O inverno é conhecido pelas quedas de temperatura que podem afetar o sistema circulatório de várias maneiras. A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular aponta um aumento significativo de infarto, acidente vascular cerebral, isquemias e tromboses quando as temperaturas médias caem abaixo dos 14°C.
“A cada diminuição de 10°C, o risco de infarto do miocárdio aumenta em aproximadamente 7%, resultando em um aumento de até 30% nas mortes relacionadas a essa causa”, afirma o cirurgião vascular e presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), Fabio Rossi.
Atenção aos sinais: dor, formigamento, pele fria, pálida e arroxeada
Durante os dias com baixa temperatura é importante ficar atento a determinados sintomas, uma vez que o corpo sempre sinaliza quando algo não está bem. Dor, formigamento, pele fria, pálida e arroxeada podem ser indícios de doenças vasculares. Na presença de dor torácica aguda, existe a possibilidade de ser um infarto agudo do miocárdio.
Já a confusão mental, dificuldade na fala, na memória, no caminhar, ou paralisias na face ou em membros são sinais de um acidente vascular cerebral. Além disso, dor aguda, frialdade, dificuldade em sentir ou movimentar os membros apontam para uma isquemia. Todos esses sinais são indicativos de condições graves e requerem busca imediata por auxílio médico.”
Quem reside ou viaja para regiões extremamente frias e não se protege adequadamente com roupas mais quentes, logo percebe, após alguns minutos, a ocorrência de dormência nos dedos das mãos, perda de sensibilidade tátil e dificuldade de movimentação. O médico explica que isso ocorre devido à isquemia das terminações nervosas causada pela vasoconstrição reflexa.
Quando a exposição ao frio é prolongada e intensa, pode ocorrer necrose das polpas digitais das mãos e dos pés, bem como do nariz e das orelhas. Em pacientes diabéticos ou com doença arterial obstrutiva periférica, que já possuem um fluxo sanguíneo reduzido, a isquemia é agravada quando expostos a temperaturas extremamente frias, o que aumenta o risco de trombose arterial e necrose nas extremidades.
Fenômeno Raynaud: emoções extremas ou exposição ao frio
Outra situação que acontece em dias frios é o Fenômeno Raynaud, doença funcional vaso espástica. A ocorrência é uma resposta circulatória funcional da microcirculação, desencadeada por emoções extremas e exposição ao frio. Quando as extremidades, como mãos e pés, entram em contato com o frio extremo, pode ocorrer um fenômeno trifásico.
Inicialmente, há uma intensa vasoconstrição e palidez dos dedos. Após algum tempo (segundos ou minutos), os dedos se tornam azulados (cianóticos) devido à falta de oxigênio e acúmulo de dióxido de carbono no sangue da extremidade. Em uma terceira fase, as arteríolas e capilares se dilatam novamente devido a uma vasodilatação compensatória (hiperemia reativa).
Geralmente, o fenômeno é benigno, mas nos casos mais graves, há chances de ocorrer úlceras necróticas nas polpas digitais. Indivíduos com esse fenômeno devem investigar a possível presença de doenças autoimunes e reumatológicas em curso, ou que possam se manifestar futuramente.
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O que fazer para cuidar da saúde vascular no inverno?
“Para garantir a saúde durante o inverno, é essencial adotar hábitos de vida saudáveis e implementar medidas preventivas, como fazer exames para acompanhar níveis de colesterol no sangue. E o cuidado com o controle da pressão sanguínea deve ser redobrado, pois ela pode piorar devido à vasoconstrição induzida pelo frio”, orienta o médico.
Alguns cuidados também são indispensáveis para preservar a saúde cardiovascular como: manter-se adequadamente agasalhado, praticar atividades físicas como caminhadas e exercícios aeróbicos, ter uma dieta saudável e fazer uma hidratação apropriada.
Evitar o consumo excessivo de álcool e o tabagismo também é essencial, pois bebidas alcoólicas e o cigarro aumentam o risco de hipertensão arterial, infarto do miocárdio e derrame cerebral. Além disso, o álcool é diurético e a desidratação eleva ainda mais o risco de trombose. Receber a vacina contra a gripe é de extrema relevância, especialmente para os idosos, pois isso reduz significativamente o risco de complicações.
“A infecção respiratória, como a gripe, desencadeia um estado inflamatório que pode provocar a desestabilização de placas de gordura nas artérias, resultando em obstrução das artérias coronárias, causando infarto do miocárdio, ou das artérias cerebrais e periféricas, provocando o derrame cerebral, e ainda a trombose arterial aguda nos membros inferiores, podendo, em casos mais graves, levar à amputação”, esclarece.
Com relação a alguns sintomas, como dor e inchaço relacionados a varizes, no inverno, normalmente, tendem a melhorar, devido ao efeito vasoconstrictor provocado pelo frio. Entretanto, o número de internações por trombose venosa profunda e embolia pulmonar aumenta consideravelmente nessa época.
A desidratação, além de aumentar o risco de trombose, ainda provoca rachaduras nas pernas e nos dedos dos pés, e resulta em uma porta de entrada para bactérias, pois causa ferimentos, linfangites e erisipelas. Deve-se evitar tomar banhos muito quentes, e é recomendável o uso de cremes hidratantes e beber muita água.
Mais informações no site da SBACV-SP.
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