A prevalência de nascimentos de bebês prematuros no Brasil é considerada uma séria questão de saúde pública – nascem duas vezes mais bebês antes da hora por aqui do que nos países desenvolvidos. O grande problema é que os “apressadinhos” são mais frágeis do que os bebês que nascem a termo. Mas dois aliados contribuem para a redução dos riscos e seu pleno desenvolvimento e imunidade – o leite materno e as vacinas.

A ampla cobertura vacinal em crianças é uma das conquistas mais significativas conduzida ao longo de décadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mas quando se trata da saúde de bebês prematuros, esse tema se torna ainda mais essencial, já que são mais suscetíveis a doenças e infecções, devido ao desenvolvimento incompleto de seus sistemas, incluindo o imunológico.

Muitas vezes, o risco de agravamento à saúde desses bebês ocorre devido a infecções que poderiam ser evitáveis ​​por meio de vacinas.  Por isso, a vacinação de prematuros como uma prioridade em saúde pública no país, para garantir que os pequenos estejam protegidos, favorecendo seu crescimento e desenvolvimento adequados.

Em geral, os prematuros precisam adquirir pelo menos 2kg para receber as primeiras vacinas. A partir disso, o calendário vacinal deve ser seguido normalmente. Alguns pais confundem a idade gestacional com a cronológica, mas o correto é seguir o cronograma de imunização considerando a idade a partir da data do nascimento da criança.

De acordo com as recomendações do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), as vacinas contra meningite, pneumonia, coqueluche, hepatite B, rotavírus, gripe e todas as demais imunizações devem ser aplicadas de acordo com a idade cronológica da criança prematura

É possível amamentar bebês prematuros?

A Organização Mundial de Saúde e o Ministério da Saúde recomendam que os bebês sejam amamentados exclusivamente com o leite materno até os seis meses de idade. Depois desse período, o bebê deve começar a receber alimentação complementar juntamente com o aleitamento materno, que deve ser mantido até os 2 anos ou mais.

A enfermeira obstetra e consultora internacional de lactação Cinthia Calsinski lembra que muitos pais e cuidadores acham que o bebê prematuro precisa (somente) ser alimentado por fórmula láctea por falta de “força” ou de reflexo de sucção para ser amamentado no peito.

“Na realidade, quando se trata de prematuros, é comum a diminuição ou falta dos reflexos de sucção e deglutição, mas é perfeitamente possível seu desenvolvimento e, desta maneira, a manutenção da amamentação através do apoio à mãe, cuidados a ambos e orientações específicas”, conta.

E não é preciso se preocupar com a produção de leite também. Afinal, o volume a ser consumido é proporcional ao tamanho do bebê. Por isso, a mamãe deve ser orientada a estimular a mama e iniciar a ordenha para manter a produção de leite.

“Ela pode fazer isso por, aproximadamente, oito vezes ao dia, com uma bomba extratora ou mesmo com as mãos. É importante não ficar mais de seis horas sem ordenhar para não empedrar o leite”, indica.

E como a natureza é sábia, ao dar a luz a um bebê prematuro, o organismo da mãe produz um leite diferenciado, chamado leite precoce, com maior teor de proteínas, gorduras e calorias e diminuição da lactose para facilitar a digestão. “O contato pele a pele também ajuda a fortalecer o vínculo, estimular a produção de leite e aguçar os sentidos do bebê, motivando-o a sugar”, conclui a enfermeira obstetra.

Ampliação da vacina hexavalente para os prematuros

Por meio do Programa Nacional da Imunizações (PNI), foram ampliados os critérios de aplicação da vacina para bebês prematuros; agora, os nascidos com menos de 33 semanas de gestação têm acesso à imunização com a hexavalente (Hexa acelular -DTPa/Hib/HB/VIP), que protege contra difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae tipo b, poliomielite e hepatite B, em uma só injeção. Anteriormente, estava disponível para menores de 31 semanas.

A hexa pode ser encontrada nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), presentes em todos os estados brasileiros. O esquema de vacinação consiste na aplicação de três doses: aos 2, 4 e 6 meses de idade cronológica, com intervalo de 60 dias entre as doses.  O primeiro reforço deve acontecer aos 15 meses de idade. O segundo, aos 4 anos de idade, com a vacina DTP acelular, se ainda persistir a indicação. A idade máxima para aplicação da vacina hexa acelular e/ou DTPa é de 6 anos, 11 meses e 29 dias.

A fundadora e diretora executiva da ONG Prematuridade.com, Denise Suguitani, exalta a importância da vacinação em prematuros no país exalta a importância da vacinação em prematuros no país. Segundo ela, apesar de ainda termos um longo caminho a percorrer, é importante enaltecer as conquistas no cenário da prematuridade, sendo a imunização um tema imprescindível nesse contexto..

“Sabemos que internações hospitalares são frequentes entre essas crianças durante toda a infância, por isso, a inclusão de mais prematuros nos protocolos de vacinação tem o potencial de diminuir custos para a Saúde, para a Assistência Social e impacta ainda o mercado de trabalho, uma vez que a família toda é afetada”, afirma.

Segundo ela, é preciso, com frequência, revisar e atualizar os critérios para aplicação de vacinas específicas para prematuros, visto que estudos têm demonstrado que bebês que estão fora dos critérios atuais, seriam muito beneficiados pelo uso dos imunizantes. “Seguiremos sempre buscando equidade no acesso às vacinas para todos os prematuros“, comenta.

Risco de bronquiolite é maior em prematuros

O vírus sincicial respiratório (VSR) é transmitido de forma similar a outros vírus respiratórios: pelo ar, tosse ou por superfícies. O VSR causa 80% dos casos de bronquiolite em crianças e o principal agente causador da doença em bebês de até um ano de idade. 

Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e do Hospital Pequeno Príncipe trazem um alerta sobre a importância da prevenção VSR em bebês prematuros na Semana Mundial da Prematuridade. A bronquiolite é extremamente perigosa para os prematuros, que nascem com a função pulmonar mais fragilizada.

O risco de hospitalização por VSR em bebês prematuros, nascidos com até 32 semanas, é 16 vezes maior do que em bebês nascidos a termo. Naqueles que nascem com 37 semanas ou mais de gestação, a incidência de internação é de 1% a 2%, enquanto nos prematuros, essa taxa fica entre 8% 25%. O risco de mortalidade também é elevado: de 1% a 4%.

Já para os bebês nascidos no período normal de gestação, o índice é de 0,1%. Em bebês prematuros, o risco de ocorrer uma bronquiolite como consequência da infecção é de 60%, enquanto os demais bebês têm 30% de chance de ser acometido pelo VSR.

Anticorpo monoclonal para proteger bebês de maior risco é fornecido pelo SUS

“A bronquiolite causada por VSR é a principal causa de internamento de bebês prematuros e que lotam as UTIs Neonatais de todo país. A infecção pode ser causada por vários vírus, mas uma ação direta precisa ser realizada contra o VSR para esse público”, diz médica Silmara Aparecida Possas, neonatologista e gerente das UTIs do Hospital Pequeno Príncipe.

A especialista ressalta também que, nos casos de prematuros, não só o esquema vacinal brasileiro deve ser seguido para protegê-los de infecções pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Ela explica que a principal forma de prevenir infecções graves e hospitalizações pelo VSR em prematuros é por meio do uso de anticorpo monoclonal, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para bebês considerados de maior risco.

“Esse anticorpo monocloral é fundamental para salvar vidas e garantir uma sobrevida com qualidade, sem risco de infecções respiratórias prolongadas e internamentos”, comenta a Dra Silmara.

Luta por ampliação de medicamento para VSR a prematuros abaixo de 32 semanas

A luta agora é para que um novo medicamento de alto custo seja ampliado no SUS para  prematuros que nascem com menos de 32 semanas. Estudos demonstram que, da mesma forma que os bebês nascidos com menos de 29 semanas, os prematuros abaixo de 32 semanas são muito beneficiados pelo uso do imunobiológico palivizumabe.

Há pouco mais de dois meses, o governo federal abriu uma consulta pública para registrar a opinião de famílias, profissionais de saúde, organizações da sociedade civil e sociedade em geral quanto à ampliação dos critérios de aplicação do palivizumabe pelo SUS. O resultado, no entanto, foi desfavorável à mudança nas especificações para acesso de prematuros abaixo de 32 semanas ao imunobiológico.

Atualmente, com exceção da Bahia, Maranhão, Paraná e Distrito Federal, os estados liberam a profilaxia com esse medicamento apenas para prematuros que nascem com menos de 29 semanas de idade gestacional, além de casos de cardiopatia congênita e doença pulmonar crônica.

Com Assessorias

 

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