Termina nesta quinta-feira (24) a ‘Campanha Lava-Pés: cuidados com o pé diabético’, realizada pelo Ministério da Saúde e diversas entidades da sociedade civil em várias cidades brasileiras durante a Semana Santa. O objetivo da ação – que aproveita o gesto simbólico de Jesus Cristo de lavar os pés às vésperas de ser crucificado e morto na cruz – é chamar a atenção para o ‘pé diabético’, uma condição que costuma acometer pessoas com diabetes que não controlam a doença.
O diabetes é um problema de saúde pública, cuja prevalência deve mais que dobrar no mundo e chegar a um total de 1,3 bilhão de indivíduos com o diagnóstico em 2050 – cerca de 13% da população mundial considerando a estimativa das Nações Unidas de 9,7 bilhões de habitantes para o ano.
O alerta consta em um amplo trabalho publicado na revista científica The Lancet, conduzido por pesquisadores que colaboram com o estudo Global Burden of Diseases (GBD) (Carga Global de Doenças, em tradução livre), liderados pela equipe do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington (IHME, da sigla em inglês), nos Estados Unidos.
Os diabéticos são mais vulneráveis à amputação dos membros inferiores, pois com o desenvolvimento da doença, os pés vão perdendo a sensibilidade, aumentando os riscos de feridas e infecções, o que é considerado um problema grave, já que pode levar a uma amputação. Quando existe acometimento dos pés, o problema é uma das principais causas de amputações.
O pé diabético é uma das complicações mais comuns de quem tem o diabetes e é a principal causa de amputações no Brasil, depois dos acidentes. Isso porque a doença afeta a circulação e a inervação, ocorrendo uma perda da sensibilidade protetora da região do tornozelo e pé”, explica o presidente da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPé), Luiz Carlos Ribeiro Lara.
De acordo com o Ministério da Saúde, até abril de 2023, o registro do SUS (Sistema Único de Saúde) apontava a realização de 3.512 amputações em decorrência da diabetes, relacionadas a membros inferiores e pé/tarso, o equivalente a 55% do total de casos (6.302).
Em 2021, foram 9.781 amputações de membros inferiores e pé/tarso, passando para 10.161, em 2022. Já em números globais de amputação, ocorreram 17.653 procedimentos em 2021 e 18.273 em 2022.
É comum pessoas com pés diabéticos permanecerem por meses com feridas abertas, expostas aos microrganismos que causam as infecções e podem levar a amputações. Para piorar ainda mais a situação, o diabético também costuma ter problemas de circulação, o que dificulta a chegada do sangue aos membros inferiores. Como consequência, os ferimentos nos pés demoram mais para cicatrizar, tornando ainda mais difícil a cura das lesões em pés diabéticos”, explica Mateus Martinez, fisioterapeuta chefe da Pés Sem Dor.
Neuropatia diabética causa perda de sensibilidade
O excesso de açúcar no sangue, quando não controlado leva a um processo chamado “neuropatia”, que acomete os nervos, causando perda de sensibilidade e até algumas deformações nos ossos dos pés. Essas deformações costumam atritar nos calçados fazendo bolhas e calos. Com a perda da sensibilidade, a pessoa não sente a dor dos ferimentos e, com isso, eles tendem a ficar sem tratamento.
Uma das lesões que o diabetes causa é a neuropatia diabética, em que há perda da função dos nervos do pé, principalmente da sensibilidade dolorosa e tátil, dificultando a percepção do paciente em notar lesões ou contusões.
Sem a sensibilidade, as possíveis lesões podem evoluir rapidamente e formar bolhas e feridas abertas (úlceras), possibilitando assim a entrada de microorganismos e causar uma infecção no pé”, fala o especialista.
Outro problema que pode ocorrer no paciente diabético são as feridas abertas ocasionadas por aumento da pressão local ou por ferimento (corte) na pele. Normalmente, mas não obrigatoriamente, estão relacionadas com a perda da sensibilidade dolorosa do pé.
Em casos graves, é necessária a cirurgia para limpeza e desbridamento das lesões mais profundas ou até mesmo a amputação de dedos ou parte do pé para sanar a infecção”, salienta o presidente da ABTPé.
Nas situações de infecção grave, a pessoa pode apresentar mal estar geral, febre, mas, outras vezes, a infecção pode manifestar-se apenas com o aumento das taxas de açúcar no sangu.
Normalmente, nota-se abcesso, secreção purulenta, mau cheiro, área inchada e avermelhada, às vezes com áreas de necrose de tecidos. Chegar a esse ponto é muito preocupante, pois pode ser necessária a amputação para resolução do problema”, ressalta.
O cirurgião lembra que o paciente com diabetes também perde a sensibilidade para fraturas, deslocamentos ou microtraumas ocorridos nos ossos do pé e tornozelo, o que exige um tratamento diferenciado. “Dependendo da gravidade, o tratamento pode ser imobilização por gesso, órtese ou até mesmo cirurgia reconstrutiva”, diz.
Como evitar os perigos do pé diabético
O paciente com diabetes deve ater-se a alguns cuidados com os pés para evitar as complicações da doença. Uma delas é evitar andar descalço, especialmente fora de casa. “O uso de calçados especiais para diabéticos, fechados, sem costura interna, com a parte da frente larga e alta, e com palmilhas confortáveis, é recomendado sempre que possível”, destaca.
O uso das meias também é importante. Elas devem ser, de preferência, brancas, para facilitar a identificação mais rápida de algum machucado ou ferida no pé, e de algodão, que irritam menos a pele, com costura pouco volumosa e sem elástico, para não comprometer a circulação”, orienta.
O médico frisa, ainda, que os pés devem ser examinados pelo menos uma vez ao dia, para a procura de calos e úlceras, além de verificar se há a presença de micoses e rachaduras. “Mantê-los hidratados para evitar rachaduras cutâneas e infecções secundárias é outra ação e, identificando algo fora do normal, um especialista deve ser consultado Nunca tente retirar calos, limpar úlceras ou cortar as unhas sozinho”, conclui.
O melhor cuidado é a prevenção
Com o controle disciplinado do açúcar no sangue o diabético não terá, necessariamente, pés diabéticos. Infelizmente, nem todos conseguem manter esse controle. Nesses casos, existe uma série de cuidados importantes para evitar as decorrências dos Pés Diabéticos, comenta Mateus Martinez:
- Não ande descalço para evitar se ferir.
- Pés diabéticos tendem a ser mais secos que o normal e a desenvolver rachaduras que podem ser uma porta de entrada para infecções. Por isso, mantenha os pés sempre limpos e hidratados.
- Seque muito bem os pés, especialmente entre os dedos para evitar micoses e frieiras.
- Troque sempre as meias por causa da umidade e opte por modelos sem costura, para não atritar com os pés.
- Mantenha as unhas curtas. Se puder, conte com a ajuda de um podologista para cortar corretamente e evitar que encravem.
- Não tire as cutículas! Novamente, um podologista especializado em pés diabéticos vai saber como deixar seus pés bonitos e saudáveis, sem riscos.
- Observe bem os pés todos os dias para ver se não tem bolhas, calos ou outros ferimentos. Conte com a ajuda de um espelho para olhar embaixo dos pés.
- Cuide dos calos para evitar que outras lesões se desenvolvam.
- Fique atento a mudanças de coloração e temperatura. Podem ser indício de alguma lesão oculta.
- Trate qualquer ferimento tão logo ele apareça para evitar complicações.
- Use calçados confortáveis. Dê preferência para modelos fechados, mas arejados, com bom espaço para os pés, amortecimento no solado e sem costura interna.
- Avalie seus pés com um especialista para verificar se há perda de sensibilidade e se a anatomia dos seus pés tende a gerar atrito com os calçados.
Com Assessorias