Você é do tipo que pede logo ao médico um antibiótico para combater aquela dorzinha de garganta que está incomodando? Pois é bom ter cuidado já que o uso exagerado desse tipo de medicamento pode contribuir para aumentar a resistência bacteriana e causar mais complicações e até a morte.
Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que, a partir de 2050, mais de 10 milhões de pessoas morrerão por ano por causa de bactérias resistentes a antibióticos, superando o número anual de óbitos por câncer, que hoje chega a 8,2 milhões.
Segundo especialistas, ao reduzir o arsenal médico para tratar infecções graves, a resistência bacteriana representa uma das principais ameaças à saúde global, com impactos sociais, econômicos e ambientais.
A resistência bacteriana aumenta o tempo de permanência dos pacientes em hospitais, demanda a realização de uma quantidade maior de exames médicos, eleva os preços dos tratamentos, além de contribuir para o aumento da mortalidade. Para especialistas, este é hoje um dos principais desafios nas áreas epidemiológica e terapêutica de infecções para várias especialidades médicas no Brasil e no mundo.
Em muitos países, antibióticos potentes usados para tratar infecções causadas pela bactéria Klebsiella pneumoniae, naturalmente encontrada na flora intestinal humana, já não funcionam na maioria dos pacientes. Esse dado, divulgado no primeiro relatório global sobre a resistência bacteriana emitido pela OMS, em 2014, serviu como ponto de partida para a criação de um sistema de vigilância global e de um plano de ação para enfrentar o problema.
Campanha alerta para o problema
Um dos resultados desse trabalho foi a criação da Semana Mundial do Uso Consciente de Antibióticos, implementada em 2015 e que, neste ano, acontece de 12 a 18 de novembro. O objetivo é chamar a atenção da população para o problema da resistência ao medicamento e disseminar a importância de não abusar dos antibióticos.
O médico infectologista Leandro Machado aponta que o uso correto de antibiótico já induz a resistência de bactérias, mas o uso incorreto acelera esse processo. Segundo o médico, usar antibiótico para tratar infecção viral, tomar dose errada, ou mesmo no tempo errado, aumenta a resistência bacteriana.
“Converse com seu médico, quando ele prescrever antibiótico, questione a real necessidade, o tempo correto para que se consiga controlar esse quadro das bactérias multirresistentes”, aconselha.
Para somar esforços a essa causa, a Pfizer lança este ano a nova edição da campanha “Pequenas Ações Salvarão Milhões de Vidas“, uma iniciativa global da companhia com foco no combate à resistência bacteriana. (Veja as ações da campanha em www.facebook.com/PfizerBrasil)
No Brasil, a ação ganhou uma estética própria e está voltada às práticas domésticas que podem auxiliar no consumo adequado de antibióticos. Por meio de uma coleção de cards digitais ilustrados, com mensagens claras e diretas, a ideia é esclarecer as dúvidas relacionadas a essas medicações. As sete peças serão divulgadas diariamente nas redes sociais, ao longo da semana temática.
Quando ocorre a resistência bacteriana
Leandro Machado explica que a resistência bacteriana é quando a bactéria desenvolve mecanismos para evitar a ação do antibiótico. “Um exemplo de mecanismo é a mudança das porinas. O antibiótico precisa entrar em contato com a bactéria, alguns através de porinas, que são como poros, passando por dentro delas, mas se a bactéria altera essa porina, o medicamento não consegue entrar, nem agir”, destaca.
Segundo ele, a bactéria pode ainda, criar uma bomba de efluxo, como se tivesse uma bomba de água dentro dela, expulsando o remédio. Outro mecanismo é a produção de uma enzima que destrói o antibiótico, o deixa inativo e sem efeito.
Não é que ela seja mais grave, ou mais potente que as outras, esse tipo é mais difícil de tratar porque não tem antibiótico para ela, a solução seria então tentar uma associação de antibióticos ou testar alguns que tenham toxidade”, complementa o infectologista.
Controle de antibióticos também em animais
Bactérias normalmente sofrem mutações até se tornarem imunes a antibióticos. Mas, de acordo com a OMS, o uso inadequado ou excessivo dessas medicações, bem como seu emprego na criação de animais, faz com que esse processo ocorra de forma mais acelerada.
Diante desse cenário crítico, estamos convencidos da necessidade de um trabalho educativo que realmente chegue até as pessoas e converse com elas, por meio de uma linguagem leve e clara. Assim, apostamos no alcance das redes sociais para levar essa mensagem adiante”, diz o diretor médico da Pfizer, Eurico Correia.
A infectologista Flávia Rossi, que integra o Advisory Group on Integrated Surveillance of Antimicrobial (Grupo de Vigilância Integrada de Resistência Microbiana) da OMS, reforça a importância de se considerar o impacto das questões ambientais no combate ao problema.
Assim como é preciso controlar o uso de antibióticos nos pacientes dentro e fora dos hospitais, são necessários um diagnóstico microbiológico rápido e um controle na utilização de antibióticos na criação de animais. Tudo isso precisa estar associado a ações de saneamento básico e manejo de esgoto. Esse olhar integral da saúde é fundamental para avançar no enfrentamento do problema “, esclarece.
Higienizar as mãos e manter vacinação em dia
Para Eurico Correia, educar a população para o consumo consciente de antibióticos inclui esclarecer dúvidas sobre sua posologia, como o respeito ao tempo de prescrição e ao horário das doses, além dos problemas relacionados à interação com outros medicamentos e a importância do descarte seguro para essas medicações. “Todas essas questões são abordadas pela campanha digital”, complementa Correia.
Outras medidas simples, como higienizar as mãos com frequência e manter a carteira de vacinação em dia, como forma de evitar o uso de antibióticos para tratar infecções que poderiam ser prevenidas, também são ferramentas importantes no enfrentamento da resistência bacteriana. Em outra perspectiva, apoiar os profissionais de saúde para a escolha adequada do tratamento constitui outro pilar essencial.
Por isso, no ano passado, a Pfizer lançou a plataforma Atlas, uma base de dados desenhada para proporcionar fácil acesso a informações críticas sobre a eficácia de tratamentos com antibióticos e novos padrões de resistência microbiana em mais de 60 países. A plataforma também está disponível via aplicativos móveis e os dados são atualizados a cada seis meses.
Compreender a evolução dos padrões de resistência bacteriana é um elemento-chave na luta contra esse problema. Por isso, o ATLAS não só ajuda os médicos a escolher as opções de tratamento mais apropriadas aos seus pacientes, como também permite que autoridades sanitárias mundiais desenvolvam estratégias para controle da resistência baseada em dados”, ressalta Correia.
Estudos mostram taxa alta de resistência a bactéria
Ainda não existem dados oficiais sobre o número de mortes relacionadas à resistência bacteriana no Brasil. Mas informações regionais indicam a dimensão do problema. Nos últimos cinco anos, a taxa de resistência da bactéria Klebsiella pneumoniae aos antibióticos carbapenêmicos, considerados medicações potentes, quase quadruplicou no Estado de São Paulo, passando de 14% para 53%, segundo o Centro de Vigilância Epidemiológica.
Neste ano, os dados do sistema de vigilância global da OMS apontaram que a Klebsiella pneumoniae está entre as bactérias mais propensas à resistência no mundo, ao lado de Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Streptococcus pneumoniae.
Em 2010, a Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase (KPC) já havia provocado surtos importantes e mortes no Brasil. Foi também naquele ano que o País alterou as regras para a venda de antibióticos, que passaram a ser realizadas mediante a retenção da receita médica.
“As taxas de resistência das bactérias gram-negativas tomaram uma proporção muito alta, sobretudo nas infecções por Enterobactérias, em especial as relacionadas à Klebsiella pneumoniae. Essas bactérias adquiriram enzimas que destroem os principais antibióticos utilizados atualmente, como os carbapenêmicos, e dificultam o tratamento das infecções”, destaca Flávia Rossi, diretora médica do Serviço de Microbiologia da Divisão do Laboratório Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Surtos de KPC em vários estados
As discussões em torno do problema se intensificaram no Brasil desde 2010, quando dezenas de pessoas morreram após surtos da bactéria multirresistente Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase (KPC). Os dados mais recentes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontam que, ainda em 2015, a Klebsiella pneumoniae era a bactéria mais notificada como causadora de infecção por corrente sanguínea em adultos hospitalizados nas unidades de terapia intensiva (UTIs) do País, representando 16,9% dos casos².
No ano passado, novos surtos de KPC foram registrados em diferentes estados, entre eles São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso e Bahia. “O primeiro caso de KPC no país ocorreu em 2005, no Recife, e observamos, desde 2009 e 2010, um grande aumento no número de casos, especialmente em locais como São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais. Vale lembrar que toda a população está exposta aos riscos, não apenas o paciente em ambiente hospitalar, especialmente por conta do descarte impróprio de esgoto nos rios”, destaca a médica.
Novas estratégias para combater KPC
Um estudo apresentado neste ano durante o XX Congresso Brasileiro de Infectologia reforça a importância de novas estratégias de combate à KPC no país. Foram analisadas 860 amostras da bactéria Klebsiella pneumoniae colhidas em sete hospitais do Rio de Janeiro, entre os anos de 2015 e 2017.
Em 232 das amostras, mais de um quarto do total, foram encontradas bactérias produtoras de carbapenemase, enzima que confere resistência a esses microrganismos. Além disso, 61 eram resistentes à colistina, um antibiótico utilizado para infecções graves relacionadas às bactérias que produzem carbapenemase.
Um outro estudo científico, envolvendo 3.085 amostras de Klebsiella pneumoniae de pacientes de dez hospitais privados da Grande São Paulo, aponta que a resistência entre esses micro-organismos tem se mostrado mais frequente nos últimos anos. O trabalho, que analisou amostras de 2011 a 2015, aponta que a resistência relacionada à enzima carbapenemase subiu de 6,8% para 35,5% no período investigado.
Fonte: Pfizer, com Redação