Um estudo de revisão global publicado em abril no The Journal of Headache and Pain estima que 52% das pessoas acima de 5 anos têm cefaleia, um dos distúrbios neurológicos mais prevalentes e incapacitantes em todo o mundo. Mais da metade da população mundial sofre ao menos um episódio de dor de cabeça por ano, sendo que 14% têm a forma crônica da condição, a enxaqueca.
Outros 26% possuem cefaleia do tipo tensional (dor leve a moderada, como se fosse um “apertão”), e 4,6% sentindo o incômodo durante 15 ou mais dias por mês. Com causas desconhecidas, podendo ter como influência a predisposição genética e, às vezes, fatores ambientais e comportamentais, a enxaqueca atinge cerca de 31 milhões de pessoas no Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo que 67% das pessoas que relatam ter o problema, precisam cancelar compromissos devido a intensidade dos sintomas.
Segundo a OMS, a enxaqueca é a sexta doença mais incapacitante do mundo, sendo cerca de 30 milhões de pessoas relataram dores de cabeças de intensidade variáveis, muitas vezes acompanhadas de náuseas e sensibilidade à luz e ao som. Muitas vezes, as pessoas relacionam a enxaqueca somente com a dor de cabeça, mas existem vários sintomas paralelos (como sensibilidade visual cheiros, perda de sensibilidade, formigamento, dificuldade para falar e acreditem, vertigem). O que pouca gente sabe é que existe uma relação nítida entre a enxaqueca e a tontura.
“E, olha só, uma curiosidade: a principal causa de dor de cabeça não é a enxaqueca e sim a cefaleia do tipo tensional. Já a migrânea vestibular ou conhecida como enxaqueca vestibular acomete entre 1% e 3 % da população mundial e vem acompanhada de tontura ou vertigem”, explica Saulo Nader, neurologista do Hospital Albert Einstein, conhecido nas redes sociais e apelidado pelos pacientes como Doutor Tontura.
Segundo Nader, estima-se que entre 10% e 30% das pessoas que sofrem da popular ‘labirintite’ tenham a Migrânea Vestibular. Além disso, outro dado curioso é que as mulheres têm mais chances de desenvolver essa doença, em comparação aos homens (a relação é de quatro mulheres para um homem).
Migrânea Vestibular: gatilhos, sintomas e tratamento
Doutor Tontura enfatiza que existem alguns critérios específicos e fundamentais para o diagnóstico da doença e um médico deve ser procurado. O paciente, pelo menos metade das vezes que tem tontura, tem junto dor de cabeça. Mas também pode ter dor de cabeça sem tontura ou sentir tontura sem dor de cabeça, e ainda assim ser a Migrânea Vestibular.
Um terço dessas pessoas terão vertigens agudas – aquelas com a sensação de girar. Outro problema que pode surgir é o zumbido no ouvido, por causa de micro-espasmos nos vasos do labirinto. Por isso, é tão importante a análise especializada, alerta o neurologista.
“Existem tratamentos durante a crise. Outros para a prevenção da doença, que que pode ser feita por meio de remédios (várias opções também via oral), botox (toxina botulínica aplicada no couro cabeludo) ou injeções mensais de anticorpos. O importante é também ter bons hábitos de vida, como qualidade do sono, alimentação saudável, evitar o tabagismo e jamais se automedicar”, finaliza Dr. Saulo.
Mais de 150 tipos de dor de cabeça
Para alertar sobre a questão, 19 de maio é considerado o Dia Nacional de Combate à Cefaleia. Ao todo, existem mais de 150 tipos de dor de cabeça, que são classificados de acordo com a origem da dor. O neurologista Iron Dangoni Filho, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, ressalta as principais.
“A enxaqueca é a mais conhecida, porém, a mais comum nas pessoas é a cefaleia tensional, que é mais leve e possui maior frequência. Além disso, destaco ainda a cefaleia trigêmino autonômica e a cefaleia em salvas, mais comum nos homens”, detalha.
O médico explica que as dores de cabeça podem ser primárias e secundárias, quando são causadas por alguma outra doença, como um tumor ou AVC. “Entre as primárias, os sintomas podem se diferenciar.
Por exemplo, a enxaqueca costuma ser moderada a forte, apenas de um lado, com duração de cerca de três dias e com sintomas associados, como a fotofobia (sensibilidade à luz) ou fonofobia (sensibilidade aos sons). Já a cefaleia tensional geralmente é uma dor atrás da cabeça, mais leve e que pode piorar ao longo do dia e durar até sete dias”.
Como se prevenir das crises de enxaqueca
Iron Dangoni Filho destaca que a maioria das pessoas faz apenas o tratamento para tirar a dor, que é feito com remédios. Contudo, ele conta que é possível realizar a prevenção.
“Para os que já têm dores de cabeça é possível evitar que elas apareçam com medicamentos. Porém, muitos preferem o tratamento não medicamentoso, que pode ser feito com exercícios físicos, ioga, acupuntura, massagem e boa alimentação. Ficar sem dormir longos períodos pode ser gatilho para crises também, bem como ficar muito tempo sem comer”.
O especialista ressalta que a automedicação para as dores de cabeça também é algo perigoso. “Existe a cefaleia por uso excessivo de analgésico, que acontece quando se muda o tipo de dor em razão do uso dos remédios. Normalmente ela fica pior e pode cronificar, o que dificulta o tratamento”, afirma.
Ele revela que, quando a dor aparece com frequência, deve-se procurar um neurologista. “Quando acontece quatro vezes por mês já há indicação. Se a dor de cabeça aparece menos vezes, mas são fortes, também é preciso ir atrás de ajuda. Quando ela muda o padrão também é sinal de alerta, por exemplo, quando não responde aos analgésicos ou quando tem uma intensidade bem mais intensa que o habitual”, detalha.
Toxina botulínica é alternativa para tratar enxaqueca
A enxaqueca tem pelo menos duas das quatro características seguintes: dor unilateral, dor tipo pulsátil, intensidade de moderada a grave e piora da dor com atividade física. A duração da dor pode variar de 4 a 72 horas, podendo vir acompanhada de náuseas, vômitos, sensibilidade à luz e aos sons, alterações na visão e na fala.
Além dos tradicionais tratamentos com medicamentos preventivos e analgésicos, atualmente é possível ter uma nova opção de tratamento com o uso da toxina botulínica, produto muito conhecido pelo uso estético. O tratamento com o chamado botox, entretanto, é contraindicado para quem tem doenças na junção muscular, gestantes e pessoas com infecções.
“Desde quando a Anvisa liberou o uso da toxina botulínica para o tratamento da enxaqueca, tenho percebido uma resposta muito boa dos pacientes. Poucas pessoas se queixam de sensibilidade no local da aplicação, que é feita com o objetivo de bloquear a comunicação entre nervos e músculos, diminuindo a percepção de dor”, explica Natália Longo, neurologista pela Santa Casa de São Paulo e neurofisiologista pelo HCFM-USP.
A aplicação da toxina botulínica para cefaleia está associada ao tratamento profilático, para otimização e diminuição do tempo do tratamento medicamentoso, sendo necessário a avaliação do especialista para identificar as pessoas que são candidatas a este tratamento.
“As aplicações da toxina botulínica para tratamento de dor de cabeça são diferentes dos pontos de aplicação para tratamento estético, sendo em comum somente 7 dos 31 pontos utilizados para o tratamento da enxaqueca ou outras dores de cabeça. Estes pontos são aplicados na cabeça, nas áreas anteriores e laterais, nuca e ombros”, explica.
Segundo a especialista, o histórico clínico de cada paciente é que vai dizer por quanto tempo ele precisará fazer as aplicações. “No início do tratamento, os três primeiros ciclos de aplicação têm que ocorrer com um intervalo de três meses. Depois deste período, dependendo da resposta do paciente ao tratamento, é possível espaçar as aplicações ou suspendê-las”, revela.
Com Assessorias
Gostei da matéria bom site