Acostumados ao calor de 40 graus no verão, cariocas experimentaram em plena primavera uma sensação térmica que beirou os 60 graus em muitos pontos da cidade do Rio de Janeiro, causando um aumento expressivo na média semanal de atendimentos médicos. Diagnósticos de mal-estar e fadiga; edema (inchaço); hipotensão (pressão baixa); efeitos do calor e da luz; síncope e colapso saltaram na rede municipal de saúde com as ondas de calor que atingiram a cidade nas últimas semanas.

Somente do dia 8 ao dia 15 de novembro, foram 1.121 notificações, um aumento de 51% em relação aos sete dias anteriores. O diagnóstico de mal-estar e fadiga, por exemplo, somou 667 ocorrências no período mencionado, com recorde diário de atendimentos no dia 8 (166). O bairro de Vila Kennedy registrou o maior número de ocorrências da enfermidade por região (274), seguida de Madureira (56) e Rocha Miranda (45).

No dia 18 de novembro, a estação de Guaratiba, foi registrada a maior sensação térmica: 50,7 graus. Neste dia, uma fã morreu dentro do estádio olímpico Nilton Santos (Engenhão), durante o show da cantora Taylor Swift. A morte de Ana Clara Benevides Machado, estudante universitária 23 anos que morava em Mato Grosso, ainda está sendo investigada, mas tudo indica que tenha sido por estresse térmico. 

Rio abre 100 pontos de hidratação em unidades de saúde

Para minimizar os impactos para a população das ondas de calor previstas para os próximos meses, com a aproximação do verão, e para preparar a cidade para a ocorrência de temperaturas extremas – que devem continuar até abril de 2024 – a Prefeitura do Rio de Janeiro lançou nesta segunda-feira (27) um pacote de medidas de curto, médio e longo prazo.  

Uma delas é a abertura de mais de 100 pontos de hidratação distribuídos em clínicas da família, centros municipais de saúde e no Super Centro Carioca de Saúde (principal polo), em Benfica, para atender à população de maneira imediata, sobretudo os mais vulneráveis, nos dias de maior calor. Estes pontos irão fazer a distribuição de água e isotônicos para pessoas em situação de rua, além de roupas, chinelos e protetor solar.

Para os casos que requeiram atendimento especializado, as unidades de saúde terão poltronas e leitos com opções de hidratação venosas e orais (de acordo com indicação do profissional de saúde de plantão). Os pontos funcionarão também como áreas de conforto térmico para populações mais vulneráveis.

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Estresse térmico: aplicativo e sites informam onde ser atendido

O plano de contingência serve para minimizar os impactos das ondas de calor na cidade (Foto: Rafael Catarcione/Prefeitura do Rio)

Como o aumento das temperaturas pode gerar variadas reações no corpo, a Prefeitura orienta para os sinais do estresse térmico. Para além das queimaduras, a população deve prestar atenção ao suor excessivo, que regula temperatura, mas pode causar desidratação; a insolação, que pode acontecer inclusive na sombra; e as alterações no metabolismo, como a interferência na pressão arterial e descompensação cardiovascular, além de ressecamento de olhos e pele, e irritação no nariz, em casos de baixa umidade do ar.

Em caso de tonturas, fraqueza, sede intensa e dor de cabeça, a recomendação é que a pessoa procure a unidade de saúde mais próxima. Para localizar uma unidade, basta consultar prefeitura.rio/ondeseratendido. Já o Centro de Operações da Prefeitura vai disponibilizar em seu aplicativo COR.Rio os endereços das Clínicas da Família e demais unidades que funcionarão como pontos de hidratação durante o verão. Os endereços também vão estar no site do COR.

“A gente tem mais de 100 pontos preparados para receber essas pessoas para fazer hidratação venosa e oral, próximos às áreas mais afetadas pelo calor, principalmente a Zona Norte. Também estamos dando orientações para a população, como, por exemplo, não utilizar bronzeadores solares, ter uma atenção especial com crianças e idosos, porque eles desidratam mais rapidamente, e ter um cuidado maior com os animais de estimação”, disse o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.

Controle dos vetores da dengue recebe reforço

Outra preocupação é com a prevenção das arboviroses, como dengue, zika e chicungunya, que tendem a aumentar no verão devido às altas temperaturas e o acúmulo de água das chuvas, condições ideais para a reprodução do Aedes aegypti.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) realiza durante todo o ano ações de combate aos focos do mosquito, que são intensificadas nesta época do ano.

Até o dia 18 de novembro, foram realizadas 9.741.738 visitas a imóveis pelos agentes de vigilância em saúde, para controle do vetor, e 1.934.656 recipientes que poderiam servir de criadouros de mosquitos foram tratados ou eliminados.

A SMS alerta que a maior parte dos focos do Aedes aegypti é encontrada nas residências e, para a prevenção das doenças, é imprescindível que a população colabore eliminando em suas casas os objetos que podem acumular água e servir de criadouros do mosquito.

Mapa do calor: o Rio é mais quente na Zona Norte

Também foi apresentado o Mapa de Calor do Rio, que reafirmou uma percepção histórica, registrada pelo senso comum: as principais ilhas de calor da cidade ficam na Zona Norte, em bairros como Complexo do Alemão, Complexo da Maré, Ramos e Pavuna, além de Bangu, na Zona Oeste, áreas que historicamente possuem menor cobertura vegetal. Para contornar o problema, a Prefeitura do Rio vem investindo na implantação de parques urbanos e reflorestamento, em projetos que incluem soluções para ampliar o conforto térmico da população.

“A gente precisa focar nas áreas que mais sofrem com as ondas de calor, principalmente no verão. Focar na nossa capacidade de arborizar e reflorestar a cidade e como ampliar essa cobertura vegetal, seja por horta ou pela melhoria da qualidade ambiental”, destacou a secretária municipal de Meio Ambiente e Clima, Tainá de Paula.

Segundo ela, o objetivo é ampliar os corredores verdes da cidade, unificando as unidades de conservação já existentes e criando novas “ilhas verdes”. São novos parques municipais que estão sendo implantados e cinco áreas de corredores verdes: Centro, Irajá, Bangu, Campo Grande e Pedra de Guaratiba, bairros que mais sofreram com as ondas de calor dos últimos dias.

Em 2024, a Prefeitura do Rio irá implantar o programa “Cada Favela, uma Floresta”, que buscará promover um ambiente ecologicamente correto, com foco na construção de florestas e restauração no ambiente das comunidades.

Vinte territórios da cidade serão beneficiados pela ação, que buscará prevenir e controlar a ocupação em áreas de risco e recuperar áreas degradadas, gerando melhorias no microclima das comunidades e na qualidade do ar e da água, além de incentivar a eficiência energética e promover a segurança alimentar.

Parque no subúrbio carioca terá praia e cachoeira artificiais

Na Zona Norte, o Parque Pavuna terá 17 mil metros quadrados, uma praia artificial e uma praça molhada, além de horta e plantio de 320 árvores nativas da Mata Atlântica. Já o Parque Piedade, além de áreas de lazer, quadras e centro cultural, esportivo e educacional, terá uma horta urbana, praça molhada com cachoeira artificial, numa área total de 18 mil metros quadrados.

Em Realengo, na zona oeste, as obras do Parque Susana Naspolini prevêem o plantio de 3,7 mil árvores, o equivalente a nove campos de futebol, um bosque com 11,2 mil metros quadrados, hortas e pomares, além de um espelho d’água e jardins aquáticos. O destaque do parque, que terá 77 mil metros quadrados, será um conjunto de torres que irão aspergir gotículas de água para espantar o calor.

Em Inhoaíba, o Parque Oeste, que terá 234 mil metros quadrados, prevê o plantio de 11 mil mudas, reflorestamento de 61,8 mil metros quadrados, além da preservação do verde local. O parque terá ainda escada de águas e chuveiro cascata.

Já a nova Floresta da Posse passará pela ampliação da área de mata para 950 mil metros quadrados, o equivalente a 130 campos de futebol, com a recuperação dos mananciais e ações de proteção da fauna e flora nativa.

Na Barra da Tijuca, a antiga Via Olímpica está sendo transformada no Parque Rita Lee, que terá 136 mil metros quadrados. A criação de um bosque e uma esplanada arborizada voltada para a Lagoa de Jacarepaguá prevê o plantio de 970 árvores e 32 mil arbustos, além de uma área molhada de 1,2 mil metros quadrados.

Mudança de estágio operacional em caso de estresse térmico

A partir de agora, o município do Rio poderá trocar de estágio operacional em dias de maior vulnerabilidade da população ao estresse térmico. O plano de contingência da Prefeitura do Rio prevê ainda que as altas temperaturas e a medição da sensação térmica passem a ser levadas em conta para a mudança dos estágios operacionais da cidade, disparados pelo Centro de Operações Rio (COR).

A mudança do estágio operacional da cidade leva em consideração variáveis como mobilidade, previsão do tempo, eventos e outros.  A decisão acontece num momento em que os cinco maiores registros de temperatura, de toda a série histórica do Sistema Alerta Rio, iniciada em 2014, aconteceram este ano, sendo a maior sensação térmica, de 59,7ºC , foi registrada em Guaratiba no dia 18 de novembro às 8h10.

“O calor é mais uma variável monitorada pelo Centro de Operações na mudança dos estágios operacionais. Além disso, a cidade do Rio de Janeiro vem investindo em tecnologia de monitoramento. Acabamos de anunciar um novo radar meteorológico, que será implantado até o final do ano. Compramos também um software de raios que consegue identificar a intensidade das chuvas e o município vem buscando parcerias tecnológicas com grandes empresas nesse monitoramento”,  afirmou o chefe-executivo do COR, Marcus Belchior.

Fonte: Prefeitura do Rio

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