Os brasileiros viverão mais em 2070 – a projeção é que a expectativa de vida daqui a 46 anos seja de 83,9 anos. Em 2000, a expectativa era de 71,1 anos, enquanto em 2023 foi para 76,4.  Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas no fim de agosto. Diante disso, o envelhecimento saudável passa a estar cada vez mais entre as prioridades dos brasileiros e uma das demências que mais acomete os idosos é a Doença de Alzheimer (DA), que tem se tornado um foco crescente de pesquisas.

Além de fatores genéticos, certos hábitos de estilo de vida influenciam na doença, que causa problemas de memória, linguagem, pensamento e comportamento, de forma crônica, progressiva e sem cura. Até 2023, eram 12 os fatores de risco já estabelecidos: baixa escolaridade, perda auditiva, hipertensão, tabagismo, obesidade, depressão, sedentarismo, diabetes, consumo excessivo de álcool, trauma craniano, tabagismo, poluição do ar e isolamento social.

Um estudo publicado na conceituada revista The Lancet acrescentou mais dois fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento de demências: perda de visão não tratada e níveis elevados de colesterol LDL.  No dia 31 de julho de 2024, durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (AAIC) na Filadélfia, foi publicado o aguardado relatório da Comissão Permanente da Lancet sobre prevenção, intervenção e cuidados em demência.

O relatório da Lancet Commission, ligada à Alzheimer’s Society, , com o título central “Relatório Lancet 2024 sobre Demência”, se ramifica em seis tópicos principais: Fatores de Risco Modificáveis, Prevenção, Intervenções Específicas, Cuidados pós-diagnóstico, Tratamentos e Desafios.

Evidências científicas apontam que a perda de visão pode atuar como um sinal precoce da DA, podendo surgir até 12 anos antes dos primeiros sintomas cognitivos. Essa conexão desperta a atenção tanto de pesquisadores e profissionais da saúde quanto da sociedade, trazendo à tona a importância de monitorar a saúde ocular, principalmente em pessoas idosas.

O documento apresenta atualizações importantes e novas evidências animadoras no campo da demência e destaca que, à medida que a população envelhece, o número de pessoas vivendo com demência continua a aumentar globalmente. Estima-se que em 2019 havia 57 milhões de pessoas com demência no mundo, com projeções indicando um aumento para 153 milhões até 2050. Este crescimento ressalta a necessidade urgente de identificar e implementar abordagens eficazes de prevenção.

Segundo a Profa. Dra. Thais Bento Lima, docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), desde 2020 não tínhamos fatores de riscos modificáveis documentados. E agora, em 2024, mais dois novos fatores de riscos modificáveis para demências foram incluídos. pesquisas recentes reforçam que a saúde dos olhos não está isolada do bem-estar cognitivo.

Uma revisão sistemática e meta-análise sobre a associação entre doenças oculares e demência mostrou que pessoas com condições como catarata e degeneração macular têm um risco aumentado de desenvolver demência. A visão prejudicada, muitas vezes subestimada, pode indicar processos neurodegenerativos em curso, sinalizando o início de doenças como a DA”, diz ela, que é diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG) e membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer (SP).

Segundo Thais, isso ocorre porque a Doença de Alzheimer e as outras demências têm causas multifatoriais e isso dificulta o tratamento de cura. “Por isso, apesar de existir a predisposição genética, o maior peso de causa de demências na população é o estilo de vida inadequado e hábitos nocivos”, ressalta.

O documento sugere que a modificação desses fatores pode potencialmente prevenir ou retardar quase metade dos casos de demência. A Comissão enfatiza a importância da prevenção, que envolve tanto mudanças políticas em nível nacional e internacional quanto intervenções individualizadas. As ações para diminuir o risco de demência devem começar cedo e continuar ao longo da vida. “O relatório recomenda uma abordagem ambiciosa à prevenção, priorizando a equidade e garantindo a inclusão de grupos de alto risco”, diz a especialista.

Saúde dos olhos está ligada ao bem-estar cognitivo

Estudos clínicos revelam que alterações na retina e em outras estruturas oculares podem ser marcadores para a detecção precoce da doença. A retina, por exemplo, compartilha características com o cérebro, como a presença de células nervosas sensíveis à degeneração.

Essa semelhança sugere que os sinais da Doença de Alzheimer podem ser identificados por meio de exames oculares, fornecendo uma oportunidade para intervenções precoces”, esclarece a especialista,  parceira científica do Método Supera – Ginástica para o Cérebro.

Ela conta ainda que há uma associação relevante entre a degeneração da retina e a atrofia do hipocampo, uma área cerebral afetada de maneira significativa em pessoas acometidas pela Doença de Alzheimer. Pesquisas em indivíduos com Comprometimento Cognitivo Leve e Alzheimer em estágio inicial indicam que a perda de volume no hipocampo está correlacionada com anormalidades visuais, reforçando a necessidade de considerar a saúde ocular como parte das estratégias de triagem e prevenção.

A saúde ocular deve ser vista como um componente essencial na manutenção da qualidade de vida ao longo do processo de envelhecimento e na fase da velhice. A prevenção e o tratamento de doenças oculares podem desempenhar um papel importante na redução do risco de demência. A perda de visão, portanto, não deve ser encarada apenas como um efeito natural do envelhecimento, mas também como um alerta para a possibilidade de declínio cognitivo”, explica.

Ainda segundo a especialista, a integração de exames oculares regulares com avaliações cognitivas pode permitir um monitoramento mais preciso e ações preventivas eficazes.

A conexão entre saúde ocular e a DA destaca a importância de um olhar holístico sobre o envelhecimento, onde aspectos biopsicossociais estão interligados, demandando uma atenção constante e multidisciplinar. Essa abordagem integrada é essencial para a detecção precoce e gestão de doenças neurodegenerativas, beneficiando tanto pessoas idosas quanto seus cuidadores, além da sociedade como um todo”, conclui a gerontóloga.

Alzheimer e doenças cardiovasculares

Para Alessandra Rascovski, endocrinologista, diretora médica da Atma Soma e presidente do instituto Rascovski, a relação com a doença tem a ver com a informação que chega ao cérebro. “As pessoas com perda de visão têm mais propensão para desenvolver a doença”. Vale lembrar que a prevalência de perda visual evitável e cegueira, incluindo problemas visuais comuns para os quais óculos são prescritos, em adultos acima de 50 anos, equivalem a 12,6%.

O estudo também aponta que as doenças cardiovasculares têm influência no desenvolvimento do Alzheimer.

O colesterol LDL (ou Lipoproteína de baixa densidade), conhecido como ‘colesterol ruim’, se estiver em excesso pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares. O LDL colesterol em adultos mais jovens do que 65 anos, seguidos por 1 ano e sem tratamento aumentou 8% todas as causas de demência”, afirma

Isso significa que, ao minimizar esses fatores, consequentemente há redução da possibilidade de desenvolvimento de demências. Por isso, é importante conscientizar a população sobre a importância dos cuidados com alguns pontos importantes como atividade física, alimentação, consumo de álcool, poluição e doenças como depressão, que podem influenciar no desenvolvimento da doença. “Se esses cuidados forem colocados em prática é possível reverter 40% dos casos de demência no mundo e 48% no Brasil”, destaca a médica.

Como reverter os 14 fatores de risco

O documento também apresenta intervenções específicas para cada um dos 14 fatores de risco, incluindo:

 

  • garantir educação de qualidade,
  • tornar aparelhos auditivos acessíveis,
  • tratar a depressão efetivamente,
  • incentivar o uso de proteção para a cabeça em esportes de contato,
  • encorajar o exercício,
  • reduzir o tabagismo,
  • controlar a pressão arterial e o colesterol,
  • manter um peso saudável,
  • reduzir o consumo excessivo de álcool,
  • priorizar ambientes comunitários amigáveis aos idosos,
  • tornar o tratamento para perda de visão acessível e
  • reduzir a exposição à poluição do ar.

Em relação aos cuidados pós-diagnóstico, o relatório destaca a importância de intervenções que ajudem as pessoas a viverem bem com demência, incluindo o planejamento para o futuro. Intervenções de enfrentamento multicomponentes para cuidadores familiares e o manejo de sintomas neuropsiquiátricos são considerados cruciais”, afirma Thaís.

Thais ressalta que no campo dos tratamentos, menciona-se o progresso e a esperança em relação a tratamentos modificadores para a doença de Alzheimer, com alguns ensaios de anticorpos direcionados à proteína beta-amiloide, mostrando eficácia modesta na redução da deterioração após 18 meses de tratamento.

No entanto, o relatório também adverte sobre os efeitos colaterais e as implicações de recursos desses tratamentos e aborda os desafios atuais, incluindo a necessidade de proteger a saúde física das pessoas com demência, especialmente em situações de internação hospitalar. Além disso, destaca a vulnerabilidade das pessoas com demência expostas pela pandemia de Covid-19, enfatizando a necessidade de aprender com essa experiência para melhor proteger essa população vulnerável no futuro.”

Agenda Positiva

Descubra seu risco de Alzheimer: evento oferece avaliação gratuita

Para ajudar as pessoas a saberem como andam seus índices de saúde, que controlados podem evitar ou atrasar a doença de Alzheimer, o Instituto Rascovski realiza nos dias 21 e 22 de setembro, em São Paulo, a sexta edição do projeto Cérebro em Ação, que tem como intuito promover a educação, com autoconhecimento e ação para começar a se cuidar agora.

O que vamos oferecer é uma oportunidade de conhecer e de se autoavaliar com o auxílio de voluntários e especialistas e, com isso, ajudar o público a tomar ações que possam prevenir ou postergar declínios cognitivos”, diz Alessandra.

Diferentemente do ano anterior, o principal evento do projeto Cérebro em Ação traz algumas novidades. A começar pelo formato, que, neste ano, passa a acontecer durante dois dias em locais diferentes.

No sábado (21), no qual é celebrado o Dia Mundial da Conscientização sobre a Doença de Alzheimer durante o Setembro Lilás, um grupo de voluntários promoverá uma série de atividades no parque Cândido Portinari, em São Paulo, ao redor roda gigante instalada no local, que, por conta da ocasião será iluminada com a cor da campanha Setembro Lilás.

Entre 15h e 18h, serão realizadas ações de incentivo à prática de atividade física e bem-estar, como aula de ioga, conduzida pela jornalista e instrutora Angélica Banhara, de meditação, conduzida pela Lilian Gouvea, além da realização de exercícios favoráveis ao cérebro.

Durante o período, serão distribuídos folders que trazem informações sobre os fatores que podem influenciar no desenvolvimento da doença, além de um teste virtual, denominado Roda do Cérebro, com acesso via QR Code.

O resultado do teste pode se enquadrar em três faixas: verde, que significa risco neutro, amarelo, que traz um sinal de alerta, e vermelho, que aponta urgência nos cuidados. Ao longo de longas pesquisas sobre o assunto, nota-se um aumento de 40 a 60% na incidência do Alzheimer por conta do estilo de vida”, explica Alessandra.

Já no domingo (22), das 9h às 12h, em um birô instalado em frente a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na avenida Paulista, a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) realizará um evento, que conta com a parceria do Cérebro em Ação.

Ao longo do dia, haverá uma série de exames, como bioimpedância, aferimento de pressão, glicemia, teste olfativo – cuja jornada leva o nome de Circuito Cerebral. Também serão entregues folders de conscientização e realização do teste Roda do Cérebro.

Dentre as atividades, o encontro conta ainda com uma caminhada, estimulação cognitiva e roda de conversa sobre Alzheimer e outras demências com neurologistas e geriatras. Além disso, haverá um forte trabalho de comunicação, com o abastecimento das redes sociais do projeto com informações atualizadas sobre a prevenção da doença.

Nesse sentido, ocorrerá ainda o lançamento de um e-book, produzido em parceria com os voluntários, carinhosamente chamados Dente de Leão, que traz, de forma lúdica, informações importantes sobre a doença de Alzheimer e como preveni-la. O objetivo é conscientizar a população sobre demências, principalmente sobre a Doença de Alzheimer, com a participação dos maiores especialistas em saúde do cérebro do Brasil.

Para saber mais sobre o Projeto Cérebro em Ação, acesse aqui.

‘Despertando a Sociedade para a Saúde do Cérebro’

Neste Setembro Lilás, mês de conscientização à Doença de Alzheimer, acontece o evento “Despertando a Sociedade para a Saúde do Cérebro”, que chega à sua sexta edição híbrida, 100% gratuita, no próximo dia 14 de setembro, das 8h30 às 12h, no Teatro Gazeta, em São Paulo, com a participação de renomados profissionais da área no Brasil, que vão debater temas importantes relacionados ao envelhecimento saudável.

Campanhas de conscientização e políticas públicas voltadas à saúde visual em pessoas idosas podem ajudar a detectar precocemente potenciais problemas cognitivos, proporcionando um cuidado integral que vai além das intervenções tradicionais para a Doença de Alzheimer”, afirma a professora Thais.

Organizado pelo Supera – Ginástica para o Cérebro e a Associação Brasileira de Gerontologia (ABG), o evento conta com o apoio da Prefeitura de São Paulo, Gaialzheimer, Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz), Associação dos Bolsistas Jica (ABJICA), Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo) e Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), com patrocínio de Biolab, Tena, Knight, O Boticário, Senior Concierge e Duarte Cuidadores.

Inscreva – se no Despertando a Sociedade para a Saúde do Cérebro – 6ª edição

Congresso iluminado no Setembro Lilás

O Congresso Nacional recebe iluminação lilás nesta quinta e sexta-feira (dias 19 e 20/9) pelo Dia Nacional de Conscientização sobre a Doença de Alzheimer (21 de setembro). A Lei 11.736/2008 instituiu o Dia de Conscientização sobre o Alzheimer com o objetivo de sensibilizar a população, as entidades públicas e privadas de saúde e os profissionais da área sobre a gravidade da doença e ressaltar a importância da prevenção, do diagnóstico e da busca por tratamentos que possam melhorar a cognição dos pacientes.

Durante todo o mês, é realizada a campanha Setembro Lilás, criada pela Associação Internacional do Alzheimer para fortalecer a divulgação de informações sobre a doença. Outro objetivo da campanha é reforçar a importância do acolhimento para pessoas que vivem com Alzheimer, além de seus familiares e parceiros de cuidado.

A doença de Alzheimer é uma enfermidade neurodegenerativa que provoca a diminuição das funções cognitivas. Ela não tem cura e é a causa mais comum de demência no mundo, representando 70% dos casos. O Brasil tem cerca de 1 milhão de brasileiros com algum tipo de demência, sendo a maioria dos casos provocados por Alzheimer. Os sintomas mais comuns são a perda de memória e a confusão mental.

Com assessorias

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