Doença respiratória altamente contagiosa, a coqueluche tem sido tema de discussão e preocupação em muitos países, incluindo o Brasil. Nos primeiros cinco meses deste ano, o Estado de São Paulo já contabilizou 37 casos de coqueluche, quase igualando os 38 casos registrados em todo o ano anterior. Na capital paulista, o número de casos confirmados chegou a 32, um aumento significativo em relação a 2023.

Surtos de coqueluche em países da Ásia e Europa nas últimas semanas. Em maio deste ano, a União Europeia divulgou Boletim Epidemiológico constando aumento da doença em pelo menos 17 países, com mais 32.037 casos foram notificados de coqueluche entre 1 de janeiro e 31 de março de 2024. O Centro de Prevenção e Controle de Doenças da China (CCDC, 2024) informou que, em 2024, foram notificados no país, 32.380 casos e 13 óbitos.

Diante do cenário global, o Departamento do Programa Nacional de Imunizações da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde divulgou uma Nota Técnica com recomendações de fortalecimento das ações de vigilância epidemiológica da doença no Brasil. O texto destaca a urgência da intensificação da vacinação e da conscientização sobre a doença entre os profissionais de saúde e a população em geral.

Entre as ações, a pasta inclui alerta aos profissionais de saúde da área assistencial, investigação de contatos de casos confirmados, oferta de tratamento oportuno, além de ampliação do uso da vacina dTpa para profissionais de saúde que atuam em atendimentos de ginecologia, obstetrícia, pediatria, além de doulas e trabalhadores de berçários e creches com crianças até 4 anos.

Baixa cobertura vacinal pode ter levado a aumento de casos

No Brasil, essa é uma doença de notificação compulsória. O último pico de coqueluche aconteceu em 2014, quando foram confirmados mais de 8.000 casos. Foram registrados 3,1 mil casos de coqueluche em 2015 no país. Dados nacionais de 2019 a 2024 mostram que as crianças menores de um ano de vida representaram mais de 52% dos casos de coqueluche. Em seguida crianças entre 1 e 4 anos, com cerca de 22%.

Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), nos últimos dez anos, o país registrou uma queda no número de pessoas aderindo à vacinação. Em 2012, 93,81% do público-alvo foi atingido, já em 2022, o índice ficou em 77,25%. Segundo a Unicef, cerca de 1,6 milhão de crianças em todo o país não receberam as doses da vacina tríplice bacteriana (DPT) entre 2019 e 2021.

Segundo o calendário vacinal do Ministério da Saúde, essa vacina possui uma alta eficácia e é administrada em três doses – aos dois, quatro e seis meses de idade -, com reforços aos 15 meses e aos quatro anos.

Para Francisco Ivanildo de Oliveira, gerente médico e infectologista do Sabará Hospital Infantil, o aumento e de casos da doença está relacionado provavelmente à baixa adesão à vacinação em todos os grupos.

“O Sabará atua em parceria com os órgãos oficiais de saúde como uma unidade sentinela para detecção de casos de coqueluche. Nesse momento, não há um surto no estado, mas devemos estar atentos ao aumento de casos, que vem sendo verificado também em outros países”, explica o Dr. Francisco.

Vacina deve ser reaplicada na fase adulta

A doença afeta principalmente crianças com até um ano de idade, sendo mais comum em bebês menores de seis meses de idade, que ainda não foram completamente vacinados e estão mais vulneráveis.

No entanto, a doença que pode atingir qualquer pessoa, inclusive adultos e adolescentes, especialmente porque a imunidade fornecida pela vacinação na infância pode diminuir ao longo do tempo.

 A imunização perde um pouco a sua eficácia ao longo dos anos, por isso a importância dos adultos se vacinarem a cada 10 anos”, afirma Fábio Argenta, cardiologista, sócio-fundador e diretor médico da Saúde Livre Vacinas.

A infectologista pediátrica Carolina Brites reforça que, apesar de a vacina promover uma imunidade duradoura, ela não é permanente e, por isso, é indicada a revacinação na idade adulta – o que muita gente não sabe.

Este ponto é crucial: muitos nem sabem que precisam tomar a vacina de novo. Talvez antigamente o indivíduo tivesse um médico da família, de confiança, que acompanhava o histórico desde a infância. Esse tipo de vínculo é muito importante para que o olhar sobre a prevenção das doenças seja valorizado. Hoje as pessoas são atendidas pontualmente por vários médicos e isso pode ser um fator prejudicial, pois eles não possuem uma visão mais global do indivíduo”.

Conheça os principais sintomas da coqueluche

coqueluche, popularmente chamada de ‘tosse comprida’, é uma infecção causada pela bactéria Bordetella pertussis, que se aloja nas vias respiratórias. É uma doença infecciosa aguda altamente contagiosa. A transmissão ocorre através de gotículas expelidas durante espirros e tosse. É possível que alguém seja portador do microrganismo e não apresente sintomas, aumentando assim o potencial de disseminação da doença.

A bactéria se aloja no nariz e na faringe, e o perigo pode surgir depois que ela migra para traqueia, brônquios e pulmões. As fases posteriores são caracterizadas por crises de tosses intensas que podem provocar chiados, cianose e vômitos, devido ao esforço para respirar”, explica o médico e professor do curso de Medicina da Faculdade Pitágoras, André Negrelli.

Ela se caracteriza por crises de tosse seca incontroláveis, intercaladas com a ingestão de ar, que provoca um som agudo, como um guincho ou chiado.  A doença é transmitida pelo contato com secreções contaminadas, principalmente por meio da tosse, fala ou espirro.

Os principais sintomas da coqueluche são tosse seca e prolongada, podendo haver vômitos, febre e falta de ar que, em alguns casos, pode levar à falta de oxigenação no sangue e complicações, como pneumonia, desidratação e paradas respiratórias. “Em estados mais críticos, a coqueluche pode causar pneumonia, convulsões, comprometimento do sistema nervoso central e até mesmo levar ao óbito”, explica Dr Francisco.

O que difere os sintomas gripais dos sintomas da coqueluche?

Tosse seca persistente, respiração ofegante, secreção nasal, febre e fadiga. Os sinais se assemelham aos sintomas gripais, mas podem indicar a presença de uma doença não tão comum, mas altamente infecciosa: a coqueluche.

A nota técnica do Ministério da Saúde alerta os profissionais de saúde sobre o risco do aumento de casos de coqueluche e a importância do diagnóstico diferencial com outras doenças que apresentam tosse como manifestação clínica, incluindo Covid-19.

É fundamental procurar uma unidade de saúde para receber o diagnóstico e tratamento adequados, assim que surgirem os primeiros sinais e sintomas. É essencial que os profissionais de saúde investiguem corretamente os casos suspeitos ou confirmados e assegurar a qualidade dos dados, com preenchimento correto e completo de todas as notificações.

Doença pode se espalhar em clima frio ou ameno

A doença tende a se espalhar mais facilmente em climas amenos ou frios, como na primavera e no inverno, quando as pessoas passam mais tempo em ambientes fechados. A taxa de transmissão é alta, podendo gerar até 17 casos secundários por infecção, comparável ao sarampo e à varicela, e superior à covid-19.

Crianças são as principais afetadas, representando a maioria dos casos e óbitos, e a infecção pode durar cerca de 6 a 10 semanas e evolui em três fases sucessivas: catarral, paroxística e convalescença. A prevalência da doença é maior em crianças que não completaram o calendário vacinal. Portanto, é crucial estar atento à vacinação de crianças até 6 meses. O especialista aponta ainda que a vacinação é a melhor estratégia para combater a doença.

Os pais devem levar seus filhos à UBS mais próxima para receber a vacina, que é gratuita, e evitar que a doença prolifere. Também é fundamental ampliar a vacinação entre as gestantes”, explica Dr. Francisco.

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Vacinação entre grávidas e profissionais de saúde

Vacina contra a coqueluche deve ser reforçada aos 4 anos de idade (Foto: Julia Prado/MS)

A vacinação é a forma mais eficaz de prevenir a coqueluche e é frequentemente administrada como parte da vacinação infantil de rotina, é recomendada para bebês e crianças em várias doses, começando aos 2 meses de idade. Além disso, vacinas de reforço são recomendadas para adolescentes e adultos, pois a imunidade conferida pela vacina pode diminuir ao longo do tempo.

A principal prevenção da coqueluche é a vacinação em crianças menores de 1 ano, com reforços aos 15 meses e aos 4 anos, além da vacinação de gestantes, puérperas e profissionais de saúde. “Essa nota reforça a importância de proteger e minimizar os casos de surto entre os profissionais da saúde, que muitas vezes, pelo sucesso da vacina, desconhecem a doença e podem não intervir precocemente”.

Disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), a vacina contra a coqueluche está indicada para profissionais da saúde e para gestantes, a partir da 20ª semana de gestação, com a finalidade de proteger os recém-nascidos. Recomenda-se que mulheres grávidas recebam a vacina contra a coqueluche durante cada gravidez, idealmente entre a 27ª e 36ª semana da gestação.

Isso ajuda a proteger o recém-nascido, já que os anticorpos passam da mãe para o bebê antes do nascimento, proporcionando proteção temporária até que o bebê possa receber suas próprias imunizações”, destaca o André Negrelli.

Para os programas de imunização estaduais e municipais, a nota destaca a necessidade de ampliação da vacina contra a coqueluche aos trabalhadores de saúde que atuam em serviços públicos e privados, especialmente em ginecologia e obstetrícia, parto e pós-parto imediato, unidades de terapia intensiva e cuidados intensivos neonatais, além dos profissionais que atuam como doula durante o trabalho de parto e trabalhadores em berçários e creches com atendimento de crianças até 4 anos. “Esse processo minimiza os riscos para gestantes e lactantes que ainda não completaram o calendário vacinal, protegendo-os de quadros de coqueluche.

Aumento da cobertura vacinal para a vacina tríplice viral

Desde 2020, por conta da vacinação, houve uma redução importante nos casos. A boa notícia é que em 2023, todas as vacinas contra coqueluche apresentaram aumento da cobertura vacinal, em comparação com ano de 2022, apontando para a reversão da queda dos índices vacinais que o Brasil enfrenta há sete anos

A DTP (difteria, tétano e coqueluche) é uma das oito vacinas recomendadas do calendário infantil que apresentaram aumento nas coberturas vacinais, segundo dados preliminares do Ministério da Saúde para janeiro a outubro de 2023, quando comparado com todo o ano de 2022.

O sucesso da estratégia de regionalização, a partir do microplanejamento, levou à melhora dos índices vacinais para a DTP, que protege contra a difteria, tétano e coqueluche, em todos as unidades da federação e o Distrito Federal.

Para as crianças com um ano de idade, também registraram crescimento os imunizantes contra hepatite A, poliomielite, pneumocócica, meningocócica e tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola). Também houve aumento na cobertura da vacina contra a febre amarela, indicada aos nove meses de idade. A alta foi registrada em todo o país.

Além disso, 26 unidades federativas aumentaram a cobertura contra a poliomielite e da primeira dose de tríplice viral. Outra boa notícia é que 24 estados tiveram alta na cobertura contra a hepatite A, meningocócica e segunda dose de tríplice viral; e 23 melhoraram a cobertura da vacina pneumocócica.

De acordo com o Ministério da Saúde, o avanço é fruto do planejamento multiestratégico adotado pela pasta desde o início da gestão – com o lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação, a adoção do microplanejamento, o repasse de mais de R$ 151 milhões para ações regionais nos estados e municípios e o lançamento do programa Saúde com Ciência.

Outras medidas de prevenção e tratamento da doença

Além de manter a vacinação em dia, praticar boa higiene pode ajudar a prevenir a propagação da coqueluche e outras doenças respiratórias. Isso inclui lavar as mãos regularmente com água e sabão, cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar (preferencialmente com um lenço de papel descartável ou o cotovelo flexionado) e evitar o contato próximo com pessoas doentes.

Negrelli aponta que o tratamento da coqueluche é feito com uso de antibióticos que ajudam a combater a infecção e reduzir a gravidade dos sintomas; medicamentos que aliviam a tosse e isolamento da pessoa contaminada, já que se trata de uma infecção de fácil contágio.

Vale lembrar que todas as medidas devem ser aplicadas respeitando a orientação médica já que cada organismo pode reagir de forma diferente de acordo com a agressividade da bactéria e histórico de saúde”, salienta o médico.

Mito ou verdade: a coqueluche afeta apenas crianças pequenas?

É comum encontrar uma série de mitos e verdades que circulam nas redes sociais, Fábio Argenta aponta alguns, confira:

A coqueluche tem transmissão facilitada.

Verdade! O vírus se espalha facilmente por meio do contato com gotículas respiratórias de uma pessoa infectada, principalmente durante uma tosse ou espirro. “O que é muito preocupante em ambientes fechados, como escolas e creches”, conta o médico.

A coqueluche não é mais uma preocupação de saúde pública.

Mito! Atualmente o vírus não recebe tanta atenção se comparadas a outras enfermidades infecciosas, porém, ela ainda representa sim preocupação de saúde pública. “A vigilância epidemiológica continua com as campanhas educativas sobre a importância de manter o calendário vacinal em dia, especialmente para que não exista uma disseminação dessa e de outras doenças. É papel de todos nós, como população, não difundirmos fake news sobre o poder das vacinas”, comenta o Dr. Argenta.

vacina contra a coqueluche perde a eficácia ao longo dos anos.

Verdade! “A eficácia da vacina contra coqueluche pode diminuir ao longo do tempo, deixando as pessoas suscetíveis à infecção. Por isso, mesmo que o indivíduo tenha cumprido as doses de imunização quando criança, o indicado é que ele faça um reforço a cada dez anos na fase adulta”, esclarece o Dr. Fábio.

A coqueluche afeta apenas crianças pequenas.

Mito! Embora os bebês sejam os mais vulneráveis a sintomas graves, o vírus pode afetar pessoas de todas as idades. Adultos e adolescentes também podem contrair, muitas vezes apresentando sintomas mais brandos que podem passar despercebidos ou serem confundidos com outros problemas respiratórios.

A tosse convulsa é inofensiva e pode ser tratada em casa.

Mito! A tosse pode levar a complicações como convulsões, pneumonia, problemas para se alimentar e até mesmo levar a óbito nos casos mais graves. Por isso, para prevenir os sintomas e complicações, é fundamental ter supervisão médica. “Entender sobre os detalhes da doença e como se dá o seu contágio é essencial para preveni-lá”, finaliza Argenta.

Com Assessorias

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