Mutirão leva cirurgias bariátricas a 92 pacientes pelo SUS

Ação na Semana Mundial da Obesidade contará com mais de 100 médicos em 7 hospitais de 6 estados. 3 milhões de brasileiros têm indicação para cirurgia

Cirurgia bariátrica é indicada para pessoas com IMC acima de 40, com ou sem comorbidades (Foto: Divulgação SBCBM)
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Afastada do trabalho há mais de cinco anos, Marina Ferreira Santos teve câncer. Após a quimioterapia e com o uso de corticoides ganhou muito peso, além de uma osteonecrose nos dois quadris. Com 1,58 metro, ela pesa 134 quilos e aguarda na fila da cirurgia bariátrica desde 2019. Após a indicação dos hematologistas para a perda de peso, já que câncer e obesidade também são doenças que caminham juntas, ela está pronta para operar na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

“Sinto muitas dores no quadril para andar e me locomover. Apenas a cirurgia poderá me ajudar, tendo em vista que para fazer a prótese de quadril e parar de sentir dor, preciso perder peso primeiro”, conta Marina. “Os remédios já não fazem mais efeito e preciso voltar a ter qualidade de vida, depois de tanto sofrimento”, lamenta.

Marina é uma das 92 pacientes que serão beneficiados pelo mutirão de cirurgias que a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) promove nesta semana, marcando o Dia Mundial da Obesidade (4 de março). Mais de 100 cirurgiões que integram a SBCBM irão realizar entre os dias 4 de março e 8 de março uma força-tarefa em sete hospitais para operar pacientes com obesidade mórbida e que aguardam nas filas do Sistema Único de Saúde (SUS) nos estados doParaná, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas Gerais.

O objetivo da força-tarefa é tentar reduzir o tempo de espera de pacientes mais graves que aguardam pelo procedimento – hoje, mais de 3 milhões de brasileiros têm indicação para o procedimento, mas em 2023, apenas 7.511 brasileiros com obesidade grave (graus 2 e 3) conseguiram ser operados, o que corresponde a 0,2% do total de pessoas que precisam do procedimento;

Além da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde Marina será operada, o mutirão prevê 12 cirurgias no Hospital São Francisco da Providência de Deus, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro.  As outras instituições a ser atendidas na ação são: Hospital Geral Ernesto Simões Filho, em Salvador (BA); Hospital Evangélico Mackenzie, em Curitiba (PR); Hospital Maria Braido, em São Caetano (SP); Hospital das Clínicas de Pernambuco, no Recife, e Santa Casa de Patos de Minas (MG).

Mais de 3 milhões de brasileiros têm indicação para bariátrica

O Brasil é um dos países com as mais altas taxas de obesidade no mundo. São mais de 41 milhões de brasileiros obesos. Esse preocupante cenário inspirou a organização dessa força-tarefa de cirurgias bariátricas cujo objetivo consiste em alertar para um problema tão grave e também beneficiar pacientes obesos graves que aguardam pelo procedimento na fila do SUS.

Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) apontam que 1.993.683 milhão de pessoas diagnosticadas com obesidade grau 2, representando 8,31% da população monitorada (24.002.758) e outras 1.058.646 milhão com obesidade grau 3 (mórbida), o que representa 4,41% da população monitorada. A soma destes dois grupos equivale a 3.052.329 milhões de pessoas com indicação para o tratamento cirúrgico da obesidade.

Aproximadamente 0,2% dos brasileiros com obesidade grave (graus 2 e 3) conseguiram realizar a cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no ano de 2023. Ao todo, segundo Datasus, foram feitas 7.511 cirurgias em todo o país.

De acordo com o presidente da SBCBM, Antônio Carlos Valezi, o volume de cirurgias realizadas no ano passado pelo SUS é 40,2% menor, se comparado a 2019 (antes da pandemia), quando foram feitas 12.568 cirurgias pelo SUS.

“O número total de cirurgias realizadas pelo SUS é de apenas 0,2% do total de pessoas que precisam deste tratamento. Enquanto isso, estamos vendo o sistema público recebendo a cada dia novos casos de pacientes com diabetes – incluindo a necessidade de amputação de membros em consequência da doença-, hipertensão, gordura no fígado, problemas nas articulações e outros ocasionados pela obesidade”, reitera o médico.

Desigualdade regional no acesso à cirurgia

Quando distribuídos por regiões do Brasil, os números ficam ainda menores. No Norte do Brasil foram 198 procedimentos realizados; no Nordeste, 701; Sudeste 3563; Sul 2675 e Centro-Oeste 374.

O Brasil conta atualmente com 7.700 hospitais, em 5.568 municípios brasileiros. Destes, apenas 98 serviços realizam a cirurgia bariátrica e metabólica, sendo que quatro estados brasileiros não oferecem o procedimento. Atualmente Amazonas, Rondônia, Roraima e Amapá não possuem serviços habilitados no SUS para bariátrica.

“Temos como missão ampliar o acesso a novas tecnologias e tratamentos diferenciados, e disponibilizamos um dos portfólios de cirurgia metabólica e bariátrica mais avançados do mundo. Sabermos que estamos contribuindo para a saúde dos brasileiros é motivo de grande satisfação para a nossa companhia e nos motiva a expandir este projeto”, afirma Valezi.

Quem pode fazer a bariátrica?

Todos os pacientes que serão operados durante o mutirão já passaram pelas etapas pré-operatórias e devem receber alta em 24 horas, pelo fato de a cirurgia ser feita por videolaparoscopia.

Os critérios previstos nas portarias 424 e 425 do Ministério da Saúde para realização da cirurgia bariátrica pelo SUS são Índice de Massa Corporal (IMC) de 40 Kg/m², com ou sem comorbidades, sem sucesso no tratamento clínico por no mínimo dois anos e que tenham seguido protocolos clínicos.

As portarias também permitem a indicação para cirurgia bariátrica de pacientes com IMC > 35 kg/m2 e comorbidades com alto risco cardiovascular, diabetes e/ou hipertensão arterial de difícil controle, apneia do sono, doenças articulares degenerativas ou outras que não tenham tido sucesso no tratamento clínico.

Como é realizada a cirurgia bariátrica?

A cirurgia bariátrica é um dos principais tratamentos para a obesidade severa ou mórbida e pode ser realizada por meio de diferentes técnicas cirúrgicas, sendo o bypass gástrico e a gastrectomia vertical as mais utilizadas. Um dos grandes diferenciais nesta força tarefa é que todas as cirurgias serão realizadas por videolaparoscopia (técnica minimamente invasiva).

Na cirurgia aberta, o médico precisa fazer um corte de 10 a 20 centímetros no abdômen do paciente. Na videolaparoscopia são feitas de quatro a sete mini incisões de 0,5 a 1,2 centímetros cada uma, por onde passam as cânulas e a câmera de vídeo. Trata-se de uma técnica menos invasiva e mais confortável para o paciente, com um tempo de recuperação mais breve, com alta hospitalar antecipada e redução dos riscos de complicações.

Cirurgia bariátrica ajuda no controle da diabetes, hipertensão e dislipidemia

A cirurgia bariátrica tem como principal objetivo ajudar o paciente a emagrecer, mas também traz outros benefícios como a melhora das comorbidades como diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia (altas taxas de colesterol e triglicerídeos), além da melhora da qualidade de vida.

“O paciente precisa seguir um programa multidisciplinar de acompanhamento, que envolve mudanças na alimentação, prática de exercícios físicos e cuidados com a saúde mental”, completa o presidente da SBCBM.

De acordo com Fernando de Barros, professor adjunto do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal Fluminense (UFF), responsável pela ação no Rio de Janeiro, os pacientes têm-se beneficiado muito do procedimento realizado pelo SUS.

Segundo o médico, as pessoas precisam entender que a obesidade é uma doença multifatorial com fundo genético que piora com o tempo, levando a sequelas e enfermidades graves, às vezes sem possibilidade de cura.

“Além do impacto na saúde das pessoas, a demora do tratamento gera desgaste mental, social e financeiro para pacientes e para os cofres públicos. Estamos falando de pessoas que irão adoecer mais, podem precisar se afastar do trabalho ou não conseguem seguir com a vida profissional por preconceito”, alerta.

Para Frei Nicolau Castro, diretor geral do Hospital São Francisco da Providência de Deus, no Rio, a cirurgia bariátrica tem o potencial de transformar a vida das pessoas que lutam contra a obesidade. “Colecionamos histórias emocionantes de pacientes que não conseguiam realizar tarefas simples, do dia a dia sem ajuda e agora, pós-cirurgia, retomaram o controle de suas vidas. É com muita alegria e responsabilidade que empenhamos esforços para transformar vidas”, afirma.

Cirurgia minimamente invasiva:  segurança na bariátrica por vídeo

Na maioria dos casos, a cirurgia bariátrica realizada por vídeo, método mais seguro, possibilita a alta do paciente em até 24h. Diferentemente da cirurgia aberta ainda praticada na maioria dos hospitais do SUS, a cirurgia bariátrica laparoscópica a ser usada pelos médicos no mutirão é uma técnica menos invasiva e mais confortável para o paciente.

O médico realiza a redução do estômago através de 5 a 6 pequenos ‘furinhos’ no abdômen, introduzindo os instrumentos necessários com uma microcâmera ligada a um monitor que permite a visualização e redução de parte do estômago.

Como é minimamente invasiva, este tipo de cirurgia tem um tempo de recuperação mais breve, com alta hospitalar antecipada e redução nas chances de complicações.

Multinacional doou materiais para as 92 cirurgias

A realização da força-tarefa será possível devido a uma iniciativa da empresa Medtronic, em parceria com hospitais públicos e privados. Todos os materiais necessários para a realização dos procedimentos serão doados pela multinacional.

Segundo a vice-presidente da Medtronic no Brasil, Gisela Bellinello, o mutirão é uma iniciativa inovadora e necessária que comprova que parcerias estratégicas podem ampliar o acesso à saúde dos brasileiros.

“Temos como missão ampliar o acesso a novas tecnologias e tratamentos diferenciados, e disponibilizamos um dos portfólios de cirurgia metabólica e bariátrica mais avançados do mundo. Sabermos que estamos contribuindo para a saúde dos brasileiros é motivo de grande satisfação para a nossa companhia e nos motiva a expandir este projeto.”

agenda positiva – Dia Mundial da Obesidade

Cristo Redentor ganha iluminação roxa em alerta para epidemia global de obesidade

Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, recebe iluminação roxa (Foto: Arquivo)

O monumento ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, ganhará uma iluminação especial na cor roxa para marcar o Dia Mundial de Combate à Obesidade na noite desta segunda-feira (4) para destacar a importância da conscientização sobre os riscos associados à obesidade e incentivar ações para combater essa epidemia global de saúde pública.

A cor roxa foi adotada em 2024 como símbolo internacional da campanha de conscientização sobre a obesidade pela WOF, e sua utilização visa tornar visível a gravidade do problema que afeta não apenas o Brasil, mas todo o mundo. A iniciativa no Rio é promovida pela Federação Mundial da Obesidade (WOF) e realizada no Brasil pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

A cerimônia de iluminação, organizada pelo Núcleo Saúde e Fé do Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, está marcada para começar às 19h30 e p monumento permanecerá aceso até 21h30. Além da Abeso e da SBEM, estarão presentes no local representantes de outras especialidades e entidades médicas, como do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

Em Brasília, a Câmara dos Deputados também recebe iluminação especial na cor roxa como parte das ações pelo Dia Mundial da Obesidade. O objetivo da data, instituída pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é disseminar conhecimentos, conscientizar a população, melhorar políticas de prevenção, promover o debate sobre a doença e facilitar o acesso ao tratamento. Outro objetivo é combater o estigma social a respeito da doença.

Obesidade atinge mais de 1 bilhão de pessoas no mundo

Segundo a OMS, obesidade é o excesso de gordura corporal em quantidades que ofereçam risco à saúde. A doença é um dos principais problemas de saúde do mundo, atingindo mais de 1 bilhão de pessoas, e uma das causas de outros problemas, como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares.

No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde de 2020, realizada pelo Ministério da Saúde, um em cada quatro indivíduos maiores de 18 anos tem obesidade, o que corresponde a 41,2 milhões de pessoas. Mais da metade dos pesquisados – 96 milhões – tem excesso de peso.

O país enfrenta um aumento alarmante nas taxas de obesidade nas últimas décadas, com mais da metade da população adulta apresentando sobrepeso e aproximadamente um quarto sendo classificados como obesos.

O Ministério da Saúde elenca entre as causas da obesidade fatores biológicos, históricos, ecológicos, econômicos, sociais, culturais e políticos. Dados mostram que a doença se tornou crônica e atinge um número crescente de pessoas.

Pesquisas comprovam que o problema está associado a significativa alteração do padrão alimentar, com a redução do consumo de alimentos in natura ou minimamente processados e maior participação dos alimentos ultraprocessados.

Além disso, hábitos não saudáveis, que incluem o excesso de tempo gasto em comportamentos sedentários, impulsionados pelo uso excessivo de telas, atrelado a pouca ou nenhuma prática de atividade física, são cada vez mais frequentes. O tratamento da obesidade prevê reeducação alimentar e atividade física, com eventual auxílio de remédios, se necessário.

Diante desse cenário preocupante, a ação é uma maneira poderosa de chamar a atenção da população para a necessidade de priorizar a qualidade de vida e a saúde. Além disso, a iluminação especial do Cristo Redentor no Dia Mundial de Combate à Obesidade serve como um lembrete sobre a necessidade de políticas públicas eficazes para prevenir e tratar a obesidade.

Debate sobre obesidade, juventude e saúde global

Neste ano, o foco da campanha do Dia Mundial de Combate à Obesidade, apoiada no Brasil pela Abeso e SBEM, será o debate não apenas sobre a doença em si, mas a relação com fatores interligados a ela, como a juventude, a saúde global e o mundo como um todo.

Sob o tema ‘Vamos Falar Sobre a Obesidade e…’, o objetivo é iniciar uma conversa mais abrangente sobre como a obesidade está enraizada em diferentes aspectos da vida contemporânea.

“Um dos pontos será a relação da obesidade com outras doenças, algumas cuja associação não é tão conhecida, trazendo para a conversa diversas outras áreas e especialidades para esclarecer o impacto global da doença na vida dos pacientes”, explica Bruno Halpern, presidente da Abeso.

Datas como essas, segundo Paulo Miranda, presidente da Sbem, são importantes para que as pessoas reflitam sobre a seriedade da obesidade, um dos problemas de saúde mais frequentes no mundo atualmente e um grande desafio para o Brasil.

“Elas chamam a atenção não só para necessidade da prevenção, mas também para importância da disponibilização do acesso a tratamentos individualizados para todas as pessoas que sofrem com a doença”, afirma.

Com informações das Assessorias

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