Ansiedade, tédio, vergonha e inveja são as quatro novas emoções que entram em cena da agora adolescente Riley na animação Divertida Mente 2, da Disney, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20). Se no primeiro filme Divertida Mente, lançado há quase dez anos, a personagem principal se desenvolveu com alegria, tristeza, medo, nojo e raiva.  Agora, nesta nova fase da vida, há uma verdadeira virada na chave e muita coisa muda.

Mas até onde o desenho pode refletir o que acontece na vida real?

O cérebro, desde a infância, passa por inúmeras mudanças estruturais e funcionais antes de atingir a maturidade completa. Esse processo é natural e progressivo, englobando o aumento de peso cerebral e o desenvolvimento de funções primárias como sensoriais, motoras e de associação, bem como funções corticais que incluem raciocínio, planejamento e autocontrole.

O amadurecimento pleno do cérebro, como explica a neuropsicóloga Camila Ferrari, só é atingido na vida adulta, por volta dos 25 anos, devido à necessidade de tempo extra para o desenvolvimento do córtex pré-frontal. Esta área do cérebro é responsável pela regulação emocional, controle de impulsos e memória operacional.

Como ilustrado de maneira lúdica no filme em animação Divertida Mente 2, que narra o desenvolvimento da personagem Riley, o cérebro da criança e do adolescente ainda está em fase de aprendizado sobre como estabelecer metas, planejar, compreender as consequências das ações e lidar com as emoções.

Camila conta que, em seus atendimentos, trabalha com as emoções básicas descritas pelo psicólogo americano Paul Ekman: alegria, tristeza, raiva, medo, surpresa e nojo, a maioria delas presente no filme. O foco é ajudar as crianças a nomearem, identificarem e compartilharem essas emoções, promovendo um entendimento mais profundo e uma comunicação emocional assertiva.

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‘Não existe vida sem frustração, nojo e medo’

“Privar a criança de alguma reação ou sentimento pode trazer prejuízos”, alerta a neuropsicóloga, da clínica Neurodesenvolvendo. As emoções são respostas naturais às vivências e, ao naturalizá-las e criar um ambiente respeitoso para sua manifestação, os pais ensinam os filhos a lidar com elas de maneira saudável.

Camila destaca que muitos pais tendem a esconder suas próprias emoções para não transparecer fraqueza ou tristeza, mas isso acaba sendo uma oportunidade perdida para ensinar que essas emoções são normais e esperadas. “Toda emoção nos compõe enquanto seres humanos. Assim sendo, não existem emoções negativas e positivas, certas e erradas, existem apenas respostas de natureza emocional, emitidas em consequência das nossas vivências”, acrescenta a especialista.

Camila complementa que criar os pequenos com a expectativa de uma vida perfeita e sem frustrações, sem ensiná-los a lidar com as emoções, pode ser adoecedor e gerar sofrimento psíquico, inclusive no futuro, quando adultos. “Quando polarizamos as emoções e ensinamos que algumas delas não são bem vindas, em última medida, mostramos que elas devem ser evitadas, distanciadas de nossa vida, o que não é possível”, adverte a neuropsicóloga.

Não existe vida sem frustração, nojo e medo, por exemplo, e o lugar mais seguro para aprender a sentir e compreender essas emoções é em casa, na companhia afetuosa e acolhedora dos pais.”

O papel crucial do córtex cerebral

O desenvolvimento do cérebro infantil e a gestão das emoções são fundamentais para a formação de adultos emocionalmente saudáveis e conscientes. A doutora em educação com ênfase em neurociência Cosete Ramos complementa essa visão ao destacar o papel crucial do córtex, que ocupa 85% da área cerebral e é fundamental para nossa interação com o mundo.

O córtex pré-frontal, em particular, está associado ao pensamento racional, cognição e consciência, processos que nos permitem a metacognição – a capacidade de estarmos cientes de nossos próprios pensamentos.

As emoções, que variam em intensidade e impacto ao longo da vida, influenciam profundamente nossa racionalidade, respiração e sistema imunológico. Elas funcionam como uma cola que junta corpo e cérebro, regulando suas atividades”, explica a professora.

Ela cita o professor emérito de educação Robert Sylwester (1927-2016), da Universidade de Oregon (EUA): “Sentimentos como amor, vergonha, coragem, gratidão, júbilo, esperança, decepção, confiança, saudade, generosidade e felicidade desempenham papeis significativos na vida humana.”

 Com Assessorias
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