O biólogo Sergio Romaniuc Neto, de 60 anos, sofreu uma descarga elétrica no final da década de 1980, teve os dois braços amputados e hoje utiliza próteses no lugar dos membros. Em 2009, quando mergulhava no mar do Rio Grande do Norte, ao atingir um banco de areia, Lucas Junqueira, 35, quebrou o pescoço e ficou tetraplégico. Desde então, passou a fazer uso de cadeira de rodas.

Os dois moram em São Paulo e fazem parte de um contingente de 18,6 milhões de pessoas acima de dois anos de idade no Brasil que possuem alguma deficiência. O número é resultado da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad) Contínua, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), com base em informações do terceiro trimestre de 2022.  Os entrevistados da pesquisa relataram ao menos uma limitação, seja em locomoção, visão ou audição, por exemplo.

A maior queixa identificada pelo IBGE foi de pessoas com dificuldade para andar e subir degraus (38,05% do total de pessoas com deficiência). Outras questões envolvem dificuldade para enxergar (34,96%); dificuldade de aprender, lembrar-se das coisas ou se concentrar (29%); e dificuldade para levantar uma garrafa de dois litros de água da cintura até a altura dos olhos (24,73%), entre outras.

Lucas é atleta da Seleção Brasileira de Rugby em Cadeira de Rodas. Foto: Instagram/Arquivo Pessoal

Tecnologia como aliada na vida

Na semana do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21/9), os dois comentam como as tecnologias assistivas e o trabalho multiprofissional são importantes para trazer mais inclusão e bem-estar a esse público.

“Quando sofri o acidente, não sabia da existência de tecnologias que pudessem me ajudar, não sabia do meu potencial mesmo com uma lesão na medula. Ao conhecer mais sobre o assunto, percebi as possibilidades de adaptações”, comenta Lucas.

Atualmente o paratleta integra a Seleção Brasileira de Rugby em Cadeiras de Rodas, e se concentra nos treinamentos para participar dos Jogos Para-Panamericanos de Santiago, no Chile, que começam no próximo dia 17 de novembro. Para sua rotina, ele conta com uma cadeira de rodas Zenit CLT, produzida pela Ottobock, empresa que trabalha com o desenvolvimento de próteses, órteses e cadeiras de rodas.

O equipamento, conforme explica o paratleta, é importante por ser leve e garantir sua independência.

“Eu tenho uma lesão alta na coluna cervical, o que significa muito comprometimento do movimento, inclusive nos membros superiores. Uma cadeira com qualidade facilita com que eu faça a propulsão sem a ajuda de alguém”, explica.

Já o biólogo usa em cada um dos braços a prótese Bebionic Facelift, um equipamento que utiliza inteligência artificial para fazer a leitura dos sinais dados pelo corpo e transforma as informações em movimento. Feita com material resistente nas pontas dos dedos, o que garante durabilidade, possibilita 14 posições de pinças com os dedos, para várias atividades.

“É um equipamento biônico multiarticulado que possibilita ativação mais simplificada dos movimentos. É menos trabalhosa, mais harmônica e com menos esforço”, conforme explica Sérgio.

Sérgio usa duas próteses, uma em cada braço, e defende o tratamento multiprofissional e as associações para melhoria na qualidade de vida das pessoas. Foto: Instagram/Arquivo Pessoal.

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Tratamento multiprofissional e troca de experiências

Além da tecnologia ser importante na autonomia, a possibilidade de troca de informações, reuniões e locais que unam essas pessoas ajuda na criação de ideias e atitudes para a melhoria da qualidade de vida. O biólogo frequenta uma das oito clínicas da Ottobock no Brasil, onde os pacientes vão em busca de acompanhamento, fisioterapia ou ajustes técnicos para a melhoria na utilização dos equipamentos oferece aos utilizadores que podem conhecer pessoas em situação semelhante.

“Ter a possibilidade de experimentar, confeccionar o equipamento e o acompanhamento dos resultados é fundamental. Quando a empresa, além de produzir o equipamento, oferece o lado humano, de aprender a usar, discutir, tirar dúvidas, fazer correções, é um fator que melhora a qualidade de vida”, explica.

Para Thomas Pfleghar, diretor de academy da Ottobock na América Latina, a adaptação desse público depende do investimento em pesquisa de tecnologias de ponta para ampliar a qualidade de vida. Segundo ele, o setor precisa sempre se empenhar em estudos e desenvolvimento de equipamentos de ponta.

“Ter tecnologia adequada a cada situação ajuda não apenas a saúde física, mas também a saúde mental, com melhoria na autoestima de pacientes, o que resulta na luta contra o preconceito, discriminação e por maior inclusão”, afirma.

Lucas é atleta da Seleção Brasileira de Rugby em Cadeira de Rodas. Foto: Instagram/Arquivo Pessoal

Luta por visibilidade

Sérgio e Lucas acreditam que o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência – celebrado na última quinta-feira (21/9) – tem uma importância na visibilidade e na busca por melhores condições de vida da população. Na opinião do biólogo, datas como essa são fundamentais para que todo brasileiro perceba a diversidade do país.

“Cada vez em que aparecem esses dias comemorativos, esses assuntos se tornam mais evidentes e voltam à baila da sociedade”, afirma. Ele defende que as associações de pessoas sejam fortalecidas. “Nós sempre precisamos, além de equipamentos diferenciados, de leis específicas e políticas públicas. As associações mais fortes manteriam esses assuntos em discussão”, diz.

O paratleta concorda com a visibilidade da data para os direitos das pessoas com deficiência. Na opinião dele, esse momento permite que a sociedade perceba que esse público precisa ter acesso a algumas necessidades básicas.

“É importante falar na igualdade de direitos, pensar na questão da educação, inclusão no trabalho, em políticas públicas mais adequadas e mais eficazes para que os direitos das pessoas com deficiência sejam efetivos. Essa data nos ajuda a promover não só a conscientização, mas também a inclusão e a igualdade de oportunidades”, conclui.

Sérgio usa duas próteses, uma em cada braço, e defende o tratamento multiprofissional e as associações para melhoria na qualidade de vida das pessoas. Foto: Instagram/Arquivo Pessoal.

 

Fonte: Ottobock

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