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Se no desfile de 2020 ela veio completamente vestida para interpretar Cristo crucificado na versão mulher, no tão esperado Carnaval fora de época de 2022 ela se inspirou na canção “As rosas não falam”, de Cartola, para vir com o corpo perfeito à mostra – e o cabelo cor de rosa. Poeticamente, encantou mais uma vez a Avenida, dessa vez para homenagear “Angenor, José e Laurindo”, nomes de batismo de Cartola, Jamelão e Mestre Delegado, três dos maiores ícones da Mangueira.

Infelizmente, a tradicional Verde e Rosa este ano vai ficar de fora do Desfile das Campeãs, na noite deste sábado (30), mas a majestade que inspira seus ritmistas continuará reinando no Camarote Favela, um dos mais badalados da Sapucaí. Pudera. Ela é uma das mais autênticas representantes da riqueza, da beleza e da força cultural das comunidades cariocas.

Evelyn Bastos, em noite de ensaio: Mangueira não volta à Sapucaí para Desfile das Campeãs, mas rainha brilha no Camarote Favela (Reprodução de internet)

Evelyn vem de uma das milhares de famílias humildes do Morro da Mangueira. É filha de um pintor de carros e de uma costureira, Valéria Bastos, que também foi Rainha de Bateria da escola nos anos 80. O samba, aliás, está no DNA da família Bastos: Evelyn é inspiração para a irmã mais nova, Emilyn, de 17 anos, que desfila desde os 13 na ala das passistas e sonha também um dia em comandar a bateria.

Ao contrário de muitas outras que ostentam – ou até compram – o título, Evelyn também inspira muitas outras meninas de comunidades a realizarem seus sonhos. E é ainda mais admirada pelo trabalho social que conduz, à frente do projeto Semente Rainha, para formação de jovens passistas e, quem sabe, futuras rainhas. E não é só isso: ela também entrega quentinhas a pessoas em situação de rua no Centro do Rio.

Afinal, a jovem professora de Educação Física de 28 anos que se formou numa universidade pública graças ao regime de cotas e hoje cursa História numa faculdade particular não é só um corpinho escultural desfilando pela Avenida. Engajada e declaradamente de esquerda, ela já foi sondada até para se lançar candidata nas eleições municipais de 2024 no Rio de Janeiro. E olha que, assim como não faltam súditos e seguidores nas redes sociais (são mais de 300 mil), não deverão faltar eleitores.

Entrevista – Evelyn Bastos

Ao ViDA & Ação, a Rainha de Bateria da Mangueira recebeu, mais uma vez, com muita simpatia esta repórter, para revelar como se mantém linda, deslumbrante e tão carismática na série ‘Segredos da Rainha’. Confira!

Quais são suas medidas atualmente?

67kg, 1,64 de altura, 99 de quadril, 69 de cintura, 90 de busto e 64 de coxa.

Usa silicone? Já fez outros procedimentos estéticos (quais)? 

Uso silicone nos seios, 450 ml e já fiz bichectomia.

Já se submeteu a algum sacrifício acima do normal para ficar de bem com seu corpo ou atender ao que o posto de Rainha exige? 

Nunca me submeti a grandes sacrifícios, além dos procedimentos estéticos. Não sou aquela mulher que vai ficar sempre muito preocupada com determinadas partes do corpo. Me cuido, faço as coisas que eu gosto, treino porque eu gosto. Antes de qualquer coisa, faço aquilo que me dá prazer. Não sou a favor de nenhum sacrifício em prol da beleza. Acredito que o psicológico tem que prevalecer sempre.

Para chegar à Avenida mais ‘sequinha’, aderiu a alguma dieta especial? É preciso se privar de muita coisa para manter o corpão de rainha? 

Esse meu formato mais seco, na verdade, é porque deixei de fazer muito coisa. Sempre tive uma musculação muito mais pesada, uma alimentação muito mais rica em carboidratos e uma quantidade específica grande de proteína. Quando optei por ter um corpo mais seco, não tenho que fazer uma musculação tão pesada.Eu passo a fazer uma (dieta) low carb, não tiro totalmente o carboidrato. Isso mudou bastante meu corpo durante a pandemia, quando não deixei de treinar de ter uma estratégia pra dieta. Acabou que perdi mais de 10 quilos, mas também muita massa muscular. Isso não é bom, mas por conta do período pandêmico, acabei perdendo massa muscular.

‘Rosas não falam’, sambam: No ensaio técnico, Evelyn veio fantasiada de flores em homenagem a Cartola (Reprodução de redes sociais)
Como sua rotina de malhação é intensificada para o Carnaval?

Nesses últimos dias, cuidei mais da musculatura para aparecer um pouco mais seca no dia do desfile oficial.

Por quanto tempo seguido você já teve que sambar no salto alto e sem perder a linha? 

Normalmente sambo no alto 1 hora e 20, às vezes ou um pouquinho mais. Mas faz parte. A gente acostuma, arrebenta o pé um pouquinho, fica com bastante bolha, mas dá uma calejada na região.

Pode explicar mais sobre a sua paixão pelo samba e pela escola? 

O Carnaval sempre fez parte da minha vida desde que me dei conta por gente. O Carnaval mudou a minha história, a Mangueira mudou a minha vida. Em todo o meu caminhar, enquanto mulher, eu tive a Mangueira colada em mim. Tive muitos espelhos ali dentro. A Mangueira me acolheu, me abraçou. Eu devo absolutamente tudo da minha vida à instituição Estação Primeira de Mangueira.

Tento usar a frente da bateria como a forma mais sutil de mostrar minha gratidão à escola com a troca de energia com a bateria, os ritmistas e dos sambistas em geral. Faço questão de estar ali ligada à minha ancestralidade, aos meus antepassados, e passar toda essa energia divina, de amor, de encantamento e de gratidão para todas as pessoas que olham para mim e me assistem sambar.

Quais são os principais atributos que uma rainha de bateria deve ter?

A rainha de bateria tem que saber sambar. A gente está à frente de um batuque ancestral, de toque para orixás. A gente está saudando orixá, saudando o povo preto. Não tem nenhum corpo mais apropriado para mostrar a dança e o movimento do samba que o corpo da mulher preta. Esses são os atributos principais para uma rainha de bateria reinar à frente dos seus ritmistas.

Evelyn Bastos é a rainha do Camarote Favela, no setor 4 da Sapucaí (Foto: Divulgação)
O que acha da polêmica rainha da comunidade x rainha celebridade?

Todos os anos, enquanto rainha de bateria, nunca teve um ano que não deixasse claro a minha preferência por rainhas da comunidade de origem no seu lugar, por várias questões, não só por samba do pé, mas por essência, por identidade, identificação e por representatividade acima de tudo.

A gente vive uma cultura preta, uma cultura pobre e que tomou toda essa proporção simplesmente porque é uma cultura da resistência. Na minha opinião, rainha de bateria é um cargo que tem que ser oferecido à uma mulher da sua gente, do seu povo, do seu lugar.

Mas essa é uma decisão administrativa. É o presidente da escola que define se quer sua rainha da comunidade ou artista. Antes de qualquer coisa, se você gosta de uma rainha da comunidade, peça ao seu presidente porque é ele quem decide se vai ter uma rainha da comunidade ou uma celebridade.

Você mantém alguns projetos sociais. Pode falar mais a respeito?

Tenho projetos diretamente ligados ao samba, como o Semente Rainha. É um projeto onde a gente recebe as meninas do Morro da Mangueira e das proximidades para uma aula de samba, mas na verdade acaba sendo bem mais do que isso. Acaba sendo uma ligação direta com a vida particular de cada uma delas, com a transformação de criança, adolescente, o início da formação de uma mulher. A gente diz que é uma aula de samba, mas é uma aula de vida. Nessa troca, a gente também aprende muito.

Tenho um projeto social com moradores de rua no Centro da cidade do Rio. É um projeto em que eu me inspirei muito na solidariedade e no amor da Dona Neuma, que recebia pessoas para comer na casa dela no pé do Morro da Mangueira. Eu ainda era bem criança, mas pude viver essa solidariedade dela. E isso me inspirou muito. Tento de alguma forma usar essa inspiração para fazer com que esse ciclo de solidariedade e amor ao próximo não se encerre.

Pode deixar algumas dicas de beleza e bem-estar para as leitoras e seguidoras do ViDA & Ação?

A dica de beleza e bem-estar que eu posso dar é beber bastante água, treinar, se condicionar fisicamente, cuidar do psicológico, da mente, que reflete na nossa saúde corporal. Não faça nada por obrigação porque tudo o que faz por obrigação, não dá continuidade. Então, a dica é se hidratar bastante e procurar uma atividade física em que sinta prazer.

Saiba mais sobre Evelyn Bastos na Revista Rio Já.

Leia também – Série Segredos da Rainha

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