Formigamento, dor, sensação de ardência ou picada, perda de sensibilidade são alguns dos sinais de danos aos nervos do pé e má circulação, causados pelo diabetes. Uma das consequências mais graves desta doença é a disfunção conhecida popularmente como “pé diabético”, a manifestação indelével da neuropatia diabética, que é uma das maiores causas de amputação de membros inferiores nas sociedades modernas, só atrás de incidentes traumáticos, como por exemplo, conflitos armados, acidentes de trânsito e guerras civis.

O “Pé Diabético” afeta a sensibilidade dos nervos e a circulação, levando a mudanças nas estruturas ósseas e musculares. A doença arterial periférica diminui o fluxo de sangue para os pés e é um dos problemas que acomete muitas pessoas com diabetes com úlceras e infecções que podem ocasionar amputação do(s) membro(s). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada minuto, três pessoas são amputadas no mundo por consequência de diabetes.

Segundo o Ministério da Saúde, um quarto dos diabéticos desenvolve úlceras nos pés e 85% das amputações de membros inferiores são feitas em pessoas com diabetes. O Pé Diabético ocorre com a evolução do diabetes mal controlado.  Os casos de amputação ocorrem quando o paciente, sem sensibilidade, fere os pés e não dá a devida atenção ao ferimento. O machucado se agrava e pode evoluir ao ponto de ser irremediável a retirada de uma parte ou de todo o membro inferior.

Muitas vezes o diabético pisa em algum material cortante, mas nem sente o corte, pois não há sensibilidade alguma nos pés, o que é muito sério, pois o machucado pode infeccionar e até levar à amputação”, conta Marcio Krakauer, médico da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).

Informação pode evitar longas internações

As complicações do diabetes envolvem feridas e infecções nos membros inferiores, falência renal, doenças cardiovasculares, cegueira, entre outras, e representa hoje uma das maiores causas de ocupação de leitos hospitalares, acarretando longos períodos de internação, trazendo assim um impacto financeiro significativo para o sistema público de saúde.

Dados apontam que 20% das internações por complicações do diabetes são devido a lesões nos membros inferiores. Por isso, neste Dia Mundial do Diabetes, comemorado em 14 de novembro, a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) alerta para a importância de ficar atento aos pés.

Presidente da SBACV, o cirurgião vascular Roberto Sacilotto, afirma que tanto os indíces de amputação como os custos financeiros gerados pelas longas internações poderiam ser reduzidos com a disseminação de informação. “É preciso conscientizar a população para a importância do diagnóstico do diabetes e seu tratamento correto, pois até mesmo quem sabe ter a doença não a trata devidamente”, aponta.

“A neuropatia diabética é uma agressão ao sistema nervoso sensitivo e hoje é considerada um marcador para doença renal. Assim, ao perder a sensibilidade dos membros é possível identificar de maneira precoce a agressão aos rins do paciente e iniciar um tratamento para evitar a falência do órgão”, afirma o coordenador da Comissão Nacional de Atuação Multidisciplinar de Diabetes e Pé Diabético da SBACV, Eliud Garcia Duarte Júnior.

Segundo ele, portadores de diabetes podem desenvolver ainda arteriopatia periférica e vasculopatia diabética, que são agressões nas artérias que podem ficar obstruídas e é mandatório o restabelecimento da circulação arterial devido ao risco de vida.

“A neuropatia e vasculopatia diabética são uma tragédia porque unem fatores de difícil controle se não trabalhadas precocemente. Por isso a atuação preventiva é extremamente importante, porque muda a curva tanto de mutilação quanto de sobrevida. Um paciente quando amputa um membro, 50% deles já apresentam agressões arteriais graves nos membros inferiores e em outros órgãos, como coração e rins, e morrem pouco depois da amputação”, explica Eliud.

Cuidados com os pés

Segundo a Fundação Pró-Renal, a pessoa que apresentar alguma deformidade, ferida ou outras situações diferentes nos pés, deve consultar sempre um podólogo para as devidas orientações. “Muitas vezes conseguimos evitar problemas mais sérios e até uma amputação ao realizar a prevenção e os tratamentos devidos”, ressalta  Ruth Pimenta, podóloga e enfermeira da Fundação Pró-Renal.

O paciente com diabetes tem a perda da sensibilidade, mudança na estrutura óssea dos pés; tudo isso se dá pela neuropatia diabética. Quando o paciente já apresenta estas alterações não existe cura, somente um controle dos sintomas mediante ao paciente controlar o diabetes para não ter mais complicações”, explica.

No entanto, ainda segundo o Ministério da Saúde, muitas amputações são evitáveis quando se tem cuidados regulares, como acompanhamento médico e o uso de sapatos adequados. “Sempre orientando quanto a hidratação, secar bem os pés após o banho, não cortar as unhas em casa, não usar chinelos de dedo, olhar os sapatos antes de calçar, utilizar sapatos adequados para as alterações em seus pés”, complementa a podóloga.

Pele ressecada e rachadura nos pés também são comuns, além do aparecimento de calos. Os médicos recomendam massagear os pés com cremes hidratantes, porém, com cuidado, para não deixar resíduos entre os dedos, pois a umidade favorece proliferação de fungos e infecções. Existem limpezas e proteções especiais aos pés e é recomendado o uso de pedra pome nos pés ainda úmidos para o diabético que tiver muitos calos, mas sempre com aplicação de um creme hidratante indicado pelo médico.

Teste para neuropatia diabética chega ao Brasil

“Dois em cada três pacientes que já foram diagnósticos com a Neuropatia diabética, popularmente conhecida como síndrome do pé diabético, ou que ainda poderão desenvolver a doença, nunca tiveram seus pés examinados”, afirma Hermelinda Pedrosa, endocrinologista e atual presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, órgão de referência no combate à patologia.

A Masters Speciality Pharma, empresa farmacêutica internacional especializada na importação de medicamentos licenciados, apresenta para o Brasil, o Neuropad, primeiro teste de triagem da América Latina, para o tratamento de neuropatia diabética. O teste foi especialmente desenvolvido para oferecer resposta categórica em até 10 minutos sobre a prevalência ou não da neuropatia, e poderá ser aplicado no ambiente médico ou na casa de qualquer cidadão brasileiro, pois a sua utilização é extremamente simplificada: trata-se de um selinho de colagem fácil na superfície de pele, similar a um adesivo de ação curativa.

A maior causa de hospitalização entre pacientes diabéticos são as feridas no pé por ulceração. Ao constatar que a maior causa de ulceração no pé é a neuropatia diabética, devemos lembrar que o desenvolvimento da doença pode ser assintomático, entre outras coisas, pela perda de sensibilidade em tecidos dos pés”, ressalta a especialista.

Algumas regras devem ser cumpridas à risca

A Federação Internacional de Diabetes ressalta que mais de 50% dos casos de diabetes tipo 2 são preveníveis adotando-se bons hábitos de vida. Os fatores de risco mais importantes para o diabetes tipo 2 incluem excesso de peso corporal, falta de exercício e má alimentação. Quem já tem o problema deve estar sempre atento a feridas nos pés e monitorar regularmente a doença.

“O cigarro prejudica ainda mais a circulação, já comprometida pelo diabetes, além da pressão alta e colesterol descontrolado. É possível evitar uma série de complicações advindas do diabetes com a adoção de hábitos de vida saudáveis e consultas regulares ao médico”, acrescenta Dr. Krakauer. Veja outras orientações importantes:

– Controlar a glicemia com exames regulares

– Tomar a medicação diariamente

– Fazer o autoexame dos pés diariamente procurando bolhas e feridas

– Não fazer escalda-pés

– Secar muito bem entre os dedos para evitar frieiras

– Manter os membros inferiores bem hidratados

– Usar sapatos confortáveis, evitando sandálias de tiras entre os dedos

– Não andar descalço, principalmente em ambientes abertos quando o solo pode estar quente

Dor neuropática atinge até 30% dos pacientes

A diabetes possui grande impacto na qualidade de vida do indivíduo, em virtude das sequelas que se desenvolvem a partir de tratamentos inadequados ou pela simples evolução da doença ao longo dos anos. Dentre algumas destas consequências, a dor neuropática diabética é uma das mais debilitantes. Gerada a partir de uma lesão nervosa periférica ocorrida pelas alterações vasculares e danos metabólicos da hiperglicemia, característica do Diabetes Melito, a dor neuropática atinge de 10% a 30% dos portadores da doença e surge, mais frequentemente, a partir de 10 anos.

O problema interfere diretamente na rotina diária e nos relacionamentos dos seus pacientes. “A dor neuropática diabética causa desconforto e limitações provocadas pela dor, por forte queimação nos pés e também nas mãos, além de pontadas ou choques nas extremidades dos membros, especialmente os inferiores. Em algumas situações, pode apresentar dormência. Em geral, a crise pode ser desencadeada por estímulos simples como contato com a água e roupas”, conta Claudio Corrêa,  mestre e doutor em neurocirurgia pela Unifesp, com especialização no tratamento da dor pela Associação Médica Brasileira (AMB).

Embora a neuropatia diabética esteja presente no processo evolutivo do diabetes, ela pode ser evitada ou ter seu aparecimento adiado com algumas medidas simples. “Podem ser adotados o controle rígido da glicemia, o uso de calçados adequados – com palmilhas especiais -, a ingestão de vitaminas que regeneram a membrana responsável por envolver o nervo e também de antiagregantes plaquetários que previnem a obstrução dos pequenos vasos que irrigam os nervos”, explica o especialista.

Para os casos já em andamento, são indicados medicamentos que atuam no sistema supressor da dor, reduzindo significativamente essas manifestações dolorosas. Além dos medicamentos, são indicadas técnicas cirúrgicas de neuroestimulação. “Nestes casos, são implantados eletrodos para a emulação da medula espinal, que atuam tanto na melhora da condição dolorosa como da microcirculação periférica, em casos de diabéticos crônicos”, pontua Dr. Claudio. Embora a técnica não seja ainda desenvolvida pelo SUS, está presente no rol de procedimentos da ANS (Agência Nacional de Saúde) para cumprimento das operadoras de planos de saúde.

Com Assessorias

 

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