Depois da cloroquina e da hidroxicloroquina – usadas para tratar malária, lúpus, artrite reumatoide e outras doenças autoimunes – e da  ivermectina – empregada no tratamento de piolhos -, é a vez de outro remédio popular no Brasil figurar como panaceia para o tratamento da doença causada pelo novo coronavírus. Anunciado quase como um ‘segredo de estado’ pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, o poder curativo da substância nitazoxanida, disponível nas farmácias com o nome comercial Annita, não é confirmado sequer pelo laboratório farmacêutico que produz o medicamento.

Até o momento, não existe nenhum estudo publicado a respeito do uso do princípio ativo em pacientes infectados com o novo coronavírus, apesar de diferentes iniciativas estarem em andamento, inclusive nos EUA, com aprovação do FDA, conduzido por uma parceira internacional da FQM e originadora da molécula”, diz a FQM Farmoquímica, detentora do registro do Annita. 

Em nota, a empresa informa que desenvolve paralelamente outra pesquisa em busca de resultados concretos no combate à pandemia da covid-19. Os estudos independentes são realizados por um grupo de pesquisadores brasileiros destacados na área de Infectologia. “Essa iniciativa, apoiada pela FQM, não tem qualquer relação com o estudo anunciado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MITIC), e propõe uma nova formulação à base de nitazoxanida no combate ao Sars-Cov-2″, destaca.

O ministro Marcos Pontes divulgou com estardalhaço um estudo financiado pelo governo com o vermífugo popular, que é usado para infecções do aparelho gastrointestinal provocadas por vírus, como o rotavírus, ou bactérias, como a ameba. Ele informou que o MITIC começaria a testar o medicamento em pacientes com o novo coronavírus, após estudos em laboratório apontarem que a substância reduziu em 93,4% a carga viral em células infectadas pelo vírus.

A FQM, no entanto, informou que no dia 13 de abril a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) aprovou a execução de dois estudos, totalmente independentes: o que é promovido pelo MCTIC e o que é apoiado pela farmacêutica. Ainda de acordo com a farmacêutica, obedecendo as etapas éticas e regulatórias nacionais, foi desenvolvido um plano de estudos clínicos, em pacientes diagnosticados com Covid-19, internados em vários hospitais universitários do país.

Sem nenhuma correlação com iniciativas de órgãos públicos ou privados, a Conep, regulamentada pela Agência Nacional de Saúde (ANS), autorizou, no Brasil, o início da primeira etapa das pesquisas, da mesma forma como procedeu a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A FQM envida todos os esforços e visa a comprovação científica de uma solução em prol da saúde da população brasileira contra a pandemia da Covid-19. Assim que a empresa tiver resultados concretos, a comunidade médico-científica será rapidamente informada”, garante o gerente executivo de Assuntos Médicos e Pesquisa Clínica da FQM, Vinicius Blum.

Anvisa proibiu venda sem receita

Pontes chegou a dizer que não poderia relevar o nome do medicamento miraculoso e misterioso. “Fiz questão de não saber este nome para evitar uma correria em torno deste medicamento enquanto não temos certeza de que ele vai funcionar para isso”, afirmou o ministro no último dia 15. Mas no dia seguinte, a própria agência reguladora de medicamentos vendidos no país, a Anvisa, ‘entregou o jogo’, ao anunciar que mudou as regras de comercialização do Annita (nitazoxanida). 

A nova regra da Anvisa incluiu medicamentos à base de nitazoxanida na lista de substâncias controladas. Com isso, a sua entrega ou venda nas farmácias e drogarias só poderá ser feita para pessoas com a receita especial em duas vias – uma ficará retida na farmácia e outra, com o paciente. O medicamento, em seu uso original, é contraindicado para pessoas com problemas no fígado ou nos rins.

Veja mais detalhes sobre a nota da FQM

Desenvolvida originalmente como um agente antiparasitário de amplo espectro e posteriormente aprovada também para tratamento de gastroenterites virais, a nitazoxanida já é comercializada há mais de 15 anos, segundo a FQM, “como uma alternativa de medicamento eficaz e com alto perfil de segurança para os pacientes”. Segundo a farmacêutica, nos últimos anos, a droga já vem sendo estudada para o tratamento de outras doenças de etiologia viral, incluindo aquelas ligadas ao sistema respiratório.

Estudos publicados internacionalmente, com testes in vitro (H1N1, ebola e SARS-Cov1) e in vivo (H1N1), apontaram sucesso na ação antiviral nesses agentes. Como o SARS-Cov2 possui uma estrutura similar ao SARS-Cov1 e compartilha alguns mecanismos de infecção celular aos agentes citados, espera-se que o resultado seja favorável ao tratamento da Covid-19″, informa o fabricante.

Como os primeiros ensaios clínicos com pacientes diagnosticados mostraram que o medicamento reduziu a duração e intensidade dos quadros de infecção pelo vírus Influenza em doses diferentes e tempo de tratamento aumentado em relação ao seu uso como antiparasitário, a empresa optou por iniciar pesquisa com essa abordagem inovadora, justificou a FQM.

Primeiros estudos foram iniciados na China

A farmacêutica informou ainda que o avanço da pandemia e a discussão científica em torno de possibilidades de tratamento da Covid-19 vêm sendo acompanhados pela FQM desde seu início, no final de 2019. E lembrou que um dos primeiros estudos iniciados em Wuhan, na China, já havia abordado o potencial da nitazoxanida, além de outras drogas, como o remdesevir e a hidroxicloroquina.

Nesse contexto, atenta ao cenário internacional, a FQM iniciou uma avaliação juntamente com pesquisadores especializados em nitazoxanida. E, por sua expertise com essa droga, em conjunto com outros pesquisadores internacionais, está apoiando estudos realizados por renomados pesquisadores brasileiros no tratamento da Covid-19, com uma nova formulação em doses mais elevadas, mas dentro do perfil de segurança, baseada na posologia estabelecida nos estudos preliminares, visando seu emprego em pesquisas”, ressalta a nota.

A FQM também ressalta que estudos de inibição viral in vitro com o SARS CoV-2 conduzidos fora do Brasil com a nitazoxanida demonstraram elevado potencial de inibição, considerando maiores concentrações do que as encontradas para outros vírus, o que corrobora ainda mais sua extrapolação para testes clínicos.

Com Assessoria da FQM

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