‘Novo normal’: qual é a realidade que nos espera após o confinamento?

Psicanalista diz que adaptações necessárias podem ajudar a dominar suas emoções e eliminar fragilidades que levam a transtornos psíquicos

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Por Andrea Ladislau*
A pergunta que muitos se fazem é: qual realidade nos espera após o confinamento? Durante a quarentena, estamos sendo obrigados a conviver com um cenário bem diferente do habitual. Restrições de contato físico, utilização de máscaras, cancelamento, adiamento de encontros sociais (festas e shows) e viagens, aulas virtuais, implantação da modalidade home office, entre outros. Enfim, mudanças drásticas tanto na vida pessoal quanto profissional.
Ainda dentro dessa análise, destaco a real necessidade de alteração em muitos planos de vida. Casamentos adiados, mudanças canceladas e até a convivência com nosso pior pesadelo: as perdas de pessoas próximas ou conhecidas. Milhares de vidas ceifadas por uma tragédia que ainda assola nossa humanidade.
O termo “Novo normal” tem sido amplamente divulgado, referindo-se a volta à realidade diante das mudanças profundas em nossas rotinas e hábitos. Algumas delas, inclusive, já dão sinais de que vieram para ficar – enquanto outras desempenham um caráter transitório e necessário.
No entanto, esses novos tempos exigem do ser um humano pitadas de tolerância à frustração, cada vez mais necessárias para que seja possível encarar a perda ou o cancelamento de projetos – muitos, inclusive, planejados e pensados há muito tempo, mas destruídos por um virus que trouxe medo, angústia, incerteza e pânico.
Sempre quando nos vemos perdendo o controle do que nos é externo, tendemos a entrar em um processo de tensão e ansiedade e, consequentemente, descontrole do nosso interno. Conviver com o fato de que nem tudo que é planejado será realizado pode ser bem aceito por uns e ser encarado com grandes dificuldades por outros. Houve, portanto, uma imposição à novas adaptações de maneira inédita e repentina.
Constatamos, da pior maneira, que não temos controle sobre nada. Descobrimos um novo mundo interno (ou diria velho mundo interno?) que exige do indivíduo muito mais sanidade e equilíbrio, sem fugir da realidade. Conciliando mundo interno com mundo externo de forma saudável.
A consciência de toda essa nova circunstância remete à lições adquiridas e à reflexões profundas que desnudam o sentido de humanidade. Sabemos que as experiências que mais nos transformam são aquelas das quais desejamos fugir. Sendo assim, encarar as transformações de frente, sustentar e dialogar com suas emoções e desconfortos internos, sem se identificar com eles e sem negar o que sente, são dicas preciosas para conseguir explorar os novos cenários, novos hábitos e os novos posicionamentos.
Mas cabe ressaltar que, para a psique, não existe certo ou errado, normal ou anormal. Existe a realidade particular do indivíduo alicerçada por seus valores, desejos e sua bagagem pessoal. Mas o “Novo Normal” que estamos prestes a vivenciar é o legado de uma pandemia que mudou a vida de todos e implantou novos hábitos, passageiros ou definitivos.
Neste momento, fazendo uma análise deste impacto. A paciência e a tolerância serão muito mais exigidas para a manutenção do equilíbrio emocional. O nosso maior desafio, certamente, será aprender a tornar esse “Novo normal” em um “Normal melhor”. A desestruturação dos comportamentos e a ação aniquiladora das certezas, trazidas pela Covid-19, deixarão marcas em toda a humanidade. O que vamos fazer com essas marcas e como iremos conviver com elas é que será a grande sacada de sucesso para o equilíbrio psíquico de cada um.
No entanto, tenho boas notícias: se somos seres adaptativos, o “novo normal” pode, facilmente, fazer parte de nossos dias. Enfrentar as muitas realidades impostas pós pandemia será um desafio individual –  e como temos uma infinita capacidade de sermos resilientes, afetuosos e empáticos, podemos, sim, fazer o melhor uso do verbo ressignificar.
Sabemos que a vida não é estática e as mudanças internas e externas serão constantes ao longo de nossa trajetória. A crise demonstrou que a valorização dos detalhes e dos pequenos prazeres modificou nosso olhar.
 Além disso, fica evidenciado que a mudança e a aceitação de uma nova maneira de dialogar consigo mesmo, aceitando e respeitando seus desejos , sem dúvidas já demonstram o começo das novas mudanças.
Arrisco até a dizer: não há mais espaço para dramatizações, mas sim para adaptações. Adaptações que levem o ser a encontrar meios para dominar suas emoções e eliminar fragilidades que levam a desestruturação emocional, alimentando transtornos psíquicos destrutivos à mente humana.
Enfim, novos tempos, novas chances para desconstruir conceitos e formatar novos empoderamentos pessoais. Tudo vai depender da forma como cada um irá encarar a nova realidade que se desenha após toda a tempestade que estamos enfrentando.
 *Andréa Ladislau é psicanalista, doutora em Psicanálise, pós-graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social, professora na Graduação em Psicanálise, administradora hospitalar e Gestão em Saúde. É professora associada no Instituto Universitário de Pesquisa em Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo e do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em Souhaites.

É membro do Conselho de Comissão de Ética e Acompanhamento
Profissional do Instituto Miesperanza, embaixadora e diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In Niterói e membro da Academia Fluminense de Letras.
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