Com mais acesso à internet entre crianças e adolescentes, crescem também os riscos de exposição à violência sexual on-line. Com o aumento da idade, cresce também o tempo de uso da internet e a variedade de aplicativos, o que eleva em até 1,3 vez o risco de violência online para jovens de 17 e 18 anos em comparação aos de 15. Em média, a pesquisa apontou que os adolescentes passam quatro horas diárias conectados, principalmente pelo celular e fora do contexto escolar.
A segunda etapa da pesquisa Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet, realizada ChildFund Brasil com foco no abuso e exploração sexual on-line também aprofunda a compreensão do estudo a partir da perspectiva dos adolescentes. Os resultados indicam uma predominância de hábitos on-line entre os adolescentes.
A grande maioria (79%) dos hobbies mencionados são digitais, e apenas 21% envolvem atividades off-line, como desenhar, passear ou praticar esportes. Aplicativos como Instagram e TikTok são os mais citados. Esses dados reforçam o alerta para a exposição prolongada a conteúdos e interações potencialmente perigosas no ambiente virtual.
Apesar de grande parte dos adolescentes declararem ter recebido alguma orientação sobre o uso da internet, 94% afirmam não saber como proceder em situações de risco de violência, como denunciar esses casos. A reação mais comum diante desses contextos é o bloqueio de perfis suspeitos, em vez da formalização de denúncias.
Isso contribui para a subnotificação do problema e dificulta ações mais efetivas de combate à violência. Além disso, apenas 35% dos adolescentes mencionaram algum tipo de controle das atividades digitais por parte dos pais e 45% defenderam explicitamente o direito à privacidade online.
A percepção de insegurança também varia entre os gêneros. Enquanto 21% das meninas afirmaram sentir-se inseguras on-line, apenas 10% dos meninos relataram o mesmo. Elas também registraram maior incidência de bullying virtual.
O estudo traz uma análise detalhada do comportamento e do estado emocional dos adolescentes em ambientes digitais e revela que 54% dos adolescentes brasileiros já sofreram violência sexual na internet, o que corresponde a 9,2 milhões. Os casos ocorreram com ou sem a interação de um agressor. No estudo, foram ouvidos cerca de 8.500 adolescentes de 13 a 18 anos, de todas as regiões do país, especialmente do Nordeste e Sudeste.
O lançamento aconteceu no último dia 15 de maio, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), e integra a agenda da campanha Maio Laranja, mês de conscientização e enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes. Neste ano, o tema da mobilização promovida pelo ChildFund Brasil é Criança segura, futuro garantido, chamando atenção para os perigos que rondam o universo digital.
Essa etapa da pesquisa demonstra claramente que os adolescentes não se sentem seguros na internet e não sabem como denunciar casos de violência. Também revela que eles não têm acesso à educação digital estruturada que os ensine a navegar com segurança”, afirma Mauricio Cunha, diretor de país do ChildFund Brasil.
Instagram é um dos aplicativos mais inseguros, aponta os adolescentes
A pesquisa identificou 14 formas de violência vivenciadas por adolescentes em ambientes digitais, divididas em quatro categorias: privacidade e segurança, ameaças e assédio, conteúdo sensível e discussões online. As violações mais recorrentes incluem invasão de contas, pedidos de fotos e dados pessoais, bullying, comentários ofensivos e exposição em grupos. Entre os ambientes virtuais mais citados como inseguros, o Instagram lidera com 68% das menções, seguido pelo jogo Roblox, com 12%. Também foram destacados os riscos do jogo Free Fire, associado ao assédio verbal, e do TikTok, com exposição a conteúdos inadequados.
Diante desse cenário, o estudo recomenda ações integradas para conscientizar e prevenir, como canais de denúncia acessíveis, campanhas educativas sobre privacidade, apoio emocional em escolas e capacitação de pais e educadores para identificar e acolher sinais de sofrimento.
O ChildFund Brasil tem alertado sobre a importância da educação digital de crianças e adolescentes, para prevenir os casos de todas as formas de violência online. Acreditamos que somente assim, podemos mudar essa realidade. Por isso, a organização tem investido em metodologias e cursos que ensinam como navegar com segurança. É importante que as famílias também aprendam, para saber ensinar”, ressalta Mauricio.
Políticas públicas devem ser reforçadas
Com 58 anos de atuação no Brasil, o ChildFund Brasil reforça a urgência da criação e do fortalecimento de políticas públicas que garantam a proteção da infância também no ambiente digital. A organização defende que o país avance na adaptação de experiências internacionais bem-sucedidas, respeitando as realidades jurídicas, sociais e econômicas do Brasil.
Entre as medidas apontadas estão a criminalização de condutas específicas, como grooming e sextorsão, a exigência legal de tecnologias de detecção de conteúdo abusivo por plataformas digitais, como o PhotoDNA, e a padronização de protocolos intersetoriais entre conselhos tutelares, forças de segurança e serviços de saúde. Além disso, o acompanhamento das vítimas após a denúncia, prática já adotada em países como Canadá e Austrália, pode ser uma forma de evitar novos traumas e favorecer a reintegração social.
É urgente promover ações educativas contínuas, que vão além das orientações genéricas sobre o uso da internet, e ofereçam aos adolescentes conhecimento concreto sobre como se proteger e denunciar abusos online. O incentivo a atividades offline, o fortalecimento das redes de apoio familiar e a formação de educadores e responsáveis também são caminhos para reduzir os riscos enfrentados por crianças e adolescentes no mundo virtual”, complementa Maurício Cunha, diretor de país do ChildFund Brasil.
Organização alerta para pais e responsáveis sobre violência na internet contra crianças e adolescentes neste Maio Laranja
O grande problema do acesso ao ambiente digital é a falta de supervisão. Hoje, temos muitas ferramentas de controle parental que podem ajudar, tanto para pais de crianças menores, quanto para responsáveis por adolescentes. A tecnologia pode ajudar e oferecer diversos ensinamentos, mas é preciso que sempre haja um adulto supervisionando os acessos”, afirma Mauricio Cunha.
A primeira parte da pesquisa conseguiu identificar os principais fatores que deixam os adolescentes vulneráveis na internet, o que possibilita que pais e responsáveis ajam com um maior embasamento para evitar os casos. Nesta segunda parte, esperamos contribuir ainda mais para a proteção de crianças, jovens e adolescentes, principalmente na criação de leis e de estratégias de defesa”, destacou Mauricio.
Para saber mais informações sobre a pesquisa completa, acesse o site do ChildFund Brasil, em www.childfundbrasil.org.br.
Denúncias no Telegram aumentam
O ambiente virtual exige atenção. Segundo levantamento da SaferNet, o número de denúncias envolvendo usuários do Telegram que compartilharam imagens de abuso e exploração sexual infantil aumentou 78% entre o primeiro e o segundo semestres de 2024.
Em 2024, a SaferNet recebeu 52.999 novas denúncias (não repetidas) de crimes relacionados a imagens de abuso e exploração sexual infantil na internet (“pornografia infantil”), 26% menos que as 71.867 de 2023 – o recorde absoluto da série histórica iniciada em 2006 pela ONG, mas não é a hora de “baixar a guarda”.
Apesar da queda, o número de denúncias de crimes envolvendo imagens de abuso e exploração sexual recebidas pela Safernet em 2024 é a quarta maior marca da série histórica, iniciada há 19 anos”, afirma o presidente da SaferNet, Thiago Tavares.
Mesmo com a queda nas denúncias de usuários da internet, mais casos têm sido investigados. A Polícia Federal realizou, em 2023, por exemplo, 1074 operações de combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes contra 502 em 2022, um aumento de 114%.
A SaferNet atualmente realiza buscas ativas de conteúdos criminosos e os links com indícios de crime localizados por iniciativa da ONG aumentaram, levando a organização brasileira ao quinto lugar do ranking de cooperação internacional da InHope. Em 2024, para cada link denunciado por usuários da internet, a SaferNet localizou outros 3,5 usando tecnologias de ponta de inteligência artificial combinadas com análise humana.
Além disso, o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de países com mais denúncias de páginas que divulgam esse tipo de conteúdo, conforme relatório da rede internacional InHope.
Agenda Positiva
Maio Amarelo: mobilizações ocorrem antes e depois da data
O ano de 2025 marca o 25º ano da mobilização em torno do 18 de Maio, data em que é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, instituído por lei federal no ano 2000.
Criada pela Lei Federal 14.432 e sancionada em 2022, a campanha do Maio Laranja se deu pelo trabalho de incidência política do ChildFund Brasil e de outras organizações sociais no Congresso Nacional. É a terceira vez que ela acontece no Brasil e é uma ação da organização, que atua na promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes há 58 anos no país e busca diminuir os casos de violência infantil.
O principal objetivo do Maio Laranja é sensibilizar a população, afinal, todos são responsáveis pelos cuidados com as crianças, jovens e adolescentes. Desde o início da campanha, o foco do ChildFund Brasil é voltado ao ambiente virtual, que pode ser o espaço propício para a ocorrência de diversos tipos de crimes, especialmente diante do cenário atual do país.
Os celulares, tablets e o acesso à internet para assistir a vídeos e filmes funcionam como formas de distração para crianças e adolescentes, mas também são grandes aliados de pais e responsáveis. Neste ano, o tema da campanha do ChildFund Brasil – Criando Futuros, é “Criança segura, futuro garantido”, e alerta para os perigos existentes no ambiente virtual
A SaferNet, organização social de referência no combate ao abuso e à exploração sexual infantil na internet estará mobilizada em diferentes ações da campanha “Faça Bonito” pelo país. Depois de ações em Belo Horizonte e Recife, a organização participa de atividades no dia 19 de maio, às 15h30, na Semana Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes em Brasília.
No dia 21 de maio, o assistente de projetos da SaferNet, Gustavo Barreto, que também integra o Conselho Nacional da Juventude, como representante da sociedade civil, participa da programação da semana nacional em um painel sobr protagonismo de crianças e adolescentes, no qual serão apresentados resultados do programa Cidadão Digital, da SaferNet, baseadas nos eixos do Programa Nacional de Enfrentamento da Violência contra Crianças e Adolescentes (PNEVSCA).
Também no dia 21, às 8h, a estudante de jornalismo e embaixadora da SaferNet, Julia Fernandes, falará sobre o uso seguro e consciente de tecnologias e da internet com adolescentes de 12 a 15 anos, alunos do 6º ao 9º ano, no Laboratório de Educação Digital da Escola Municipal de Ensino Fundamental Raimundo Correia, em São Miguel Paulista.
No dia 29 de maio, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, a diretora de projetos especiais da SaferNet, Juliana Cunha, e a estudante de jornalismo e embaixadora da SaferNet, Julia Fernandes, participam da Rio 2C (Rio Creative Conference), no painel “Infâncias Conectadas: Prioridades e Direitos na Era Digital”.
Com Assessorias