluche.

A administração da dose nesse público deve considerar o histórico vacinal contra difteria e tétano (dT). Pessoas com o esquema vacinal completo devem receber uma dose da dTpa, mesmo que a última imunização tenha ocorrido há menos de dez anos. Já os que têm menos de três doses administradas devem receber uma dose de dTpa e completar o esquema com uma ou duas doses de dT.

Vacina pode perder o efeito com o tempo

O Ministério da Saúde alerta que um adulto, mesmo tendo sido vacinado quando bebê, pode se tornar suscetível novamente à coqueluche, já que a vacina pode perder o efeito com o passar do tempo. Por conta do risco de exposição, a imunização de crianças já nos primeiros meses de vida é tão importante.

Gestantes e trabalhadores de saúde que atuam em maternidades e em unidades de internação neonatal devem se imunizar com a vacina dTpa adulto,  além de trabalhadores de creches que lidam com crianças até 4 anos.

Para gestantes, como estratégia de imunização passiva de recém-nascidos, recomenda-se, desde 2014, uma dose da vacina dTpa tipo adulto por gestação, a partir da 20ª semana. Para quem não foi imunizada durante a gravidez, a orientação é administrar uma dose da dTpa no puerpério, o mais precocemente possível e até 45 dias pós-parto.

Desde 2019, a vacina dTpa passou a ser indicada também a profissionais da saúde, parteiras tradicionais e estagiários da área da saúde atuantes em unidades de terapia intensiva (UTI) e unidades de cuidados intensivos neonatal convencional (UCI) e berçários, como complemento do esquema vacinal para difteria e tétano ou como reforço para aqueles que apresentam o esquema vacinal completo para difteria e tétano.

Coqueluche: sintoma não é apenas tosse seca

Embora a vacinação tenha reduzido drasticamente sua incidência nas últimas décadas, a coqueluche voltou a preocupar o mundo devido a surtos recentes em várias regiões. Entender a doença, seus sintomas, métodos de transmissão e a importância da vacinação é essencial para prevenir sua propagação.

Altamente contagiosa, a coqueluche é caracterizada por uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis, que afeta principalmente bebês de até um ano.  Ela é particularmente perigosa para bebês e crianças pequenas, mas também pode causar complicações sérias em adolescentes, adultos e idosos.  A doença compromete especificamente a traqueia e os brônquios, sendo uma importante causa da mortalidade infantil.

Também conhecida como ‘tosse comprida’ ou ‘tosse convulsa’, a doença é transmitida pelo contato direto com outra pessoa uma pessoa não vacinada  que tenha sido infectada pela bactéria, por meio de gotículas eliminadas durante a fala, a tosse ou o espirro. Em alguns casos, a transmissão pode ocorrer por objetos recentemente contaminados com secreções de pessoas doentes.

Os casos tendem a se alastrar mais em épocas de clima ameno ou frio, como primavera e inverno. A principal característica são crises de tosse seca, mas a doença pode atingir também traqueia e brônquios. Os principais sintomas da coqueluche são febre, mal-estar, coriza e tosse seca, podendo evoluir para crise de tosse intensa e incontrolável, que podem dificultar a respiração e levar a vômitos e exaustão.

Os sintomas podem se manifestar em três níveis. No primeiro, o mais leve, os sintomas são parecidos com os de um resfriado e incluem mal-estar geral, corrimento nasal, tosse seca e febre baixa. Esses sintomas iniciais podem durar semanas, período em que a pessoa também está mais suscetível a transmitir a doença.

No estágio intermediário da coqueluche, a tosse seca piora e outros sinais aparecem, e a tosse passa de leve e seca para severa e descontrolada, podendo comprometer a respiração. As crises de tosse podem provocar ainda vômito ou cansaço extremo. Geralmente, os sinais e sintomas da coqueluche duram entre seis e dez semanas.

Medidas de higiene ajudam na prevenção

Marcela Rodrigues, diretora médica da Salus Imunizações, afirma que a vacinação é uma grande aliada na prevenção de infecções respiratórias graves, sobretudo a coqueluche, mas não é a única medida. Além da imunização, é preciso cumprir a etiqueta respiratória, como cobrir a boca ao tossir e espirrar, lavar as mãos regularmente e usar máscaras em casos suspeitos e em situações de risco.

Além disso, adotar hábitos de vida saudáveis, como manter uma alimentação equilibrada, praticar atividade física regularmente e conviver com pessoas que amamos, é fundamental para fortalecer o sistema imunológico e promover uma melhor qualidade de vida. Juntos, podemos combater a coqueluche e garantir a saúde e o bem-estar de nossas comunidades.

A coqueluche é uma doença séria que voltou a ser uma preocupação global. A vacinação contínua e a conscientização sobre a importância de manter a imunização atualizada são cruciais para controlar a propagação da coqueluche e proteger as populações vulneráveis. Mantenha-se informado, vacine-se e adote medidas de higiene para ajudar a prevenir essa doença potencialmente perigosa”, diz a médica.

Coqueluche no Brasil e no mundo

No Brasil, o último pico epidêmico de coqueluche ocorreu em 2014, quando foram confirmados 8.614 casos. De 2015 a 2019, o número de casos confirmados variou entre 3.110 e 1.562. A partir de 2020, houve uma redução importante de casos da doença, associada à pandemia de Covid-19 e ao isolamento social.

De 2019 a 2023, todas as 27 unidades federativas notificaram casos de coqueluche. Pernambuco confirmou o maior número de casos (776), seguido por São Paulo (300), Minas Gerais (253), Paraná (158), Rio Grande do Sul (148) e Bahia (122). No mesmo período, foram registradas 12 mortes pela doença, sendo 11 em 2019 e uma em 2020.

Em 2024, os números continuam altos no Brasil.  A Secretaria de Saúde de São Paulo notificou 139 casos de coqueluche de janeiro até o início de junho – um aumento de 768,7% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando houve 16 registros da doença no estado.

Pelo menos 17 países da União Europeia registraram aumento de casos de coqueluche – entre janeiro e dezembro do ano passado, foram notificadas 25.130 ocorrências no continente. Já entre janeiro e março deste ano, 32.037 casos foram registrados na região em diversos grupos etários, com maior incidência entre menores de 1 ano, seguidos pelos grupos de 5 a 9 anos e de 1 a 4 anos.

O Centro de Prevenção e Controle de Doenças da China informou que, em 2024, foram notificados no país 32.380 casos e 13 óbitos por coqueluche até fevereiro. Na América Latina, a Bolívia também registra surto da doença, com 693 casos confirmados de janeiro a agosto de 2023, sendo 435 (62,8%) em menores de 5 anos, além de oito óbitos.

Com Assessorias

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