Em um período de menos de três meses neste ano, o Brasil já registrou 1,68 milhão de casos prováveis de dengue, mais do que o total de 2023 (1,66 milhão). Os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde no Painel de Monitoramento de Arboviroses neste sábado (16).
O número de mortes observadas este ano (513) ainda não supera o registrado nos 12 meses do ano anterior (1.094). No entanto, ainda há 903 óbitos sob investigação, o que pode elevar as estatísticas da letalidade da dengue neste período de dois meses e meio de 2024.
Quanto aos casos prováveis, comparando-se o mesmo período de 2024 e 2023 (primeiros dois meses e meio do ano), há cinco vezes mais casos neste ano do que no ano anterior. A maior parte dos casos prováveis neste ano atinge as mulheres (55,5%).
As unidades da federação com maiores índices de incidência são o Distrito Federal (5.044 casos por 100 mil habitantes), Minas Gerais (2.809 por 100 mil) e Espírito Santo (1.730 por 100 mil). Os menores índices estão nos estados do Maranhão (44 por 100 mil), Pernambuco (85 por 100 mil) e Piauí (87 por 100 mil).
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Mudanças climáticas, nova onda de calor e pancadas de chuva
Especialistas explicam que mudanças climáticas, que provocam mais calor e chuva, são responsáveis pelo aumento dos casos. Algumas regiões do país enfrentam aumento significativo no número de pacientes com dengue. Por isso, com a nova onda de calor e os riscos de pancadas de chuvas, é preciso ter atenção e cuidados redobrados.
“A elevação das temperaturas pode ocasionar fortes chuvas, características dos meses de verão e com isso favorecer ainda mais a proliferação do mosquito Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, Zika e Chikungunya. A principal forma de prevenção é eliminar pontos que podem acumular água, locais propícios para a proliferação das lavas do mosquito, manter caixas d´água bem tampadas, evitar o acúmulo de lixo, realizar a limpeza frequente de ralos, calhas, além de eliminar pratos em vasos de plantas”, explica Sara Morhbacher, clínica geral do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Para Josias Aragão, médico infectologista do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), a prevenção permanece como a principal estratégia . “A luta contra a dengue no Brasil requer um esforço conjunto e contínuo de toda a sociedade, órgãos públicos e privados, profissionais de saúde e a população”, afirma (veja mais no artigo abaixo).
Segundo ele, as principais recomendações são “evitar locais com maior incidência de mosquitos, eliminação de locais em que se acumula água parada, uso de repelentes aprovados pela Anvisa e sem contraindicação para mulheres grávidas, além de proteção mecânica do corpo com roupas com maior cobertura”.
No entanto, a estratégia adotada para o combate à doença não é a mais adequada nesse momento, na opinião do médico infectologista Carlos Starling. “O combate ao mosquito nos momentos de crise não funciona. Dengue se combate o ano todo. Se o estado deixa de fazer seu trabalho, de oferecer condições sanitárias e coleta de lixo adequados e orientação à população”, disse o médico à Globonews.
Dra Sara lembra os principais sintomas da doença que são febre alta, manchas avermelhadas na pele, dores de cabeça e pelo corpo, principalmente nas articulações. “Quem apresenta algum desses sintomas deve procurar atendimento médico imediato”, ressalta.
Palavra de Especialista
‘Mudanças climáticas explicam rápido avanço da dengue’
Por Josias Aragão*
A dengue é uma das doenças virais mais preocupantes atualmente no Brasil devido à disparada de casos em 2024. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o país ultrapassou um milhão de casos somente em janeiro e fevereiro de 2024 – esse número representa mais da metade dos casos registrados durante todo o ano de 2023, o que levanta o alerta para a velocidade no aumento das ocorrências.
Um dos fatores que explica esse rápido avanço da doença são as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global. Elas acentuam os efeitos naturais do El Niño, resultando em ondas de calor extremo acompanhadas de chuvas ocasionais, podendo criar condições que favorecem o ciclo reprodutivo do mosquito Aedes aegypti, agente transmissor da doença.
No Brasil, há quatro sorotipos circulando ao mesmo tempo, ou seja, ao ser infectada com a dengue, a pessoa se torna imune apenas a um sorotipo específico, com possibilidade de contrair a doença por mais três vezes.
Cuidado especial com as grávidas
Como infectologista, acho fundamental destacar a importância da prevenção, tratamento e cuidados específicos, especialmente para grupos de maior vulnerabilidade, como as grávidas. As gestantes têm quatro vezes mais chances de morrer pela dengue e, infelizmente, ainda não há um imunizante seguro para elas. A infecção durante a gravidez pode aumentar o risco de complicações tanto para a mãe quanto para o feto.
Os sintomas da dengue nas mulheres grávidas são semelhantes aos de outras pessoas: dor muscular, atrás dos olhos, de cabeça, manchas avermelhadas pelo corpo e febre alta são os mais comuns, mas podem evoluir para complicações como sangramentos, parto prematuro e até mesmo aborto espontâneo. Ao sinal de sintomas, é crucial procurar uma unidade de saúde o mais rápido possível.
Automedicação contra a dengue
Não há tratamento específico para a dengue. As medicações indicadas pelo profissional médico tratam apenas os sintomas, mas uma boa hidratação é parte essencial do tratamento, pois a doença causa desidratação no corpo de forma muito rápida.
É importante falar sobre os medicamentos que não devem ser tomados sem recomendação médica porque podem afetar a coagulação de sangue das pessoas com o vírus, o que pode levar ao aumento do risco de sangramentos e consequente agravamento da doença.
São eles: AAS, aspirina (salicitatos) e derivados de ácido acetilsalicílico, prednisona e hidrocortisona (corticóides) e ibuprofeno e nimesulida (anti-inflamatórios não esteroidais). Pessoas que fazem o uso crônico de um desses remédios devem manter o uso e suspender apenas sob orientação médica.
Medidas de prevenção
A luta contra a dengue no Brasil requer um esforço conjunto e contínuo de toda a sociedade, órgãos públicos e privados, profissionais de saúde e a população. A prevenção permanece como a principal estratégia e as recomendações de evitar locais com maior incidência de mosquitos, eliminação de locais em que se acumula água parada, uso de repelentes aprovados pela Anvisa e sem contraindicação para mulheres grávidas, além de proteção mecânica do corpo com roupas com maior cobertura, devem ser seguidas.
Enquanto a vacinação não está disponível para toda a população, somente por meio de uma abordagem abrangente e coordenada poderemos controlar efetivamente essa doença e reduzir seu impacto na saúde pública.
*Médico infectologista do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), principal unidade do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe)Olá!