Uma em cada quatro crianças e adolescentes ouvidos em estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) apresentou ansiedade e depressão durante a pandemia com níveis clínicos – ou seja, com necessidade de intervenção de especialistas. Os dados foram apresentados, em junho, à Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 da Câmara dos Deputados. A pesquisa monitorou a saúde mental de sete mil crianças e adolescentes de todo o País desde junho do ano passado.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) realizou em setembro de 2020 uma enquete realizada com mais de 4 mil adolescentes de todo o Brasil, entre 15 e 19 anos, sobre saúde mental na pandemia e acolhimento psicológico. A pesquisa mostra que 72% dos respondentes sentiram necessidade de pedir ajuda em relação ao bem-estar físico e mental durante a quarentena. Entretanto, 41% não recorreram a ninguém, fator preocupante.
O levantamento merece atenção neste Setembro Amarelo, mês de conscientização e prevenção ao suicídio. A psiquiatra Elen Cristina Batista de Oliveira, que atende no Espaço Equilíbrio, no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, notou na prática o resultado dessas pesquisas.
“Percebi um aumento na procura por tratamento de quadros de ansiedade e depressão entre adolescentes. Também tenho observado um recente aumento de casos de fobia social e dificuldade de retorno à interação e exposição social”, destaca a médica, que atende pacientes a partir dos 14 anos.
A especialista aponta alguns fatores que fizeram com que os problemas de saúde mental durante a pandemia aumentassem entre os jovens. “O principal foi o isolamento, que provocou a perda de reforçadores e de experiências positivas com intensa e prolongada privação. Além do excesso de contatos e interações virtuais com aulas, aplicativos, jogos, mensagens virtuais com prolongado tempo de exposição a telas nunca antes experimentado pelas gerações anteriores”, salienta.
Como reconhecer os sinais da depressão em seus filhos
De acordo com Elen Cristina, os pais devem estar atentos aos sinais para poder perceber que o filho pode estar com algum problema emocional. “Aumento ainda maior do isolamento, mudanças de rotinas e de necessidades básicas, como apetite e sono.
Ausência de prazer em experiências antes consideradas positivas, como por exemplo brincar, estar com amigos e familiares. Além de irritabilidade excessiva e prejuízo no desempenho escolar”, afirma.
Ela destaca que a maioria dos pais pensa que é só uma fase e acabam assimilando a gravidade da situação quando o quadro está mais avançado. Por isso a necessidade de ter atenção com as mudanças de comportamento.
Segundo a psiquiatra, é importante que os pais e demais adultos que convivem com as crianças e adolescentes fiquem atentos a algumas falas.
“Frases de alerta são preocupantes quando ditas no contexto clínico que citei acima. Algumas delas são: ninguém gosta de mim, ninguém se importa comigo, eu não sirvo para nada, eu tenho vontade de sumir, se eu sumir ninguém vai sentir minha falta”, alerta a médica, destacando que é preciso procurar uma ajuda profissional ao se deparar com os sinais listados.
Apesar do avanço da vacinação no Brasil e de todas as medidas protetivas utilizadas pela sociedade, o reflexo da pandemia entre a classe trabalhadora, pais e estudantes é de medo, angústia e ansiedade. Diversos segmentos se veem forçados à volta aos meios presenciais para seguirem dentro da normalidade, o que, no entanto, para alguns especialistas em saúde mental tem afetado as pessoas psicologicamente.