Com 3,3 milhões de seguidores no Instagram, a influenciadora digital Isabel Veloso ficou conhecida quando foi diagnosticada com câncer terminal. Aos 15 anos, ela foi diagnosticada com Linfoma de Hodgkin, um câncer que acomete o sistema linfático que pode ser encontrado em diversas partes do corpo, sendo os principais os linfonodos (ínguas), baço e medula óssea.
O Linfoma de Hodgkin (LH) pode se desenvolver em qualquer faixa etária, mas é mais comum entre adolescentes e adultos jovens (15 a 29 anos), adultos (30 a 39 anos) e idosos (75 anos ou mais). A jornada contra a doença, compartilhada online, destaca a rara condição da jovem, que possui um tumor de 17 centímetros perto do coração e entre os pulmões.
Em janeiro de 2024, prestes a completar 18 anos, Isabel anunciou que passaria a receber cuidados paliativos, dado que no seu caso a doença seria incurável e teria uma expectativa de vida de apenas quatro meses. No início de abril, ela surpreendeu positivamente seus seguidores ao informar que o crescimento havia se estabilizado.
Está dando certo, quem sabe fico mais tempo por aqui. Estou muito feliz com isso”, comentou na época em suas redes sociais.
Em maio, a influencer – que faz uso e defende o cannabis medicinal – divulgou que estava com suspeita de endometriose. Neste domingo (11 de agosto), veio outra surpresa: Isabel anunciou nas redes sociais que está grávida do primeiro filho com o marido, Lucas Borbas, com quem se casou em abril.
Haters acusam influencer de mentir nas redes sobre doença
A notícia da gravidez chamou a atenção de haters, que acusam a influencer de mentir nas redes para ganhar seguidores e fechar contratos com patrocinadores. O advogado Emanuel Ricardo Ribeiro Benin publicou uma nota em collab com a influencer, no último dia 21, para denunciar “episódios de calúnia, injúria e difamação” frequentes envolvendo o nome de Isabel Veloso.
Prezando sempre pela veracidade das informações, repudia-se todas as falsas informações e acusações que foram covardemente espalhadas nas redes sociais nos últimos dias envolvendo seu nome, sua honra e sua moral”, diz o advogado em nota.
A assessoria jurídica de Isabel Veloso informou ainda que já identificou perfis para “apuração de medidas cabíveis, nas áreas cíveis e criminais, que envolve à prática de fake news e ainda, atos ligados a calúnias, injúrias e difamações”. E alerta que “futuras práticas criminosas, desabonadoras e prejudiciais a pessoa de Isabel Veloso, serão tratadas judicialmente através das medidas cabíveis para buscar a necessária responsabilização”.
Reprodução assistida ou gestação natural?
Apesar de a jovem não ter revelado se a gestação ocorreu de maneira natural ou se foram necessários tratamentos relacionados à fertilidade, especialistas em reprodução assistida lembram que diante da descoberta do câncer, pessoas em idade fértil devem buscar o aconselhamento médico especializado para o planejamento de uma gravidez futura.
Muitas pacientes jovens nos procuram com o sonho de engravidar. O ideal é que esse planejamento aconteça logo no início do tratamento, pois a quimioterapia, radioterapia e até mesmo cirurgia podem acabar afetando a fertilidade por promoverem lesões nos ovários”, explica Edson Borges Jr, diretor científico do Instituto Sapientiae – Centro de Estudos e Pesquisa em Reprodução Assistida – e diretor médico no Fertgroup.
O especialista ressalta que, com o avanço das novas tecnologias, há alternativas como a preservação de óvulos através do congelamento, mas a orientação em caso de pacientes oncológicos sempre deve ser discutida com uma equipe multidisciplinar. “Independente do tipo de câncer e do tratamento realizado, devemos sempre entender a história de vida daquela paciente e considerar seus sonhos futuros”.
Oncofertilidade: solução para jovens com câncer
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca) é estimado que só em 2024 serão diagnosticados 704 mil novos casos da doença no Brasil, sendo pouco mais da metade mulheres. Adicionalmente, dados indicam que cerca de 21% dos diagnósticos de câncer entre essa parcela da população acontece até os 49 anos, faixa etária considerada idade fértil feminina.
Homens também podem sofrer impactos à saúde reprodutiva em tratamentos de câncer, mas, em geral, a preocupação e as consequências tendem a ser maiores em relação às mulheres, inclusive por conta do ciclo completo de gestação.
É fundamental que a paciente converse com o seu médico sobre os tratamentos disponíveis para a preservação da fertilidade. Contudo, vale destacar que nem toda paciente submetida ao tratamento oncológico ficará infértil. Isso irá depender do tipo do tumor, localização no corpo, terapias realizadas e sua intensidade”, reforça a médica Maria Cecília Erthal, especialista em reprodução assistida do Instituto Vida, uma das unidades do Fertgroup no Rio de Janeiro.
Além do congelamento de óvulos
O objetivo da oncofertilidade é hoje muito mais amplo, deixando no passado a não importância dos prejuízos do tratamento, que muitas vezes impactavam no bem-estar físico, mental e social das mulheres com câncer. Apesar de o congelamento de óvulos ser a técnica mais comum, há também a possibilidade do congelamento de embriões, do tecido ovariano e da supressão ovariana.
Para a realização do processo de congelamento de óvulos, é inicialmente feito a indução da ovulação através de medicamentos que estimulam o desenvolvimento e amadurecimento dos óvulos. Em seguida, com a paciente sedada, é feita a coleta dos óvulos para posteriormente ser realizada a seleção daqueles que estão saudáveis. Quanto ao congelamento, a técnica é feita com nitrogênio líquido, mantendo os óvulos à disposição da paciente para uma gravidez no futuro.
Esse é um processo muito delicado e que deve ser levado em consideração cada possibilidade e os desejos da família. Um olhar que vai além da saúde física, cuidando também da parte emocional daquela paciente, é a chave para que a trajetória seja a mais leve possível dentro de todos os desafios propostos”, orienta a médica.
Planos de saúde podem cobrir tratamento de fertilidade
Apesar de ainda ser um tema bastante discutido, as operadoras de planos de saúde estão obrigadas a custear a criopreservação (processo de congelamento de óvulos ou sêmen) de pacientes oncológicos até a alta do tratamento de quimioterapia, conforme definiu a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
Segundo o órgão, é entendido que se o plano de saúde cobre o tratamento, deve prevenir também os efeitos adversos previsíveis – como é o caso da infertilidade. Contudo, após esse período, o tratamento de reprodução assistida deve ser realizado de maneira individual.
A paciente que passará pela criopreservação é protegida pelo Código de Defesa do Consumidor. Por isso, caso o plano de saúde apresente uma negativa, é possível recorrer à decisão para que o congelamento seja mantido até o final da quimioterapia”, finaliza Edson Borges.
Linfoma de Hodgkin: entenda a doença de Isabel
O número estimado de casos novos de linfoma de Hodgkin (LH) para o Brasil, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de 3.080 casos, o que corresponde a um risco estimado de 1,41 por 100 mil habitantes, sendo 1.500 casos em homens e 1.580 em mulheres.
Esses valores correspondem a um risco estimado de 1,40 caso novo a cada 100 mil homens e 1,41 a cada 100 mil mulheres (Inca). O linfoma de Hodgkin clássico é mais comum e tem 4 subtipos, mas há também um tipo predominante de linfócitos nodulares que representa cerca de 5% dos casos.
Fatores de risco
Os fatores de risco para LH ainda não estão bem estabelecidos. Estudos sugerem algumas associações em pessoas com sistema imune comprometido (infecção por HIV) e pacientes que fazem uso de drogas imunossupressoras”, afirma a hematologista Daniela Ferreira Dias, do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC).
A infecção pelo EBV (mononucleoses) aumenta o risco de desenvolver a doença, embora o mecanismo de ação ainda não esteja bem definido (American Cancer Society, c2022b). Membros de famílias em que uma ou mais pessoas tiveram a doença de Hodgkin têm risco aumentado de desenvolvê-la.
Sintomas
Como a doença pode surgir em qualquer parte do corpo, os sintomas dependem de sua localização. Se desenvolver em linfonodos superficiais do pescoço, axilas e virilhas, formam-se ínguas indolores nesses locais.
Se ocorrer na região do tórax pode se manifestar com tosse, falta de ar e dor torácica. Já se for no abdome, pode haver dor ou aumento do volume abdominal. Sinais e sintomas de alerta são aumento de transpiração, febre, perda de peso sem causa aparente e coceiras pelo corpo.
Diagnóstico
Para investigação da doença, exames laboratoriais de sangue e de imagem (tomografias, ultrassonografia ou ressonâncias) são necessários. Para diagnóstico e confirmação da doença, é obrigatória a retirada de amostra do tecido doente através de uma biópsia. Na doença de Hodgkin há presença de células denominadas Reed-Stenberg, nome dado em referência aos médicos que primeiramente descreveram a doença.
Exames de PET-CT e biópsia de medula óssea podem ser necessários para estadiamento da doença. Dependendo do estágio da doença no momento do diagnóstico, pode-se estimar o prognóstico do paciente com o tratamento.
Tratamento
É uma doença que pode ser curável e o tratamento clássico consiste em poliquimioterapia (quimioterapia com vários medicamentos), com ou sem radioterapia associada. Para os pacientes que não respondem ao tratamento inicial ou para aqueles em apresentam recaídas (retornos) da doença, outros tipos de quimioterapia, imunoterapia e transplante de medula óssea podem ser utilizados.
Os pacientes devem ser seguidos continuamente após o tratamento com realização de exames e consultas periódicas”, afirma Dra. Daniela.
Com Assessorias (atualizado em 21/8/24)