Mais de 2,4 milhões de brasileiros foram diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que representa 1,2% da população, conforme as informações do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas nesta sexta-feira (23/5).

A prevalência foi maior entre os homens (1,5%) do que entre as mulheres (0,9%): 1,4 milhões de homens e 1,0 milhão de mulheres foram diagnosticados com autismo por algum profissional de saúde. Entre os grupos etários, o de maior prevalência foi o de 5 a 9 anos (2,6%). O Censo também aponta que 3,8% dos meninos entre 5 e 9 anos (264 mil) e 1,3% das meninas na mesma faixa etária (86 mil) têm diagnóstico de TEA.

Esta é a primeira vez que o IBGE faz um levantamento das pessoas com autismo no país, graças à Lei n.º 13.861/2019. Até então, os dados disponíveis eram de 2017 e considerados pouco precisos. Os números são similares aos do mais recente relatório dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), que mostra que a prevalência de autismo cresceu no país, chegando a 1 a cada 31 crianças de até 8 anos. A pesquisa utilizou os dados mais recentes do monitoramento nacional dos EUA, também de 2022.

Maioria dos diagnósticos ocorreu no Sudeste

Em números absolutos, assim como para o total da população, o Sudeste concentra a maioria, com um pouco mais de um milhão de pessoas diagnosticadas com autismo, seguido pelo Nordeste, com 633 mil; Sul, com 348,4 mil; Norte; com 202 mil e Centro-Oeste, com 180 mil

Para Raphael Alves, membro da equipe técnica temática de pessoas com deficiência e pessoas diagnosticadas com TEA do Censo Demográfico, não existe grande diferença entre as grandes regiões. “O Centro-Oeste têm uma proporção um pouco menor, com 1,1%, enquanto as demais têm 1,2% da população com diagnóstico de TEA”, ressaltou.

O levantamento do IBGE revela que os estados com maior número de diagnósticos são São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná, o que levanta uma série de reflexões sobre acesso ao diagnóstico, políticas públicas e inclusão  Diante desse cenário, reforça-se a importância do diagnóstico precoce, fundamental para garantir melhor desenvolvimento, inclusão e qualidade de vida para as pessoas com TEA.

Essa distribuição também pode refletir mais o acesso desigual ao diagnóstico do que a real distribuição de pessoas autistas considerando as raças, já que é sabido que o autismo é uma condição neurobiológica que não escolhe cor, etnia ou classe social. Porém, infelizmente, o acesso ao diagnóstico ainda é algo de difícil acesso para muitas pessoas no Brasil”, destaca Alice Tufolo, conselheira clínica da Genial Care, rede de cuidado de saúde atípica especializada em crianças autistas e suas famílias.

Autismo é maior entre crianças e adolescentes

Entre os grupos etários, a prevalência de diagnóstico de autismo foi maior entre crianças e adolescentes: 2,1% no grupo de 0 e 4 anos de idade, 2,6% entre 5 e 9 anos, 1,9% entre 10 e 14 anos e 1,3% entre 15 e 19 anos. Esses percentuais representam, ao todo, 1,1 milhão de pessoas de 0 a 14 anos com autismo. Nos demais grupos etários, os percentuais oscilaram entre 0,8% e 1,0%.

Ao se considerar conjuntamente os recortes de sexo e idade, o grupo de meninos de 5 a 9 anos apresentou o maior percentual de diagnóstico: 3,8% da população masculina nessa faixa etária, o equivalente a 264,6 mil indivíduos. Entre as meninas da mesma faixa, o percentual foi de 1,3%, totalizando 86,3 mil pessoas. Situação semelhante foi observada no grupo 0 a 4 anos, com prevalência de 2,9% entre os meninos e 1,2% entre as meninas.

A prevalência de TEA foi maior entre os homens em todos os grupos etários até 44 anos. Entre 45 e 49, 55 e 59 e 70 anos ou mais, os percentuais foram equivalentes entre os sexos de nascimento. Já nos grupos de 50 a 54 e 60 a 69 anos, as mulheres apresentaram prevalências ligeiramente superiores às dos homens, com diferença de 0,1 pontos percentuais.

Para especialistas, o maior número de autistas na faixa de 0 a 9 anos de idade que reforça o avanço no diagnóstico precoce, resultado de maior conscientização e busca de informações por parte de pais e responsáveis.

É natural que os números indiquem maior prevalência de TEA em meninos, pois é uma pesquisa de quem já recebeu o diagnóstico. No entanto, é importante considerar que muitas mulheres autistas não são diagnosticadas, ou têm o seu diagnóstico tardio — o que pode vir a impactar esses dados coletados”, pondera Alice.

Mais de 70% dos estudantes homens com autismo tinham de 6 a 14 anos

O total de 760,8 mil estudantes de 6 anos ou mais com autismo no Brasil representa 1,7% do total de estudantes na faixa analisada. O analista do IBGE ressalta que “este percentual é superior à proporção de pessoas com diagnóstico de autismo na população geral (1,2%), resultado condizente com a prevalência maior do diagnóstico entre a população em idade escolar, especialmente entre os mais jovens”.

O grupo de 6 a 14 anos concentrou a maior parcela de estudantes com esse diagnóstico: 70,4% dos homens e 54,6% das mulheres estudantes com autismo. Em comparação, os estudantes em geral nesse grupo de idade representavam 55,4% dos homens e 51,3% das mulheres. Assim, entre as pessoas com autismo, essa etapa da educação básica apresentou maior concentração relativa do que na população estudantil total. Nos demais grupos de idade, a relação se inverte: os percentuais de estudantes com autismo são menores do que os do total de estudantes.

Diagnóstico de TEA é maior entre os brancos

Na desagregação por cor ou raça, o maior percentual de pessoas com autismo se deu entre as pessoas declaradas brancas, com 1,3%, o que equivale a 1,1 milhão de pessoas, seguida de amarela (1,2%), preta (1,1%), parda (1,1%) e indígena (0,9%).

A menor prevalência está entre as pessoas de cor ou raça indígena, com 0,9%, o que representa 11,4 mil pessoas. Este percentual sobe para 1% quando consideradas também as pessoas de outra cor ou raça que se consideram indígenas.

Entre as pessoas amarelas, 1,2% tinham diagnóstico de autismo, o que corresponde a 10,3 mil pessoas. Cerca de 221,7 mil pessoas pretas e 1,1 milhão de pessoas pardas possuem TEA, representando 1,1% de cada uma dessas populações.

Conectado a políticas públicas, o Censo de 2022 reforça a necessidade de cada vez mais espaços sobre desigualdade no acesso ao diagnóstico e diferença racial entre famílias atípicas”, informou o IBGE.

População com autismo tem maior taxa de escolarização

A taxa de escolarização da população com autismo (36,9%) foi superior à observada na população geral (24,3%). Essa diferença foi mais expressiva entre os homens: 44,2% dos homens com autismo estavam estudando, frente a 24,7% do total. Entre as mulheres, a taxa de escolarização foi 26,9% entre aquelas com autismo, ante 24% no total.

Tal diferença se dá pela maior concentração da população com autismo nas idades mais jovens, principalmente entre as idades de 6 a 14 anos, que possuem altas taxas de escolarização e concentram mais da metade da população de estudantes com autismo”, explica Raphael.

Para a população total por idade, destacaram-se os grupos de 18 a 24 anos (30,4% para autistas e 27,7% para o total) e 25 anos ou mais (8,3% e 6,1%, respectivamente), onde a taxa de escolarização entre pessoas com autismo superou a da população geral, sugerindo trajetórias mais prolongadas de escolarização ou retornos à educação formal.

A desagregação por cor ou raça estimou, em 2022, 347,8 mil estudantes brancos com diagnóstico de autismo, 344,4 mil pardos, 62,6 mil pretos, 3,5 mil indígenas e 2,4 mil amarelos.

Ao analisar as taxas de escolarização, observou-se o mesmo padrão verificado na análise por sexo: as taxas entre pessoas com autismo foram maiores do que as da população geral para todos os grupos de cor ou raça”, destacou o analista.

A maior diferença foi registrada entre as taxas de escolarização das pessoas de cor ou raça branca: 37,4% para as pessoas com autismo, frente a 23,5% para a população branca total, ou seja, uma razão de 1,6 vezes. No grupo pardo, a taxa de escolarização das pessoas com autismo (37,7%) também superou de forma expressiva a média do total de pardos (25,9%). Já entre os estudantes indígenas, a diferença foi menor: 36,0% entre os com autismo, contra 34,3% no total.

Maioria dos alunos diagnosticados no espectro autista está no ensino fundamental 

O levantamento do IBGE também investigou a taxa de escolarização das pessoas autistas, e constatou que essa taxa é maior entre os autistas (36,9%) do que na população sem esse diagnóstico (24,3%).

A distribuição percentual das pessoas de 25 anos ou mais de idade segundo o nível de instrução indicou que 46,1% das pessoas com diagnóstico de autismo estavam no grupo sem instrução e fundamental incompleto, enquanto, na população geral, esse percentual era de 35,2%.

Para os demais níveis de instrução, os percentuais da população com autismo foram inferiores aos observados na população geral. Destaca-se o grupo com médio completo e superior incompleto, no qual 25,4% das pessoas com autismo se encontravam, frente a 32,3% da população total.

O Censo aponta que a maioria dos estudantes diagnosticados no espectro autista – 508 mil crianças e adolescentes – está no ensino fundamental, o que representa 66,8% das crianças diagnosticadas com TEA no Brasil.

Já o ensino médio regular concentrava 93,6 mil estudantes com autismo e representavam apenas 12,3% dos que frequentavam a escola. Esses dados apontam que a trajetória escolar dos estudantes com autismo está concentrada nas etapas iniciais da educação básica.

Quando se observa a taxa de estudantes com autismo em relação ao total de matriculados por curso, a alfabetização de jovens e adultos se destacou com o maior percentual: 4,7% dos seus frequentadores declararam esse diagnóstico. A proporção foi ainda mais expressiva entre estudantes de 15 a 17 anos (9,1%) e 18 a 24 anos (10,6%). Destaca-se, ainda, que 3,8% das crianças que frequentavam creche tinham diagnóstico de TEA .

Já no ensino superior, esse percentual cai para 0,8%, refletindo os desafios enfrentados por estudantes com autismo para permanecer e progredir ao longo da trajetória educacional, sobretudo diante de barreiras de acesso, adaptação curricular e apoio institucional adequado.

Mais sobre a pesquisa

O “Censo Demográfico 2022: Pessoas com Deficiência e Pessoas Diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista – Resultados preliminares da amostra”, divulgado nesta sexta-feira (23) pelo IBGE em Natal (RN).

O Censo 2022 traz pela primeira vez informações sobre autismo, investigado no questionário da amostra por meio de um quesito no qual o informante declarava se os moradores do domicílio já tinham sido diagnosticados com autismo por algum profissional de saúde.

Os dados, desagregados por sexo, cor ou raça, grupos de idade e escolarização da população, são disponibilizados para Brasil, Grandes Regiões, Estados, Municípios e outros recortes geográficos compostos a partir de Municípios.

Os resultados poderão ser acessados no portal do IBGE e em plataformas como o SIDRA, e Panorama do Censo, no qual poderão ser visualizados, também, por meio de mapas interativos.

Com informações do IBGE e Genial Care

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