Embora não tenha tomado as proporções da Covid-19, a Mpox preocupa as autoridades sanitárias no país, tendo em muitas regiões casos já comprovados da variante. De acordo com dados do relatório semanal do Ministério da Saúde, divulgado no dia 10 de setembro, o Brasil ultrapassou a marca de mil casos confirmados ou prováveis de Mpox.
Desde o início do ano, foram registrados 1.015 casos, número que supera o total de casos contabilizados ao longo de todo o ano passado. Causada pelo vírus monkeypox, a doença tem se destacado nos noticiários por conta da onda crescente de ocorrências e dos sintomas ainda pouco conhecidos pela população geral.
Para a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a infecção zoonótica anteriormente restrita à África agora representa um desafio crescente para a saúde pública e exige a expertise dos médicos dermatologistas para uma identificação precoce e precisa. De acordo com Regina Carneiro, da diretoria da SBD, o manejo adequado da doença é essencial para controlar a propagação.
Com o aumento dos casos de Mpox, os dermatologistas estão na linha de frente da detecção e controle da doença, já que possuem o treinamento clínico que possibilita identificar as lesões e fundamentalmente em fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças dermatológicas”, explica a médica.
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Quais são os principais sintomas?
Na pele podem surgir manchas vermelhas, pápulas (bolinhas), vesículas (bolinhas de água), pústulas (bolinhas de pús), e crostas (cascões), sendo comum uma umbilicação (depressão) na área central. Podem ser únicas ou múltiplas e ocorrer dor no local ou coceira por mais de quatro semanas. No surto atual, têm sido predominantemente localizadas na região genital.
A dermatologista Lia Albuquerque explica que uma das principais manifestações da enfermidade ocorre na pele, que passa a ser acometida por erupções cutâneas, feridas semelhantes à espinha, manchas avermelhadas, bolhas com presença de pus e crosta, entre outros sintomas.
A erupção cutânea é, sem dúvida, o sintoma mais marcante da Mpox. Essas lesões passam por diferentes estágios, desde pequenas manchas até pústulas e crostas, e podem aparecer em diversas partes do corpo, incluindo rosto, palmas das mãos e solas dos pés”, explica a profissional.
Os gânglios linfáticos inchados e doloridos também são um indício da doença, especialmente quando se manifestam na região inguinal. Segundo Dra Regina, o início da infecção é geralmente marcado por sintomas inespecíficos como febre, dor no corpo e aumento dos gânglios linfáticos, principalmente na região cervical, virilha e submandibular.
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Como diferenciar o Mpox de outras doenças de pele?
Entre os diversos sintomas estão as erupções na pele e os linfonodos, feridas que podem evoluir para ulceras, buracos na pele e consequentemente cicatrizes e fortes dores. Ela não deixa marcas tão profundas e tão espalhadas como a varíola deixava no passado, mas deixa feridas mais localizadas.
As lesões normalmente são nas áreas de contato, a área de entrada, região ao redor da boca, lábios e região genital. Então, fala-se muito da contaminação por contato sexual mesmo, por beijo na boca e por atividade sexual, além de gotícula de saliva, toque, etc”, destaca a Dra Lia.
Para diferenciar as lesões da Mpox de outras doenças de pele, como varicela (catapora) ou herpes, a Dra. Lia indica a necessidade de um exame clínico detalhado por um profissional de saúde. Além disso, ficar atento a outros sintomas como febre, dor de cabeça e fadiga pode auxiliar no diagnóstico. “Pessoas imunocomprometidas e com câncer, fazendo quimioterapia, com diabetes descontrolado, estão mais propensas a contaminação”, completa.
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Como evitar a transmissão da doença?
A dermatologista Paula Sian – especialista em Farmacodermia e Dermatoses Imunoambientais na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – alerta para o risco de transmissão da doença logo nos primeiros sinais. “Caso a pessoa apresente febre, mal-estar, aumento dos gânglios, mesmo sem a ferida, você já pode transmitir. Então, a fase de transmissão é desde o começo dos sintomas, do mal-estar, a dor no corpo, a febre alta, os gânglios aumentados e com a ferida também”.
A médica – que atende em Dermatologia clínica, estética e cirúrgica, tanto adultos quanto crianças – diz que enquanto a ferida não cicatrizar a transmissão pode acontecer. Essas lesões podem durar até três semanas. Por isso, o ideal é evitar contato próximo com outras pessoas, especialmente com crianças e com idosos nos primeiros sinais.
Como a transmissão ocorre por contato com secreções infectadas das vias respiratórias, feridas ou bolhas na pele, é essencial evitar o contato próximo com pessoas que estejam com sintomas e não compartilhar objetos e material de uso pessoal, como toalhas e roupas de cama, por exemplo”, afirma Dra Regina.
Como tratar os sintomas do mpox?
Como não existe um tratamento muito específico para os sintomas do mpox, as especialistas recomendam, principalmente enquanto as feridas estiverem abertas, evitar contato com outras pessoas, manter a higiene da pele, evitar abafar as áreas e manter uma dieta balanceada para equilibrar a imunidade e evitar inflamações no organismo.
A higienização pode ser feita com água e sabão. Orientamos deixar a erupção secar e cobrir com um curativo úmido para proteger. Também lembramos o paciente de evitar coçar os ferimentos e não tocar as feridas nas bocas ou nos olhos. Uso de enxaguantes bucais ou colírios são válidos, mas procure os que não contenham cortisona”, pontua Dra Lia.
Dra. Regina ressalta que embora não exista um tratamento específico para a Mpox, alguns antivirais podem ser utilizados para reduzir a severidade dos sintomas e destaca as formas de prevenção, como o tecovirimat, que já foi aprovado para tratamento de Mpox em janeiro de 2022.
Quais vacinas podem evitar o contágio pelo mpox?
No que se refere a vacina, existem atualmente duas disponíveis contra a Mpox. A primeira é a Jynneos, produzida pela farmacêutica dinarmaquesa Bavarian Nordic, composta pelo vírus atenuado, com efeitos colaterais considerados leves, como dor no local da aplicação, vermelhidão e inchaço, podendo ocorrer dor muscular, dor de cabeça e cansaço. Foi em 2023 que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso provisório do imunizante no Brasil.
O segundo tipo de vacina é a ACAM 2000, fabricada pela americana Emergent BioSolutions. É composta pelo vírus ativo com inúmeras contraindicações e consequentemente mais efeitos colaterais, se tornando assim menos segura.
A estratégia de vacinação prioriza a proteção das pessoas com maior risco de evolução para as formas graves da doença como pacientes que vivem com HIV/Aids com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses e profissionais que atuam diretamente em contato com o vírus em laboratórios”, esclarece Dra. Regina Carneiro.
Ainda segundo ela, além desses grupos, está prevista a vacinação para pessoas que tiveram contato direto com os fluidos e secreções corporais de casos suspeitos ou confirmados para a doença. Para saber mais sobre essa e outras doenças relacionadas a pele, cabelos e unhas acesse as redes sociais @dermatologiasbd e o site da SBD.
Com Assessorias