Em mais um recorde estabelecido pela atual onda de calor, o Rio de Janeiro registrou nesta sexta-feira (17), às 10h20, a sensação térmica de 59,3 graus Celsius (°C). É a maior já aferida pelo serviço meteorológico da prefeitura, o Alerta Rio, criado em 2014. No momento, os termômetros marcavam 41,4°C. O recorde anterior havia sido registrado na terça-feira (14), quando a sensação térmica chegou a de 58,5°C.

A sensação térmica é um parâmetro que leva em consideração a temperatura e a umidade do ar, e as duas medições extremas foram constatadas pela Estação Meteorológica de Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro.

Além da sensação térmica, a cidade também tem registrado temperaturas recorde. Na quinta-feira (16), os termômetros chegaram a marcar 42,6°C, a maior temperatura do ano. O recorde anterior era de domingo, com 42,5°C.

Rio de Janeiro (RJ), 16/11/2023 - Moradores do Complexo da Maré se refrescam com chuveiros e piscinas improvisadas nas ruas da comunidade. A sensação térmica na cidade do Rio de Janeiro voltou a superar os 50 graus Celsius (°C), com a onda de calor que atinge boa parte do Brasil. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Moradores do Complexo da Maré se refrescam com chuveiros nas ruas da comunidade (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

om o calor em alta, a cidade teve um fim de semana e um feriado de praias lotadas nesta semana. Uma multidão tomou conta das areias da zona sul em busca de um alívio para a onda de calor no sábado e no domingo, e, com o feriado no meio da semana e sem enforcamentos, os cariocas foram em massa para a orla no 15 de Novembro.

No centro da cidade e nas periferias, quem precisava sair para trabalhar ou estudar, se refrescava como podia. No Complexo da Maré, na zona norte do Rio, piscinas de plástico montadas no meio da rua e chuveirões fizeram a festa de crianças, adolescentes e até adultos em meio à sensação térmica sufocante.

No Rio de Janeiro, cariocas e turistas lotaram as praias nesta quarta-feira (15), feriado da proclamação da República. Preocupada com os efeitos do El Niño sobre o clima neste verão, a prefeitura do Rio anunciou um plano de resiliência nesta semana . Há expectativa de que o fenômeno climático cause temporais e mais temperaturas extremas nos próximos meses.

Rio de Janeiro (RJ), 15/11/2023 – Cariocas e turistas lotam praia de Ipanema, na zona sul, em dia de forte calor no Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Calor não impede prática de jogos em Ipanema (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Altas temperaturas também no interior

Na classificação do Inmet, as ondas de calor se configuram quando a temperatura se mantém, ao longo de pelo menos cinco dias, 5ºC acima da média esperada para o mês. A marca de 40ºC tem sido superada nos últimos dias no Rio de Janeiro, em Cuiabá e também em muitas cidades do interior, como Corumbá e Água Clara, em Mato Grosso do Sul, São Romão e Coronel Pacheco, em Minas Gerais, Seropédica, no Rio de Janeiro, e Ibotirama, na Bahia.

Diversos recordes foram registrados pelo Inmet na terça-feira (14). Com máxima de 39,2ºC, Goiânia teve a tarde mais quente de sua história para o mês de novembro. Em Campos do Jordão, no interior de São Paulo, a marca de 31ºC superou os 30,5ºC medidos em setembro 1961, até então considerada a maior temperatura da cidade. O Distrito Federal também alcançou um recorde com 37,3ºC: foi o dia mais quente do ano até o momento.

Conforme a previsão do Inmet, estados que estão enfrentando a onda de calor devem receber chuvas intensas na próxima semana. Na Região Sudeste, a queda da temperatura na sexta-feira (17) já deve vir acompanhada de precipitações.

Para o período de 21 a 29 de novembro, algumas localidades devem receber um grande volume de chuva, podendo ultrapassar 40 milímetros, especialmente em Mato Grosso e Goiás, no Distrito Federal, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e Espírito Santo. Nas demais áreas, o Inmet não descarta a possibilidade de pancadas de chuvas.

Efeito El Niño: entenda o fenÔmeno

A onda de calor que atinge boa parte do país está fortemente associada ao fenômeno El Niño, apontam pesquisadores. O fenômeno é caracterizado pelo enfraquecimento dos ventos alísios (que sopram de leste para oeste) e pelo aquecimento anormal das águas superficiais da porção leste da região equatorial do Oceano Pacífico.

As mudanças na interação entre a superfície oceânica e a baixa atmosfera têm consequências no tempo e no clima em diferentes partes do planeta. Isso porque a dinâmica de circulação das massas de ar adota novos padrões de transporte de umidade, afetando a temperatura e a distribuição das chuvas.

“Estamos enfrentando um El Niño forte”, diz o géografo Marcos Freitas, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que chama a atenção para medições realizadas pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, ligada ao governo dos Estados Unidos. Esse órgão monitora a temperatura da água na chamada Zona 3.4, localizada na porção equatorial central do Oceano Pacífico.

“Estamos chegando a quase 2ºC de anomalia. Em geral, temos um El Niño médio ou fraco a cada dois anos, que é quando se tem uma anomalia de 1ºC, no máximo. Quando passa de 1ºC, consideramos um El Niño forte. Isso altera as massas de ar em cima do nosso continente.” De acordo com Freitas, o que ocorre, então, é um bloqueio das entradas de massas de umidade em parte do Sudeste e um pouco no Centro-Oeste”.

Segundo o pesquisador, a tendência é de um verão muito quente. “Esse El Niño não vai se dissipar agora”, acrescenta. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) estima que os efeitos do fenômeno devem ser sentidos pelo menos até abril do próximo ano. Marcos Freitas observa que um El Niño forte ocorre mais ou menos a cada sete anos, mas destaca que o grau de intensidade vem aumentando em função do aquecimento global.

A avaliação do pesquisador da UFRJ é corroborada pelo coordenador da Rede Clima da Universidade de Brasília (UnB), Saulo Rodrigues Pereira Filho. Ele vê possibilidade de novas ondas de calor ainda neste verão. Saulo Rodrigues explica que, no Brasil, além de influenciar a onda da calor no Sudeste e no Centro Oeste, o fenômeno provoca seca nas regiões Norte e Nordeste, bem como chuvas torrenciais e ciclones extratropicais no Sul.

Agência Brasil

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