A sepse, também conhecida como septicemia ou infecção generalizada, é uma resposta inflamatória grave decorrente de uma infecção, que pode causar danos em múltiplos órgãos. Geralmente, resulta de infecção bacteriana, viral ou fúngica, podendo levar o indivíduo à morte ou deixar sequelas graves. No Dia Mundial da Sepse (13 de setembro), a atenção se volta para um grave problema de saúde pública:  o Sudeste do Brasil ocupa a segunda posição no ranking nacional de óbitos por sepse, seguido da Região Nordeste.
Os dados foram divulgados pela Revista de Saúde Pública (RSP), com base na “Análise de tendência de mortalidade por sepse no Brasil e por regiões de 2010 a 2019”. Apesar de o estudo levar em consideração os dados brasileiros, a sepse desperta uma preocupação global.  Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a sepse é responsável por aproximadamente 11 milhões de mortes anuais, sendo uma das principais causas de mortalidade hospitalar. A cada 2,8 segundos, uma pessoa morre em decorrência da respectiva patologia.
No Brasil, o cenário é ainda mais alarmante, com uma taxa de mortalidade de 65% entre os pacientes acometidos pela doença, praticamente o dobro da média mundial, que oscila entre 30 e 40%. Anualmente, são registrados, pelo menos, 400 mil casos em adultos e 42 mil em crianças, sendo que em 60% e em 19% das situações, respectivamente, os pacientes não resistem a essa infecção.
Esses números indicam que o Brasil tem uma taxa de mortalidade significativamente mais alta do que a observada em muitos países desenvolvidos, de acordo com o Ministério da Saúde. A pandemia de Covid-19 também contribuiu para o aumento dos casos de sepse, especialmente entre pacientes gravemente afetados pelo vírus. Além da alta taxa de mortalidade, muitos sobreviventes enfrentam sequelas físicas, emocionais e cognitivas significativas.

Pneumonia e infecção urinária são principais causas

Conhecida também como infecção generalizada, a sepse é uma resposta inflamatória exagerada que pode levar a disfunção orgânica e afetar vários órgãos. De acordo com Lauriane Carneiro, médica intensivista do Hospital Vita, o quadro pode se originar frente a um vírus, bactéria, fungo ou protozoário presente no organismo e que o sistema imunológico tenta evitar.

Infecções como pneumonia, infecções abdominais e urinárias são frequentemente responsáveis por desencadear a sepse. Apesar de ser uma doença silenciosa e de difícil diagnóstico, em parte dos quadros alguns sintomas podem surgir.

Kamila Gontijo de Oliveira, supervisora comercial, foi uma dessas pessoas que contraiu sepse, em duas ocasiões distintas, em 2021 e 2023.

Tive sintomas semelhantes as duas vezes. Na primeira vez, senti dor nas costas, que parecia uma crise renal. Fiquei alguns dias recebendo soro e medicação intravenosa devido à fraqueza intensa”, relata.

A supervisora descreve a demora para obter um diagnóstico conclusivo: “Na primeira vez, demorei para ser diagnosticada, pois passei por atendimentos superficiais. Na segunda, comecei o dia com dor nas costas e foi se agravando durante o dia. Fui para o hospital e logo fiz exame de sangue e ressonância. Neste momento, já fui informada que ficaria internada, pois estava com princípio de sepse. Fiquei internada por três dias, tomando antibióticos fortes e outras medicações intravenosas. Após a internação continuei tomando remédios por mais dez dias”, lembra.

Foco da infecção é essencial para o tratamento

Os sintomas variam conforme a gravidade da doença e o local da infecção. Alguns pacientes podem apresentar febre ou hipotermia, dificuldade para respirar, taquicardia, calafrios, baixa produção de urina, agitação e confusão mental.

Se a sepse tiver origem pulmonar (como na pneumonia), é provável que o paciente apresente sintomas respiratórios adicionais, como tosse e falta de ar. Se o foco for o sistema nervoso central, às vezes baixa o nível de consciência, o paciente fica mais sonolento, agitado, confuso e até com crise convulsiva. Os sintomas vão depender de onde essa infecção começou”, explica a médica intensivista.

A médica ainda esclarece que o diagnóstico funciona em etapas. Ou seja, quando há uma suspeita de infecção, o foco deve ser procurado. “Sabendo do foco eu imagino quais bactérias são mais comuns naquele local e começa um antibiótico empírico. Os exames pedidos são para tentar diagnosticar se esse paciente só tem uma infecção ou ele está desenvolvendo sepse”.

Os exames frequentemente solicitados incluem testes de marcadores inflamatórios, como leucócitos elevados e proteína C-reativa, além de avaliações da função renal e eletrólitos, bilirrubina e exames de imagem como raio-x de tórax e análise parcial de urina.

Identificar o foco da infecção é fundamental para o tratamento, pois determina o uso de antibióticos específicos e a duração do tratamento, que pode variar conforme o tipo de bactéria ou vírus. Dra. Lauriane Carneiro ainda ressalta que a duração do tratamento pode depender de outros fatores.

Tem infecção que a gente pode tratar em três dias, já outras precisam de meses. Então, depende da gravidade das complicações, do paciente, da resposta terapêutica e da resposta ao tratamento. Precisamos do diagnóstico, do foco e ver se tem complicações ou não com o organismo de cada paciente”.

Vigilância hospitalar evita que pacientes internados desencadeiem sepse  

sepse é a principal causa de mortes em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), e manter um ambiente hospitalar controlado é essencial para prevenir a propagação de infecções entre os pacientes.

A médica intensivista enfatiza que há muitos pacientes internados com bactérias multirresistentes e, por isso, é importante ter um bom controle interno. Uma das estratégias para manter esse controle é realizar testes no ambiente hospitalar.

O ideal é a gente ter um controle interno de infecção hospitalar e sempre orientar em relação à higiene das mãos antes e após tocar no paciente e fazer uma educação continuada sempre com os bundles (medidas preventivas). Por exemplo, os pacientes que estão em UTI e usam dispositivos invasivos como a sonda vesical de demora (catéter) ou estão em ventilação mecânica, com eles temos todo um protocolo que deve ser seguido para a gente tentar diminuir as infecções relacionadas”, explica a Dra. Lauriane Carneiro.

Reabilitação pós-sepse reduz os riscos de sequelas permanentes
A elevada taxa de mortalidade por sepse no Nordeste evidencia não apenas os desafios estruturais na região, mas também a urgente necessidade de uma abordagem abrangente que vá além do tratamento imediato, destacando a importância da reabilitação. Para muitos pacientes, sobreviver à sepse é apenas o começo de uma jornada desafiadora, que inclui sequelas debilitantes, como fraqueza muscular, comprometimento cognitivo e complicações respiratórias.
 O Nordeste, infelizmente, se destaca de forma negativa no cenário nacional quando falamos de óbitos por sepse. Nossa missão é reverter essa situação com cuidados pós-sepse adequados e eficientes”, diz Silas Lucena, coordenador médico da unidade Recife da Clínica Florence.
De acordo com o especialista, a reabilitação intensiva ajuda a promover a recuperação de movimentos, força muscular, coordenação e equilíbrio, além de auxiliar no tratamento de dificuldades cognitivas e emocionais.
A sepse pode deixar sequelas significativas, como fraqueza muscular, fadiga crônica e alterações cognitivas. A reabilitação precoce e intensiva é essencial para minimizar os impactos da doença e permitir que o paciente retorne às suas atividades do dia a dia“, pontuou o médico.
Segundo ele, a reabilitação pós-sepse é tão importante quanto o tratamento. “Se ela for precoce e intensiva, irá ajudar a minimizar os impactos da doença e permitir que o paciente retorne às suas atividades cotidianas com plenitude, além de reduzir os riscos de novas complicações e hospitalizações”, reforçou Dr.Silas.

Diretrizes globais sugerem que pacientes que ficaram internados em UTI por mais de três dias sejam encaminhados para um programa de reabilitação pós-hospitalar.

O movimento intitulado “Surviving Sepsis Campaign (SSC)” promove estratégias globais para a reabilitação a longo prazo de sobreviventes de sepse, enfatizando a importância de uma abordagem multidisciplinar logo após a alta hospitalar. Nesse contexto, as Unidades de Transição desempenham um papel fundamental, oferecendo planos de cuidado intensivo e focados na recuperação da autonomia.

De acordo com o artigo veiculado na renomada publicação científica Critical Care Science, cerca de 35% dos pacientes admitidos para reabilitação apresentam histórico de sepse. O estudo intitulado “De unidade de terapia intensiva a unidades de cuidados pós-águdo: quanto mais cedo, melhor?”, faz uma análise do perfil de pacientes submetidos à reabilitação e levou consideração os dados levantados de 17 hospitais diferentes, no período de 6 anos.
As informações coletadas foram apresentadas no estudo “Trajetórias clínicas de pacientes graves que recebem alta diretamente de uma unidade de terapia intensiva para uma unidade de cuidados pós-agudos: uma coorte retrospectiva”, publicado na mesma revista científica, e que tem como coautores profissionais da Clínica Florence, dentre eles o diretor médico da instituição, João Gabriel Ramos.

Agenda Positiva

Hospital de Caxias do Sul aborda trajetória do paciente com sepse

Pela importância do tema para a área da saúde e em alusão ao Dia Mundial da Sepse, 13 de setembro, o Hospital Geral de Caxias do Sul promove o evento “A trajetória do paciente com sepse” nesta sexta-feira (13). O encontro acontece das 8h30 às 12h no Auditório Censi Florense, com transmissão online. As inscrições são gratuitas pelo link.

A primeira palestra será sobre “A redução da mortalidade da sepse através de um protocolo eficaz”. O painel será ministrado por médicos da Promed e coordenadores das unidades de Terapia Intensiva Adulto e Pediátrica do Hospital Geral, Emerson Boschi e Nádia Navarro.  

“Apesar de ter uma mortalidade alta, a sepse ainda é um tema pouco conhecido pela população e pelos profissionais de saúde. É uma infecção que se espalha rapidamente pelo corpo e precisa de protocolos eficazes, além de resposta assistencial rápida para evitar sua progressão. Será uma oportunidade para aprendizados e trocas de experiências”, ressalta o intensivista Emerson Boschi, que também é o coordenador do Time Sepse Adulto da Instituição e destaca a importância de encontros para debater sobre o assunto.

O evento ainda contará com a presença de profissionais de enfermagem, psicologia, farmácia, fisioterapia e nutrição, abordando sobre diagnóstico rápido, tratamento e qualidade de vida pós-sepse. No final, haverá a apresentação de um caso acompanhado pelas equipes do Hospital. A iniciativa tem o apoio da Promed – Soluções em Saúde.

Com Assessorias

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