A mobilização nacional para imunizar a população de 20 a 49 anos contra o sarampo termina nesta sexta-feira (30) com números preocupantes. Dados preliminares das secretarias estaduais de saúde apontam que, desde o início da ação (16 de março) até o dia 29 de outubro, foram vacinadas 11,7 milhões de pessoas nessa faixa etária, o que corresponde a apenas 13% do público-alvo.
O Estado de Rio de Janeiro vacinou, até o momento, cerca de 47 mil pessoas contra o sarampo na faixa etária de 20 a 49 anos, o que corresponde a 0,6% do público-alvo da campanha, que é de 7,5 milhões de pessoas. O estado do Amapá foi o que mais se aproximou da meta de cobertura vacinal, com 85% da população imunizada. Já o Rio Grande do Sul foi o estado que menos vacinou, com 0,08% de cobertura vacinal atingida nesse período.
Nesta quarta etapa da mobilização a população totaliza mais de 90 milhões de pessoas. A vacina contra o sarampo está disponível durante o ano inteiro em mais de 40 mil postos de saúde em todo o país. A estratégia de vacinação, em parceria com estados e municípios, faz parte dos esforços para alcançar a meta de livrar o país do sarampo, no contexto do Movimento Vacina Brasil.
A vacinação é a principal medida de prevenção e controle do sarampo, para interromper a transmissão e eliminar a circulação do vírus no Brasil. Para viabilizar a estratégia de vacinação, foram enviadas 4,3 milhões de doses da vacina, além do quantitativo para atendimento de rotina.
As duas primeiras etapas ocorreram em 2019, com a realização de ações nacionais, em outubro, para crianças de seis meses a menores de 5 anos de idade. E, a segunda etapa, foi realizada em novembro para a população de 20 a 29 anos. A terceira etapa, que ocorreu entre 10 de fevereiro a 13 de março deste ano, teve como público-alvo a população de 5 a 19 anos.
País teve mais de 16 mil casos da doença este ano
De acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, neste ano, até 3 de outubro, foram notificados 16.104 casos de sarampo em 21 estados. Metade desses casos foram confirmados (8.187). Neste período foram registrados sete óbitos pela doença, sendo um no estado de São Paulo, um no Rio de Janeiro e cinco no Pará.
O Ministério da Saúde informou que tem alertado a população quanto à importância da vacinação, respeitando as diretrizes e orientações de segurança para evitar o risco de transmissão da Covid-19. O sarampo é uma doença grave e de alta transmissibilidade. Uma pessoa pode transmitir para até 18 outras pessoas. A disseminação do vírus ocorre por via aérea ao tossir, espirrar, falar ou respirar.
Para viabilizar a estratégia de vacinação, foram enviadas 4,3 milhões de doses da vacina, além do quantitativo para atendimento de rotina. O Ministério da Saúde tem alertado a população quanto à importância da vacinação, respeitando as diretrizes e orientações de segurança para evitar o risco de transmissão da Covid-19.
Impacto das notícias falsas nas coberturas vacinais do país
A circulação de notícias falsas, o medo de eventos adversos e a sensação de segurança decorrente da eliminação de doenças são fatores que vêm contribuindo para a queda das coberturas vacinais no Brasil. Dados do Ministério da Saúde mostram que, até o dia 22 de outubro, nenhumas das vacinas do calendário nacional atingiu os indicadores preconizados pelo Programa Nacional de Imunizações.
Para a coordenadora do PNI , Francieli Fontana, o movimento anti-vacina também pode contribuir para os indicadores. Nesse cenário, o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) também avalia que o movimento antivacina é um dos protagonistas na propagação das fake news.
As inverdades que têm circulado podem impactar no número de pessoas não vacinadas no país. Coloca nossa população, especialmente as nossas crianças, em risco, colaborando para o retorno de doenças que já estavam controladas ou eliminadas. É o caso do sarampo”, afirma Juarez Cunha.
Em 2019, o Brasil perdeu a certificação de país livre da doença. Isso aconteceu porque o país conviveu, por 12 meses e de forma endêmica, com casos confirmados da doença. Países dos continentes europeu e africano também registraram um maior número de casos na última década.
O presidente da SBIm lembra que o movimento ganhou por causa de um artigo falso, publicado em 1998 pelo médico inglês Andrew Wakefield, no qual ele incitava que a vacina do sarampo causava autismo. O artigo foi desmentido e retirados dos meios científicos, mas as consequências repercutem ainda hoje.
Baixa cobertura vacinal é um problema mundial
A hesitação em vacinar foi apontada como um problema mundial pela Organização Mundial da Saúde e o Fundo das Nações Unidas. De acordo com estudos, a probabilidade de uma criança nascida ser totalmente vacinada com todas as vacinas recomendadas mundialmente até os 5 anos de idade é inferior a 20%. Em 2019, quase 14 milhões de crianças perderam a oportunidade de receber as vacinas oferecidas para a faixa etária.
“Depois da água potável, a vacinação trouxe uma melhoria na qualidade de vida das pessoas e uma redução da mortalidade”, conta a médica especialista em vigilância em saúde, Melissa Palmieri. Ainda de acordo com ela, vacinar é um pacto social. Prova disso são os casos de poliomelite no Brasil, sem registros desde 1990.
FAKE NEWS
Vacina pode causar autismo? A melhor higiene faz doenças desaparecerem? É perigoso aplicar doses de imunizantes em um mesmo dia? Doenças evitáveis por vacinas já foram erradicadas? Essas são as principais dúvidas registradas no Saúde Sem Fake News – canal criado pelo Ministério da Saúde para fornecer informação segura sobre saúde aos brasileiros. No ar há pouco mais de dois anos, o canal tem mais de 99 mil dúvidas registradas.
Um dos grandes mitos repercutidos sobre o assunto é o de que a aplicação de mais de uma vacina no mesmo dia poderia interferir na saúde da criança. “O sistema imune está preparado para responder a vários estímulos ao mesmo tempo, como é o caso da vacina tríplice viral. Tanto é que, quando a criança nasce e vai para o meio ambiente, tudo é novo para ela. O organismo tem capacidade de produzir resposta adequada”, esclarece o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
EVENTOS ADVERSOS
Os especialistas reconhecem que qualquer medicamento ou imunobiológico pode causar eventos adversos, mesmo que sejam leves, como dor local, vermelhidão no braço, dor de cabeça ou febre baixa. “Isso não é motivo para deixar de vacinar. Vacinar é uma estratégia segura”, reforça o doutor em saúde coletiva Eder Gatti.
Ainda de acordo com ele, o maior evento adverso é deixar de vacinar. “O impacto que as vacinas causam é praticamente insignificante. Divulgar informações contrárias às vacinas é que põe em xeque a credibilidade do programa de imunizações e provoca a queda de cobertura”, completa.
Por que confiar nas vacinas?
Todas as vacinas disponibilizadas no Programa Nacional de Imunizações passam pelo crivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que obedece aos parâmetros internacionais para avaliar segurança, imunogenicidade e eficácia.
Uma vez incorporada no Calendário Nacional de Vacinação, antes de ir para o posto de saúde, a vacina passa por uma avaliação criteriosa do Instituto Nacional de Controle e Qualidade em Saúde (INCQS), que realiza ensaios laboratoriais para o controle de qualidade de produtos com interesse para a saúde.
Os componentes utilizados para a fabricação de vacinas servem para a conservação das mesmas e auxiliam no aumento da proteção imunológica da pessoa vacinada. Segundo os especialistas, os ventos adversos são raros e na maioria das vezes estão relacionados ao indivíduo que recebeu a dose, como alguma alergia ou alguma imunodeficiência preexistente (transplantados ou com HIV). Para esses casos, foram criados os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) para facilitar o acesso da população às vacinas especiais.
Nesse sentido, o Ministério da Saúde garante que a vacinação é segura e eficaz. “Não há nenhuma dúvida com relação a isso, por mais que grupos antivacinas queiram aparecer e tomar espaço na mídia”, reforça Francieli. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) existe há 47 anos e atualmente oferece 18 vacinas no Calendário Nacional de Vacinação de Crianças e Adolescentes, sete vacinas para adultos e cinco para idosos, disponibilizadas gratuitamente nas salas de vacinação do SUS.
Da Agência Saúde, com Redação