Apenas em 2023, o número de crianças e adolescentes desaparecidos no Estado do Rio de Janeiro chegou a 101, sendo 90 reencontrados. Em 27 anos, desde que o programa SOS Criança Desaparecida, foram registrados 4.307 desaparecimentos de jovens, sendo 3.753 localizados. Ou seja, ao longo deste período, 554 não foram encontrados ou foram dados como mortos.

Os sumiços no estado têm endereço, gênero e raça. Segundo dados referentes a outubro, 64% são meninas. A maioria dos desaparecidos é negra ou parda: 72%. A cor negra também é maioria quando os localizados são encontrados mortos: 58%. Em relação ao local de moradia, juntos, os 13 municípios da Baixada e a capital fluminense concentram 49,5% dos casos. Já as outras 78 cidades do estado somam 50,5% das ocorrências.

Para aumentar as descobertas, desde domingo (24) até o dia 7 de janeiro, monitores em ônibus e terminais rodoviários da região metropolitana do Rio vão exibir vídeos informativos com instruções de segurança e prevenção ao desaparecimento de crianças e adolescentes. A expectativa ao divulgar as diretrizes de prevenção ao desaparecimento nos painéis dos terminais e nas TVs internas dos ônibus é conscientizar mais de 3 milhões de pessoas.

A iniciativa do governo do estado foi elaborada pela Fundação da Infância e Adolescência (FIA-RJ), que administra o programa SOS Crianças Desaparecidas, e conta com a parceria do RioÔnibus (Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro) e da Onbus, empresa que explora o serviço de mídia nos veículos e terminais.

“As parcerias são fundamentais para a mobilização da sociedade e para a localização de crianças e adolescentes desaparecidos. O grande objetivo é reduzir, ao máximo, o número de casos ao ponto de atuar prioritariamente em ações de prevenção”, disse Luiz Henrique Oliveira, gerente do SOS Crianças Desaparecidas. 

De acordo com a Lei da Busca Imediata (Lei federal 11.259/2005), não é preciso prazo de espera antes de comunicar às autoridades um caso de desaparecimento. A investigação será realizada imediatamente após a notificação aos órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos portos, aeroportos, polícia rodoviária e companhias de transporte interestaduais e internacionais.

RJ: mais de 78% dos desaparecimentos de crianças são fugas do lar

Rebeldia ou falta de acolhimento podem ser causas. Polícia opta em ir atrás do suspeito do que encontrar desaparecido

Mais de 78% dos desaparecimentos de crianças no Rio de Janeiro são resultado de fugas do lar. Entre as causas, está a rebeldia dessas crianças, a falta de acolhimento nos respectivos lares e também a não aceitação dos responsáveis da orientação sexual ou religiosa. A informação foi dada no webinário “Por que todos os dias desaparecem crianças e adolescentes?”, promovido pela FIA,  Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ) e Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) para discutir práticas e ações para ajudar a evitar que uma criança ou adolescente resolva sair de casa e desaparecer.

O alto número de desaparecimentos voluntários (78%) reflete uma vulnerabilidade social, segundo a promotora do Ministério Público, Roberta Ribeiro.

“Quando fala que “ah, ele saiu voluntariamente”, acontece, na maioria dos casos, uma certa inércia das instituições e de como enfrentar esse fenômeno. É mais uma nuance dessas vulnerabilidades que a infância negra, pobre atravessa. Então, lidar com isso, com essa saída e lidar com esses efeitos dessa saída e do que pode acontecer a partir dessa saída é mais um dos indutores, mais um dos propósitos que a promotoria funciona.”

Para Marcelo Neuman, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência e Vulnerabilidade Social, da Universidade Mackenzie, as famílias que impõem seus conceitos morais e sociais dificultam o diálogo com as crianças e os adolescentes. levando à fuga do lar.  Segundo ele, muitas famílias dizem que os filhos são muito rebeldes, não seguem as regras impostas em casa. “Quando o adolescente fala que é homossexual ou quando ele fala que se identifica com outro gênero, então isso é uma questão que muitas vezes a família não aceita”.

Em relação às dificuldades no trabalho de busca dos desaparecidos está o fato de que, na maioria das vezes, a polícia escolhe, primeiro, ir atrás dos suspeitos em vez de encontrar o desaparecido, como aponta o defensor público Rodrigo Azambuja.

“Na visão da própria polícia, o que é mais importante não é encontrar uma criança, o que é mais importante é prender um autor de um roubo, um autor de um furto. Na compreensão desses órgãos é que a gente consegue entender essa lógica. Não estou fazendo nenhuma crítica expressamente ao trabalho deles, mas é a lógica do sujeito que se entende lá policial, ele quer prender lá um traficante, um autor de um roubo, ele não quer ir atrás de uma criança que está desaparecida.”

Como prevenir

Durante o evento, foi lançada uma cartilha sobre como registrar e se prevenir de desaparecimentos. Algumas dessas recomendações são manter a criança sob supervisão constante de um adulto e nunca deixá-la sozinha, principalmente em locais públicos. Para ver o conteúdo, acesse o site www.ifht.uerj.br e clique em publicações. Confira as dicas da FIA para pais e responsáveis evitarem casos de desaparecimento.

– Ensine ao seu filho o nome dele completo, endereço e os telefones de contato dos pais ou responsáveis;

– Quando estiver em locais de grande circulação de pessoas (show, praia, etc.), marque um ponto de encontro para o caso de se perderem;

– Faça a carteira de identidade do seu filho (pode ser tirada desde o nascimento). Diga para ele andar sempre com um documento de identificação;

– Nunca deixe crianças sozinhas, seja em casa ou na rua, nem sob os cuidados de outra criança ou adolescente;

– Mostre ao seu filho como buscar ajuda quando necessário: forneça a ele o número de emergência (190);

– Entenda os riscos que a internet pode causar e oriente os seus filhos sobre as medidas de segurança e cautelas necessárias;

– Conheça os amigos de seu filho e as pessoas com quem ele convive (escola, cursos, vizinhos, etc.);

– Mantenha sempre uma conversa franca e aberta com seu filho para que ele possa se sentir seguro e confiar em você. Ouça seu filho! Ele tem sempre coisas importantes a lhe dizer!

Da Agência Brasil, com Redação

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