O inverno traz consigo um aumento significativo no risco de amputações em pessoas com diabetes. Conforme dados do Sistema Único de Saúde (SUS), entre janeiro e agosto de 2023, foram registradas 6.982 amputações de membros inferiores causadas por diabetes, ou seja, mais de 28 por dia, em média. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o diabetes é a principal causa de amputação não traumática de membros inferiores no Brasil.
A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) destaca que 10% dos pacientes que sofrem amputação morrem no período perioperatório, e a mortalidade aumenta para 30% no primeiro ano, 50% no terceiro ano e 70% no quinto ano após a amputação.
A combinação de temperaturas mais baixas e o impacto do diabetes na saúde vascular e neurológica torna essencial que os pacientes que possuem a doença, seja ela do tipo 1 ou do tipo 2 – redobrem os cuidados durante essa estação. Segundo André Vianna, médico endocrinologista, o risco de amputação em pessoas que têm a doença aumenta no inverno devido a uma série de fatores.
O diabetes mal controlado pode causar neuropatia, que afeta os nervos dos membros inferiores e também gera o comprometimento vascular. No inverno, a vasoconstrição causada pelo frio reduz ainda mais o fluxo sanguíneo, aumentando o risco de isquemia e infecções”, explica o especialista em Diabetes.
Controle do diabetes é fundamental
Pessoas que por muito tempo não controlam adequadamente o diabetes, explica o endocrinologista, desenvolvem a hiperglicemia. E quando ela é crônica e prolongada, agrava o risco de neuropatia e doença arterial periférica, que pode levar a ulceração, infecção e evoluir para amputação.
Além disso, o uso de calçados fechados e a umidade elevam o risco de infecções por fungos e bactérias. “As pessoas com neuropatia têm menos sensibilidade e não percebem pequenas lesões que podem evoluir para úlceras. Pessoas com diabetes também possuem imunidade mais baixa e ficam com a cicatrização prejudicada, o que dificulta o combate a infecções e aumenta o risco de complicações graves”, completa André Vianna.
O médico ainda alerta que, se o pé começar a ficar vermelho, inchado, aumentar a temperatura, apresentar secreção, estes são sinais de que precisa procurar um médico urgentemente.
Circulação sanguínea
Andrea Corleto, cirurgiã vascular do Hospital Sugisawa, enfatiza a importância de revisar sempre os pés em busca de bolhas e lesões. “A pessoa com diabetes pode perder a sensibilidade nos pés e acaba só percebendo uma lesão quando ela já está profunda. Por isso, tem que olhar todos os dias”, ressalta a médica.
Ela ainda faz um alerta às pessoas que costumam colocar os pés na frente de aquecedores para se esquentar ou para secar após o banho. “No inverno, a pele resseca com mais facilidade. E expor a pele ao aquecedor causa mais ressecamento e rachaduras, que são portas de entrada para infecções. Sem contar que ela pode gerar bolhas e queimaduras sem sentir”, alerta a Dra. Andrea, dizendo ainda que os escalda pés também não são recomendados.
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Como prevenir amputações e complicações no inverno
Os especialistas recomendam uma série de cuidados que a pessoa com diabetes deve ter para prevenir complicações e reduzir o risco de amputações:
- Controle rigoroso da glicemia: Mantenha os níveis de açúcar no sangue dentro da faixa-alvo. Não negligencie o controle.
- Cuidados com os pés: Examine os pés diariamente. Use calçados adequados que não machuquem os pés e meias de algodão que absorvem o suor. Nunca ande descalço.
- Hidratação da pele: aplique hidratante nos pés e nas pernas após o banho para evitar rachaduras.
- Evite aquecedores diretos: Não coloque os pés diretamente na frente dos aquecedores para evitar queimaduras.
- Atividade física: Realize exercícios para melhorar a circulação. Caminhadas são altamente recomendadas para pessoas com diabetes. E é justamente no frio que o corpo precisa se mexer mais, nem que seja dentro de casa.
- Agasalhe-se bem, para manter a temperatura corporal.
- Hidratação corporal: Beba bastante água e evite bebidas alcoólicas e tabagismo. Só hidratar a pele com hidratantes não é suficiente.
- No salão de beleza: Não tente remover calos e escolha bem o pedicure e o salão. Vá a um local bem especializado, onde tudo é bem higienizado. Evite tirar cutícula, só corte as unhas.
- Consultas regulares: Visite regularmente o endocrinologista e o cirurgião vascular para monitorar a saúde dos pés e prevenir complicações.
Exercícios que podem ser feitos em casa
Carlos Gosalan, cirurgião vascular do Hospital Sugisawa, ressalta a influência do frio no sistema vascular. Ele indica atividades físicas e cuidados durante os exercícios que podem ser feitas em casa, para melhorar a circulação sanguínea nos membros inferiores e evitar amputações em pessoas diabéticas:
- Exercícios na ponta dos pés, flexão plantar. Apoie-se em uma parede e faça o movimento de subir e descer com as panturrilhas sem encostar os calcanhares no chão.
- Realizar extensão e flexão, movimentos para alongar as pernas, mesmo estando sentado.
- Nas baixas temperaturas, o aquecimento e alongamento antes das atividades físicas são mais importantes do que em períodos de calor.
- É indicado acompanhar os batimentos cardíacos durante o exercício, pois é comum que no frio o coração trabalhe mais intensamente para gerar e manter o calor do corpo. Ao perceber os batimentos muito acelerados, deve-se fazer uma pausa ou diminuir o ritmo da atividade física.
Com Assessorias