Quase metade da população brasileira (45% dos habitantes) está em situação de insegurança alimentar porque passa fome ou tem dificuldade para comer diariamente, segundo o relatório ‘O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI)’, divulgado em julho deste ano pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). A meta da ONU é erradicar a fome até 2030, mas o relatório mostra que quase 600 milhões de pessoas ainda estarão sem alimentos no mundo todo.
O Brasil permanece com a marca de 33 milhões de pessoas que não sabem o que vão comer hoje. A situação é ainda mais grave em lares com crianças menores de 10 anos. A realidade nos mostra que, para sair do Mapa da Fome, e que seja a última vez, precisamos de uma grande mobilização da sociedade civil organizada porque quem tem fome, tem pressa. Para celebrar o Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro, o país ainda precisa avançar muito na questão da segurança alimentar. E a melhor maneira ainda é contar com a solidariedade, afinal, a fome ainda não acabou.
Neste contexto, é fundamental o papel de organizações dedicadas à luta contra a fome e à assistência de populações vulneráveis, como a Ação da Cidadania, que há 30 anos promove a campanha Natal Sem Fome, nascida no Rio de Janeiro, mas que se espalhou pelo Brasil inteiro. Desde 2003, a ONG já arrecadou mais de 55 mil toneladas de alimentos, que foram distribuídos para 26 milhões de pessoas. A 30ª edição da campanha foi lançada neste domingo (15), no Rio de Janeiro (veja mais abaixo).
Já no Estado de São Paulo, o Sefras – Ação Social Franciscana há 23 anos dedica-se à luta contra a fome, realizando 4.300 atendimentos diariamente. Ao longo dos anos, mais de 3.800 toneladas de alimentos foram doadas, resultando na distribuição de 2,3 milhões de refeições franciscanas. Já no estado do Rio de Janeiro, são aproximadamente 420 atendimentos diários. Desde junho de 2020, mais de 296 mil refeições foram doadas para aqueles que mais precisam, e a equipe dedicada realizou 660 atendimentos sociais, fornecendo suporte essencial às famílias em situação de vulnerabilidade.
O que o Brasil deve fazer para sair do Mapa da Fome?
Rodrigo “Kiko” Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania, que organiza a campanha Natal Sem Fome, diz que este está sendo “um ano de reconstrução no país e de reestruturação de políticas públicas que envolvem a soberania alimentar”. Mas a população segue com dificuldade de acesso a alimentos saudáveis e de qualidade, mesmo com os programas de renda básica do governo.
“Projetos como o marco temporal e a demarcação de territórios, a violência no campo e a liberação de agrotóxicos dificultam ainda mais o avanço no combate à fome. Nos últimos anos chegamos a 15% dos brasileiros em insegurança alimentar grave, então o apoio da sociedade civil e das empresas é ainda mais importante agora”, explica Kiko.
Agricultura é chave para acabar com a fome no mundo
Ao mesmo tempo em que o acesso à alimentação se torna mais difícil para o brasileiro, a agricultura nacional responde por 20% da produção global de alimentos. A cada cinco pratos de comida no mundo, um é produzido no Brasil.
“Nossa agricultura é muito relevante em todo o mundo, mas é preciso erradicar a fome no nosso país e no mundo inteiro. Por isso precisamos fortalecer a terra para que ela produza mais alimentos e de melhor qualidade”, afirma o coordenador geral e científico da NPV – Nutrientes Para a Vida, Valter Casarin.
Segundo ele, alcançar a segurança alimentar de todos e garantir que as pessoas tenham acesso regular a alimentos de alta qualidade suficientes para uma vida ativa e saudável é o grande desafio e a principal discussão. “A agricultura é a chave para erradicar a fome no mundo e o fertilizante é o insumo fundamental para otimizar, melhorar e aumentar a produção no campo”.
Rio de Janeiro lança campanha Natal Sem Fome
Neste domingo, o Aterro do Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro, voltou a ser palco do lançamento nacional da campanha Natal sem Fome, que completa 30 anos. Para chamar a atenção sobre os graves problemas que o país ainda enfrenta, mais de 300 comitês que integram a rede de voluntários da Ação da Cidadania no Rio de Janeiro realizaram uma manifestação para alertar que a fome do prato vazio continua dolorosa e apressada.
A meta este ano é superar as 2 mil toneladas de alimentos, mas as doações despencaram desde a pandemia. Neste ano, junto com as cestas básicas, a Ação da Cidadania vai distribuir também exemplares do livro infantojuvenil ‘Muito Prazer, sou o Betinho’, para famílias beneficiadas no Rio de Janeiro. “Para que desde cedo as crianças saibam que todo mundo tem um Betinho dentro de si”, afirma Daniel Souza, presidente do Conselho da Ação da Cidadania e filho do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, criador do Natal Sem Fome.
A campanha tem conceito criativo da Artplan e da artista plástica e carnavalesca Rosa Magalhães. As doações podem ser realizadas pela internet, na página oficial (www.natalsemfome.org.br) ou através do PIX: doe@natalsemfome.org.br.
Considerada a maior campanha solidária de arrecadação de alimentos da América Latina, o Natal sem Fome foi criado em 1993 pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. O trabalho da entidade nessas três décadas de atuação está no livro “Cidadania: a Fome das Fomes”, lançado recentemente em todo o país.
“Em 30 anos, tudo mudou, mas o tamanho e a dor da fome são as mesmas. Betinho nos ensinou que o melhor presente de Natal é a solidariedade, mas toda a sociedade precisa estar disposta a fazer a diferença na vida de quem, hoje, não tem o que comer”, reitera Daniel Souza.
Saiba mais sobre os 30 anos do Natal sem Fome
Bonecos ganharam vida durante toda a manhã no Aterro do Flamengo para o lançamento da nova campanha do Natal Sem Fome. Um caminhão corre contra o tempo, mais veloz que um urso, mesmo carregando toneladas de alimentos, que pesam mais que um dinossauro. A boneca está ao volante enquanto um robô orienta o caminho mais rápido. Sob o olhar de uma criança que vê pela janela a esperança chegar em forma de ajuda, eles batem à porta trazendo cestas básicas que vão transformar a vida de mais uma família.
São voluntários, revela a mãe, sem se dar conta que crianças enxergam o mundo muito além do que adultos conseguem ver. Sim, os milhares de voluntários e voluntárias da Ação da Cidadania em todo o país são a verdadeira magia do Natal. Curiosa, a criança então pergunta aos brinquedos sobre o destino seguinte. E para sua surpresa, todos estiveram reunidos neste domingo, no lançamento da campanha.
Se tem caminhão, dinossauro, urso, boneca e robô, não faltaram também criatividade e imaginação para as crianças. Artistas de circo e de rua, pernaltas, pula-pula, tobogãs, cama elástica, guerra de cotonete e piscina de bola garantiram a diversão enquanto os pequenos também aprenderam sobre o poder da cultura como transformação. Foram ainda distribuídos brindes exclusivos do Natal sem Fome. Um espaço pet friendly fez a alegria dos filhos de quatro patas.
A equipe de Agroecologia da Ação da Cidadania distribuiu mudas e plantas comestíveis para participantes do evento. Trata-se do projeto pedagógico que a entidade mantém em sua sede, na Gamboa, para incentivar crianças de comunidades próximas a conhecerem de perto a natureza em suas variadas formas, cores, cheiros e sabores, como forma de desenvolverem a consciência sobre os cuidados com o meio ambiente e o gosto pela alimentação saudável.
Com Assessorias