A empresária Marina Goulart, de 43 anos, enfrenta fortes crises de enxaqueca desde a adolescência. Antes do diagnóstico, passava o dia tomando analgésicos. Já chegou a tomar sete por dia. Além do desconforto causado pela dor crônica, ela enfrentava outra séria dificuldade: a vergonha, um sentimento comum entre pessoas que têm a doença e temem sofrer preconceito e discriminação.
Não é fácil contar para as pessoas que você está passando por uma crise. Há preconceito com os pacientes e as pessoas não sabem que a enxaqueca é uma doença. Já enfrentei situações em que precisei parar de trabalhar por não aguentar encarar a tela do computador, mas permaneci por medo do julgamento dos meus colegas. Sentia que as pessoas me olhavam como se eu estivesse de má vontade e com preguiça de entregar as minhas tarefas e a forma que eu encontrava para trabalhar era me medicando descontroladamente”, completa.
O relato de Marina representa uma realidade oculta, mas enfrentada diariamente por milhões de pessoas no Brasil e no mundo que convivem silenciosamente com a doença e seus sintomas: dor de cabeça intensa, náusea, vômitos e sensibilidade a luz e sons.
Segundo pesquisa apresentada no Migraine Trust International Symposium (MTIS) sobre o impacto da enxaqueca em seis países da América do Sul, Ásia e Austrália, 51% dos pacientes escondem que têm a doença: 62% deles não contam para os colegas de trabalho, 37% escondem dos amigos e 27% não se abrem nem com o cônjuge.
Dificuldades na busca por diagnóstico e tratamento adequado
O medo, vergonha e desconhecimento sobre a doença, também prejudicam a busca por especialistas e tratamento adequado. Artigo científico publicado no The Journal of Headache and Pain mostra que, do surgimento dos primeiros sintomas até procurarem um especialista, os pacientes de enxaqueca demoram, em média, 17,1 anos.
A enxaqueca é uma das doenças que acometem mais pessoas no mundo; ainda assim, continua menosprezada e confundida por boa parte da população como “apenas uma dor de cabeça”. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 40% da população mundial sofrem de distúrbios envolvendo dores de cabeça frequentes, dentre as quais, a enxaqueca é a mais comum – estresse, maus hábitos alimentares, preocupações e às vezes até mesmo a falta de uso de óculos podem provocar a dor,
A estimativa é que essa condição acomete mais de 32 milhões de pessoas apenas no Brasil. O número representa duas pessoas em cada 13 e, mais alarmante, uma delas esconde a doença até mesmo dos familiares e amigos mais próximos. Segundo estimativas da Sociedade Brasileira da Cefaleia (SBCe), 95% dos brasileiros experimentarão pelo menos um episódio de dor de cabeça na vida, com 70% das mulheres e 50% dos homens sofrendo mensalmente.
Enxaqueca não tem cura, mas pode ser controlada
Considerada uma doença neurológica crônica, a cefaleia ou ‘dor de cabeça’, é também uma das mais incapacitantes, especialmente em adultos com menos de 50 anos. Neste Dia Nacional de Combate à Cefaleia, comemorado em 19 de maio, a Associação Brasileira de Cefaleia em Salvas e Enxaqueca (Abraces) e a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe) chamam atenção para o problema.
As pessoas tomam analgésicos porque entendem que estão com dor de cabeça e que esta é a solução. O problema é que este tipo de medicação não é indicada para o tratamento da enxaqueca e, ao invés de solucionar um problema, o comportamento apenas posterga a procura por um especialista e o início do tratamento adequado, contribuindo para o aumento do tempo e da intensidade das crises”, comenta o médico neurologista Mario Peres, presidente da Abraces e presidente eleito da Sociedade Internacional de Cefaleia.
Segundo ele, a enxaqueca não tem cura, mas é controlável. Peres explica que existem vários tratamentos possíveis e é por isso que ir ao médico é primordial. O tratamento envolve medicamentos e terapias alternativas, como mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, cirurgia ou fisioterapia.
Cada paciente receberá um tratamento individualizado de acordo com as suas principais queixas e sintomas, dentre tratamentos não farmacológicos como farmacológicos.”
Não é ‘apenas uma dor de cabeça’: principais causas da cefaleia
As causas da doença podem incluir estresse, fatores genéticos, mudanças hormonais e condições médicas subjacentes, como doenças crônicas, diabetes, pressão alta e deficiências imunológicas, entre outras.
A campanha Maio Bordô, promovida pela Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe), busca conscientizar sobre a importância do diagnóstico e tratamento precoces das cefaleias, que são dores de cabeça classificadas em primárias, como cefaleia tensional e enxaqueca, e secundárias – as que são causadas por outras condições. A cefaleia tensional é descrita como uma dor opressiva, enquanto a enxaqueca pode ser pulsante, acompanhada de náuseas e sensibilidade à luz.
Se você sente dores de cabeça por mais de 3 DIAS no mês, durante mais de 3 MESES, isso NÃO É NORMAL. Mesmo que pareça ter uma causa justificável, é essencial procurar um médico. Você precisa de tratamento”, ressalta a SBCe.
Enxaqueca custa R$ 170 bilhões por ano ao PIB Brasileiro
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as dores de cabeça, categoria que inclui a enxaqueca, são a terceira principal causa de anos de vida ajustados à deficiência (DALYs), um índice que quantifica o fardo das doenças em uma população. Infarto e demência ocupam as primeiras posições dessa lista, respectivamente.
Fora o impacto social, a doença gera prejuízos até mesmo o PIB dos países. Dados da Federação Latino-Americana da Indústria Farmacêutica apontam que o impacto socioeconômico da doença caracterizada por dores de cabeça ultrapassa os 800 bilhões de reais, o que corresponde a 142,9 bilhões de dólares.
Segundo a pesquisa “Impacto socioeconômico das principais doenças em oito países da América Latina”, realizada pelo instituto WifOR GmbH, o Brasil é o segundo país mais afetado pela enxaqueca na América Latina, atrás apenas da Argentina. Apenas em 2022, o Brasil perdeu 1,6% do PIB, cerca de US$ 30 bilhões ou R$ 168 bilhões, devido à doença.
Na faixa etária entre 5 anos e 19 anos, a enxaqueca é a doença mais comum e, na faixa de 20 anos a 59 anos, a população adulta, é a segunda. Ou seja, a doença afeta diretamente a fase mais produtiva da vida e é a principal causa de incapacidade no mundo.
Além disso, a enxaqueca é a principal causa de incapacidade entre mulheres na faixa etária de 18 a 49 anos, afetando diretamente a produtividade e a qualidade de vida. Estima-se que 31,4 milhões de brasileiros convivam com a condição, sendo que apenas 40% desses casos são diagnosticados e tratados adequadamente.
Estudos recentes destacam o significativo impacto socioeconômico da enxaqueca no país. Uma pesquisa realizada pelo Instituto WifOR, encomendada pela Federação Latino-Americana da Indústria Farmacêutica (Fifarma), revelou que o Brasil registrou perdas econômicas de aproximadamente R$ 800 bilhões entre 2018 e 2022 devido à enxaqueca, representando cerca de 1,6% do PIB nacional.
Agenda Positiva
Maio Bordô: Congresso Nacional e Cristo Redentor ganham iluminação especial
O Congresso Nacional fica iluminado na cor bordô na noite desta quarta-feira (21/5), Dia para fazer um alerta sobre a cefaleia – uma doença sem cura que é a principal causa de incapacitação das mulheres. Na quarta, das 20h às 21h, o monumento ao Cristo Redentor, símbolo do Brasil, será iluminado na cor bordô, marcando um dos pontos altos da campanha nacional Maio Bordô – 3 é Demais.
A imagem do monumento iluminado em bordô, visível de diversos pontos do Rio de Janeiro, vai emocionar quem contemplá-la e trazer visibilidade a uma condição frequentemente subestimada: a cefaleia é uma doença neurológica, muitas vezes incapacitante, que exige atenção médica especializada. A iluminação é um gesto simbólico de grande impacto, reforçando a mensagem de que dores de cabeça frequentes não devem ser ignoradas”, afirma a SBCe.
Durante todo o mês de maio, conhecido como Maio Bordô, a SBCe promove a campanha “3 é Demais”, alertando a população sobre os diferentes tipos de cefaleia, suas causas, sintomas e tratamentos. A mensagem central da campanha é clara:
A SBCe reforça seu compromisso com a promoção da saúde e da qualidade de vida, convidando a sociedade a reconhecer a dor de cabeça não como algo comum, mas como um sinal que merece investigação e cuidado”, afirma a entidade.
A ação no Santuário Cristo Redentor conta com a parceria da Libbs para reforçar a mensagem da campanha. Essa colaboração representa um gesto de comprometimento com a causa da conscientização sobre as cefaleias e contribui para ampliar o alcance e o impacto da iniciativa.
Ações da campanha:
- Criação de conteúdo educativo: A SBCe disponibiliza materiais informativos sobre os principais tipos de cefaleia — como enxaqueca, cefaleia tensional e cefaleia em salvas — abordando suas causas, sinais de alerta e opções de tratamento. Esses conteúdos são compartilhados nas redes sociais e canais oficiais da entidade, ampliando o alcance da informação.
- Eventos e ações locais e virtuais: Associados da SBCe em diversas regiões organizam eventos, palestras e rodas de conversa, tanto presenciais quanto online, discutindo temas como prevenção, diagnóstico precoce e novas abordagens terapêuticas. Essas atividades visam aproximar o conhecimento científico da população, promovendo uma cultura de cuidado com a saúde neurológica.
- Distribuição de materiais educativos: A campanha também envolve a produção e distribuição de materiais gráficos — como folhetos, cartazes e banners — utilizados em unidades de saúde, consultórios e eventos públicos, ampliando o impacto da mensagem em diferentes comunidades.
Com Assessorias