Como oferecer uma internet segura para crianças e adolescentes?

Childhood Brasil dá dicas para pais e responsáveis; Diálogo é fundamental para orientar meninas e meninos sobre acesso à web

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

O uso da internet para as mais diversas atividades já é uma realidade para a maioria dos brasileiros. Em 2021, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios apontou que 90% dos lares têm acesso à web. Em números, são 65,6 milhões de domicílios e um contingente de 155,7 milhões de pessoas conectadas no Brasil.

internet é parte da rotina de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos no Brasil. Levantamento TIC Domicílios, do Centro Regional de Estudo para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), apontou que 93% dos brasileiros nessa faixa etária fazem uso da web.

Dessa multidão de 22,3 milhões de pessoas conectadas, 93% utilizam o celular para acessar a rede e 58% usam o computador. É fato que as novas gerações integram o mundo digital. Mas as informações nem sempre são boas. Entre a população adulta, quatro em cada 10 pessoas afirmam que recebem notícias falsas todos os dias e 65% temem ser vítimas de informações mentirosas, as fake news, de acordo levantamento do Poynter Institute, com apoio do Google.

O cenário é ainda mais temeroso levando em conta estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, A pesquisa revela que as notícias falsas circulam 70% mais rápido que as verdadeiras e alcançam muito mais gente. No meio disso tudo estão estão jovens e crianças ainda despreparados para lidar com uma vastidão de informações divulgadas pela rede.

No Dia da Internet Segura (07/02), a Childhood Brasil, organização fundada há mais de 20 anos pela Rainha Silvia da Suécia, reforça a importância de proteger e orientar crianças e adolescentes no uso da internet. A plataforma proporciona conectividade para a educação e o entretenimento, mas também pode expor menores de idade a ameaças do mundo virtual, como: assédio, bullying cibernético, pornografia, desinformação, exposição à conteúdo inadequado, violência de gênero, furto e coleta de dados.

“Meninas e meninos com pouca orientação sobre o uso da internet podem ficar vulneráveis, principalmente nas plataformas de jogos on-line, redes sociais e chats, a tentativas de aliciamento”, explica Laís Peretto, diretora-executiva da Childhood Brasil.

A violência sexual no ambiente on-line pode ocorrer de várias formas. As vítimas podem ser coagidas a fornecer imagens ou vídeos ou adultos podem fazer contato casual com crianças e adolescentes por chats ou games, ganhar sua confiança e introduzir conversas sexuais, entre outros.

Existe também uma preocupação com o consumo de pornografia, o que pode levar a uma reprodução da violência de gênero, valorização de práticas sexuais violentas e até a uma dependência desse tipo de material por crianças e adolescentes. O avanço das tecnologias trouxe também novos modos de atuação, como o aliciamento sexual (grooming), cyberbullying, revanche sexual e até transmissão ao vivo de abuso sexual de crianças e adolescentes.

Diálogo, a ferramenta fundamental

Conversar sobre o uso da ferramenta com crianças e adolescentes é mais importante do que impor proibições rígidas. Assim como todo processo educativo, há limites que precisam ser definidos e que devem estar claros.

“Um bom caminho para garantir a auto-proteção da criança ou adolescente é o diálogo. É muito importante falar sobre o que é estar seguro na internet, limites do corpo mesmo no mundo virtual, conceitos sobre privado e público e o que fazer caso sinta que algo errado está acontecendo. Sabemos que não é aconselhável deixar uma criança atravessar a rua sozinha sem orientação e essa regra também deve valer para o uso da internet”, reforça Laís.

Os pais e responsáveis devem ficar atentos e estranhar se crianças e adolescentes passarem a permanecer por muito tempo no celular ou em chats com pessoas que até então não faziam parte do círculo social. Ou se passarem a agir como se estivessem escondendo algo, como fechar um aplicativo quando um adulto se aproxima. E é recomendável lembrá-los que nenhum aplicativo impede que uma imagem enviada seja capturada e depois compartilhada sem o consentimento de quem está na fotografia.

Participação da família no cotidiano digital é essencial

Para enfrentar esse grande desafio, especialistas apontam que a participação da família no cotidiano digital dos pequenos é essencial. Regras precisam ser estabelecidas, porém, mais importante do que o controle, as crianças precisam aprender a respeitar limites para ter autonomia e liberdade.

“Educar é fundamental para que a criança ou o jovem construa a autonomia, adquira liberdade para se relacionar com o mundo de forma responsável. É importante compreender o nível de responsabilidade de cada criança e jovem antes de dar liberdade à eles” afirma a diretora da Escola Lumiar, Graziela Miê Peres Lopes.

Ela comenta que é natural o interesse pelos conteúdos online e é importante que a família se comunicar com a criança e entre em contato com as informações que ela está acessando. Restringir o acesso de uma vez por todas, com limites rígidos de horários, pode não ser a melhor opção, avalia o publicitário e fundador da startup De Criança Para Criança, Vítor Azambuja.

“É importante estabelecer horário, mas também participar do mundo da criança. Perguntar o que ela está fazendo, o que está vendo, participar. Quando você diz não toda hora, você se exclui do mundo do seu filho e filha, e eles não entendem o motivo”, afirma.

Vitor pondera que não adianta explicar a uma criança ou adolescente que ele está perdendo tempo com informações inadequadas ou acessando conteúdos impróprios. “Importa você se juntar e ver o que a criança está vendo, estabelecer cumplicidade para que ela se sinta segura”, diz.

Ele lembra que usar a internet com essa enormidade de conteúdos e informações pode gerar grande ansiedade. “Estar do lado do filho ou da filha, sabendo o que estão fazendo, um entrando no mundo do outro, pode ser até um alívio para que entendam melhor o mundo. As crianças precisam de regras e de segurança”, alega.

Graziela explica que as famílias devem estar atentas e acompanhar de perto para conferir se os conteúdos acessos pelas crianças e adolescentes são adequados e não prejudiciais. Segundo ela, é preciso despertar o interesse dos pequenos e jovens por outras atividades e pelo uso saudável da internet.

“É importante pensar em como ampliar o repertório das crianças. Às vezes ela não tem referência de coisas que ela pode construir, pensar, brincar e jogar. É comum hoje as crianças estarem com tela na hora da refeição, sem prestar a atenção no que estão comendo. Muitas vezes é isso que ela vê no entorno dela, observando inclusive as pessoas mais velhas. Não é saudável para ninguém, criança, jovem ou adulto, permanecer tanto tempo diante de uma tela”, diz a diretora.

Geração cobaia

O universo dos nativos digitais ainda é desconhecido. Segundo Azambuja, essas crianças fazem parte de uma geração cobaia. “É a primeira geração que tem tanto acesso à internet. Então só vamos saber o que vai acontecer daqui a alguns anos. Só poderemos avaliar o resultado com o passar dos anos. Pode dar muito certo e pode dar muito errado. Vamos saber depois”, afirma.

Mesmo para os adultos, o mundo real e o virtual se misturam, e a internet tem muitos benefícios. Permite maior interação e troca de ideias. “Podemos visitar museus, ter contato com produções de arte. Há várias opções. Podemos assistir a conteúdos que nos deixam passivos, até hipnotizados, ou conteúdos que façam pensar, criar, ter novas ideias, conexões. É importante entender o que está sendo feito diante da tela” aponta Graziela.

As crianças precisam ser ensinadas a ter discernimento sobre o que é conteúdo de qualidade. A diretora comenta que a família deve conversar com o filho e a filha para entender o que eles veem, trazer referências de coisas saudáveis e também ativas. “É importante conhecer o mundo digital, mas é importante fazer atividades no mundo físico. É preciso equilibrar e ter diversidade para estimular nosso cérebro, manter o corpo saudável e crescer de forma benéfica”, diz.

Azambuja afirma que as famílias devem dar outras opções para a criança, não apenas o celular. “Fazer passeios, levar ao teatro, ao cinema, ao museu. Oferecer um livro interessante, entrar no mundo das crianças de outras maneiras, mostrando atividades lúdicas e divertidas”, comenta. Graziela acrescenta que o segredo é aprender a lidar com a liberdade e se comportar de forma responsável. “O limite é fundamental porque é um cuidado amoroso para que a criança e o jovem sejam preservados de coisas com as quais ainda não conseguem lidar, decidir. Limite é fundamental e liberdade também. É preciso ter discernimento”, diz.

Dicas da Childhood Brasil para o uso da internet

Lembre-se de que o mundo virtual faz parte do mundo real, com perigos que não podemos ignorar.

Pais e responsáveis devem participar/mediar a experiência do uso da internet por crianças e adolescentes;

Fale sobre segurança na internet com crianças de todas as idades quando elas se envolverem em atividades on-line;

Avalie e aprove jogos e aplicativos antes de serem baixados;

Acompanhe o que seu filho ou filha acessam internet;

Verifique se as configurações de privacidade estão definidas no nível mais alto para sistemas de jogos on-line e dispositivos eletrônicos;

Estabeleça regras sobre o uso da internet e mantenha os dispositivos eletrônicos em uma sala comum, aberta para todos da casa;

Explique que as imagens postadas on-line estarão permanentemente na internet;

Oriente a sempre se comunicar com educação. Respeito deve valer em qualquer espaço.

A velha regra ‘não fale com estranhos’ também serve para a comunicação virtual.

Como agir em casos de violência sexual contra crianças e adolescentes?

Se você SUSPEITAR que uma criança ou adolescente está sendo vítima de violências, denuncie. Os canais são: Disque 100 / Ligue 180 / APP Direitos Humanos BR /Delegacia On-Line;

Se você PRESENCIAR ou TESTEMUNHAR uma situação de violência contra criança ou adolescente chame a polícia militar (ligue 190).

Se você IDENTIFICAR um caso de violência on-line envolvendo uma criança ou adolescente, denuncie. Os canais são: Safernet / APP Direitos Humanos BR / Delegacia On-Line.

Todas as formas de denúncia são anônimas.

Com Assessorias

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

You may like

In the news
Leia Mais
× Fale com o ViDA!