Lutar para não envelhecer ou para não emburrecer?

“Como compensar as perdas inevitáveis que a idade traz? Usando a cabeça: em vez de lutarmos para não envelhecer, devemos lutar para não emburrecer. Seguir trabalhando, viajando, lendo, se relacionando, se interessando e se renovando. Porque se emburrecermos, aí sim, não restará mais nada”.

Na crônica Morrer em vida é fatal, a escritora Martha Medeiros, de 63 anos, fala da oportunidade que o tão questionado envelhecimento traz para que possamos aprimorar nossos conhecimentos e não apenas lamentar pelas rugas e rusgas da idade. Mas não é só.

Na entrevista ao Portal Vida e Ação, durante o Fórum da Longevidade, realizado esta semana pelo grupo Bradesco Seguros em São Paulo, a autora de best-sellers como ‘Divã’, ‘Doidas e Santas’ e ‘Feliz Por Nada’, que já ultrapassaram a marca de 1 milhão de exemplares vendidos, fala da rotina simples de uma sessentona que vive a realidade da ‘geração sanduíche’.

O termo é usado para designar um grupo de pessoas adultas de meia-idade que cuidam, ao mesmo tempo, de seus pais idosos, de seus próprios filhos, e por vezes de seus próprios netos.

Cuidadora de seus pais e também dos seus filhos, Martha diz que é preciso que as mulheres não deixem o autocuidado de lado. Mas sem escravidão, como exposto em seu poema ‘Feliz Ano Novo’ que fala do envelhecimento: “Envelhecemos passando creme anti-rugas no rosto antes de dormir, envelhecemos malhando numa academia”.

Mulheres se dividem entre o autocuidado e o cuidado com os outros

Envelhecemos sentados no sofá, envelhecemos ao viciar-nos na rotina, envelhecemos criando os filhos da mesma forma como fomos criados, sem levar em conta algumas novas necessidades, outras formas de ser feliz. Envelhecemos nos queixando da tarifa do condomínio e achando que todo mundo é estúpido, menos nós.

Envelhecer, quem sabe
não seja assim tão desastroso
me interessa perder esta ansiedade
me atrai ser atraente mais tarde
um pouco mais de idade, que importa
envelhecer, quem sabe
não seja assim tão só

E como 2025 já está logo ali, que tal refletirmos sobre a vida que deixamos para trás e o tempo que nos espera, relembrando ‘Feliz Ano Novo’, de Martha Medeiros?

FELIZ ANO NOVO

Foi-se embora mais um ano, 12 meses, mais de 300 dias em que pagamos contas e procuramos lugar pra estacionar.
Um ano a mais de experiências vividas, um ano a menos de juventude. Um ano a mais de filmes de que gostamos, trabalhos que nos frustraram e pessoas com quem convivemos menos do que gostaríamos.
Tempo consumido em chopes, estradas, telefonemas, suor, tevê e cama. Você envelheceu ou cresceu este ano?
Envelhecemos sentados no sofá, envelhecemos ao viciar-nos na rotina, envelhecemos criando os filhos da mesma forma como fomos criados, sem levar em conta algumas novas necessidades, outras formas de ser feliz.
Envelhecemos passando creme anti-rugas no rosto antes de dormir, envelhecemos malhando numa academia, envelhecemos nos queixando da tarifa do condomínio e achando que todo mundo é estúpido, menos nós.

Envelhecemos porque envelhecer é mais fácil do que crescer.

Crescer requer esforço mental. Obriga a tomadas de consciência. Exige mudanças.
Crescer é a anti-repetição de idéias, é a predisposição para o deslumbramento, é assumir as responsabilidades por todos os nossos atos, os bem pensados e os insanos.
Crescer dá uma fisgada diária no peito, embrulha o estômago, tem efeitos colaterais. Machuca.

Envelhecer não machuca.
Envelhecer é manso, sereno.
Envelhecer é uma apatia um não-desempenho, um deixa pra lá, vamos ver o que acontece.

O que acontece é que você fica mais velho e se considerando tão sábio quanto era anos atrás, anos que se passaram iguais, sabedoria que não se renovou.
Crescer custa, demora, esfola, mas compensa.
É uma vitória secreta, sem testemunhas.
O adversário somos nós mesmos, e o prêmio é o tempo a nosso favor.
Feliz Ano Novo.

*A jornalista Rosayne Macedo viajou a São Paulo para o Fórum da Longevidade 2024 a convite da Bradesco Seguros.